34 a Câmara APELAÇÃO C/ REVISÃO N 940070-0/5 Comarca de CAMPINAS Processo 872/00 l.v.cível APTE APDO MARCELO AZEVEDO FEITOR CORRETORA DE SEGUROS LTDA OTONIEL QUEIROZ DA SILVA A C Ó R D Ã O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N '02547876* Vistos, relatados e discutidos estes autos, os desembargadores desta turma julgadora da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça, de conformidade com o relatório e o voto do relator, que ficam fazendo parte integrante deste julgado, nesta data, acolhida a preliminar, declararam a nulidade da sentença e julgaram improcedente a ação, com base no art. 515, 3, do C.P.C., aplicado por analogia, por votação unânime. Turma Julgadora da RELATOR REVISOR 3 o JUIZ Juiz Presidente Data do julgamento 34 a Câmara DES. GOMES VARJÃO DES IRINEU PEDROTTI DES NESTOR DUARTE DES. GOMES VARJÃO 17/08/09 GOMES Relator
Comarca: CAMPINAS - 1 a V. CÍVEL Apelante: MARCELO AZEVEDO Apelada: FEITOR CORRETORA DE SEGUROS LTDA e OTONIEL QUEIROZ DA SILVA VOTO N 13.006 Ação de indenização fundada na má prestação do serviço de corretagem. Sentença extra petita. Nulidade. Causa em condições de imediato julgamento. Aplicação, por analogia, do disposto no art. 515, 3 o, do C.P.C.. Autor que não se desincumbiu do ônus de comprovar os fatos constitutivos do seu direito (art. 333, I, do C.P.C.). Prova dos autos que demonstra que o seguro não foi efetivamente contratado, em razão da discordância quanto ao prêmio estipulado. Ação improcedente. Acolhida a preliminar, declarando-se a nulidade da sentença. Ação julgada improcedente, com base no art. 515, 3 o, do C.P.C., aplicado por analogia. A r. sentença de fls. 226/229, cujo relatório se adota, julgou improcedente a ação de indenização decorrente de prestação de serviço, condenando o autor ao pagamento das custas, despesas processuais e dos honorários fixados em 10% sobre o valor da causa, devidamente atualizado, para cada um dos réus. Apela o autor (fls. 234/244). Preliminarmente, sustenta que a sentença é extra petita, devendo ser declarada sua nulidade. Aduz que a presente ação não está embasada no contrato de seguro, mas na má prestação do serviço de corretagem. No mérito, afirma que os réus foram negligentes, conforme atestaram as provas
2 oral e documental produzidas. Assevera que tinha total confiança no co-réu Otoniel, pois ele intermediava todas as suas contratações de seguro, bem como as de seus familiares. Alega que não efetuou o pagamento do prêmio porque o corretor lhe afirmou que estava buscando a proposta mais vantajosa. Acrescenta que, de acordo com o art. 108, do Decreto 60.459/67, o corretor de seguros responde civilmente perante os segurados e as sociedades seguradoras pelos prejuízos que causar por omissão, imperícia ou negligência no exercício da profissão. Assinala que a corretora de seguros requerida também é responsável pelos danos causados, pois admitiu que o coréu Otoniel intermediasse a venda de seus produtos e serviços. Por isso, requer a reforma da r. sentença, a fim de que a ação seja julgada procedente. Recurso contrariado (fls. 247/252 e 254/268). É o relatório. Acolho a preliminar de nulidade da sentença. Na inicial, o autor alega que o contrato de seguro não chegou a se aperfeiçoar, em razão da negligência do corretor de seguros que o atendeu. Pleiteia a reparação dos danos materiais e morais suportados ante a má prestação dos serviços. Ocorre que tais alegações não foram apreciadas na sentença. Com efeito, o magistrado de primeiro grau entendeu se tratar de ação de cobrança de indenização securitária, tendo indeferido o pedido em razão da ausência de pagamento do prêmio. Conclui-se, assim, que a sentença é extra petita, pois julgou fora do pedido. É de rigor, portanto, a declaração de nulidade da sentença, por violação ao princípio da congruência. Todavia, observo que a causa está em condições de imediato julgamento, sendo possível a aplicação, por analogia, do
3 art. 515, 3 o, do C.P.C.. A esse respeito, confira-se o seguinte julgado deste E. Tribunal: 796.296, rei. Min. José Delgado, j. 4.5.06. 2 "O 3 o do art. 515 aplica-se, por analogia, às situações em que o tribunal reconhece a nulidade da sentença (no caso, por se tratar de decisão "extra petita") e está diante de causa madura para o julgamento (RF 378/330 - acórdão relatado pelo Des. Roberto Bedaque). 