TRIBUNAL MARÍTIMO PROCESSO Nº 17.994/98 ACÓRDÃO N/M BETELGEUSE. Não configurada a ocorrência de acidente e/ou fato da navegação elencados na Lei nº 2.180/54. Infração ao artigo 378 do RTM. Arquivamento. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Tratam os autos do inquérito instaurado pela Capitania dos Portos do Rio de Janeiro, após recebimento do Comunicado das Autoridades Navais do Reino Unido (fls. 07/16) ao Ministério das Relações Exteriores, que através de sua Divisão de Transportes, Comunicações e Serviços, encaminhou ao Estado Maior da Armada e este, ao Comando de Operações Navais, sobre o incidente envolvendo o navio brasileiro BETELGEUSE, propriedade de Transroll Navegação S/A., ocorrido em 19/01/98, quando navegava no Sandittie Deep Water Route, próximo ao Estreito de Dover, Canal da Mancha, Inglaterra, teria transgredido regras do RIPEAM/72, ocasião em que as Autoridades Navais do Reino Unido solicitam as providências cabíveis, de acordo com a legislação brasileira. Consta do relatório de Contravenção (fls. 07/09) da Autoridade de Controle de Tráfego do Canal da Mancha, que o N/M BETELGEUSE transgrediu os itens B, C, E e I da Regra 10, do Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar RIPEAM/72, quando às 00:13h do dia 19.01.98, abandonou a linha de tráfego que deveria seguir, e assim, permaneceu até às 01:11h, quando foi chamado pela Coast Guard, por VHF e às 01:12h retornou a linha de tráfego a qual deveria seguir. Luciano Alvernaz Rodrigues, na ocasião Oficial de Serviço do N/M BETELGEUSE, às fls. 22/23 disse que apesar de participar efetivamente de todas as manobras do navio, sob as ordens de seu Comandante e de conhecer as normas de
segurança para trafegar no Canal da Mancha, não se lembrava no entanto se foi transgredida qualquer destas normas de segurança. Francisco Corsino Leonez, na ocasião timoneiro de serviço, disse que ouviu comentários entre a oficialidade de bordo que o Comandante do navio fez diversas tentativas de chamada rádio para o controle de tráfego local e que não foram respondidas, ressaltando, ficasse registrado ser o depoente testemunha que o comandante do navio é rigoroso ao fiel cumprimento de todas as normas da segurança de navegação, bem como a todas àquelas referente à comunicação e, as fazem serem cumpridas por todos os seus subordinados. Mozaniel de Castro Castilho, comandante às fls. 49 disse que quando navegava no Canal da Mancha em 19/01/98, comandando o N/M BETELGEUSE decidiu sair da linha de navegação que deveria seguir, mas que antes, analisou as condições de mar, vento, visibilidade e as embarcações que trafegavam no local naquele momento, e julgou mais seguro prosseguir viagem navegando um certo período fora do esquema de separação de tráfego e que após atingir novamente o esquema de tráfego, já no sentido South Bound foi estabelecido contato, por VHF, com a Guarda Costeira Inglesa comunicando a posição atualizada, rumo e velocidade do navio. Disse, como comandante de navio já navegara naquele canal pelo menos umas vintes vezes, e em nenhuma delas registrou ocorrência similares a esta. Terminou dizendo que em nenhum momento fora colocado em perigo o navio sob o seu comando ou qualquer outra das embarcações ali presentes. O encarregado do inquérito concluiu que o fator operacional contribuiu para o evento, uma vez que o Comandante do N/M BETELGEUSE optou por manobrar o navio fora das linhas de tráfego estabelecida pela Autoridade Marítima local. Que em conseqüência, ocorreu a transgressão as Regras do RIPEAM/72 colocando em risco a segurança da navegação. 2
