A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA PETROFLEX: UMA PROPOSTA INOVADORA



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Transcrição:

A GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA PETROFLEX: UMA PROPOSTA INOVADORA João Luiz Ribeiro Reis (1) Engenheiro Químico pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - (UERJ). Mestrando em Engenharia Química pelo Programa de Engenharia Química - COPPE - UFRJ. André Martins Graduando em Engenharia Química pela Escola de Química UFRJ. Aluno de Iniciação Científica do PEQ - COPPE - UFRJ. Márcia Dezotti Professora Adjunto do Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ. Geraldo L. Sant Anna Jr Professor Titular do Programa de Engenharia Química da COPPE/UFRJ. Albari Pedroso Geólogo responsável pelo setor de meio ambiente na Petroflex Ind. e Com. S.A. Endereço (1) : Rua Lima Drumond, 34 - apto: 506 - Vaz Lobo - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 21361-020 - Brasil - Tel: (021) 481-2711 - ramal 349 - e-mail: joaoluiz@peq.coppe.ufrj.br RESUMO A Petroflex Ind. e Com. SA (Rio de Janeiro/Brasil) é a 5 a maior produtora mundial de borracha sintética e seus produtos são exportados para vários países. A geração de resíduos é inerente ao processo de fabricação de SBR, uma vez que o látex, produto da reação de copolimerização do butadieno e do estireno, fica aderido às paredes dos vasos de processo. Dentro de uma visão moderna de gerenciamento ambiental a empresa desenvolveu parceiros a fim de implementar a filosofia de reciclagem. Os sistemas implantados, de forma harmoniosa e integrada, visam reciclar os resíduos com total segurança ambiental e ao mesmo tempo de forma mais econômica possível. Esses sistemas são os de produção de artefatos de borracha, secagem de lodo e moagem de borracha/mistura com outros resíduos. O trabalho aqui descrito tem como objetivo demonstrar como através do programa de gestão ambiental implantado pela Petroflex, alcançou-se alternativas concretas para destinação dos diversos tipos de resíduos sólidos gerados pelo processo produtivo da empresa. A busca de alternativas inovadoras e o desenvolvimento de tecnologia nacional, forneceram o suporte necessário aos diversos projetos em andamento no sentido de minimizar os impactos ambientais oriundos da atividade industrial. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Borracha Sintética, Gerenciamento Ambiental. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1815

INTRODUÇÃO A Petroflex foi a primeira indústria petroquímica a se instalar no Brasil (Município de Duque de Caxias Rio de Janeiro), em 1962, para a fabricação, principalmente, de borracha sintética (SBR). Mais tarde, a empresa passou a produzir também Petrolátex, um tipo de borracha líquida, e PBLH (polibutadieno hidroxilado), produto com várias utilidades. No setor petroquímico, a empresa é a principal produtora de SBR em emulsão da América Latina e a terceira do mundo. Cerca de 50% da borracha produzida é consumida pela indústria de pneumáticos, estando a segunda parcela da produção voltada para atender a indústria de espumas moldadas e laminadas, base para chicletes, misturas com asfalto, adesivos, impermeabilizantes, entre outras aplicações. A geração de resíduos é inerente ao processo de fabricação de SBR, uma vez que o látex, produto da reação de copolimerização do butadieno e do estireno, fica aderido às paredes dos vasos de processo. A empresa sempre procurou minimizar a geração de resíduos, tendo como efeito alcançado uma redução significativa da massa de resíduos gerados, principalmente após a adoção de instrumentação digital nas diversas etapas do processo de fabricação. Em uma etapa posterior, a empresa passou a reciclar os resíduos gerados para processos produtivos. Esta nova filosofia tem como aliados principais a segurança ambiental e a vantagem econômica, questões de extrema importância no ambiente globalizado no qual vivemos atualmente. OBJETIVO Este trabalho tem como objetivo demonstrar como através do programa de gestão ambiental implantado pela Petroflex, alcançou-se alternativas concretas para destinação dos diversos tipos de resíduos sólidos gerados pelo processo produtivo da empresa. Este programa baseia-se na busca de alternativas inovadoras e no desenvolvimento de tecnologia nacional, que dê suporte aos diversos projetos em andamento no sentido de minimizar os impactos ambientais oriundos da atividade industrial. DESCRIÇÃO DO PROCESSO A Petroflex possui uma Estação de Tratamento de Rejeitos Industriais (ETRI) que recebe os efluentes líquidos gerados nas unidades da própria empresa, e de duas outras empresas (NITRIFLEX e ETHYL). A ETRI possui uma capacidade média de 364 m 3 /h e está projetada para a remoção de sólidos em suspensão, demanda bioquímica de oxigênio (DBO), demanda química de oxigênio (DQO) e outros componentes presentes no efluente industrial. Os efluentes oriundos das várias unidades, após um pré-tratamento, são encaminhados para a ETRI onde são submetidos ao tratamento primário (físico-químico) e tratamento secundário (lodos ativados). Os efluentes tratados seguem pelo Canal de Água de Refrigeração até o Rio Estrela, e daí para a Baía de Guanabara. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1816

