TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL setembro / 2011

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TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL setembro / 2011

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL setembro / 2011

4 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL

PREFÁCIO O Brasil vive uma situação ímpar no mundo: além de contar com perspectivas positivas de crescimento econômico, conta também com um bônus demográfico significativo para alimentar e catalisar tal crescimento. Ou seja, a expansão esperada da População Economicamente Ativa deverá ser suficiente para atender a demanda projetada por profissionais. O desafio que se impõe ao País, portanto, é o de como tratar as lacunas em formação e circulação 1 de pessoas a fim de transformar este bônus em vantagem competitiva na constituição de um polo internacional de investimentos e negócios. Este documento é a terceira publicação da BRAiN (Brasil Investimentos e Negócios) e aprofunda o entendimento sobre talentos e capital humano, um dos pilares da atratividade de um polo, conforme apresentado no relatório Atratividade do Brasil como polo internacional de investimentos e negócios, lançado pela BRAiN em junho de 2011. Além de apresentar um diagnóstico da situação atual do conjunto brasileiro de talentos, o presente relatório busca exemplificar esforços positivos da iniciativa pública e privada no campo da qualificação, via educação, e maior oferta de mão de obra, além de adicionar uma visão propositiva de como tratar a situação atual no País. Para preparar este material, a BRAiN realizou, com o apoio do The Boston Consulting Group, um trabalho envolvendo análises, entrevistas e workshops com especialistas e formadores de opinião dos setores público e privado. As conclusões deste estudo, incluindo as proposições feitas ao longo de todo o trabalho, irão definir a agenda de diálogo que a BRAiN pretende estabelecer com as esferas pública e privada para que o Brasil continue desenvolvendo seu conjunto de talentos, tornando-se assim ainda mais atrativo como polo internacional de investimentos e negócios. 1 Circulação de pessoas envolve a entrada de profissionais estrangeiros no País e a saída de profissionais brasileiros para atuar no exterior Criada em 2010, a BRAiN tem como objetivo assegurar a materialização de uma visão multissetorial da América Latina como uma rede regional de negócios fortemente interconectada, dentro da qual o Brasil deve atuar como um dos polos proeminentes. A BRAiN almeja gerar consenso e ação nos diversos setores da economia ao redor dessa ideia e conta, para isso, com 13 associados atualmente: ANBIMA, BM&FBOVESPA, FEBRABAN, Fecomercio, Banco Bradesco, Banco do Brasil, Banco Santander, Banco Votorantim, BTG Pactual, CETIP, Citibank, HSBC e Itaú-Unibanco. Mais informações sobre a BRAiN e sua visão se encontram no site www.brainbrasil.org.

6 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL ÍNDICE Sumário Executivo 8 Talentos para um polo de negócios 16 Demografia 22 Formação de pessoas 26 Quantidade de educação 34 Qualidade da educação 39 Alinhamento do ensino com o mercado 55 Internacionalização da formação 65 Circulação de talentos 74 Brain gain 74 Brain drain 82 Conclusão 88

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 7

8 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL SUMário executivo Na elaboração do relatório Atratividade do Brasil como polo internacional de investimentos e negócios, lançado pela BRAiN em junho de 2011, foi realizado um extenso trabalho de pesquisa, análise de dados, entrevistas e workshops com especialistas e formadores de opinião dos setores público e privado, objetivando a definição e mensuração da atratividade do Brasil como polo de investimentos e negócios. O resultado deste esforço foi a definição dos sete pilares que constituem a visão BRAiN dos pré-requisitos fundamentais para a formação e a excelência de um polo atrativo de investimentos e negócios (veja Diagrama 1), e a análise das fortalezas e oportunidades para melhoria do Brasil em cada um deles. No presente documento, será dado um enfoque mais detalhado e propositivo para o pilar Talentos e Capital Humano. A escolha do pilar de talentos como um dos principais focos da BRAiN não aconteceu por acaso: o tema merece esforços extras por ser essencial para a formação do polo e por ser ponto de convergência de interesse de todos os atores da sociedade é de consenso geral que talentos são definidores do crescimento econômico do país, são o principal foco dos líderes de negócios no mundo no próximo ano e são necessários à realização de qualquer negócio, em especial aos característicos de um polo de investimentos e negócios. No geral, o conjunto de talentos brasileiro não tem boa avaliação quando comparado internacionalmente é o 25º colocado entre 30 países no mundo e ocupa a terceira posição entre 10 países na América Latina, de acordo com o Global Talent Index 2. Além disso, é o país com a segunda maior dificuldade de se contratar pessoas entre 37 nações, de acordo com a Manpower 3, empresa de serviços de recursos humanos. A formação de um conjunto de talentos tem como base três elementos principais: a demografia, a formação de pessoas e a circulação de talentos (veja Diagrama 2). A análise detalhada de tais elementos mostra que o Brasil tem diferentes níveis de evolução e necessita de distintos esforços em cada um deles. Os possíveis esforços e próximos passos foram discutidos e mapeados em várias entrevistas e workshops conduzidos pela BRAiN com seus associados e especialistas no assunto, dando origem às proposições apresentadas neste documento. 2 Fonte: Heidrick & Strugles, Global Talent Index 3 Fonte: Manpower 2010 Talent Shortage Report

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 9 DIAGRAMA 1 Sete grandes pilares fundamentam a formação e excelência de um polo de investimentos e negócios 7. IMAGEM DO PAÍS 6. CONECTIVIDADE 5. INFRAESTRUTURA FÍSICA 4. INFRAESTRUTURA FINANCEIRA 3. TALENTOS E CAPITAL HUMANO 2. AMBIENTE INSTITUCIONAL 1. AMBIENTE MACROECONÔMICO

