CULTURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS EM SALA DE AULA: SABERES PARA OS PROFESSORES, FAZERES PARA OS ALUNOS

Documentos relacionados
HISTÓRIA 8 ANO PROF. ARTÊMISON MONTANHO DA SILVA PROF.ª ISABEL SARAIVA SILVA ENSINO FUNDAMENTAL

Formas de expressão: "ARTE

QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS NOS TRABALHOS DE CONCLUSÃO DE CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE

PLANEJAMENTO ANUAL 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

EIXOS TEMÁTICOS ENSINO RELIGIOSO

PGH 04 - TÓPICOS EM HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL

A escravidão negra no sistema de ensino apostilado Aprende Brasil

Conceitos hist his óric óric

PLANO DE ENSINO DE GEOGRAFIA /2012

A intolerância contra as religiões de matrizes africanas no Brasil

Bases fundamentais. Convenção Relativa à Luta contra a Discriminação no Campo do Ensino

PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

1. O mapa mostra a posição geográfica do Brasil na América do Sul.

IX SEMINÁRIO NACIONAL DIÁLOGOS COM PAULO FREIRE: Utopia, esperança e humanização. AFRICANIDADES E BRASILIDADES: somos todos igualmente diferentes

COLÉGIO SANTA TERESINHA

III Pré-Conferência de Cultura do Município de São Paulo

FORMAÇÃO TRANSVERSAL EM RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS: HISTÓRIA DA ÁFRICA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

O MOVIMENTO ESPORTIVO INGLÊS

Levantamento Documental e Análise Histórica e Artística do Acervo Permanente do Museu de Arte Contemporânea de Jataí.

COLÉGIO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO PARALELA. 3ª Etapa 2010

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO. Número de aulas semanais 1ª 2. Apresentação da Disciplina

GRUPO I POPULAÇÃO E POVOAMENTO. Nome N. o Turma Avaliação. 1. Indica, para cada período histórico, o fluxo migratório que lhe corresponde.

Estudos das Relações Étnico-raciais para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana e Indígena. Organização da Disciplina Aula.

VI CONGRESSO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO DAS DST/AIDS Belo Horizonte - Minas Gerais Novembro de 2006

Associativismo Social

TESTE DE AVALIAÇÃO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA DE PORTUGAL

Após anos 70: aumento significativo de recursos para restauração. Não se observa um aumento proporcional de

para esta temática que envolvem o enfrentamento ao trabalho infantil tais como o Projeto Escola que Protege.

Colégio Santa Dorotéia

As Cores do Festejo Kalunga na Época de Seca do Cerrado. Colors of Kalunga Celebration at the Cerrado s Drought Times

Porto Alegre (RS) - Areal da Baronesa está perto de se tornar território quilombola

DATAS COMEMORATIVAS. DIA DA CRIANÇA 12 de outubro

Aula 10 CAMINHOS DO PATRIMÔNIO EM SERGIPE. Verônica Maria Meneses Nunes Luís Eduardo Pina Lima

3ºAno - 1º Bimestre. Encaminhamento Metodológico. Instrumento de Avaliação. Recursos. Trabalho,

O currículo do Ensino Religioso: formação do ser humano a partir da diversidade cultural

COLÉGIO NOSSA SENHORA DE SION Troca do livro

ARTE BARROCA. Arte e Estética Contemporânea Professora: Tais Vieira Pereira Aluna: Vitória da Silva Adão

NBR 10126/87 CORTE TOTAL LONGITUDINAL E TRANSVERSAL

* Percepção de como se cria e se compõe a musica neste período, a que publico esta destinada, quais são os artistas.