Apontou como possível responsável o Sr. Mozaniel de Castro Castilho, que mesmo sendo conhecedor das regras do RIPEAM/72, e de ter navegado por mais de vinte vezes como comandante de navios naquele Canal, como foi relatado por ele no seu depoimento de fls. 49/50, negligenciou as normas de segurança e descumpriu as regras de navegação previstas para a área quando no comando do seu navio, pois como consta dos autos, nenhuma condição adversa que justificasse a transgressão a regra 10 em suas letras b e c do RIPEAM. Notificado da conclusão do inquérito (fls. 58) o indiciado deixou de apresentar defesa prévia. A D. Procuradoria ofereceu representação em face de Mozaniel de Castro Castilho, comandante do N/M BETELGEUSE, com fulcro no art. 15, letra e da Lei nº 2.180/54, por entender que apesar de ser o representado experiente na função que exerce, pois declarou ter navegado por mais de vinte vezes como Comandante de navios naquele canal, a sua conduta caracterizou negligência e imprudência, uma vez que deixou de cumprir as normas de segurança, e as já mencionadas regras do RIPEAM/72. Recebida a representação, citado o representado, que não apresenta antecedentes no Tribunal Marítimo (fls. 104), foi defendido por advogado legalmente constituído. A defesa de Mozaniel de Castro Castilho, às fls. 88/92, alega que o representado optou por cruzar uma via de tráfego, pois tinha plena convicção de que este procedimento não estaria comprometendo a segurança da navegação, tanto é que nenhum procedimento legal foi instaurado pelas autoridades locais, apenas sendo elaborado um relatório, informando a ocorrência registrada. Alega, ainda, que a visibilidade era boa. As condições meteorológicas eram favoráveis. Os radares estavam operando. Não havia nenhuma embarcação nas proximidades ou em rumo da colisão. Verificadas todas essas condições, o representado 3
enpreendeu, então, uma navegação mais objetiva em direção ao seu destino, o Porto de Le Havre. Na fase de instrução nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais manifestaram-se as partes. De todo o exposto, conclui-se que o fato de o N/M BETELGEUSE, propriedade de Transroll Navegação S/A, na ocasião sob o comando do CLC Mozaniel de Castro Castilho, quando, navegava no Sandittie Deep Route, próximo ao Estreito de Dover, Canal da Mancha Inglaterra, ter saído cerca das 00:13h de 19/01/98 da linha de tráfego que deveria seguir e assim permanecido até cerca das 01:11h, quando foi chamado pela Coast Guard do Reino Unido, pelo VHF e retornado imediatamente a linha de tráfego a qual deveria seguir, transgredindo a Regra 10, alíneas b e c do RIPEAM 72, e que configuramos na legislação brasileira infração ao artigo 328 do RTM, a princípio não significa que tenha colocado em risco a navegação local, embarcação vidas e fazendas de bordo. Cabendo salientar, no caso concreto em apreciação não haver noticias de que o N/M BETELGEUSE tenha se aproximado, de forma perigosa de qualquer outra embarcação, ao cometer, seu comandante, a infração supramencionada. Isto posto, conclui-se que improcede a Representação da D. Procuradoria em todos os seus termos, acolhendo in totum os argumentos da defesa de fls. 88//91, tendo em vista que o evento em tela não caracteriza fato ou acidente da navegação, mas tão somente infração ao artigo 328 do RTM, in verbis. A navegação deverá ser feita em observância ao estabelecido no Regulamento Internacional Para Evitar Abalroamento no Mar (RIPEAM), no presente caso a Regra 10, alíneas b e c, razão pela qual deve-se mandar arquivar o processo, exculpando Mozaniel de Castro Castilho. Contudo, deve-se oficiar à DPC comunicando a infração retro, cometida pelo CLC Mozaniel de Castro Castilho, na ocasião, comandante do N/M BETELGEUSE. 4
Cópia do presente acórdão capeando as principais peças do processo deverão ser encaminhadas as Autoridades Navais Inglesas, atendendo assim o documentos de fls. 07/16. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente/fato: xxx; b) quanto à causa determinante: xxx; c) decisão: julgar improcedentes os termos da Representação da D. Procuradoria fls. 63/65, exculpando Mozaniel de Castro Castilho, já que não restou configurada a ocorrência de acidente e/ou fato da navegação elencados na Lei nº 2.180/54. Oficiar à DPC comunicando as infração ao art. 328 do RTM, por parte de Mozaniel de Castro Castilho, na ocasião, comandante do N/M BETELGEUSE. Cópia do acórdão capeando principais peças do processo deverá encaminhado às autoridades navais inglesas. P.C.R. Rio de Janeiro, RJ, em 24 de agosto de 2000. MARIA CRISTINA DE OLIVEIRA PADILHA Juíza-Relatora MÁRIO AUGUSTO DE CAMARGO OZÓRIO Vice-Almirante (RRm) Juiz-Presidente 5