Programa de educação alimentar e nutricional para mulheres obesas e hipertensas: resultados e adesão ao tratamento



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Transcrição:

Programa de educação alimentar e nutricional para mulheres obesas e hipertensas: resultados e adesão ao tratamento Érika da Silva Bronzi 1 Antônio Eduardo Ribeiro 2 Resumo: O programa proposto teve como objetivo proporcionar aos participantes um tratamento em grupo com atividades duas vezes na semana com duração de 2 horas. Nessas, as participantes praticavam atividade física. As orientações nutricionais aconteceram semanalmente em grupo. O método utilizado é denominado grupo operativo que se baseia na realização de tarefas oferecidas pelos supervisores na busca de um objetivo. Semanalmente era aferido o peso corporal e a pressão arterial das participantes. As atividades de orientação nutricional abordavam formas práticas e fáceis na rotina de vida para alcancem uma alimentação saudável. A presença constante das participantes no projeto é importante, pois a assiduidade relaciona-se aos resultados obtidos. Durante os 4 meses de tratamento a maioria das participantes apresentaram manutenção de peso corpóreo, 83% no final do estudo apresentavam pressão arterial regulada com valores máximos de 130/90 mmhg. Participaram de mais de 70% das reuniões de educação nutricional 61,1% das mulheres. Conclui-se que o programa além de ser uma forma de tratamento, é uma oportunidade das participantes desenvolverem a socialização e melhorar a qualidade de vida. Palavras-chave: Educação Nutricional. Obesidade. Hipertensão Arterial 1 Professora do Curso de Nutrição do Centro Universitário Claretiano de Batatais. Mestre em Saúde na Comunidade pela FMRP USP. Doutoranda em Ciências Nutricionais pela UNESP Araraquara, E- mail: <esbronzi@yahoo.com.br>. 2 Professor do Curso de Educação Física do Centro Universitário Claretiano de Batatais. Professor pesquisador colaborador. Mestrando pela Unicamp, e-mail: <antonioeduardoclaretiano@gmail.com>. Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 103

1. INTRODUÇÃO Uma das maiores causas de redução da expectativa de vida e da qualidade de vida ente adultos é a presença da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), uma doença com taxas de morbidades mais frequente, entre adultos, tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. É caracterizada como fator de risco para outras doenças cardiovasculares como: trombose, aterosclerose e acidente vascular cerebral (PASSOS; ASSIS; BARRETO, 2006). Acomete 25% da população mundial, apresentando uma previsão de aumento dos casos para 60%, em 2025 (KE- ARNEY et al., 2005). Outra doença crônica não transmissível (DCNT) de grande ocorrência no mundo, e que costuma apresentar-se associada à hipertensão, é a obesidade, cuja prevalência cresce mundialmente, devido ao sedentarismo, hábitos alimentares inadequados, dentre outros fatores (ROSA; SCHMIDT, 2008). A obesidade é um fator de risco associado ao aumento da prevalência de HAS e de Diabetes Mellitus, comumente relacionada aos distúrbios do metabolismo de glicose e de lipídios. A etiologia da obesidade relaciona-se a hábitos de vida e alimentares inadequados que podem estar associados a elevações dos níveis pressóricos, consumo excessivo de sal, bebidas alcoólicas, sedentarismo e tabagismo. Deste modo, uma das formas de tratamento e prevenção das DCNT é a mudança no estilo de vida (FERREIRA et al., 2009). Modificações nos hábitos alimentares colaboram para a redução do risco cardiovascular. Isso foi verificado em diversos estudos, que tiveram como resultados; redução do peso corpóreo, melhora no perfil lipídico sanguíneo, redução da pressão arterial e melhora na tolerância à glicose (ALVAREZ; ZANELLA, 2009). Bateman et al. (2012) em estudo no Estados Unidos (EUA) referem que a prevalência de HAS em mulheres em idade reprodutiva (20 a 44 anos) é de 8%, ocorrendo diferença na prevalência em relação a grupos raciais e idade, sendo a obesidade um importante fator de risco na população de mulheres, pois afeta 30% das mulheres adultas jovens nos EUA, 104 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