Matriz Curricular de História 1º ao 9º ano

O USO DE MATERIAIS CONCRETOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA A ALUNOS PORTADORES DE NECESSIDADES VISUAIS E AUDITIVAS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

PROJETO DE EXTENSÃO COMUNITÁRIA EAD

ENRIQUECIMENTO ESCOLAR

O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

3ºAno. 1.3 HISTÓRIA E GEOGRAFIA 4º período 9 de dezembro de 2015

SOBRE A IGREJA DE SÃO FRANCISCO/CONVENTO DE SANTO ANTONIO JOÃO PESSOA - PB

CONTEÚDOS DE ARTE POR BIMESTRE PARA O ENSINO MÉDIO COM BASE NOS PARÂMETROS CURRICULARES DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Educação para a convivência pacífica entre religiões

O USO DA MÚSICA NO ENSINO DE HISTÓRIA

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NA DIVERSIDADE. Profª. Doutoranda Angela Torma Pietro

AULA 8.1 Conteúdos: A Guerra de Canudos e do Contestado O Cangaço A Revolta da Vacina

Nome: Turma: ARTE NA PRÉ-HISTÓRIA

NOVOS DEBATES SOBRE A BASE NACIONAL COMUM: Desafios, perspectiva, expectativas. Suely Melo de Castro Menezes

1ª QUESTÃO (1,5 pontos)

Análise sobre a participação de negras e negros no sistema científico

COLÉGIO NOSSA SENHORA DA PIEDADE. Programa de Recuperação Paralela. 1ª Etapa Ano: 9 Turma: 91/92

O iluminismo ou Século das luzes

LIVRO DIDÁTICO E SALA DE AULA OFICINA PADRÃO (40H) DE ORIENTAÇÃO PARA O USO CRÍTICO (PORTUGUÊS E MATEMÁTICA)

A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Silvia Helena Vieira Cruz

TÓPICOS DE RELATIVIDADE E NOVAS TECNOLOGIAS NO ENSINO MÉDIO: DESIGN INSTRUCIONAL EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM.

Currículo Referência em Artes Visuais

Secretaria Municipal de Cultura SEMANA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Compreender o processo de globalização e sua influência no cotidiano (cultura, costumes, alimentação)

EMENTAS DAS DISCIPLINAS

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA CULTURA UNIDADE DE FOMENTO E DIFUSÃO DA PRODUÇÃO CULTURAL RESOLUÇÃO SC Nº 14, DE 10 DE MARÇO DE 2015

HABILIDADES. Compreender a formação da população brasileira. Perceber as influências presentes na cultura brasileira.

RELIGIOSO NAS TRADIÇÕES RELIGIOSAS DE MATRIZ OCIDENTAL

ARTES - 1º AO 5º ANO

COLÉGIO ESTADUAL DARIO VELOZZO PLANO DE TRABALHO DOCENTE DISCIPLINA: ENSINO RELIGIOSO. 7º ano ENSINO FUNDAMENTAL

MATERIAS E MÉTODOS Amostra e Instrumento A amostra foi composta por 16 professores de Dança de Salão, de ambos os sexos, sem

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DELETRAS E COMUNICAÇÃO PARFOR HABILITAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA

Natureza do Serviço Modalidade / N de vagas Localidade de Trabalho

ROTEIRO PROPOSTA DO PROJETO

Este caderno, com oito páginas numeradas sequencialmente, contém cinco questões de Geografia. Não abra o caderno antes de receber autorização.

DIDÁTICOS Aula expositiva, debate, leitura de texto; Quadro e giz, livro didático, ilustrações;

FASE / SAAP (SERVIÇO DE ANÁLISE E ASSESSORIA A PROJETOS) EDITAL QUE DEMOCRACIA É ESSA? CONSTRUINDO CULTURA DE DIREITOS

CIDADANIA: será esse o futuro do desenvolvimento do País?

REQUERIMENTO. (Da Sra. Alice Portugal)

Orientações gerais. Apresentação

Coretos. Origem etimológica de CORETO e denominações noutros idiomas. Delmar Domingos de Carvalho

Geografia População (Parte 2)

O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA NO ENSINO FUNDAMENTAL: PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARA ANÁLISE DO CONTEÚDO GEOGRAFIA FÍSICA DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX. Consulte nesta obra 158 entradas sobre fado, Património da Humanidade

SALVE O REI DO MOVIMENTO: A PERFORMANCE DO CABOCLO NO RITUAL DE UMBANDA

O amigo do Rei. Texto: Ruth Rocha Ilustrações: Cris Eich. Elaboração Anna Flora

O TRABALHO PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

Artes Visuais. Profª Ms. Alessandra Freitas Profª Ms. Gabriela Maffei Professoras das Faculdades COC. 12 e 13 de Maio