10 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL DIAGRAMA 2 Três elementos formam o conjunto de talentos brasileiro: demografia, formação de pessoas e circulação de talentos Componentes do conjunto de talentos brasileiro DEMOGRAFIA Demografia é base para a formação de um conjunto de talentos. Significa a disponibilidade ou não de População Economicamente Ativa para formar a força de trabalho do país Permite fechar lacunas temporárias de pessoas na economia Provê a quantidade de pessoas para o conjunto de talentos Capacita as pessoas a exercer diferentes funções na economia Circulação de talentos se refere à importação e exportação de profissionais. A circulação é fenômeno natural e deve ser gerida para trazer benefícios ao país a. Brain gain b. Brain drain Formação transforma pessoas em talentos por meio dos ensinos básico, técnico, superior, de línguas estrangeiras e por meio de experiências internacionais FORMAÇÃO DE PESSOAS a. Quantidade de educação b. Qualidade da educação c. Alinhamento do ensino com o mercado d. Internacionalização do ensino Permite importar expertise internacional e ampliar/ consolidar a formação dos talentos nacionais CIRCULAÇÃO DE TALENTOS

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 11 No elemento da demografia, o Brasil apresenta uma grande vantagem estrutural quantitativa: o bônus demográfico. Projeções mostram que o País é hoje a maior economia no mundo a contar com expectativa de equilíbrio positivo entre oferta e demanda de mão de obra nos próximos dez anos. Todas as economias atualmente maiores que o Brasil (Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido) terão sua demanda por talentos crescendo mais rápido que sua População Economicamente Ativa. Diante da constatação de tal vantagem, passa-se então para a análise dos dois outros componentes do conjunto brasileiro de talentos: a formação de pessoas e a circulação de talentos, aspectos em que o Brasil tem promovido avanços, mas para os quais esforços adicionais significativos são requeridos para suprir as necessidades e suplantar as deficiências. Inicialmente, será analisada a seguir a formação de pessoas, subdividida em quatro dimensões: quantidade de educação, qualidade da educação, alinhamento do ensino com o mercado e internacionalização da formação. Quantidade de educação. Apesar da estruturação tardia, a educação no Brasil tem realizado importantes avanços e já alcançou a quase universalização do ensino fundamental, existindo ainda espaço para o aumento da quantidade de matrículas 4 nos ensinos médio e superior: A taxa de matrícula líquida no ensino fundamental brasileiro, obrigatório, era de 93% em 2007, acima da média global de 88% e próxima da universalização; A taxa de matrícula líquida no ensino médio brasileiro, a se tornar obrigatório em 2016, era de 77% em 2007, acima da média global de 68%, mas ainda longe da universalização; A taxa de matrícula bruta no ensino superior brasileiro era de 30% em 2007, abaixo da média global de 38% e com o maior espaço para ampliação. As sessões de trabalho com associados da BRAiN e especialistas no assunto levaram à compilação das seguintes proposições para tratar as lacunas da quantidade de educação: Expandir ensino técnico, garantindo alinhamento com as necessidades do mercado; Implementar sistema de gestão meritocrática das escolas brasileiras para combater a evasão; Melhorar a administração das escolas e a qualificação dos professores; 4 Fonte: UNESCO Aumentar as possibilidades de financiamento de alunos para expansão de matrículas do ensino superior.

12 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL Qualidade da educação. Já o cenário qualitativo da educação no Brasil é mais preocupante - o País tem desempenho bastante deficiente nos ensinos fundamental e médio e, apesar de contar com algumas universidades de destaque na América Latina, tem a maioria de suas instituições de ensino classificadas em níveis medianos ou inferiores: O ensino fundamental brasileiro teve o 12º pior desempenho médio na prova internacional PISA 5 de 2009, apesar de ter apresentado a terceira maior melhoria entre os 65 países pesquisados desde 2006; Somente cinco universidades brasileiras figuram entre as 600 melhores no mundo 6. As sessões de trabalho com associados da BRAiN e especialistas no assunto levaram à compilação das seguintes proposições para tratar as lacunas da qualidade da educação: Aumentar verbas disponíveis para o ensino como um todo; Racionalizar a distribuição de recursos, com maior foco no ensino médio; Aumentar e melhorar a remuneração dos professores; Melhorar o nível dos professores e motivá-los; Aprimorar o monitoramento da qualidade do ensino superior; Promover maior interação das instituições de ensino superior com o mercado. Alinhamento do ensino com o mercado. O atual baixo nível de alinhamento do ensino com as necessidades do mercado também é um aspecto que enfraquece o conjunto de talentos brasileiro: O ensino brasileiro tem o quinto pior alinhamento com as necessidades do mercado entre 58 países de acordo com pesquisa com executivos realizada pelo IMD 7 ; Apenas entre 2% a 4% das pesquisas realizadas no Brasil são de coautoria com empresas, enquanto em universidades dos EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e Coreia do Sul este número fica em torno de 10% a 20% 8. As sessões de trabalho com associados da BRAiN e especialistas no assunto levaram à compilação das seguintes proposições para tratar as lacunas do alinhamento do ensino com o mercado: Racionalizar requisitos de contratação flexibilizando exigências quando apropriado; Alinhar níveis de remuneração e oportunidades de carreira com competências; Criar agenda de ensino de médio e longo prazo alinhada com competências exigidas no mercado; 5 Programme for International Student Assessment: prova periodicamente aplicada pela OCDE a estudantes de 15 anos 65 países 6 Fonte: QS World University Rankings 2010 7 IMD World Competitiveness Yearbook 8 Fonte: Center for Science and Technology Studies- Leiden University (Holanda)

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14 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL Promover a aproximação entre ensino acadêmico e mercado de trabalho; Financiar pesquisa acadêmica direcionada às necessidades das empresas; Estruturar sistema nacional de certificações. Internacionalização da formação. As deficiências no ensino de idiomas estrangeiros e em vivência internacional são bastante conhecidas no Brasil: 43% dos executivos brasileiros afirmam que o conhecimento de idiomas no País não atende às necessidades do mercado, de acordo com pesquisa com executivos realizada pelo IMD 7 ; O Brasil tem menos de 0,1 estudante por mil habitantes saindo do País para fazer intercâmbio, número que cai para quase zero em se tratando de estudantes internacionais fazendo intercâmbio estudantil no Brasil 9. As sessões de trabalho com associados da BRAiN e especialistas no assunto levaram à compilação das seguintes proposições para tratar as lacunas da internacionalização da formação: Aumentar a quantidade e a qualidade do ensino de idiomas no ensino básico; Universalizar os cursos extracurriculares de idiomas; Elevar exposição dos alunos aos idiomas estrangeiros; Expandir o número de convênios entre instituições de ensino do Brasil e do exterior para intercâmbio de alunos; Ampliar a vivência internacional dos estudantes brasileiros. Terceiro elemento de um conjunto de talentos, a circulação de talentos é realidade crescente no mundo cada vez mais globalizado em que vivemos e, se bem gerida, pode trazer grandes benefícios para o Brasil. Entretanto, o País não trata bem nenhum dos aspectos de circulação de talentos: nem do brain gain, que constitui a entrada de profissionais estrangeiros no País, nem do brain drain, que diz respeito à saída de talentos brasileiros para atuar no exterior: O Brasil é apenas o 27º entre os 58 países no ranking de atratividade para profissionais estrangeiros de acordo com executivos, mas a atração brasileira começa a melhorar com o desempenho da economia, a instalação de multinacionais e o desenvolvimento de pontos de interesse específicos como na área de P&D 10 ; 9 Fonte: IMD World Competitiveness Online 10 Fonte: IMD World Competitiveness Yearbook, analisando a aderência à seguinte afirmação: Foreign high-skilled people are attracted to your country s business environment