sendo associado a mais de 4 vezes o risco de hipertensão, apesar de ser um fator de risco potencialmente modificável. A obesidade é uma doença crônica que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura em níveis que acarretam a saúde do indivíduo, está associada ao aumento dos riscos de acometimento de doenças cardíacas, hiperlipidemias, aterosclerose, hipertensão arterial, diabetes, osteoartrites, patologias biliares e vários tipos de câncer. (MONTEIRO, et al. 2004; PORTO et al., 2002; BENEZ, 2003). O paciente obeso apresenta, em geral, dificuldades psicológicas, advindas de aspectos relacionados ao comportamento hiperfágico e problemas emocionais decorrentes da própria obesidade. Assim, verifica-se a necessidade da intervenção nutricional abordar os aspectos primários e secundários à obesidade, oferecendo informações e orientações como subsídios para mudanças comportamentais (BENEZ, 2003). A partir da necessidade do tratamento da obesidade abordar a educação alimentar e os conflitos emocionais subjacentes a obesidade. Alguns grupos populacionais tornam-se importantes alvos para a modificação de hábitos alimentares e de vida e o conseqüente sucesso do tratamento. Deste modo, mulheres, donas de casa, que preparam a refeição da família, realizam as compras de gêneros alimentares mensais podem-se tornar importantes disseminadoras de informações que gerem hábitos alimentares e de vida saudáveis. O tratamento em grupo como apontado no estudo de Contel e Villas-boas em 1999 trata-se de um tratamento que promove um grande senso de união de todos os participantes focados no problema abordado. Estudos como o de Monteiro e colaboradores (2004), com mulheres obesas em climatério, demonstram o sucesso na utilização da educação alimentar e nutricional na mudança de hábitos alimentares, sendo que a perda de peso ocorreu com maior intensidade quando aliou-se a dieta hipercalórica e a orientação em grupo com a prática da atividade física regularmente. A educação nutricional tem sido adotada como estratégia para conter o avanço da obesidade na população. Intervenções nutricionais a partir Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 105

de atendimentos em grupo visam proporcionar ao paciente um ambiente interativo, reflexivo e facilitador da aprendizagem, o que possibilita mudança de hábitos, além de ser uma alternativa de tratamento (ALVAREZ; ZANELLA, 2009). Alvarez e Zanella (2009) em seu estudo com hipertensos submetidos a atendimento em grupo, cujo objetivo era ampliar os conhecimentos de nutrição dos pacientes atendidos e não fornecer uma dieta com conteúdo energético e de macronutrientes pré-determinados. Os indivíduos eram divididos em dois grupos, um deles foi submetido a 10 visitas e outro a 4 visitas de orientação nutricional. Os pacientes recebiam as informações e elaboravam a sua própria dieta. Os resultados mostraram que o programa de intervenção promoveu alterações desejáveis no consumo alimentar habitual dos participantes, após cinco meses de acompanhamento. Apresentando redução no peso corpóreo, da pressão arterial, melhora do perfil metabólico. Nesse estudo, os resultados sobre o comportamento alimentar foram positivos e os autores não encontraram diferenças nos resultados de atendimentos com periodicidade quinzenal ou mensal. Segundo dados da Pesquisa Familiar Orçamentária (POF) realizada no Brasil no período de 2008 e 2009; a freqüência do excesso de peso, na população adulta masculina subiu de 18,6% a 50,1%, da década de 70 para os anos de 2008 e 2009, já a obesidade aumentou de 2,8% a 12,4%, no mesmo período. Entre as mulheres o aumento de excesso de peso foi de 28,6% para 48% e de 7,8% para 16,9% o aumento do número de obesos em relação à comparação dos dados da POF de 1974-1975 e a de 2008-2009. O aumento da prevalência de obesidade e excesso de peso, demonstrados pela POF relaciona-se diretamente com o aumento da prevalência de doenças cardiovasculares. Além disso, os dados da última POF demonstraram uma redução no consumo alimentar de arroz e feijão e aumento no consumo de alimentos industrializados. Porto e colaboradores em 2002 referem-se que há um maior número de mulheres donas de casa que procuram o tratamento para obesidade grau III, um desses fatores pode estar relacionado a maior disponibilidade 106 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