1 No mesmo sentido: STJ-1 a Turma, REsp. Assim, passo à análise do mérito. O autor celebrou contrato de seguro com Sul América Cia Nacional de Seguros, referente à motocicleta Yamaha, modelo XT 600 cilindradas, ano 1997/modelo 1998, cor branca, placas CNF-8834, com vigência no período de 10.07.1998 a 10.07.1999, conforme apólice n 310996-8. Na inicial, o requerente, ora apelante, alega que, antes do término do contrato, entrou em contato com os réus, a fim de providenciar a renovação, tendo sido orientado a realizar vistoria no veículo e aguardar o contato para informação do preço correspondente ao prêmio do seguro. Aduz que, estranhando o decurso de tempo sem qualquer informação, procurou o co-réu Otoniel, o qual, em 12.11.1999, lhe informou que não havia sido possível concretizar a renovação, sendo necessária nova vistoria, que foi feita no mesmo dia. Sustenta que, diante disso, ficou aguardando a remessa dos boletos de pagamento, pois acreditava que o negócio havia se aperfeiçoado. Acrescenta que no dia 07 de dezembro de 1999, o bem foi roubado, conforme boletim de ocorrência de fls. 17. Assevera que não houve o pagamento da indenização, em razão da ausência de cobertura. Afirma que os réus foram negligentes, pois não ' NEGRÃO, Theotonio Código de processo civil e legislação processual em vigor 40 a Ed São Paulo Saraiva, 2008, p 687, nota 15 ao art 515 " Idem
4 providenciaram a renovação do seguro, devendo responder pelos danos causados. Pleiteia, assim, o pagamento da importância de R$ 8.000,00, correspondente ao valor de mercado da motocicleta à época do sinistro, bem como indenização por danos morais em quantia a ser arbitrada pelo magistrado. Os réus impugnaram os fatos alegados na inicial e apresentaram a mesma versão, no sentido de que o autor somente os procurou em 11 de novembro de 1999, ou seja, quatro meses após o vencimento da apólice, pois iria viajar para Barretos e queria se assegurar de qualquer ocorrência. Aduziram que a corretora não estava mais trabalhando com seguro de motocicletas, dada a dificuldade de negociá-los com as seguradoras, em virtude do alto índice de sinistros. Alegaram que o co-réu Otoniel ofereceu uma solução alternativa, consistente na cobertura provisória, pelo prazo de três dias, correspondente ao tempo da viagem. Asseveraram que, diante disto, foi feita a vistoria, no entanto, o autor não efetuou o pagamento do prêmio, razão pela qual não se aperfeiçoou o contrato de seguro (fls. 58/59 e 68). Tais alegações foram corroboradas pelos documentos de fls. 20 e 77. Em depoimento pessoal, o autor afirmou que o co-réu Otoniel realizava as contratações de seguro de todos os seus veículos. Aduziu que, três meses após o término da apólice, entrou em contato com o co-réu, questionando sobre a renovação. Aduziu que fez a vistoria e que lhe foi informado que "estava tudo certo, que era para ficar tranqüilo". Acrescentou que não lhe foi informado o valor da contraprestação, que não assinou qualquer proposta, tampouco efetuou o pagamento do prêmio, pois não recebeu os boletos bancários. Asseverou que a corretora lhe informou que não trabalhava mais com seguro de motocicletas. Assinalou que não "fechou de
5 imediato o seguro, pois achou o valor inicial muito alto" {em torno de R$ 1.500,00 e R$ 1.700,00 - fls. 180). O co-réu Otoniel, por sua vez, declarou que comunicou o autor sobre a necessidade de renovação do seguro, antes mesmo do término do contrato, no entanto, ele quedou-se inerte. Sustentou que, posteriormente, informou o requerente de que a corretora requerida não estava mais realizando o seguro de motocicletas, tendo lhe orientado a efetuar a vistoria e procurar outra corretora, enquanto também tentaria alguns contatos. Salientou que não se tratava de renovação, mas de novo contrato, dado o lapso temporal decorrido. Afirmou que enviou fax à Sul América Cia Nacional de Seguros, solicitando cobertura provisória de três dias, no entanto, o autor não pagou o prêmio. Asseverou que não é funcionário da co-ré Feitor Corretora de Seguros Ltda., porém realiza serviços em nome dela (fls. 181). Sandra Azevedo, irmã do requerente, ouvida como informante, nada esclareceu acerca dos fatos (fls. 182/183). Segundo o art. 333, I, do C.P.C., incumbe ao autor a prova dos fatos constitutivos do seu direito. Ocorre que não ficou demonstrada a ocorrência de qualquer falha na prestação dos serviços de corretagem. Cumpre observar que a versão apresentada pelo autor em depoimento pessoal é contrária àquela narrada na inicial. Com efeito, em juízo, o requerente admitiu que somente após o decurso do prazo de três meses do término da apólice é que entrou em contato com os réus. Ademais, o requerente afirmou que já havia celebrado diversos outros contratos de seguro, tendo ciência de que eram necessários o preenchimento da proposta e o pagamento do prêmio, o que não ocorreu no presente caso. Por fim, o apelante confessou que não efetuou a contratação porque considerou o prêmio elevado.
6 Desta feita, a prova dos autos demonstra que o seguro não foi efetivamente contratado, em razão da discordância do autor quanto ao prêmio estipulado. Incabível, portanto o pleito indenizatório. Ante o exposto, acolho a preliminar para declarar nula a sentença recorrida. Por analogia ao disposto no art. 515, 3 o, do C.P.C., julgo improcedente a ação, condenando o autor ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios fixados em R$ 800,00 (oitocentos reais) para o patrono de cada réu, com base no art. 20, 4 o, do C.P.C.. É meu voto. ias fiomes VAR.IÃO Relator