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 15 Executivos julgam o Brasil como um dos países com maior dificuldade para a entrada de profissionais imigrantes em função dos processos excessivamente burocráticos de obtenção de vistos e de documentos 11 ; O Brasil não tem iniciativa estruturada para lidar com sua rede de expatriados: o País tinha em 2009 aproximadamente 3 milhões de talentos nacionais residindo no exterior, quase 1,5% de sua população 12. Outros países em desenvolvimento, como Chile e Índia, têm iniciativas de gestão de suas diásporas. As sessões de trabalho com associados da BRAiN e especialistas no assunto levaram à compilação das seguintes proposições para tratar as lacunas de circulação de talentos: Mapear as competências em falta no País, com divulgação mundial; Desburocratizar e flexibilizar seletivamente os processos de imigração; Montar grupo de empresas para recrutamento conjunto de estrangeiros; Criar instrumento e/ou entidade para gestão estruturada de expatriados. O Brasil parte de base sólida para construir seu conjunto de talentos, mas tem ainda importantes passos a dar para consolidar seu pilar de capital humano como ponto de atração de seu polo de negócios. Tais ações de avanço estão especialmente concentradas nos elementos de formação de pessoas e de circulação de talentos e têm consecução factível se contarem com o envolvimento de todos os setores da sociedade. O potencial do conjunto brasileiro pode ser ainda mais concretizado se gerido por um órgão multissetorial que assuma a responsabilidade de mapear o conjunto nacional com suas lacunas atuais e futuras para programar iniciativas necessárias para eliminá-las, como mostram as referências internacionais que serão apresentadas neste relatório, caso de Austrália e Reino Unido. 11 Fonte: IMD World Competitiveness Yearbook 12 Fonte: Ministério das Relações Exteriores do Brasil A BRAiN convida todos os representantes e membros da sociedade que tenham interesse em participar de diálogos estratégicos, bem como de grupos de trabalho para aprimorar o conjunto brasileiro de talentos, e consequentemente a atratividade do Brasil como polo de investimentos e negócios, a entrar em contato pelo e-mail contato@brainbrasil.org.

16 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 01 Talentos para um polo de negócios Um polo de negócios baseia-se na existência de atividades que suportem a interação econômica entre diferentes agentes. Por sua natureza, portanto, a formação de um polo depende integralmente da existência de um conjunto de talentos estruturado e desenvolvido, o qual possa fornecer mão de obra e conhecimento técnico necessários para viabilizar a realização de todas as atividades. O fato de o pilar de talentos e capital humano ser essencial para um polo de negócios é ilustrado por sua importância para o desenvolvimento econômico nacional, sobre a qual concordam diversos dos grandes economistas contemporâneos, como Paul Romer e Robert Barro. Economista da Universidade de Harvard, Barro, por exemplo, identifica o capital humano de um país como um dos três elementos-chave para o desenvolvimento econômico, junto com a governança econômica e o nível de partida da renda per capita no país. A importância econômica de talentos é também ilustrada pelos efeitos que sua escassez começa a causar na economia brasileira: a falta de mão de obra qualificada se apresenta como potencial limitador do crescimento nacional, sendo comuns os noticiários de imprensa sobre empresas com obras e atividades atrasadas por falta de trabalhadores. Além disso, essa mesma situação começa a gerar pressão inflacionária: a primeira ata de 2011 do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BACEN) alerta para o risco de a falta de mão de obra provocar um aumento dos salários reais superior ao aumento da produtividade do País (veja Quadro A).

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 17

18 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL QUADRO A Indisponibilidade de talentos no Brasil gera pressão inflacionária A falta de mão de obra no Brasil começa a gerar pressão inflacionária. A ata de janeiro de 2011 da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BACEN) apontou para o risco de aumento da inflação brasileira devido à estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente de mão de obra. Em tais circunstâncias, um risco importante reside na possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade, afirma o documento. A preocupação revelada na ata do Copom está alinhada com os aumentos de salários que vêm sendo concedidos devido à falta de mão de obra no País, os quais acabam refletindo em expansão de custos e de preços ao consumidor. Ilustração de tal fato se dá pelo exemplo citado na mesma ata: a expansão anual de 7,77% [em 2010] experimentada pelo indicador [Índice Nacional da Construção Civil INCC], ante 3,25% em 2009, esteve associada, em especial, ao aumento de 10,41% no custo da mão de obra. Nesta mesma linha, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 97% das categorias que negociaram aumentos salariais no primeiro semestre de 2010 os obtiveram em proporções superiores à inflação. O aumento salarial não está ocorrendo apenas nas carreiras técnicas e operacionais, mas em todos os níveis das organizações. De acordo com pesquisa realizada pelo jornal Valor Econômico, os diretores de empresas tiveram um aumento de 36% em sua remuneração total em 2010 em relação a 2009. A pesquisa foi realizada com 189 empresas de capital aberto e publicada em abril de 2011. O problema de pressão inflacionária advinda da falta de mão de obra não ocorre somente no Brasil - o mesmo risco foi apontado pelo Banco Central da China desde o meio de 2010. Talentos e capital humano também estão no topo da agenda dos executivos das empresas em todo o mundo. De acordo com a Pesquisa Anual Global de líderes de negócios, lançada no início de 2011 pela PricewaterhouseCoopers (PwC), estratégias de gestão de talentos serão o maior foco de mudanças durante os próximos meses (veja Diagrama 3). Por ter o setor de serviços como base, um polo apresenta demanda ainda mais intensa por talentos, já que o segmento é o que utiliza maior qualificação de pessoas: no Brasil, 67% dos empregados no setor têm pelo menos ensino médio completo e 25% dos mesmos trabalhadores têm ensino superior completo, proporções essas que caem para 43% e 9%, respectivamente, no restante da economia brasileira 13. Apesar de sua importância para a constituição do polo brasileiro, o conjunto nacional de talentos não tem boa colocação se comparado aos conjuntos de talentos de outras nações. Ao contrário, o Brasil é o 25º colocado entre 30 países do Global Talent Index 14 13 Dados referentes ao total de empregados formais no Brasil ao final de 2009. Fonte: RAIS-CAGED 14 Fonte: Heidrick & Strugles, Global Talent Index