de tempo que elas possuem para seguir o tratamento. Além disso, as informações que elas obtenham através do tratamento nutricional podem colaborar para a formação de hábitos alimentares saudáveis com os que moram com ela. No mesmo estudo quando foram interrogados os pacientes sobre o motivo da obesidade, os fatores mais referidos foram: ansiedade, as gestações, a hereditariedade e o uso de anticoncepcional. Contudo, foi identificado que há uma relação positiva entre a da obesidade adquirida na infância e puberdade, a qual ocorre em metade dos obesos classe III. Também foi observado que 70,5% tinha um familiar de primeiro grau obeso. O trabalho de Assis e Nahas (1999) objetivou identificar o estado da arte dos programas de intervenção nutricional que visam a mudança desejável do comportamento alimentar, coletando informações de publicações a partir de 1990. Eles consideraram que a maioria dos programas parte-se do principio de que os pacientes estão prontos para a ação da mudança comportamental; geralmente não encontrada nos estudos. Desta forma, o sucesso dos programas de intervenção nutricional deve-se a utilização e integração dos modelos da teoria social cognitiva e treinamento profissional para aquisição de habilidades técnicas para motivar as pessoas na realização das mudanças desejáveis. Assim, verifica-se a necessidade da associar ao tratamento individualizado da obesidade, o tratamento em grupos de educação nutricional, durante os quais devem ser abordadas questões de alimentação e hábitos de vida saudáveis. Além disso, é necessário um ambiente de socialização entre os seus membros que faça com que cada paciente assimile as informações transmitidas durante as sessões e que compartilhe com os membros seus desejos, dificuldades e dúvidas, sendo que quanto maior a identificação dos participantes com o grupo, maior os índices de adesão e sucesso no tratamento. O objetivo do estudo foi desenvolver e avaliar os efeitos de um programa de educação alimentar e nutricional para mulheres obesas e hipertensas utilizando a educação nutricional associada a prática de atividade física regular. Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 107

2. MATERIAIS E MÉTODOS A amostra do estudo foi composta por indivíduos adultos do sexo feminino que eram atendidos em um Centro de Saúde Escola do município de Batatais-SP. Os critérios de inclusão foram: clínico - não apresentar nenhuma doença neurológica que o torne incapacitante na compreensão transmitida pelos nutricionistas, além de não apresentar nenhuma doença que o incapacite a prática de exercícios físicos; antropométrico - possuir Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 30 e disponibilidade de tempo para participar dos atendimentos individuais e em grupo de educação alimentar e nutricional durante 8 meses. As pacientes selecionadas para participarem do estudo foram esclarecidas sobre os objetivos e à metodologia a ser utilizada, sendo obtido anteriormente a inclusão do indivíduo no estudo o termo de consentimento livre e esclarecido e individual assinado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Claretiano conforme os princípios éticos contidos na resolução 196/96. As participantes freqüentavam reuniões semanais de educação nutricional, com duração de aproximadamente 50 minutos, dirigida por uma nutricionista e dois alunos do curso de nutrição. Além, da prática de atividade física supervisionada por um educador físico duas vezes na semana com duração de 60 minutos. A duração da intervenção foi de 4 meses. Inicialmente as participantes foram submetidas a uma avaliação nutricional; composta de anamnese; história clínica pregressa e atual, avaliação antropométrica (aferição de peso, estatura, circunferências de cintura, quadril, braço), avaliação de consumo alimentar (recordatório alimentar de 24 horas e questionário de freqüência alimentar). Durante o período experimental as avaliações antropométricas e de consumo alimentar foram realizadas no momento zero e ao final do período. Contudo, a aferição do peso corporal e da pressão arterial foi realizada semanalmente antes das reuniões de educação nutricional. Na consulta inicial foi calculado as necessidades nutricionais de cada participante e em seguida prescrito dieta hipocalórica, distribuída em 5 108 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

