PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA GAB. DES. ROMERO MARCELO DA FONSECA OLIVEIRA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N. 014.2006.002584-9/001 ORIGEM : P Vara da Comarca de Catolé do Rocha-PB RELATOR : Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira. APELANTE : Maria de Fátima Pereira de Sousa. ADVOGADO : Joaquim Daniel. APELADO : Estado da Paraíba. PROCURADOR: Sebastião Florentino de Lucena. EMENTA: APELAÇÃO. PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. NÃO OCORRÊNCIA. INTELIGÊNCIA DO DECRETO N. 20.910/1932. TERMO INICIAL DO BENEFÍCIO. DATA DO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. REFORMA DA SENTENÇA. ANÁLISE DO MÉRITO. PEDIDO IMPROCEDENTE. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. Reconhecida a qualidade de dependente da companheira do segurado falecido, faz ela jus ao recebimento da pensão por morte a partir do requerimento administrativo caso o pedido tenha sido realizado após os trinta dias do óbito. VISTO, relatado e discutido o presente procedimento referente à Apelação Cível n. 014.2006.002584-9/001, na Ação de Revisão do Benefício em que figuram como partes a PBPREV Paraíba Previdência e Maria de Fátima Pereira de Sousa. ACORDAM os eminentes Desembargadores integrantes da Egrégia Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, à unanimidade, acompanhando o voto do relator, PROVIMENTO AO APELO. VOTO Maria de Fátima Pereira de Sousa ingressou, perante o Juízo da la Vara da Comarca de Catolé do Rocha, com Ação de Revisão de Beneficio, processo n 014.2006.002584-9, em face da PBPREV Paraíba Previdência. Alegou que (1) manteve por mais de cinco anos uma relação de união estável com o Sr. Arnaldo de Lima Carneiro, servidor público estadual, falecido em 29 de outubro de 1999; (2) após o óbito de seu companheiro ingressou na justiça objetivando o reconhecimento da relação de união estável, processo n 014.2003.001489-9, logrando êxito em seu pedido, tendo o reconhecimento judicial de sua união estável com o servidor; (3) com o reconhecimento judicial da relação, reqi.reu através do processo administrativo n 8523/2006, o beneficio da pensão por morte, te do seu pedido deferido em 10 de julho de 2006; (4) embora tenha obtido o direito ao bene cio da pensão por morte em julho de 2006, a Promovida não lhe concedeu o direito d eb r os valores retroativos ao óbito do segurado.
Pediu a procedência do pedido, para que fosse determinado que a PBPREV procedesse a revisão na Pensão Vitalícia n 970.592-9 concedida, fazendo constar o termo inicial da concessão do benefício a partir de 30 de outubro de 1999, pagando as parcelas atrasadas, respeitando a prescrição quinquenal a ser contada a partir de 30 de setembro de 2003, data do ajuizamento da Ação Ordinária de Reconhecimento da União Estável, e não sendo esse o entendimento, que fizesse constar o termo inicial da concessão do beneficio a partir de 30 de setembro de 2003, pagando as parcelas atrasadas a partir desse período. A PBPREV ofereceu Contestação, f. 33/39, arguindo, preliminarmente, a prejudicial de mérito de prescrição, uma vez que a Autora pretende discutir valores referentes as parcelas de pensão já alcançadas pelo instituto da prescrição e, no mérito, alegou que (1) a Autora só começou a fazer jus ao recebimento dos valores a contar da data do requerimento administrativo, em 01 de julho de 2006; (2) a condição de dependente habilitada à pensão por morte adveio com o reconhecimento da união estável, jamais podendo retroagir à data do óbito; (3) os valores foram devidamente pagos e contados da data da habilitação da Autora. Requereu o acolhimento da preliminar suscitada com a consequente extinção do processo, com julgamento do mérito, e caso ultrapassada a preliminar, julgar improcedente o pedido, não concedendo as parcelas pretéritas requeridas, por absoluta carência de amparo legal. Sentenciando, f. 58/60, o Juízo acolheu a preliminar de prescrição, extinguindo o processo sem resolução do mérito, condenando a Autora ao pagamento de custas e honorários advocatícios arbitrados em 10% do valor da causa, ficando a execução suspensa em razão da gratuidade da justiça. A Autora interpôs Apelação, f. 62/66, alegando que (1) a revisão de benefício previdenciário é relação de trato sucessivo e de natureza alimentar, incidindo, tão somente, a prescrição que atinge as prestações vencidas antes do quinquênio anterior a propositura da ação; (2) não deu causa a demora na tramitação da ação de Reconhecimento da União Estável, e a PBPREV não protocolava o requerimento administrativo sem a sentença de reconhecimento da união estável; (3) a citação válida interrompe a prescrição. Pugnou pela procedência do Recurso, para reformar a sentença a quo, e caso não seja esse o entendimento, que se anule a sentença, determinando que o Juízo a quo prolate outra decisão com julgamento de mérito. Sem contrarrazões, Certidão de f. 77. Desnecessária a intervenção Ministerial no feito, por não se configurarem quaisquer das hipóteses do art. 82, incisos I a III, do CPC. É O RELATÓRIO. Ao contrário do entendimento esposado pelo magistrado de primeiro grau, não se verifica a ocorrência de prescrição do direito de a ão qa Autora.