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 19 DIAGRAMA 3 Talentos estão nas agendas de executivos no mundo todo Talentos serão foco de mudanças nos próximos meses Intenção de executivos globais de realizarem mudanças em suas organizações nos próximos 12 meses - ref.: 2011 Estratégia de gestão de talentos 17% 52% 31% Abordagem de gestão de riscos 23% 54% 23% Decisões de investimentos 23% 48% 28% Estrutura organizacional (incluindo M&A) 25% 47% 27% Reputação corporativa e reconstrução de confiança 36% 41% 22% Estrutura de capital Envolvimento com board de diretores Fonte: Pesquisa Anual Global de líderes de negócios da PwC, pesquisa na mídia 50% 34% 15% 50% 34% 12% % de respondentes Sem mudanças Alguma mudança Grandes mudanças (veja Diagrama 4), atrás de Ucrânia, Tailândia, África do Sul e Egito, por exemplo. Além disso, as empresas brasileiras têm a segunda maior dificuldade de contratar pessoas, de acordo com a empresa de serviços de recursos humanos Manpower 15 (veja Diagrama 5), especialmente em função das lacunas em formação e circulação de profissionais. Quando comparado em nível regional, o conjunto de talentos brasileiro ocupa o terceiro lugar entre 10 países da América Latina analisados, atrás do Chile e do México 16. Por outro lado, o Brasil está em primeiro lugar em demografia e qualidade de ensino superior mas, novamente, falha em outros aspectos de formação e de circulação de pessoas. 15 Fonte: Manpower 2010 Talent Shortage Report 16 Fonte: Heidrick & Strugles, Latin American Talent Index No presente relatório são exploradas a situação atual e as oportunidades de ação sobre o conjunto brasileiro de talentos à luz da necessidade de consolidá-lo para permitir a formação do polo de negócios no País. A abordagem se dará por meio dos três elementos formadores de um conjunto e que serão tratados nos capítulos a seguir: demografia, formação de pessoas e circulação de talentos (veja Diagrama 2, na página 10).

20 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL DIAGRAMA 4 Conjunto de talentos brasileiro ainda não tem boa classificação se comparado com benchmarks internacionais Brasil está em 25º lugar de 30 países no Global Talent Index Formação e circulação de talentos são principais lacunas brasileiras 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Estados Unidos Reino Unido Canadá Holanda Suécia China Alemanha Austrália França Índia Espanha Malásia Coreia do Sul Japão Polônia 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. Itália Ucrânia Rússia México Grécia Argentina Tailândia África do Sul Egito Brasil Turquia Arábia Saudita Nigéria Indonésia Irã Demografia 5º Formação de talentos CIrculação de talentos 23º 26º 23º 24º Demografia (PEA 1 ) Qualidade do ensino obrigatório Qualidade do ensino nas universidades e escolas de negócio Mobilidade e abertura do mercado de trabalho local Capacidade de atrair talentos de outros países PEA: População Economicamente Ativa. Nota: além dos itens apresentados, ranking considera também Qualidade do ambiente para gerar e desenvolver talentos em que o Brasil está em 19º e Capacidade para atrair investimentos estrangeiros diretos, em que o país está em 18º. / Fonte: Global Talent Index 2012, Heidrick & Strugles; análise BCG Nessa nova era de grande volatilidade e organizações enxutas, talentos estão se tornando o novo isso substituindo o capital como diferenciador competitivo [...]. Estamos entrando em uma nova era: a Era Humana. Jeff Joerres, CEO e Chairman da Manpower Inc.

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 21 DIAGRAMA 5 64% das empresas no Brasil têm dificuldade em encontrar profissionais, o segundo maior índice global % de empresas com dificuldades para encontrar talentos - 2010 76% 11% 9% 4% 23% 21% 19% 18% 17% 16% 16% 15% 14% 31% 30% 30% 29% 29% 27% Média global 31% 45% 44% 43% 42% 41% 40% 38% 36% 36% 36% 35% 35% 35% 53% 53% 51% 64% Ranking de funções de acordo com escassez de talentos no Brasil 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Técnicos 1 Trabalhadores manuais 2 Operadores de produção Assistentes administrativos Operários Engenheiros Motoristas Staff de finanças e contabilidade Técnicos em TI Representantes de vendas 1. Operadores, técnicos de manutenção, engenheiros. 2. Eletricistas, encanadores, marceneiros, carpinteiros etc. Nota: Brasil é segundo colocado de 36 países. / Fonte: Manpower 2010 Talent Shortage Report.