As principais tendências do pensamento antropológico contemporâneo

A TABELA PERÍÓDICA EM LIBRAS COMO INSTRUMENTO DE ACESSIBILIDADE PARA O ESTUDANTE SURDO NO APRENDIZADO DA QUÍMICA. Introdução

Educação é pauta da sociedade civil para avaliação de Conferência contra racismo Qua, 11 de Junho de :00

FESTA DE CORPUS CRISTI. LUIZ ANTONIO BURIM Professor de Ensino Religioso.

Desenvolvimento de Projeto de Software Educacional para Ensino em História

A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

O SOFTWARE LIVRE COMO FERRAMENTA DE ENSINO

Trabalho 001- Estratégias oficiais de reorientação da formação profissional em saúde: contribuições ao debate. 1.Introdução

Prêmio Viva Leitura. Categoria Escola Pública. Projeto: Leitura como fonte de conhecimento e prazer

LEI N , 10 de março de 2008 Obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena

A IMAGEM COMO DOCUMENTO HISTÓRICO

Transcrição:

CULTURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS EM SALA DE AULA: SABERES PARA OS PROFESSORES, FAZERES PARA OS ALUNOS Beatriz Sawaris Tasso 1 Cleusa Molinari Battisti 2 Resumo A obra traz um resumo com produção de material e conteúdos de vários textos de vários autores com temas relativos às culturas africanas e afro-brasileiras com o objetivo de auxiliar o professor a trabalhar em sala de aula após a lei 10.639/2003. Palavras-chave: Cultura africanas. Culturas afro-brasileiras. História. Faze-te artista (e) apóstolo do ensino, (...) o estudo é o melhor entretenimento e o livro melhor amigo. Luiza Goma (Primeira poeta afro-brasileira) A Lei 10.639/2003 obriga a inclusão de conteúdos da história e da cultura afrobrasileira nas disciplinas de História, Língua Portuguesa e Artes na escola. Fazendo assim, necessário a produção de material referente as artes, religiões, músicas e outros traços da cultura africana voltados para o pensamento e a tradição. 1 Beatriz Sawaris Tasso - Professora de Geografia e história na E.E.E.F José André Acadroli. Graduada em Geografia na Universidade de Passo Fundo-RS. Especialização em Psicopedagogia na Universidade Castelo Branco-RJ. 2 Cleusa Molinari Battisti - Professora Coordenadora do Programa Mais Educação na E.E. E.F José André Acadroli Graduação em Educação Física na universidade de Passo Fundo-RS. Mestre em Educação nas Ciências na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul-RS. 45

A obra Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: Saberes para os professores, fazeres para os alunos, é uma produção que trata com profundidade a teoria da abordagem da arte afro-brasileira e sugere propostas metodológicas para sala de aula. Este livro dividido em vários textos de vários autores possibilita o acesso ao passado da história negra no Brasil e o conhecimento dos artistas negros e de suas produções artísticas visuais desde o período colonial até a contemporaneidade. Cada tema abordado é apresentado de forma clara e didática, inclui exemplos, significados sem estereótipos e traz propostas de atividades a serem realizadas. Afinal, o que são as religiões afro-brasileiras? Apesar das diversidades os povos africanos que desembarcaram no Brasil conseguiram manter suas tradições culturais, como a religiosidade, mesmo incorporando alguns elementos católicos, espíritas e indígenas. O Candomblé como a Umbanda se encontram presente em diferentes âmbitos da cultura nacional, como nas artes plásticas, culinária, literatura, cinema, música popular brasileira e blocos afro-carnavalescos. Os deuses afro-brasileiros tem origem na África, mas foram abrasileirados com o passar do tempo. Os dezesseis Orixás do Candomblé são venerados por seus adeptos, cada orixá representa uma infinidade de mitos com características particulares, reúnem atributo, personalidades, comportamentos, sentimentos, paixões humanas e forças da natureza. Distinguem-se das cores, vestimentas e emblemas rituais; são sincretizados com santos católicos podendo variar conforme a região geográfica e em todos os meses do ano costuma-se fazer os festejos correspondente a ele, assim como as coreografias ficam a cargo dos adeptos especialmente preparados para receber orixás. O primeiro templo umbandista no Brasil, surgiu no século XX e teria sido fundado pelo comerciante Zélio Fernandino de Morais (1891-1975), em Niterói, Rio de Janeiro, dia 15 de novembro de 1908. Assim nasceu a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade. Seus praticantes de umbanda cultuam orixás, santos católicos, guias, espíritos ou entidades, acreditando que incorporam em médiuns para orientar e guiar os conhecimentos mágicocurativos. A umbanda é definida como uma religião afro-brasileira formada por uma seleção de doutrinas e rituais proveniente dos Pajés, do Candomblé, do catolicismo, do espiritismo 46

kardencista, da maçonaria a da Teosofia. As cerimônias umbandistas são realizadas semanalmente, chefiadas por líderes espirituais acompanhados por sacerdotes auxiliares. As crenças afro-brasileiras foram reprimidas durante o período colonial, só eram mantidas como divertimento útil para manter a paz nas senzalas, posteriormente os templos foram alvos de desqualificações e perseguições. Somente a partir da Constituição Brasileira de 1988, que determinou o princípio de igualdade, essas religiões começaram a ser valorizadas como cultura étnica-racial e social, porém apesar das mudanças da últimas décadas, mesmo hoje é possível se deparar com o preconceito que põem em risco a seriedade das religiões afro-brasileiras. As religiões afro-brasileiras asseguram a permanência da ancestralidade africana preservada e relembrada. Amparados pela Lei Federal 11.645, sancionada em 2008, que obriga o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas, cabe, sobretudo, aos educadores, mas não apenas a eles, discutir a importância dessas religiões na formação da cultura e da sociedade brasileira. O Brasil atual culturalmente rico deve-se as músicas e festas decorrentes dos processos de expressão afro-europeus, bem como os instrumentos musicais que foram essencialmente meios de comunicação comunitária. Exemplos de festas africanas são os sambas oriundos, dos sambas angolanos danças de umbigados congolesas, o uso de barris, colheres e pedaços de madeira que se adaptavam, como instrumentos à produção musical africana e os tambores que produzem a fala das mais diversas etnias. Na musicalidade afro-brasileira destaca-se o uso do copo como instrumento, como nos maracatus, jongo, moçambiques, congados ou capoeiras e o emprego da voz como ligação do sagrado e do mundano nas energias ancestrais. As festividades afro-brasileiras assumem um aspecto religioso que assimila culturas africanas e européias, como o catolicismo. A Celebração da Festa do Divino, folia dos reis, maracatus, festas do boi e outras que envolve toda a comunidade na preparação das vestimentas, alimentação e instrumentos, mantendo assim as tradições que ocorrem durante um ano inteiro, mostrando uma vaga idéia de como festejar em ciclos. As contribuições africanas na cultura do Continente Americano se manifesta de Norte a Sul, através dos ritmos e das danças. Nos EUA se destaca o Jazz e o Gospel, na América Central o Reggae, o Calipsso, o nambo, a salsa, a rumba, o Ska e o Nayabinghy são os mais conhecidos, entre outros ritmos, na América do Sul, o Brasil se destaca pelo maior número de 47

