Tribunal de Contas da União Número do documento: DC-0460-45/00-2 Identidade do documento: Decisão 460/2000 - Segunda Câmara Ementa: Tomada de Contas Especial. Convênio. LBA. Prefeitura Municipal de Calumbi PE. Desvio de finalidade. Alegações de defesa rejeitadas. Prazo para recolhimento do débito. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo I - CLASSE II - 2ª Câmara Processo: 500.332/1995-9 Natureza: Tomada de Contas Especial. Entidade: Fundação Legião Brasileira de Assistência - LBA (extinta). Interessados: RESPONSÁVEL: Josenice Alves Pereira Cordeiro, ex-prefeita Municipal de Calumbi/PE. Dados materiais: ATA 45/2000 DOU de 18/12/2000 INDEXAÇÃO Tomada de Contas Especial; Convênio; LBA; Prefeitura Municipal; Calumbi PE; Desvio de Finalidade; Alegações de Defesa Rejeitadas; Prazo; Recolhimento; Débito; Sumário: Tomada de Contas Especial relativa a recursos transferidos mediante convênio instaurada por desvio de finalidade. Citação. Alegação não comprovada de utilização da verba recebida à construção de casas populares. Rejeição das alegações de defesa e fixação de novo prazo para recolhimento do valor total transferido.
Relatório: Trata-se de Tomada de Contas Especial de responsabilidade de Josenice Alves Pereira Cordeiro, ex-prefeita Municipal de Calumbi/PE, instaurada em decorrência de desvio de finalidade verificado a partir da prestação de contas de recursos no valor de NCZ$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil cruzados novos) transferidos em 06/12/1989 àquela Municipalidade pela Fundação Legião Brasileira de Assistência - LBA, sob o amparo do Convênio S/N a que se refere o processo nº 70702001467/89, celebrado em 20/11/1989, tendo por objeto a construção de privadas higiênicas em residências carentes. Verificou-se que a responsável apresentou prestação de contas relativa à aquisição de materiais para a construção de 15 casas populares de 40 m², que, segundo a sua sucessora, teriam sido erguidas em regime de urgência e doadas a 15 famílias carentes do Município, desabrigadas após enchente do rio que corta a cidade ocorrida em 1989. O controle interno propôs a irregularidade das contas, à vista do desvio de finalidade observado. Inicialmente, foi procedida a audiência da responsável para apresentação de razões de justificativa. Em síntese, a ex-prefeita alegou que: a) utilizou-se dos únicos recursos de que dispunha, perante a situação de calamidade pública com que se defrontava (enchente); b) é dever do município, na lição de Hely Lopes Meirelles, "(...) Assistir aos necessitados, às famílias de prole numerosa, à maternidade, à infância e à juventude, mas o modo, forma e limites dessa assistência são de sua exclusiva escolha (...)"; c) a assistência social aos necessitados, que era a finalidade da LBA, foi atingida; d) seria uma injustiça condená-la, pois não se locupletou, como comprova a prestação de contas apresentada, e sua ação apenas buscou amenizar o sofrimento de dezenas de pessoas carentes. Durante o exame das razões de justificativa, foi observado que a relação com o nome dos beneficiados pela suposta doação de casas realizada pela Prefeitura de Calumbi/PE, apresentada na prestação de contas, não continha assinaturas. Curiosamente, o rol de assinaturas anexo à referida relação não fazia qualquer menção às casas, dele constando tão-somente o título e a relação de beneficiários, sem
indicação de qual benefício a que se refere. Outro fato chamou a atenção para a legitimidade ou não da prestação de contas: a relação de beneficiados, já mencionada, reportava-se a casas de 28 m² e não 40m², como afirmara a ex-prefeita nos demais documentos da prestação de contas. Assim, solicitou-se à responsável e ao então Prefeito Municipal a apresentação de cópia autenticada das escrituras públicas e termos de doação referentes aos imóveis alegadamente doados, dos atos do Poder Legislativo que tenham aprovado tais doações, dos atos do Poder Executivo, devidamente publicados, pelos quais tenham se substanciado as doações, bem como outros documentos ou informações