22 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 02 DEMOGRAFIA A demografia constitui a base bruta para a formação de um conjunto qualificado de talentos, isto é, representa a disponibilidade ou não da População Economicamente Ativa (PEA), que é a matéria-prima para formar a força de trabalho de um país. A avaliação de projeções de crescimento econômico e das populações em idade para trabalhar em países desenvolvidos mostra que demografia deve começar a ser um problema. Um estudo feito pelo HSBC 17 mostra que, enquanto a economia desses países deve continuar crescendo nos próximos anos, o contrário deve acontecer com o tamanho de sua população em idade de trabalho. Tal fato, se não for acompanhado de aumento na produtividade dos trabalhadores, pode gerar um grande apagão de talentos (veja Diagrama 6). 17 Relatório The World in 2050 do HSBC DIAGRAMA 6 Crescimento da PEA em países desenvolvidos não acompanhará o crescimento de sua economia Crescimento econômico previsto é positivo......mas PEA cresce somente em países em desenvolvimento PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO 2 PAÍSES DESENVOLVIDOS 1 Crescimento da economia - % a.a. 3,2 2,6 2,0 1,2 0,9 1970s 1980s 1990s 2000s 2010s Crescimento da economia - % a.a. 1,6 1,2 0,8 0,8 0,8 1970s 1980s 1990s 2000s 2010s TACC 2010-2040 0,9% 0,9 0,9 1,0 2020s 2030s 2040s TACC 2010-2040 1,8% 1,8 1,8 1,9 2020s 2030s 2040s Pessoas em idade de trab. (bilhões) TACC 2010-2040 -0,1% 0,77 0,84 0,81 0,75 1990 2010 2030 2050 Pessoas em idade de trab. (bilhões) TACC 2010-2040 0,5% 5,14 4,48 3,70 2,53 1990 2010 2030 2050 1. Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá, Espanha, Austrália, Holanda, Suécia, Suíça, Bélgica, Áustria, Noruega, Dinamarca, Grécia, Finlândia, Irlanda 2. China, Índia, Brasil, Coreia do Sul, México, Argentina, Rússia, Turquia, Indonésia, Arábia Saudita, Polônia, Hong Kong, África do Sul, Tailândia, Israel, Cingapura, Irã, Egito, Venezuela, Malásia, Colômbia / Nota: PEA = População economicamente ativa / Fonte: The World in 2050 do HSBC, Organização das Nações Unidas; análise BCG

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 23 18 Oferta e demanda são puramente quantitativas nesta análise não consideram a qualificação das pessoas 19 Stimulating Economies through Fostering Talent Mobility Nesse contexto, o Brasil parte de grande vantagem estrutural, sendo a maior economia atual a apresentar crescimento de PEA superior ao crescimento esperado na demanda por pessoas para o trabalho 18, como mostra o estudo divulgado pelo BCG em conjunto com o Fórum Econômico Mundial (WEF) no início de 2010 19 (veja Diagrama 7). Todas as economias atualmente maiores que a brasileira Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido terão sua demanda por pessoas crescendo a taxas maiores que a sua oferta de trabalhadores. DIAGRAMA 7 Brasil e Índia serão as maiores economias do mundo com equilíbrio positivo entre oferta e demanda de PEA Lacuna entre crescimento da oferta e da demanda por trabalhadores 2010-2020 RUS -0,6% CAN -0,3% GBR -1,1% SUE 0,3% ALE -0,7% EUA -0,6% MEX 0,4% ESP 0,1% FRA -0,7% ITA -1,3% BRA 1,6% POL -2,6% TUR -1,3% EGT 2,0% IND 1,8% IDN -O,3% COR -2,6% JAP -2,3% CHN -1,7% AFS 0,9% AUS -1,2% Falta de mão de obra Falta ou excesso limitado Aumento de mão de obra Diferença média entre cenários com e sem efeitos da crise econômica mundial Nota: dados apresentados com base em visão quantitativa, não refletem fatores qualitativos (e. g. qualificação dos profissionais) / Fonte: Stimulating Economies through Fostering Talent Mobility,BCG & WEF; EIU CountryData; análise BCG

24 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL A consciência sobre a escassez de mão de obra já começou a gerar debates no mundo. O Fórum Econômico Mundial discutiu o assunto pelo segundo ano consecutivo em sua reunião de Davos em 2011 e já lançou o segundo relatório sobre a mobilidade de talentos como forma de lidar com a falta de mão de obra global. Empresas também começam a pensar em estratégias para solucionar sua dificuldade de contratar talentos e afirmam que devem aumentar o recrutamento internacional e considerar mudar de localidade em busca de maior disponibilidade de trabalhadores (veja Diagrama 8). DIAGRAMA 8 Empresas moldarão suas estratégias pela busca por talentos Empresas consideram mudar suas estratégias para solucionar o problema de falta de mão de obra % de empresas que consideram mudar de local atrás de talentos % de empresas que consideram realizar recrutamento internacional AMÉRICA DO NORTE 7 18 AMÉRICA DO NORTE 22 48 AMÉRICA 8 AMÉRICA 20 LATINA 1 32 LATINA 1 60 6 23 EUROPA 2 EUROPA 2 22 56 ÁFRICA 11 25 ÁFRICA 25 52 ÁSIA 16 ÁSIA 22 EMERGENTE 3 38 EMERGENTE 3 64 ÁSIA 9 ÁSIA 27 DESENVOLVIDA 4 19 DESENVOLVIDA 4 57 REGIÃO 3 REGIÃO 33 DO PACÍFICO 5 14 DO PACÍFICO 5 60 1. Inclui México 2. Inclui Rússia 3. China, Índia, Indonésia, Malásia, Papua Nova Guiné, Filipinas, Sri Lanka, Tailândia e Vietnã. 4. Japão, Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan. 5. Austrália e Nova Zelândia. / Fonte: BCG People Advantage Report 2008, Global Talent Risk Seven Responses, WEF & BCG; análise BCG 2007 2010-2015

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 25 Estamos entrando em uma era de escassez de talentos nunca vista, a qual, se deixada sem solução, freará o crescimento econômico ao redor do mundo e vai fundamentalmente mudar a forma como lidamos com desafios de mão de obra. Jean Charest, Premier de Quebec, Canadá Partindo de uma base demográfica favorável e rara em grandes economias, o Brasil tem a possibilidade de atrair empresas e transformar seu conjunto de talentos em um dos diferenciais de seu polo de negócios. Para isso, no entanto, não basta ter um número suficiente de pessoas. É necessário garantir fortalezas também nos outros dois elementos do conjunto: formação e circulação. Se não os tiver desenvolvidos, o conjunto de talentos brasileiro poderá contribuir para o efeito contrário, a saber, o de esvaziamento dos negócios nacionais devido à simples exportação de pessoas para outras economias, dado o maior recrutamento internacional por outros países (veja Diagrama 9). DIAGRAMA 9 Disponibilidade de talentos qualificados será determinante na atração de empresas e negócios para o Brasil O Brasil poderá atrair empresas... Se tiver um conjunto de talentos desenvolvido, o Brasil pode atrair empresas que busquem localidades com mão de obra qualificada disponível EMPRESAS DEVEM MIGRAR PARA PAÍSES COM MAIOR DISPONIBILIDADE DE MÃO DE OBRA A PARTIR DA DISPONIBILIDADE DE PESSOAS, O BRASIL PODE ACABAR ATRAINDO EMPRESAS OU SIMPLESMENTE EXPORTANDO TALENTOS GESTÃO DA DISPONIBILIDADE SERÁ ELEMENTO DE DIFERENCIAÇÃO...ou simplesmente exportar talentos Sem um conjunto de talentos bem desenvolvido, no entanto, o Brasil intensificará seu papel de exportador de mão de obra qualificada para o exterior TALENTOS DEVEM MIGRAR DE PAÍSES COM EXCESSO DE MÃO DE OBRA PARA PAÍSES COM ESCASSEZ

26 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 03 FORMAÇÃO DE PESSOAS A formação da População Economicamente Ativa de um país é necessária para transformá-la em conjunto de talentos efetivo. Sem capacitação, a existência de pessoas em idade para trabalhar não garante o fornecimento de mão de obra para o crescimento nacional e nem para atender às empresas instaladas ou que venham a se instalar no país. A análise de dados internacionais mostra alta correlação entre os anos de escolaridade e a renda per capita da população, ou seja, o nível de bem-estar e de crescimento econômico. Países em que a população tem um número médio de anos de estudo mais elevado também apresentam maior renda nacional per capita, se destacando Estados Unidos, Alemanha e Nova Zelândia, por exemplo (veja Diagrama 10). 100 RENDA PER CAPITA NACIONAL US$ mil PPP em 2010 DIAGRAMA 10 Educação, base para a formação de pessoas, é determinante para o desenvolvimento de um país 80 60 Países outliers com baixa educação e alta renda são grandes exportadores de petróleo KUWAIT CATAR BRUNEI 40 20 GUINÉ EQUATORIAL BRASIL ESTADOS UNIDOS ALEMANHA NOVA ZELÂNDIA 2 4 6 8 10 12 14 Fonte: Dados utilizados para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU; análise BCG ANOS DE ESCOLARIDADE média em 2010

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 27

28 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL A realidade internacional encontra também paralelo no caso brasileiro. Um estudo lançado em fevereiro de 2011 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 20 ilustra a importância da formação de talentos para a economia brasileira ao concluir que investimentos em educação são os investimentos sociais que mais geram resultados econômicos no Brasil. Aumentos de 1% do PIB em investimentos em educação têm retorno de 1,85% no crescimento da economia, ante 1,70% para saúde e 1,57% para demanda agregada, por exemplo. Analogamente, aumentos dos investimentos em educação contribuem mais também para a expansão da renda familiar (veja Diagrama 11). 20 Gastos com a Política Social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda do IPEA DIAGRAMA 11 No Brasil, investimentos em educação são os que mais geram retornos econômicos No Brasil, educação é o investimento social que mais contribui para o crescimento do PIB... Aumento no PIB decorrente de um aumento de 1% do PIB em cada tipo de gasto... e também para o maior crescimento na renda familiar brasileira Aumento da renda familiar decorrente de um aumento de 1% do PIB em cada tipo de gasto EDUCAÇÃO 1,85% EDUCAÇÃO 1,67% SAÚDE 1,70% SAÚDE 1,44% DEMANDA AGREGADA 1,57% DEMANDA AGREGADA 1,17% INVESTIMENTO EM CONSTRUÇÃO CIVIL 1,54% INVESTIMENTO EM CONSTRUÇÃO CIVIL 1,14% EXPORTAÇÕES DE COMMODITIES 1,40% EXPORTAÇÕES DE COMMODITIES 1,04% Multiplicador do PIB brasileiro (%) Multiplicador da renda familiar brasileira (%) Fonte: Gastos com a Política Social: alavanca para o crescimento com distribuição de renda do Ipea No Brasil, a educação teve estruturação tardia: somente em 1930 o País criou o Ministério da Educação e transformou a educação básica em compulsória (veja Diagrama 12), o que já havia acontecido em países da Europa e da América do Norte durante o século XIX. A partir dos anos 30, o nível de formação da população brasileira evoluiu aceleradamente, em especial nas últimas décadas. Entre 1920 e o final dos anos 2000, a taxa de escolarização aumentou de 9% para 86%, a taxa de alfabetização subiu de 30% para 90% e o número de matrículas nos ensinos fundamental e médio de 1 milhão para 42 milhões (veja Diagrama 12).

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 29 DIAGRAMA 12 Educação no Brasil alcançou importantes avanços em sua história recente A educação no Brasil tem história recente e evoluiu bastante desde seu início em 1930 12 10 # de anos de ensino compulsório Média OCDE de 10,4 anos será ultrapassada pelo Brasil em 2016 12 8 8 8 9 9 6 4 4 2 1930 Estruturação da educação no Brasil foi tardia: Europa e EUA a fizeram no século XIX 1970 1998 2006 2010 2016 Incluíndo 4 anos de inglês Incluíndo 3 anos de espanhol O País teve avanços significativos em escolarização, alfabetização e matrículas 1 100 % da população 90 Alfabetização (15 anos +) 74 86 Escolarização (5 a 19 anos) 2 50 30 44 61 62 21 33 9 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 40 20 # de matrículas (M) 1 1920 1930 3 1940 1950 7 1 1960 1970 22 4 1 1980 1990 2000 33 9 5 2010 Ensino Fundamental Ensino Médio Ensino Superior 1. Dados de 1980 estimados como ponto médio entre os anos 1970 e 1990 para continuidade de dados. Dados dos anos 1990 referem-se a 1992. 2. Escolarização é a porcentagem dos estudantes (de um grupo etário) em relação ao total de pessoas (do mesmo grupo etário). Fonte: MEC, Inep, IBGE, IPEA; Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação; análise BCG

