MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA Nº 794/2013 - PGGB MANDADO DE SEGURANÇA Nº 31706/DF IMPTE : M. ALMEIDA XAVIER MATERIAL DE CONSTRUÇÃO EM GERAL IMPDO : PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO RELATOR: MINISTRO MARCO AURÉLIO - PRIMEIRA TURMA MANDADO DE SEGURANÇA. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL. PEDIDO DE REEXAME. DESCABIMENTO. EXISTÊNCIA DE ROL RECURSAL ESPECÍFICO NA LEI 8.443/92. A impetrante foi condenada pelo Tribunal de Contas da União, nos autos da Tomada de Contas Especial nº 002.709/2007-0 (Acórdão nº 1399/2011-1ª Câmara), ao pagamento de débito e multa em função de ter recebido, sem fundamentação idônea, parcela dos valores transferidos ao município de Poço Branco/RN pela FUNASA/MS, no âmbito do convênio nº 777/2001. O recurso de reconsideração interposto pela empresa foi desprovido (Acórdão nº 8435/2011-1ª Câmara), e os embargos de declaração, rejeitados (Acórdão nº 5212/2012-1ª Câmara). Irresignada, a empresa interpôs pedido de reexame, o qual não foi conhecido pela Corte de Contas (Acórdão nº 5975/2012-1ª Câmara). O presente mandado de segurança objetiva determinar ao Tribunal de Contas da União o conhecimento do pedido de reexame, alegando que a inadmissão do apelo caracteriza ofensa aos princípios do contraditório e ampla defesa. Sustenta, nesse sentido, o cabimento do recurso em face do caráter
fiscalizatório de atos e contratos inerente à Tomada de Contas Especial, nos termos do art. 41 1 c/c art. 48 2 da Lei nº 8443/92. O pedido de concessão de medida liminar foi deferido, suspendendo-se a exigibilidade do pagamento das importâncias decorrentes da condenação. - II - A Lei nº 8.443/92, ao dispor sobre os recursos cabíveis contra as decisões do Tribunal de Contas da União, estabeleceu diferentes procedimentos quanto aos recursos relativos aos processos de Julgamento de Contas (Título II, Capítulo I) e Fiscalização a Cargo do Tribunal (Título II, Capítulo II), verbis: Lei 8.443/92: TÍTULO II Julgamento e Fiscalização Capítulo I Julgamento de Contas Art. 32. De decisão proferida em processo de tomada ou prestação de contas cabem recursos de: I - reconsideração; II - embargos de declaração; III - revisão. Parágrafo único. Não se conhecerá de recurso interposto fora do prazo, salvo em razão da superveniência de fatos novos na forma prevista no Regimento Interno. Capítulo II Fiscalização a Cargo do Tribunal Seção IV Fiscalização de Atos e Contratos 1 Lei nº 8443/92, art. 41: Para assegurar a eficácia do controle e para instruir o julgamento das contas, o Tribunal efetuará a fiscalização dos atos de que resulte receita ou despesa, praticados pelos responsáveis sujeitos à sua jurisdição, competindo-lhe, para tanto, em especial: ( ) IV - fiscalizar, na forma estabelecida no Regimento Interno, a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município. 2 Lei nº 8443/92, art. 48: De decisão proferida em processos concernentes às matérias de que tratam as Seções III e IV deste capítulo caberá pedido de reexame, que terá efeito suspensivo. 2
Art. 41. Para assegurar a eficácia do controle e para instruir o julgamento das contas, o Tribunal efetuará a fiscalização dos atos de que resulte receita ou despesa, praticados pelos responsáveis sujeitos à sua jurisdição, competindo-lhe, para tanto, em especial: (...) IV - fiscalizar, na forma estabelecida no Regimento Interno, a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município. ( ) Art. 48. De decisão proferida em processos concernentes às matérias de que tratam as Seções III e IV deste capítulo caberá pedido de reexame, que terá efeito suspensivo. [grifos não são do original] Cumpre salientar que os recurso de reconsideração e pedido de reexame somente se distinguem a partir da natureza do processo no qual são interpostos, como ressaltado nas informações prestadas pela apontada autoridade coatora: (...) 13. A rigor, pedido de reexame e recurso de reconsideração têm a mesma natureza, qual seja, de recurso com ampla devolutividade cabível contra decisão originária proferida pelo TCU, distinguindo-se tão somente a partir da natureza do processo no qual é interposto. 14. Exemplificando, se determinada licitação é examinada em processo de tomada de contas especial, o recurso contra a decisão de mérito originária ali proferida será o recurso de reconsideração, conforme previsto no art. 32 da Lei nº 8.443/1992. Por outro lado, se esse procedimento licitatório é analisado em processo de representação ou denúncia (processos decorrentes de fiscalização de atos e contratos), o recurso contra o deliberado pelo TCU será o 3
pedido de reexame, com fundamento no art. 48 da citada lei ( ) [grifo do original]. No caso em exame, é incontroverso que a condenação da impetrante decorreu de processo de tomada de contas, como asseverado na inicial: Trata-se de submeter ao crivo do Poder Judiciário ato denegatório de seguimento ao recurso de 'PEDIDO DE REEXAME' interposto em face de decisão proferida nos autos do processo n. 002.709/2007-0 (Ref. tomada de contas especial), em trâmite no TCU (...). Assim, não há que se falar em ofensa aos princípios do contraditório e ampla defesa, porquanto os recursos previstos na legislação - recurso de reconsideração e os respectivos embargos de declaração - foram interpostos pela empresa, conhecidos e analisados pela Corte de Contas. Deve ser reconhecida, na hipótese de tomada de contas especial, a prevalência do princípio da especialização, a atrair a incidência do rol recursal previsto no art. 32 da Lei nº 8.443/92. Ademais, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido da inexistência de ofensa aos princípios do contraditório e ampla defesa quando regularmente observadas as normas processuais que regem a matéria, como ilustrada no seguinte precedente: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO TRABALHISTA. INADMISSAO DO RECURSO DE REVISTA. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE DEFESA E NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. 1. Os princípios constitucionais que garantem o livre acesso ao Poder Judiciario, o contraditório e a ampla defesa, não são absolutos e hão de ser exercidos, pelos jurisdicionados, por meio das normas processuais que regem a matéria, não se constituindo negativa de prestação jurisdicional e 4
cerceamento de defesa a inadmissão de recursos quando não observados os procedimentos estatuídos nas normas instrumentais. ( ) (AI 152676 AgR/PR, Rel. Ministro MAURÍCIO CORREIA, DJ 03/11/1995) [grifos não são do original]. O parecer é denegação da segurança. Brasília, 26 de março de 2013. Paulo Gustavo Gonet Branco Subprocurador-Geral da República 5