ou 6 refeições/dia, calculada individualmente e obedecendo, quando possível, às preferências e hábitos previamente relatados, sendo que através da dieta foi incentivado o aumento no consumo de fibras alimentares, sempre que necessário, e a redução de gorduras saturadas, carboidratos simples e sódio. O plano alimentar prescrito teve lista de substituição de alimentos, por grupos de alimentos, para que facilite a adesão do paciente ao tratamento. Incluindo orientações relativas à escolha dos alimentos, forma de preparo dos alimentos, hábitos alimentares e de vida saudáveis. Durante os grupos de educação nutricional serão abordados temas referentes à alimentação, nutrição e saúde, enfatizando sempre a relação entre a adoção de hábitos alimentares saudáveis e a melhoria da qualidade de vida. As reuniões também serão momentos de socialização, como citado no estudo de Benez (2003), o que proporciona a troca de experiências e esclarecimentos de dúvidas sobre hábitos alimentares, de saúde e de vida. O método utilizado é denominado Grupo Operativo que se baseia na realização de tarefas oferecidas pelos supervisores na busca de um objetivo, seja ele a cura, tratamento, busca de conhecimento e conquista das metas estabelecidas. As atividades de orientação nutricional abordam formas práticas e fáceis na rotina de vida das pacientes para alcancem uma alimentação saudável enfatizando o equilíbrio e a motivação para o alcance de um objetivo comum. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O número de participantes no presente estudo foi de 18 mulheres. As reuniões do programa de educação nutricional foram de 14 reuniões de educação nutricional e 28 de prática de atividade física. Durante as reuniões de nutrição foram abordados temas como: alimentação saudável, pirâmide alimentar, porcionamento de alimentos, a importância da mastigação na perda de peso, o valor nutricional das carnes vermelhas e brancas, Sistema Único de Saúde e os direitos dos usuários, os malefícios à saúde da ingestão excessiva de açúcar. A atividade física praticada pelas Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 109

participantes foi: hidroginástica 1 vez na semana e atividades de alongamento e condicionamento físico realizadas em pista de atletismo 1 vez na semana. A presença constante das participantes nas reuniões de educação nutricional e a prática de atividade física são de extrema importância, pois é pela assiduidade que os resultados aparecem. Durante as orientações nutricionais as participantes interagiram e compartilharam suas experiências. Os exercícios físicos são fundamentais, porém o entrosamento entre elas é algo muito bom, pois o fato delas manterem contato frequente faz com que o desenvolvimento social ajude na qualidade de vida. Os resultados dos quatros meses de tratamento demonstraram que a maioria das participantes apresentaram manutenção de peso corpóreo, em relação à pressão arterial, no inicio do estudo 72% delas apresentava a pressão arterial regulada com valores máximos de 130/90 mmhg, esses números melhoraram para 83%, no final do estudo, resultado esse favorável para a melhora da saúde. Todas as participantes apresentam melhora no condicionamento físico, dos hábitos de vida e da qualidade de vida, pois o tratamento proposto proporcionou a elas a prática de exercício físico regular duas vezes por semana e orientações alimentares semanais e um ambiente de socialização. 110 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

Tabela 1 - Distribuição das participantes segundo alteração de peso corporal durante o período de tratamento. Fonte: Arquivo pessoal do autor do trabalho Figura 1 - Participantes do estudo durante prática de atividade física Fonte: Arquivo pessoal do autor do trabalho Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 111

Figura 2 - Participantes do estudo durante reunião de educação nutricional Fonte: Arquivo pessoal do autor do trabalho Em relação à adesão ao tratamento proposto; 61,1% dos pacientes participaram de mais de 70% das reuniões de educação nutricional e 50% deles participaram de mais de 70 % das reuniões dedicadas a prática de atividade física. Segundo Koehnlein et al. (2008) as maiores dificuldades que pacientes obesos apresentam na adesão ao tratamento é a mudança de hábitos alimentares, a realização do plano alimentar nos finais de semana e festas, a falta de compreensão das orientações nutricionais, os resultados lentos e a ansiedade, em seu estudo obteve que 40% dos pacientes abandonaram o tratamento nutricional. Segundo Pierim (2004) a adesão ao tratamento do paciente com hipertensão arterial é de fundamental importância para o controle de doenças crônico-degenerativas, pois a hipertensão arterial trata-se de um acometimento multifatorial, com longo período assintomático e evolução clínica lenta. 112 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