30 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL Os avanços da educação brasileira em um curto espaço de tempo colocam o nível educacional da População Economicamente Ativa (PEA) nacional em posição superior à dos países que têm também equilíbrio positivo entre oferta e demanda de mão de obra: 40% da PEA brasileira têm pelo menos o ensino médio completo, enquanto a mesma proporção cai para 38% no Paquistão, 37% no México, 29% na Indonésia e 9% na Índia (veja Diagrama 13). Se comparado com países desenvolvidos, no entanto, o Brasil tem ainda bastante a evoluir: em Hong Kong, Cingapura, Reino Unido e Estados Unidos, as porcentagens da população que têm pelo menos o ensino equivalente ao médio completo são 70%, 75%, 79% e 91%, respectivamente (veja Diagrama 13). DIAGRAMA 13 Nível educacional brasileiro é superior ao de outros países com equilíbrio positivo entre oferta e demanda de PEA Polos de negócios internacionais Populações com excesso de PEA % da PEA por nível educacional - 2008 % da PEA por nível educacional - 2008 14% 11% 23% 52% CINGAPURA 1% 12% 17% 39% 31% HONG KONG 9% 13% 46% 33% REINO UNIDO 9% 29% 62% ESTADOS UNIDOS 38% 17% 17% 20% 5% 12% 35% 19% 22% 4% 5% 7% ÍNDIA 1 INDONÉSIA 5% 29% 27% 15% 22% MÉXICO 8% 11% 23% 18% 31% 9% BRASIL Ensino superior Ensino Médio Ensino fundamental até 8 a série Ensino fundamental até 4 a série Pré-escola Nenhum 1. Segmentação da Índia estimada de acordo com quebra da população do censo de 2001 / Fonte: Organização Internacional do Trabalho, The Economist, Censo Indiano 2001; análise BCG Apesar de estar atrás de outros centros de negócios importantes, diversos exemplos mostram que a evolução do Brasil é possível se os esforços forem bem geridos. Os Tigres Asiáticos Cingapura, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan tinham, na década de 1960, nível educacional similar ao atual brasileiro e hoje contam com nível equivalente ao de países desenvolvidos como Estados Unidos e Reino Unido, servindo de benchmark para a evolução que a educação no Brasil precisa experimentar nos próximos anos (veja Diagrama 14).

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 31 DIAGRAMA 14 Evolução educacional nos Tigres Asiáticos foi importante para o crescimento econômico Capital humano foi responsável por grande parte do crescimento dos Tigres Asiáticos Crescimento médio anual econômico - 1960 a 1990 COREIA DO SUL 4,4% 1,7% 4,4% 10,5% TAIWAN 3,6% 2,4% 3,6% 9,6% Capital financeiro Produtividade Capital humano CINGAPURA -0,3% 6,1% 2,7% 8,5% HONG KONG 3,0% 2,3% 2,0% 7,3% -2 0 2 4 6 8 10 12 Fonte: The Tyrany of the Numbers em Economics of Development Perkins, Radelet, Snodgrass, Gillis, Roemer O caso de transformação do sistema educacional da Coreia do Sul é um dos mais emblemáticos e reconhecidos no mundo (veja Diagrama 15). Na década de 1960, o porcentual da população com ensino médio completo era muito parecido com o do Brasil, ambos ficando abaixo de 10% do total 21. A partir daí, a Coreia do Sul passou a focar esforços neste nível de ensino, chegando em 1995 a um patamar de 40% do total, enquanto o Brasil ainda engatinhava, tendo 10% da população com ensino médio completo. Entre outros fatores, o investimento da Coreia do Sul em capital humano permitiu que a taxa de crescimento da sua renda per capita girasse em torno de 8,4% a.a. de 1960 a 2010, saindo de um nível menor que o do Brasil e chegando, hoje, a uma renda per capita equivalente a mais que o dobro da brasileira. Algumas mudanças implementadas pela Coreia do Sul tiveram papel fundamental em transformar a educação do país e em contribuir para o seu desenvolvimento, e o Brasil tem todas as condições de focar seus esforços e atingir os mesmos resultados. Entre as iniciativas, destacam-se principalmente a concentração dos recursos direcionados à educação no ensino fundamental; a ênfase na importância dos professores durante o processo de aprendizado, revisando a política salarial e o tempo dedicado aos alunos; e, principalmente, a busca de alinhamento da educação superior com as necessidades do mercado. A trajetória de Cingapura ao longo das últimas décadas é similar à da Coreia do Sul. Partindo de níveis educacionais subdesenvolvidos na década de 1960, Cingapura tem agora um dos melhores desempenhos educacionais do mundo. Hoje, 80% dos alunos cumprem o período mínimo de escolaridade de 16 anos e o país tem o quarto melhor desempenho médio na prova PISA 22 entre 65 países avaliados. 21 Fonte: Banco Mundial 22 Programme for International Student Assessment. Aplicado a 65 países em 2009: OCDE + convidados. Fonte: OCDE A evolução de Cingapura se deu com base no aumento quantitativo aliado à melhoria educacional qualitativa. O enfoque na preparação de professores teve destaque especial: houve incentivo aos jovens mais talentosos a seguirem carreira de magistério; aumento do prestígio e dos salários de professores, tornando estes competitivos no