correlacionados com os fatos sob exame que possam contribuir para a comprovação da destinação dada aos recursos repassados em tela. Em resposta, em vez dos documentos solicitados, foram apresentados: a) cópia de ato de doação a beneficiário não especificado de um terreno da Prefeitura para a construção de casas populares; b) cópia de ata de sessão da Câmara de Vereadores local na qual se teria discutido a doação de terreno, também sem a especificação de beneficiário, tendo a maioria dos Vereadores se mostrado favorável à doação, haja vista que "o problema de habitação é muito grande no Município"; c) fotos das casas que se alega terem sido construídas; d) croqui da planta baixa das casas e declaração de engenheiro que teria sido o responsável técnico pela construção. O exame dos novos elementos reforçou as suspeitas de improbidade da prestação de contas apresentada, pois não vieram aos autos as escrituras solicitadas, e a declaração do engenheiro, emitida dez anos após a alegada construção, não indicava o número de casas nem a época em que foram erguidas. Além do mais, a documentação apresentada diz respeito, como verificou a instrução da Secex/PE, a terreno distinto daquele que se vislumbra nas fotos juntadas. Conseqüentemente, determinei a citação da responsável, que apresentou em sua defesa: a) foto com vista aérea da cidade;
b) planta baixa da localização do terreno doado; c) termo de doação de 15 casas, registrado em 1999 no Cartório Único de Notas e Registro de Imóveis da Comarca de Flores/PE, publicado no Diário Oficial do Estado de Pernambuco, no qual se exige que os imóveis não sejam escriturados no período de dez anos, sob pena de nulidade da doação; d) ordem de serviço da Prefeitura de Calumbi datada de 1989, autorizativa do início da construção de casas populares; e) cópias de folhas dos livros "Conta-Corrente" e "de Despesas" que confirmariam a contabilização dos recursos do convênio no âmbito da Prefeitura e demonstrariam a legalidade de sua destinação, pois fazem referência ao número do processo da LBA associado ao convênio em exame; f) cópias das folhas de pagamento referentes à mão-de-obra, que seria a contrapartida da Prefeitura na construção das casas. Complementarmente, a ex-prefeita, considerando as divergências verificadas quanto ao tamanho das casas em tela, alegou que sua sucessora, "precisando retirar a Prefeitura da inadimplência, junto ao SIAFI, presta no processo uma declaração (...), apresentando uma relação de alguns nomes beneficiários que realmente receberam unidades habitacionais. No entanto, alguns dos citados nomes receberam casas construídas com recursos próprios (da Prefeitura), cuja área construída é bem menor, até por que não existiam recursos naquele Órgão para que as casas fossem maiores, o que não ocorreu com as casas construídas com os recursos da Fundação Legião Brasileira de Assistência, FLBA, pois as mesmas apresentam área construída de 40 m²". O exame da defesa foi efetuado em pormenorizada análise de todos os elementos dos autos, endossada pelo escalão dirigente da Unidade Técnica, pela qual se rejeita a defesa oferecida pela responsável, por inidônea, considerando que: a) é de se inferir que o termo de doação apresentado foi produzido após os questionamentos do Tribunal, à vista da inverossimilhança dos seguintes fatos: a.1) a Prefeita sucessora valeu-se, para retirar a Prefeitura do rol de inadimplentes, de uma lista contendo divergências notórias nos nomes dos beneficiários e na informação sobre a área construída, quando dispunha, para tanto, de termo de doação com nomes e área construída corretos;