Uma grande parte dos resíduos sólidos gerados pela empresa consiste na remoção dos sólidos que flotam na etapa de pré-tratamento dos efluentes líquidos. Nesta etapa busca-se uma remoção dos sólidos em suspensão no efluente através da técnica de flotação por ar induzido. Realizaram-se vários estudos no sentido de se otimizar esta fase do tratamento, conseguindo-se reduzir a carga orgânica que chega na ETRI e desta forma contribuindo para um melhor desempenho da estação (3). Os sólidos gerados nesta etapa do processo são designados pelo nome ENERFLEX II, para fins de comercialização. A ETRI também é outra grande fonte de resíduos sólidos, tendo em vista que o tratamento físico-químico produz o que denominamos lodo primário, enquanto que o tratamento secundário produz o lodo biológico. Estes dois tipos de lodo contém quantidade significativa de borracha e plásticos. Essa presença de elastômeros confere a grande parte do lodo um poder calorífico apreciável. A mistura dos dois tipos de lodo conferimos o nome de ENERFLEX I, após o processo de granulação e secagem (eventualmente faz-se uma mistura com borracha moída). SISTEMAS IMPLANTADOS A PETROFLEX dentro de uma visão moderna de estabelecimento de parcerias, desenvolveu dois parceiros, a PPM e a PLASTIMASSA, para implementar a filosofia de reciclagem. São três os sistemas utilizados, de forma harmoniosa e integrada, para alcançar o objetivo de reciclar os resíduos com total segurança ambiental e ao mesmo tempo de forma mais econômica possível. Esses sistemas são os de artefatos de borracha, secagem de lodo e moagem de borracha/mistura com outros resíduos. A) BORRACHA PARA ARTEFATOS A PPM RESÍDUOS INDUSTRIAIS LTDA., uma empresa que também presta serviços de limpeza e higiene industrial, desenvolveu, com aportes e assistência da PETROFLEX, uma unidade que processa a porção mais nobre do látex proveniente de manutenção e raspagem após aderência a vasos de processo. Esse látex é enviado, de vários pontos do processo, a dois tanques separadores onde a borracha, menos densa que a água, flutua e é recolhida. O material recolhido nesta etapa do processo é denominado ENERFLEX II. Todo látex gerado no processo de produção pode ser aproveitado em duas aplicações, de acordo com o seu estado. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1817

1) Se o material, ao ser analisado, apresenta contaminates como: pop corning, madeira, lixo, entre outros, ele será moído e transformado em material energético para queima em forno de cimenteira. 2) No entanto, se este material ao ser analisado, apresenta características que o recomende para a fabricação de artefatos de borracha, então ele será beneficiado. O látex recolhido nas diversas áreas de produção é encaminhado para uma baía onde sofrerá um processo de evaporação natural (ar livre) de parte da matéria volátil contida. Em seguida será cortado e separado em bateladas de aproximadamente 35 40 quilos. No Bambury este material será homogeneizado e extraída toda a umidade ainda existente. O material resultante (cerca de 25 quilos) será prensado e transformado em fardos que serão embalados em filme de polietileno, a fim de evitar que se colem, sendo então enviados para a indústria de artefatos de borracha. Por se tratar de um produto que não apresenta especificação, este material será empregado geralmente em artefatos que também não exijam uma especificação rígida. De um modo geral emprega-se este material em peças do tipo: rodas de carrinho de mão, rodas de carrinhos de supermercados, tapetes, tapetes pastilhados, vedações para esgoto, batentes de ônibus, etc. B) SECAGEM DE LODO A PLASTIMASSA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA., uma empresa constituída a partir do projeto da PETROFLEX, efetua granulação e secagem do lodo primário e biológico, para produção de combustível para a indústria cimenteira. A mistura dos dois tipos de lodo conferi-se o nome de ENERFLEX I. O lodo produzido na estação de tratamento de efluentes líquidos (ETRI), contém quantidade apreciável de borracha e plásticos. Essa presença de elastômeros confere a grande parte do lodo um poder calorífico significativo. A forma pastosa com que esse lodo se apresenta dificultaria grandemente seu manuseio na indústria cimenteira, razão pela qual ele é granulado e seco na PLASTIMASSA. A competitividade do processo é garantida pelo uso, como combustível na câmara de secagem, de um outro resíduo gerado pela PETROFLEX, o estireno reciclo, gerado na unidade de recuperação de estireno. A tecnologia de utilização deste combustível foi desenvolvida e adaptada, especificamente para esta finalidade, pela equipe técnica destas empresas. C) MOAGEM DE BORRACHA/MISTURA COM OUTROS PRODUTOS A PETROFLEX construiu uma unidade de moagem e mistura que transforma em combustível para cimenteiras a borracha não processada pela PPM. Quando necessário, essa borracha moída é misturada com resíduos como aparas de madeira (geradas no mesmo moinho), e o lodo da ETRI que não tenha alcançado o poder calorífico que torne vantajoso seu consumo pela cimenteira. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1818

RESULTADOS A Tabela 1 nos fornecerá uma visão geral dos principais resíduos sólidos gerados, bem como suas destinações: Tabela 1: Descrição dos diversos tipos de resíduos e suas destinações. Tipo de Resíduo Destinação 1) Borracha fora de especificação É reciclada para o próprio processo da Petroflex 2) Borracha de chão (varredura) Vendida no mercado, com desconto sobre a borracha normal de linha 3) Látex proveniente da manutenção e raspagem após aderência a vasos de processo Processo produtivo de borracha para artefatos e também moagem para produção de combustíveis para fornalhas de fabricação de cimento 4) Lodo Primário e Lodo Biológico Granulação, secagem e eventual mistura com borracha moída para produção de combustíveis para fornalhas de fabricação de cimento A Tabela 2 contém as principais características dos materiais reciclados produzidos no processo, denominados anteriormente como ENERFLEX I e II. Tabela 2: Características dos produtos reciclados pelo processo. Parâmetros Analisados ENERFLEX I ENERFLEX II Umidade (%) 18,41 12,67 Benzeno (mg/kg) 16,6 25,5 Acrilonitrila (mg/kg) Não Detectado 354,2 Butadieno (mg/kg) Não Detectado Não Detectado Etilbenzeno (mg/kg) 80,3 61,5 Estireno (mg/kg) 228,3 1.243,4 VCH (mg/kg) 825,2 2.648,3 Temperatura de Destruição ( o C) 460 410 Poder Calorífico Inferior (Kcal/kg) 4.360 6.800 O material denominado ENERFLEX I é classificado, conforme NBR 10.004, como resíduo CLASSE I / PERIGOSO TÓXICO em razão da presença, ainda que em pequena concentração, da substância benzeno. Da mesma forma, o material denominado ENERFLEX II é classificado, conforme NBR 10.004, como resíduo CLASSE I / PERIGOSO TÓXICO em razão da presença, ainda que em pequena concentração, das substâncias benzeno e acrilonitrila. As figuras 1 e 2 contêm resultados dos resíduos gerados no processo e reciclados, para o ano de 1997. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1819

Figura 1: Demonstrativos da destinação dos resíduos sólidos nos meses de 1997. Destinação Final de Resíduos Sólidos Quantidade de Material (ton) 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 Jan/97 Fev/97 Mar/97 Abr/97 Mai/97 Jun/97 Jul/97 Ago/97 Set/97 Out/97 Nov/97 Dez/97 Enerflex I Ano Base de 1997 Figura 2: Demonstrativos da destinação dos resíduos sólidos nos meses de 1997. Destinação Final de Resíduos Sólidos Quantidade de Material (ton) 120 100 80 60 40 20 0 Jan/97 Fev/97 Mar/97 Abr/97 Mai/97 Jun/97 Jul/97 Ago/97 Set/97 Out/97 Nov/97 Dez/97 Enerflex II Ano Base de 1997 A figura 3 contem resultados comparativos dos resíduos gerados no processo e reciclados, para o ano de 1998. Figura 3: Demonstrativos da destinação dos resíduos sólidos nos meses de 1998. Destinação Final de Resíduos Sólidos Quantidade de Material (ton) 300 250 200 150 100 50 0 Jan/98 Fev/98 Mar/98 Abr/98 Mai/98 Jun/98 Jul/98 Ano Base de 1998 Ago/98 Set/98 Out/98 Nov/98 Enerflex I Enerflex II 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1820

COMENTÁRIOS FINAIS Os sistemas implantados até agora, de forma harmoniosa e integrada, para alcançar o objetivo de reciclar os resíduos com total segurança ambiental e ao mesmo tempo de forma mais econômica possível, conferiram a empresa a certeza de estar atuando de forma consciente, na busca de minimizar os impactos ambientais advindos da atividade industrial. Pode-se garantir também que atualmente 100% dos resíduos sólidos são gerenciados pela Petroflex, refletindo-se na forma de receita para a empresa. Entre os aperfeiçoamentos planejados pela PETROFLEX e seus parceiros, estão a produção, pela PPM, de borrachas mais nobres para uso em artefatos, com possibilidade de exportação, e a fabricação, pela PLASTIMASSA, de argamassa seca para a construção civil, incorporando o lodo gerado na ETRI. A PLASTIMASSA já realizou uma série de testes que comprovam a segurança ambiental e a viabilidade comercial do produto. Como resultado destes e outros esforços, a Petroflex está certificada pela DNV (Det Norske Veritas) segundo a norma ISO 14001. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CETESB, Resíduos Sólidos Industriais, 1985, São Paulo, CETESB. 2. LEME, F.P., Engenharia do Saneamento Ambiental, 1984, Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A. 3. Reis, J.L.R., Martins, A., Pedroso, A., Sant Anna Jr., G.L. & Dezotti, M., 1998, Estudo do Tratamento de um Efluente da Indústria de Borracha Sintética, Trabalho apresentado no 26o Congresso da AIDIS, Lima, Peru. 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 1821