Tabela 2 - Adesão das participantes às reuniões de educação nutricional Tabela 3 - Adesão das participantes a prática de atividade física Considerações Finais A adesão ao tratamento é uma variável que quantifica o nível de participação do paciente em seu tratamento. Portanto, avaliá-la é importante para veriicar os resultados obtidos em um programa de educação nutricional para obesos hipertensos. Em 4 meses de tratamento a maioria participantes apresentaram manutenção de peso corpóreo, 83% regularam a pressão arterial e a adesão as reuniões de educação nutricional foi de 61,1% em mais de 70% das reuniões. Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012 113

4. CONCLUSÃO O programa educativo é uma forma de tratamento da obesidade e da hipertensão arterial que proporciona as participantes um momento de discussão de suas dificuldades na adesão ao tratamento, socialização e melhora da qualidade de vida. REFERÊNCIAS ALVAREZ, T.S.; ZANELLA, M.T. Impacto de dois programas de educação nutricional sobre o risco cardiovascular em pacientes hipertensos e com excesso de peso. Revista de Nutrição, Campinas, v. 22, n.1, p. 71-79. 2009. ASSIS, M.A.A.; NAHAS,M.V. Aspectos motivacionais em programas de mudança de comportamento alimentar. Revista de Nutrição, Campinas, v. 12, n. 1, p. 33-41, jan./ abr., 1999. BATEMAN, B. T.; SHAW, K. M.; KUKLINA, E. V.; CALLAGHAN, W. M.; SEELY, E. W.; HERNÁNDEZ-DÍAZ, S. Hypertension in womwn of reproductive age in the United States: NHANES 1999-2008. Plos One, v. 7, n. 4, p. e36171, Apr. 2012. BENEZ, M.S.L. Psicoterapia breve em grupo associada a grupo de educação em saúde no tratamento de pacientes obesos mórbidos. 2003. 102 f. Dissertação (Mestrado em Medicina área de Psicoterapia) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003. CONTEL, J.O.B.; VILLAS-BOAS, M.A. Psicoterapia de grupo de apoio multifamiliar (PGA) em hospital-dia (HD) psiquiátrico. Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 21 n. 4, p. 225-230, dez. 1999. FERREIRA, S.R.G.; MOURA, E.C.; MALTA, D.C.; SARNO, F. Freqüência de hipertensão arterial e fatores associados: Brasil, 2006. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 43, suppl. 2, p. 98-106. 2009. GUEDES, D.P.; GUEDES, J.E.R. Controle do peso corporal: composição corporal, atividade física e nutrição. Londrina: Midiograf; 1998. 312p. 114 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012

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Title: Programa de educação alimentar e nutricional para mulheres obesas e hipertensas: resultados e adesão ao tratamento. Authors: Érika da Silva Bronzi; Antônio Eduardo Ribeiro. ABSTRACT: The proposed program aims to provide participants with a group treatment activities twice a week lasting two hours. In these, participants practiced physical activity. The nutritional happened in weekly group. The method used is called the operative group based on the performance of tasks offered by supervisors in the pursuit of a goal. Was measured weekly body weight and blood pressure of participants. Nutrition education activities addressed in practical ways and easy routine of life to achieve a healthy diet. The constant presence of the participants in the project is important because attendance is related to the results obtained. During the 4 months of treatment the majority of participants had maintained body weight, 83% at the end of the study had blood pressure controlled with maximum values of 130/90 mmhg. Participated in more than 70% of the meetings of nutrition education 61.1% of women. It is concluded that the program as well as being a form of treatment is an opportunity for participants to develop socialization and improve the quality of life. Keywords: Nutrition Education. Obesity. Hypertension. 116 Saúde, Batatais, v. 1, n. 1, p. 103-116, junho, 2012