a.2) inclusão, no termo de doação apresentado, de restrição quanto à escrituração das casas, sendo que tal restrição não foi mencionada na ata da Câmara de Vereadores que discutiu a doação; a.3) não-apresentação do referido termo nas primeiras alegações da responsável, quando da solicitação pelo Tribunal das escrituras das casas; a.4) quatro pessoas receberam duas casas cada uma; a.5) apenas quatro dos nomes incluídos na primeira lista de beneficiados constam do termo de doação posteriormente apresentado. b) a Prefeitura não somente dispunha de recursos em caixa além dos do convênio, contrariamente ao que afirmou inicialmente a responsável, como realizava, às próprias expensas, construção de casas populares, na época da alegada construção emergencial para desabrigados, de modo que não havia óbice instransponível à construção das privadas higiênicas objeto de convênio; c) vê-se, pelo croqui enviado e pelas fotos, que as casas construídas não dispõem de quaisquer instalações sanitárias; d) a planta de situação e a foto aérea anexadas ao processo confirmam que o terreno onde se encontram as casas fotografadas pela responsável não corresponde ao terreno doado pela Prefeitura; e) a menção a documentos da LBA relativos ao convênio em foco não comprova a destinação dos valores respectivos à construção de casas populares; f) não há como vincular as folhas de pagamento às obras em questão, pois nelas não se qualificam os recebedores nem se descrevem os serviços realizados. É o Relatório. Voto: Perfilho o entendimento da Unidade Técnica, endossado pelo Ministério Público, no sentido de que não merece prosperar a afirmativa de que a soma destinada pela Legião Brasileira de Assistência para obras de saneamento básico tenha sido aplicada na edificação emergencial de unidades habitacionais.
Há de fato inconsistências entre as provas documentais e as versões apresentadas pela responsável. A Unidade Técnica bem fez observar que o terreno onde se afirma terem sido edificadas casas, indicado em planta de situação e em fotografia aérea, não faz divisa com o cemitério da cidade, enquanto que o terreno descrito na ata da assembléia legislativa e no termo de doação é limítrofe da necrópole municipal. As casas, em número bem maior que quinze, foram construídas em frente a uma auto-estrada, e não em uma rua interna da cidade, como pretendeu demonstrar a planta de situação enviada. Cabe razão à Secex/PE, pois não se sustenta a explicação da ex-prefeita para as inconsistências entre os documentos e suas alegações. Não confirmou a alegada situação emergencial, que supostamente motivara o desvio de finalidade. Não foi devidamente documentada a suposta doação de casas. O fato de a Prefeitura estar construindo casas populares com recursos próprios, não só desmente a afirmativa de que não havia outros recursos em caixa, mas também enfraquece sobremaneira o valor probante, já diminuto, das notas fiscais de compra de materiais de construção e das folhas de pagamento apresentadas. Assim, tendo em vista que o objeto pactuado não foi executado e que a responsável não logrou êxito em comprovar o uso a bem da coletividade do valor repassado, tendo apresentado prestação de contas, razões de justificativa e alegações de defesa incompatíveis com a prova dos autos, VOTO por que o Tribunal adote a Decisão que ora submeto à consideração desta Segunda Câmara. Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 5 de dezembro de 2000. BENTO JOSÉ BUGARIN Ministro-Relator Assunto: II - Tomada de Contas Especial. Relator: BENTO BUGARIN Representante do Ministério Público: UBALDO CALDAS Unidade técnica: SECEX-PE
Quórum: Ministros presentes: Adhemar Paladini Ghisi (Presidente), Bento José Bugarin (Relator), Valmir Campelo e Adylson Motta. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 5 de dezembro de 2000 Decisão: A 2ª Câmara, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE, com fundamento no art. 12, 1, da Lei n 8.443/92 c/c o art. 153, 2º, do Regimento Interno, rejeitar as alegações de defesa apresentadas pela responsável, fixando-lhe novo e improrrogável prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que efetue, e comprove junto a este Tribunal, o recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional da importância de NCZ$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil cruzados novos), atualizada monetariamente e acrescida de juros de mora calculados a partir de 06/12/1989 até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor.