CORROSÃO EM CONCRETO ARMADO UTILIZADO NA CONFECÇÃO DE MANILHAS PELA AÇÃO DO GÁS SULFÍDRICO (H 2 S).

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Transcrição:

CORROSÃO EM CONCRETO ARMADO UTILIZADO NA CONFECÇÃO DE MANILHAS PELA AÇÃO DO GÁS SULFÍDRICO (H 2 S). Flávio Eduardo Gomes Diniz Engenheiro Civil - Doutorando no Curso de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica - DTM/CT Universidade Federal da Paraíba Campus I, João Pessoa e-mail: flavioedu@yahoo.com.br Eridon Celso Pereira Professor do Departamento de Tecnologia Mecânica DTM/CT Universidade Federal da Paraíba Campus I, João Pessoa e-mail: eridon@jpa.zaz.com.br Resumo. Este trabalho teve como objetivos: estudar a influência do meio na corrosão do concreto armado utilizado na confecção de manilhas e; a utilização de técnicas eletroquímicas e de ensaios físicos como forma de avaliação da corrosão ativa. Foram confeccionados corpos de prova prismáticos (46x94x74mm) em concreto (traço 1:2,01:1,97:0,46) contendo duas barras de aço CA-50 de 6.3mm de diâmetro dispostas de forma simétrica, longitudinal e paralela, submetidos à cura em meio aquoso por 28 dias. Ensaios foram desenvolvidos antes e após o ataque do gás sulfídrico. Durante o ensaio os corpos de prova foram mantidos em câmara com atmosfera rica em H 2 S por até 288 horas A profundidade de sulfatação (y) apresentou um comportamento logarítmico com o tempo (x), segundo a equação y=2,80 log(x)-0,12, regida por difusão. As densidades de corrente de corrosão não apresentaram variações significativas com o ataque do H 2 S, não havendo comprometimento da eficiência da camada passiva da armadura. A resistividade elétrica do concreto apresentou, na média, um aumento com o tempo de permanência na câmara de H 2 S devido à redução da umidade relativa do concreto. Os potenciais de eletrodo obtidos apresentaram com o tempo um pequeno declínio neste potencial. Palavras-chave: corrosão, ataque do H2S, concreto armado. 1. INTRODUÇÃO A utilização do concreto armado na confecção de manilhas, utilizadas no transporte de rejeitos industriais e domésticos, tem apresentado alguns processos patológicos do concreto, decorrentes da atmosfera gerada pela decomposição desses rejeitos com teores elevados de gás sulfídrico que se deslocam para a zona de ventilação, comprometendo a barreira física do concreto e a estabilidade da camada passiva da armadura (Diniz, 2001). O estudo da influência do meio ambiente na degradação da estrutura de concreto utilizada em coletores de esgotos é muito importante. Essas estruturas são aplicadas em atmosferas viciadas, em locais fechados com baixa taxa de renovação de ar, propícias à geração e intensificação da concentração de gases agressivos às armaduras de concreto (Helene, 1986). O concreto colocado em áreas poluídas pode estar sujeito a ação de bactérias que ocasionam a sua deterioração. Bactérias como a Thiobacillus thiooxidans, que oxidam enxofre ou compostos de enxofre a ácido sulfúrico, provocando a diminuição do ph e formação de sulfoaluminato de cálcio com deterioração do concreto e posterior ataque da armadura (Sato et al, 1990). A presença de sulfetos no esgoto pode ter origem na descarga direta de alguns esgotos industriais nos coletores. Entretanto, sua presença é geralmente causada pela redução bacteriológica dos sulfatos, os quais são encontrados na água potável, e cuja concentração aumenta com o uso da