Há muito tempo a diferenciação entre a prescrição das parcelas não reclamadas no qüinqüênio que antecedeu a propositura da ação nas hipóteses de relações de tratos sucessivos e a prescrição do próprio fundo de direito têm sido objeto de divergência em nossos Tribunais e nos Pretórios Superiores. A prescrição, em tema que se relaciona à vantagem reclamada por servidor público, pode compreender todo o direito ou parte dele, referente às parcelas vencidas cinco anos antes de proposta a ação. Conforme instituído pelo Decreto n 20.910/32, a prescrição de vencimentos e vantagens contra a Fazenda Pública consuma-se em 05 (cinco) anos, sendo necessário, para tanto, a negativa expressa do pedido pela Administração Pública, donde se inicia a contagem do prazo prescricional que, decorrido, abrange todo o direito. Nas relações jurídicas de trato sucessivo, em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição abrange, tão-somente, as parcelas vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação, restando incólume o fundo do direito. É o que dispõe a Súmula n 85 do STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior à propositura da ação. Havendo negativa expressa da Administração Pública, deve a parte requerente reclamar, judicialmente, seu direito nos cinco anos que se seguirem, sob pena de tê-lo fulminado pela prescrição de fundo. No entanto, no caso em comento, diante da ausência de negativa da Administração, inviável determinar o termo inicial do prazo prescricional, limitando-se o direito da Autora às parcelas referentes aos cinco anos anteriores à propositura da demanda, não havendo falar em prescrição do direito de ação, razão pela qual afasto a prescrição. Considerando que estão presentes os elementos necessários ao julgamento do mérito, passo à analisá-lo. Cinge-se a controvérsia em verificar o termo inicial para o pagamento de pensão por morte à Autora, companheira do ex-segurado. A Lei n. 8.213, de 1990, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, e dá outras providências, estabelece: Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data: I - do óbito, quando requerida até trinta dias depoçis deste; II - do requerimento, quando requerida após o`prazo previsto no inciso anterior;
III - da decisão judicial, no caso de morte presumida. No caso dos autos, a data do óbito foi em 29 de outubro de 1999 e o pedido administrativo realizado em 01 de julho de 2006, ultrapassado os 30 dias previstos em Lei e, portanto, devida a pensão apenas a partir da data do requerimento administrativo. Conforme os documentos acostados aos autos verifica-se que o requerimento do pedido de pensão foi deferido aproximadamente 15 dias após a sua apresentação e implantado em seguida, inexistindo dessa forma qualquer valor retroativo a ser pago pela Promovida. Isso posto, afastada a preliminar de prescrição, dou provimento parcial ao recurso, para reforma a sentença, julgando improcedente O pedido. É o voto. Presidiu o julgamento, realizado na Sessão Ordinária desta Quarta Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, no dia 28 de junho de 2012, conforme Certidão de Julgamento, o Exmo. Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, dele participando, além deste Relator, a Sra. Dra. Maria das Graças de Morais Guedes, Juíza convocada para substituir o Des. João Alves da Silva. Presente à sessão a Exma. Sra. Dra. Marilene de Lima Campos de Carvalho, Procuradora de Justiça. - Gabinete no T /113/ém João Pessoa, 04 de julho de 2012. Des. Romero Marcelo da Fonseca Oliveira Relator
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