32 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL DIAGRAMA 15 Coreia do Sul mostrou que mudança de patamar educacional é possível, se bem gerenciada Com patamares iniciais parecidos, Coreia do Sul deu salto em nível educacional antes do Brasil e colheu bons frutos econômicos A revolução educacional sul-coreana teve apoio forte do governo e iniciativas estruturadas Escolaridade Brasil e Coreia do Sul 50 40 30 20 10 % da população com ensino secundário completo 1 40,8 8,7 10,6 4,2 37,8 COREIA DO SUL 26,3 BRASIL Mudança educacional na Coreia do Sul focou em alguns pontos chave para garantir sucesso: Investimento público concentrou-se em assegurar ensino fundamental de qualidade e foi complementado por investimento privado no ensino superior Papel dos professores foi enfatizado Política salarial atrativa Dedicação exclusiva e a uma só escola Ênfase em tempo para atendimento aos alunos Maior alinhamento da educação superior com as necessidades do mercado Incentivo à formação técnica Criação de institutos voltados para ciência e tecnologia 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Até 1995, nível coreano era ~4 vezes maior que o brasileiro Renda per capita (US$ PPP mil) TACC (1980-2010) COREIA DO SUL 2,6 8,4 17,2 29,6 8,4% BRASIL 3,7 5,4 7,4 11,2 3,7% 1. População maior de 15 anos Fonte: Banco Mundial; EIU; pesquisa na mídia; análise BCG mercado; e formação de educadores por meio de intensa prática pedagógica (análoga à residência médica). Além disto, a utilização de recursos tecnológicos foi priorizada e houve uma mudança de mentalidade em relação à forma de administrar escolas: focou-se em melhorias de qualidade, definição de visão e missão, e profissionalização da gestão, tal como acontece com empresas privadas, buscando a melhoria de desempenho. Abu Dhabi é outro exemplo de evolução na educação, mais focado no alinhamento da formação com as necessidades do mercado. Frente a um desafio de diversificação econômica, o governo de Abu Dhabi estruturou um amplo projeto de revisão do sistema educacional, utilizando as melhores práticas de outras nações, que mapeou as projeções de crescimento do país e de setores específicos, bem como da mão de obra qualificada. O mapeamento deu origem a um plano detalhado de investimentos e ações na área da educação, com acompanhamento quinzenal ou mensal durante a implementação das iniciativas, não só

TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL 33 daquelas do setor público como também das iniciativas das empresas e das instituições de ensino (veja Diagrama 16). Algumas iniciativas executadas em Abu Dhabi incluem: Priorização do modelo misto de educação, no qual as escolas são responsáveis por proverem o estudo teórico e as empresas por proverem o ensino prático e técnico em seus próprios laboratórios e/ou através de estágios; Concessão de bolsas de pesquisa para os assuntos priorizados pelo governo, como forma de direcionar a produção acadêmica do país; Estabelecimento de um amplo processo de inspeção e certificação de escolas para garantir uma qualidade mínima de ensino; Flexibilização da burocracia migratória para profissionais qualificados nas áreas priorizadas ou em demanda apontadas pelo mapeamento geral. Partindo de base sólida, o Brasil tem condições de avançar na formação de profissionais para seu conjunto de talentos. Serão analisados nas próximas seções o status e os próximos passos necessários à formação de pessoas no Brasil por meio de seus quatro elementos principais: a quantidade de educação, a qualidade da educação, o alinhamento da formação com as necessidades do mercado e a sua internacionalização. DIAGRAMA 16 Abu Dhabi mostra que iniciativas focadas podem aumentar alinhamento do ensino com necessidades do mercado Ministério da Educação buscou alternativas para a falta de mão de obra especializada Em esforço de diversificação de sua economia, Abu Dhabi precisava solucionar falta de mão de obra qualificada em setores foco. Exemplos: Indústria de manufatura leve Energia renovável Tratamento de água (dessalinização) Serviços médicos Diversas iniciativas foram geradas e cerca de 35% já foram implementadas Mais de 20 iniciativas para reestruturação foram definidas, focando em objetivos claros, incluindo: Garantir alinhamento com as necessidades do mercado Aumentar empregabilidade dos cidadãos Tornar o ensino técnico acessível Desenvolver habilidades de gestão do sistema em entidades do governo envolvidas Sem sistema de educação técnica coesa no país, o governo estruturou projeto de revisão e desenho desta área de ensino Benchmarking amplo envolvendo diversos países FINLÂNDIA / INDONÉSIA / AUSTRÁLIA / DINAMARCA PAÍSES BAIXOS / JAPÃO / BÉLGICA / ÁUSTRIA / ALEMANHA SUÍÇA / ESTADOS UNIDOS / IRLANDA / FRANÇA / HUNGRIA CANADÁ / CINGAPURA / NORUEGA / SUÉCIA REINO UNIDO / MÉXICO / ÁFRICA DO SUL / ARGENTINA EGITO / ESCÓCIA / REPÚBLICA TCHECA / TURQUIA Engajamento extenso com empresas e entidades educacionais Primeiras iniciativas já foram implementadas no país Mudanças legais e institucionais necessárias à implementação do novo modelo de educação foram realizadas Empresas já estão em contato com instituições de ensino Processo de inspeção e certificação das escolas está implementado, garantindo qualidade e informação aos alunos sobre opções disponíveis Fonte: análise BCG

34 TALENTOS E CAPITAL HUMANO PARA O POLO DE INVESTIMENTOS E NEGÓCIOS NO BRASIL QUANTIDADE DE EDUCAÇÃO A análise da quantidade de educação em um país diz respeito ao entendimento do alcance da escolarização à população em geral. Esta seção focará apenas na quantidade, embora se reconheça e seja abordado mais adiante no relatório que a qualidade do ensino tenha papel fundamental na formação de talentos. Garantir o acesso universal à educação é o primeiro passo necessário para consolidação da base de ensino, a partir da qual se podem discutir melhorias qualitativas. Com as evoluções em sua relativamente curta história educacional, o Brasil tem hoje taxa de matrícula líquida 23 no ensino fundamental de 93%, superior à média global e próxima da universalização (veja Diagrama 17). A vitória da quase universalização do ensino fundamental no Brasil data da última década e é resultante de esforços governamentais na construção de escolas. O grande desafio agora está relacionado à redução das taxas de abandono e de evasão escolar 24, que giram em torno de 5% e 14%, respectivamente. Como resultado, ao final do ensino fundamental, apenas 63% das crianças se formam com idade correta neste nível 25. 23 Exclui matriculados repetentes e pessoas fora de idade escolar 24 Abandono é a saída do ano letivo para volta no ano seguinte. Evasão é o abandono definitivo 25 Fonte: Movimento Todos pela Educação DIAGRAMA 17 Ensino fundamental no Brasil é quase universalizado e dá boa base para o conjunto brasileiro Ensino fundamental no Brasil está quase universalizado Taxa de matrícula líquida entre pessoas de idade escolar % em 2007 100 98 top 10: 99% 94 93 média global: 88% 80 60 40 20 JAPÃO MÉXICO CHILE BRASIL Fonte: UNESCO, Movimento Todos Pela Educação; análise BCG