mesma pelo homem. Esta atividade bacteriológica é concentrada numa camada de limo que tipicamente se desenvolve nas superfícies submersas dos coletores. As bactérias necessitam de oxigênio para consumir a matéria orgânica e, quando o oxigênio livre não é disponível, certas espécies obtém oxigênio do íon sulfato (SO 4 -- ), deixando o íon sulfeto (S -- ). A reação do sulfeto com a água resulta numa mistura do íon HS - e gás sulfídrico, H 2 S. Esse H 2 S escapa do esgoto para a zona de ventilação do coletor e para as superfícies acima do nível da água, sendo oxidado bacteriologicamente, resultando na formação de ácido sulfúrico. O ataque desses agentes agressivos ao concreto, diminui sua alcalinidade, despassivando a armadura, ocasionando dessa forma a corrosão. Quando os coletores são construídos com materiais que não são imunes ao ataque pelo ácido sulfúrico, como o concreto e o aço, ocorrerá uma corrosão gradual. (Ludwig, Almeida, 1979). Os objetivos deste trabalho foram: estudar a corrosão em concreto armado utilizado na confecção de manilhas, usadas nas redes coletoras de esgoto, considerando a influência do meio; a utilização de técnicas eletroquímicas e de ensaios físicos como forma de avaliação da corrosão ativa. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Materiais 2.1.1. Cimento e Água O cimento utilizado foi o Portland Composto com Filler, CP II F-32, da marca ZEBU, fabricado pela Cimepar, usado pela empresa que cedeu o traço de concreto nesta pesquisa. A água de amassamento utilizada foi a disponível no Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas LABEME, proveniente do sistema de abastecimento de água do Campus I da UFPB. 2.1.2. Agregados Miúdo e Graúdo Foi empregada como agregado miúdo uma areia lavada do tipo quartoza proveniente da jazida do Caxitu, localizada nas proximidades da cidade de João Pessoa, Estado da Paraíba, cedida pela empresa que fabrica as manilhas, evitando desta forma o uso de material diferente do utilizado na fábrica. Foram realizados ensaios de caracterização do agregado miúdo, sendo tomado sempre a média de três determinações. A massa unitária, de acordo com a NBR-7251/82 (ABNT, 1982) apresentou valor de 1,68 kg/dm 3. Já a massa específica segundo a NBR-9776/87 (ABNT, 1987) foi de 2,60 kg/dm 3. O ensaio de determinação da composição granulométrica foi realizado conforme NBR 7217/87 (ABNT, 1987) para o agregado miúdo. O resultado da análise granulométrica classificou o agregado miúdo em estudo em função do módulo de finura. Portanto para um MF = 2,24, a areia ensaiada foi classificada como areia fina, apresentando D máx = 4,8mm. Foi empregada como agregado graúdo uma pedra britada de origem granítica disponível no Laboratório de Ensaios de Materiais e Estruturas LABEME, cuja caracterização se deu sempre tomando-se a média de três determinações. A massa unitária no estado solto, de acordo com a NBR-7251/82 (ABNT, 1982) apresentou valor de 1,41 kg/dm 3 e a massa específica real segundo o Método da Proveta foi de 2,56 kg/dm 3. O ensaio de determinação da composição granulométrica foi realizado conforme NBR 7217/87 (ABNT, 1987) para o agregado graúdo, apresentando MF = 6,75 e D máx = 19 mm. 2.1.3. Aço para Armaduras e Madeira para as Fôrmas O aço utilizado para moldagem dos corpos de prova em concreto foi o GG50, CA 50, produzido pela Gerdau, de diâmetro 6.3mm. Já a madeira para as fôrmas foi em compensado comum (madeirite) de 12mm, cola fenólica. 2.1.4. Concreto

O traço de concreto estudado nesta pesquisa, foi cedido pela EMPRESA DE PREMOLDADOS S/A, que fabrica dutos coletores de esgoto (manilhas), na cidade de João Pessoa. Traço unitário em peso: 1:2,01:1,97:0,46, com um consumo de cimento por metro cúbico de concreto da ordem de 431 kg/m 3. Após a caracterização dos materiais, foram misturados, moldados, adensados e colocados na cura, 03 corpos de prova cilíndricos de 15 x 30 cm, segundo as recomendações da NBR 5738/84 (ABNT, 1984), com o objetivo de caracterizar o concreto em relação a sua resistência à compressão aos 28 dias de idade. O ensaio foi realizado de acordo com a NBR 5739/84 (ABNT, 1984), apresentando como valor médio aos 28 dias 31,44 MPa. 2.2. Métodos 2.2.1. Corpos de Prova Foram confeccionados corpos de prova prismáticos medindo 46x94x74 mm em concreto, no traço já mencionado, contendo duas barras de aço CA-50 de 6.3 mm de diâmetro e 80 mm de comprimento (45 mm expostas ao concreto) dispostas de forma simétrica, longitudinal e paralela, a uma distância entre eixos de 31,3 mm, conforme ilustra a Fig. (1), com cobrimento de 15 mm de concreto e submetidos à cura em meio aquoso por 28 dias. 24 35 45 74 31 46 18 31,3 31,3 31,3 46 a=9,218 cm 2 94 Corte AB Vista Superior Figura 1. Vista superior e corte transversal AB dos corpos de prova de concreto. 2.2.2. Ensaio de Ataque de H 2 S (Sulfatação) Em todos os corpos de prova foram feitas medidas de potencial de eletrodo, resistência de polarização ( E de 10mV e de 20mV) e resistividade elétrica do concreto, antes do processo de sulfatação. O processo de sulfatação foi desenvolvido em um sistema constituído por um kitasato, utilizado na geração de H 2 S, tubos de PVC de 20mm, formando um ramal de distribuição com 6 derivações, onde no final de cada derivação um saco de PVC acomodava os corpos de prova a serem ensaiados. O gás sulfídrico, produzido em um kitasato (reator), foi obtido através da reação de ácido sulfúrico diluído e sulfeto de ferro, conforme a Eq. (1) a seguir. FeS + H 2 SO 4 FeSO 4 + H 2 S (1) Na saída do kitasato, uma mangueira de látex foi acoplada e conectada à torneira de entrada do tubo de PVC, por onde o gás sulfídrico (H 2 S) era injetado, atravessando toda a tubulação, entrando em contato com os corpos de prova. O esquema da câmara de ataque de H 2 S pode ser visto na Fig. (2). A B 15

Corpos de prova Sacos de PVC Tubulação de PVC de 20mm Mangueira de látex Kitasato vedado de 2000ml, gerando H 2 S Figura 2. Esquema usado para geração e ataque de gás sulfídrico. Os sacos de PVC com os corpos de prova em seu interior foram esvaziados utilizando-se uma bomba de vácuo. O ensaio de sulfatação teve duração de 13 dias, conforme a seguinte metodologia. No primeiro dia medidas realizadas de 2 em 2 horas, durante 12 horas. O H 2 S foi gerado pela reação já mencionada e direcionado para a câmara. Nos demais dias medidas realizadas com 1, 2, 4, 6, 8 e 12 dias. Os corpos de prova, após serem retirados da câmara de ataque de H 2 S foram imediatamente submetidos aos seguintes ensaios: potencial de eletrodo, resistência de polarização para E de 10 mv e de 20mV, resistividade elétrica do concreto e medida da profundidade de sulfatação. Esse procedimento se repetiu para todas as medidas. Potencial de Eletrodo As medidas do potencial de eletrodo, mais propriamente o potencial misto desses eletrodos, foram realizadas com o auxílio de um eletrodo de referência de cobre/sulfato de cobre ESC e de um multímetro de alta impedância. O eletrodo de referência foi colocado em contato com o corpo de prova através de uma esponja embebida em uma solução de detergente e a determinação do potencial se deu utilizando-se o multímetro ligado ao eletrodo de referência e à armadura, conforme ilustra a Fig. (3). Multímetro Eletrodo de Cobre/ Sulfato de Cobre - ESC Esponja Corpo de prova Figura 3. Esquema do ensaio de determinação do potencial de eletrodo. Resistência de Polarização O ensaio foi realizado conforme o esquema mostrado abaixo na Fig. (4).

Amperímetro Multímetro oo Fonte Corpo de prova Figura 4. Esquema de montagem do ensaio de resistência de polarização. Foram aplicados potenciais ( E de 10mV e de 20mV) através de uma fonte de alimentação (HP 6644A) e registrou-se o incremento de corrente ( I) em um amperímetro ligado em série à fonte, caracterizando um procedimento de polarização potenciostática. Um voltímetro ligado ao sistema permitiu a leitura dos potenciais. Assim foi possível calcular o valor de Rp, e conseqüentemente a velocidade instantânea de corrosão (i corr ) através da expressão proposta por Stern-Geary, Eq. (2). O valor da constante de Stern-Geary (B) usado neste trabalho foi de 26mV (Cascudo, 1997). βa. βc I Icorr = x = 2,3( βa + βc) E B Rp (2) onde: R p = Resistência à polarização; B = Constante de Stearn-Geary dependente das contribuições anódicas e catódicas; β c e β a = constantes de Tafel catódica e anódica; I = corrente aplicada; E = variação do potencial; I corr = corrente de corrosão. Resistividade Elétrica O método de ensaio foi o método de Wenner ou dos quatro pontos ou quatro eletrodos. O ensaio consistiu basicamente da aplicação de uma corrente elétrica aplicada nas laterais dos corpos de prova, gerada por uma diferença de potencial de 60 Volts, e a medida da diferença de potencial gerada entre os eletrodos internos (barras de aço no interior dos corpos de prova). O equipamento utilizado para leitura dos potenciais foi um multímetro e para a leitura das correntes um amperímetro, propiciando a medida da resistividade, através da Eq. (3). ρ = 2. π.a V I (3) onde: ρ = resistividade elétrica do concreto (ohm.cm); a = espaçamento entre os eletrodos (cm); V = voltagem (Volts); e I = corrente (Ampère). O esquema do ensaio tal qual ele foi realizado pode ser melhor observado na Fig. (5), que mostra o dispositivo que foi utilizado para acomodar o corpo de prova para aplicação da corrente.

Fonte C.C 60V Multímetro Amperímetro Esponjas Corpo de prova Placas de Alumínio Figura 5. Esquema experimental do ensaio de resistividade elétrica. Medida da Profundidade do Ataque do H 2 S (Sulfatação) Realizados todos os ensaios anteriormente descritos, os corpos de prova foram fraturados e uma solução alcoólica de fenolftaleína a 1%, foi aplicada permitindo a determinação das superfícies com phs superiores e inferiores a 9 e, desta forma mensurar a espessura sulfatada das superfícies internas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Medida da profundidade de Sulfatação A Figura (6) revela a evolução dos valores da profundidade de sulfatação em milímetros ao longo do tempo. O período de ataque do H 2 S foi de 288 horas e as medidas realizadas com 2, 4, 6, 8, 10, 12, 24, 48, 96, 144, 192 e 288 horas. 8 Profundidade de sulfatação (mm) 7 6 5 4 3 2 1 0 y = 2,80Log(x) - 0,12 R 2 = 92,60% 1 10 100 1000 Tempo (horas) Sulfatação média 28 dias Sulfatação média 28 dias ajustada Figura 6. Profundidade de sulfatação ao longo do tempo. Na Figura (6) é possível observar o comportamento da penetração do gás sulfídrico nos corpos de prova de concreto, obtido pela fratura destes e imediata aplicação de fenolftaleína, embora a

variação de coloração praticamente não se apresente. A medida da profundidade pôde ser feita observando-se apenas a coloração esverdeada que o H 2 S deixa ao penetrar o concreto. A profundidade máxima alcançada durante o ensaio se deu nas duas últimas medidas, com valor de 6,5 mm, não atingindo o valor da espessura de cobrimento de concreto que protege o aço, que é de 15 mm. Diniz (2001) atacando o mesmo material com CO 2 por um mesmo período de tempo obteve uma profundidade de carbonatação de 19 mm, valor praticamente três vezes maior do que o encontrado para o gás sulfídrico neste trabalho. Da observação da linha de tendência que representa os dados obtidos, (y = 2,80Log(x)-0,12), a qual segue uma lei logarítmica, é possível caracterizar este processo de sulfatação como regido por difusão. 3.2. Potencial de Eletrodo A Figura (7) mostra os potenciais de eletrodo P1 e P2 em mv, situados à direita e à esquerda dos corpos de prova respectivamente, em relação ao eletrodo de Cu/CuSO 4 obtidos antes e após os períodos de sulfatação. Potencial de eletrodo (mv) 0 1-50 10 100 1000-100 -150-200 -250-300 -350 Tempo (horas) Potencial de eletrodo inicial P1 28 dias Potencial de eletrodo final P1 28 dias Potencial de eletrodo inicial P2 28 dias Potencial de eletrodo final P2 28 dias Figura 7. Potenciais de eletrodo P1 e P2 dos corpos de prova com 28 dias de cura determinados antes do ataque do H 2 S e ao longo do tempo de sulfatação. A variação do potencial de eletrodo final em relação ao inicial, mostra que apenas uma das medidas é superior às medidas iniciais. Da Fig. (7) observa-se que os valores encontrados dos potenciais de eletrodo P1 e P2 mostram um decrescimento ao longo do ensaio. Diniz (2001) ensaiando o mesmo material com CO 2 por um mesmo período de tempo encontrou resultados menores do que 400mV. Praticamente todos os resultados deste ensaio apresentaram valores superiores a 250mV. Embora exista variação nas medidas de potencial de eletrodo, observou-se uma diminuição desses potenciais em relação a sua condição inicial, cujo motivo pode ser atribuído a um processo de polarização da curva de reação catódica do oxigênio. 3.3. Resistência de Polarização

As Figuras (8) e (9), mostram as densidades de corrente de corrosão (icorr), em µa/cm 2, dos corpos de prova com 28 dias de cura determinados antes do ataque do H 2 S e ao longo do tempo de sulfatação para E de 10 e de 20 mv respectivamente. icorr (µa/cm 2 ) icorr (µa/cm 2 ) 1,5 1 0,5 0-0,5 1 10 100 1000-1 -1,5-2 Figura 8. Densidades de corrente de corrosão dos corpos de prova com 28 dias de cura determinados antes do ataque do H 2 S e ao longo do tempo de sulfatação com E de 10mV. 2 1,5 1 0,5 0-1 -1,5-2 -2,5 2 icorr inicial 28 dias e 10 mv Tempo (horas) icorr final 28 dias e 10 mv -0,5 1 10 100 1000 Tempo (horas) icorr inicial 28 dias e 20 mv icorr final 28 dias e 20 mv Figura 9. Densidades de corrente de corrosão dos corpos de prova com 28 dias de cura determinados antes do ataque do H 2 S e ao longo do tempo de sulfatação com E de 20 mv. As densidades de corrente de corrosão obtidas no decorrer do ensaio de sulfatação não apresentaram variações significativas em relação às obtidas antes do ataque do H 2 S, apresentando o mesmo comportamento tanto para o E de 10 mv como para o E de 20 mv. 50% dos resultados finais estão na faixa de corrosão desprezível (até 0,2 µa/cm 2 ) e 50% na faixa de início de corrosão ativa (entre 0,2 e 1,0 µa/cm 2 ), não apresentando ataque importante de corrosão. Ensaios realizados por Diniz (2001) com o mesmo material e utilizando CO 2 como agente agressivo, apresentaram 56% dos resultados finais na faixa de ataque muito importante (acima de 10,0 µa/cm 2 ). 3.4. Resistividade Elétrica Na Figura (10) são apresentados os valores de resistividade elétrica do concreto inicial e final em kohm.cm, variando ao longo do tempo de sulfatação.

250 Resistividade (kohm.cm) 200 150 100 50 0 1 10 Tempo (horas) 100 1000 Resistividade inicial 28 dias Resistividade final 28 dias Figura 10. Resistividade elétrica do concreto dos corpos de prova com 28 dias de cura determinados antes do ataque do H 2 S e ao longo do tempo de sulfatação. O comportamento final das resistividades elétricas do concreto em relação ao inicial, mostra que todas as medidas finais são superiores às iniciais, apresentando tendência ao crescimento de seus valores em relação às primeiras horas de ensaio. Analisando a Fig. (10) de acordo com os critérios de avaliação da resistividade - CEB 192, 100% dos resultados finais (médios) estão na faixa de probabilidade de corrosão desprezível (acima de 20,0 kohm.cm), apresentando um bom comportamento em relação ao ataque do H 2 S. Diniz (2001) ensaiando o mesmo material com CO 2 por um mesmo período de tempo encontrou 85% dos resultados na faixa de probabilidade de corrosão desprezível (acima de 20,0 kohm.cm), 4% na faixa de probabilidade de corrosão alta (de 5,0 a 10,0 kohm.cm) e 12% na faixa de probabilidade de corrosão muito alta (abaixo de 5,0 kohm.cm). O aumento na resistividade elétrica do concreto após o ataque do gás sulfídrico, pode ter como explicação as reações deste gás na superfície do corpo de prova, reduzindo desta maneira a concentração da água do sistema. 4. CONCLUSÃO A partir das medidas de profundidade de sulfatação com o tempo, concluiu-se que: este processo é regido por difusão; que o H 2 S teve baixa difusividade no concreto. Através dos ensaios de resistência de polarização, concluiu-se que: não houve comprometimento da eficiência da camada passiva da armadura. Através da determinação da resistividade elétrica concluiu-se que: a resistividade elétrica crescente com o tempo de sulfatação foi atribuída à redução da umidade relativa do concreto. A partir das medidas do potencial de eletrodo misto concluiu-se que: o comportamento do desse potencial foi atribuído à polarização da curva catódica do oxigênio, responsável pela reação catódica do processo de corrosão.

5. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1982. NBR 7251: agregados em estado solto determinação da massa unitária. Rio de Janeiro. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987. NBR 9776: agregados - determinação da massa específica de agregados miúdos por meio do frasco de Chapman. Rio de Janeiro. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987. NBR 7217: agregados determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1984. NBR 5738: moldagem e cura de corpos de prova de concreto, cilíndrico ou prismático. Rio de Janeiro. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1984. NBR 5739: ensaio de resistência à compressão em corpos de prova cilíndricos de concreto. Rio de Janeiro. Cascudo, O., 1997. O controle de armaduras em concreto: inspeção e técnicas eletroquímicas. 1. ed. São Paulo: Pini. 237 p. ISBN 85-72660-080-1. Diniz, F. E. G., 2001. Corrosão de materiais metálicos ferrosos empregados em dutos coletores de esgotos. 139 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Helene, P. R. L., 1986. Corrosão em armaduras para concreto armado. 1 ed. São Paulo: Pini, 47 p. ISBN 85-09-00004-2. Ludwig, R. G.; Almeida, S. A. S., 1979. Controle da corrosão por sulfatos no projeto de interceptores de esgoto. Revista D.A.E., São Paulo. 34(121):70-81. Sato, M. I. Z.; Alves, M.N.; Sanchez, P., 1990. Microbiologia ambiental: microrganismos envolvidos no processo de corrosão e biodeterioração da qualidade da água. São Paulo: CETESB. CORROSION ON REINFORCED CONCRETE USED IN THE PREPARING OF PIPE OF CLAY, BY THE HYDRO-SULPHURIC GAS (H 2 S) Flávio Eduardo Gomes Diniz Civil Engineer One about to graduate as a doctor in the Posgraduation Course in Mechanical Engineering - DTM/CT Federal University of Paraiba Campus I, João Pessoa e-mail: flavioedu@yahoo.com.br Eridon Celso Pereira Teacher of the Mechanical Technology Departament DTM/CT Federal University of Paraiba Campus I, João Pessoa e-mail: eridon@jpa.zaz.com.br Abstract. The work had as objectives: to study the ambiental influence on the corrosion of the reinforced concrete used in the preparing of the pipe of clay and the utilization of elecrochemical techniques and of the physical tests as a way of avaliation of the active corrosion. Prismatical bodies of tests (46x94x74mm) of concrete were made (mixture 1:2,01:1,97:0,46) containing two steel bars CA-50 with 6.3mm of diameter disposed in a simetric form, longitudinal and parallel, submitted to the curing in a watery ambient during 28 days. Tests were developed before and after the attack of the hydro-sulphuric gas. During the test the bodies of tests were maintained in a cabin with a rich atmosphere in H 2 S for until 288 hours. The profundity of attack of H 2 S (y) presented a logaritimic behavior according to the time (x), as the equation y=2,80 log(x)-0,12, conducted by diffusion. The densities of current of corrosion did not show significative variations with the H 2 S attack, not existing length of the efficience of the passive layer of the steel. The electric resistivity of the concrete exhibited, on an average, an increase according to the time of permanence in the cabin of H 2 S due to the redution of the relative umidity on concrete. The electrode potentials obtained presented according to the time a low decline in this potential. Key words: corrosion, attack of H 2 S, reinforced concrete.