africanos recebidos durante a escravidão, que influenciam o ritmo nacional, o samba e outros regionais como do coco, do baião e o maracatu. A música se afirma como bem simbólico e histórico da interação do homem com a sociedade e com o meio ambiente. A musicalidade bantu está presente nos ritmos, nos instrumentos e nas danças tradicionais do Nordeste, Norte e Sudeste brasileiro. Podemos destacar também o uso das palavras no vocabulário brasileiro que de origem do grupo bantu, como por exemplo: cafuné, cafundó, cochichar, caçula, samba, serelepe, senzala e outros, mas a influência mais visível do grupo bantu é o samba, que é denominado uma dança e ritmo típico do Brasil, patrimônio do país e, recentemente da humanidade. Em diversas esferas a cultura africana se faz presente no Brasil, que foram formas de resistência, afirmação de identidade e preservação da história africana durante o período de escravização. A abordagem feita pelo autor é sobre a dança, os instrumentos e suas denominações nesse texto. Pela proximidade às comemorações programadas em todo o país do Centenário da abolição- marco para a militância negra, em que nesse momento intensificaram-se as discussões acerca da questão racial e a partir da constituinte as expectativas aumentaram mobilizando a intelectualidade negra em busca de produção artística e em ações reivindicatórias garantindo uma posição mais igualitária no Brasil pós-ditadura. Nesse contexto surgiram inúmeras associações, como os Coletivos de Mulheres Negras para combater a discriminação de gênero dentro do movimento negro e da busca pelça compreensão do movimento feminista quanto à complexidade que envolve ser mulher negra. Luíza Mahin surge como símbolo das conquistas dos afro-brasileiros em contraposição ao passado escravista e a imagem ainda muito comum nos livros didáticos do negro submisso, vitimizado. O negro durante a sociedade escravocrata no Brasil foi manipulado como peça comercial, teve seu corpo vendido, alugado, emprestado e violentado manejado de acordo com os interesses e vontades de seu dono. A situação vivida pelo negro constrói um olhar distorcido em relação a seu grupo étnico-racial, o que possibilita a introjeção do racismo. Neste texto a autora expõe principalmente a questão da mulher negra que é o sentimento de insatisfação com o corpo e faz a análise da mulher em que consegue modificar a sua representação social a partir da manipulação do seu corpo, evidencia-se várias questões que ficam subentendidos na identidade negra. Contudo, a sociedade brasileira tenta construir 48

um país multicultural, entendendo e representando as diversidades étnicas-raciais aqui existentes. Apesar das restrições impostas aos povos vindos da África, destacam-se nas artes com saberes e habilidades nos trabalhos e esculturas de metalúrgica, esse conhecimento trazido e perpetuado por parte da população negra que aqui chegava, passou a ser considerada tão importante, que era rigorosamente controlada pelo Império, sob a ameaça de severas punições. No período de descoberta de ouro em Minas Gerais, nos finais do século XVII e início do século XVIII, desenvolveu-se o Barroco mineiro, destacando-se as obras de Aleijadinho, que era mestiço, filho de arquiteto português com uma de suas cativas africanas, ele é considerado por muitos o principal artista do período rococó do século XVIII e o mais importante da América Latina. Trabalhou como escultor e arquiteto e fazia parte de Irmandade de São José, dedicado aos marceneiros. Boa parte das expressões artísticas Barroca foi produzida por mestiços negros e, apesar de ser reprimida, não deixou de ser um grande marco na arte brasileira. Um artista importante que representa o negro no Brasil, foi o mineiro Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) nascido em Mariana, que pintou o forro da nave da igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto e possui trabalhos em cerca de 18 igrejas em Minas Gerais. A arte barroca se formou como tipicamente brasileira, destacando a produção negra e mestiça, como influência européia. No século XIX diversos artistas negros estivem presentes no quadro da Academia de Belas Artes no Rio de Janeiro. Estevão Roberto da Silva (1844-1891) foi considerado um dos melhores da modalidade de natureza-morta realizada com perícia e considerada o ponto alto do gênero, com linhas bem definidas e cores fortes, de influência neoclássica, técnica dominada por Estevão. Apesar do destaque nas artes, na sociedade e na cultura, para a ideologia da época, os negros africanos e seus descendentes não tinham os mesmos direitos que os brancos, a sociedade continuava estratificada, hierarquizada em brancos e não-brancos. Porém muitos são os artistas negros que contribuíram com a pintura. Os primeiros artistas brasileiros tinham várias habilidades, eram arquitetos, pintores, escultores e decoradores. 49

Como artistas renascentistas, destacam-se: Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814); Valentim da Fonseca e Silva, Mestre Valentim (1750-1813); Estevão Roberto da Silva (1845-1891). BIBLIOGRAFIA FELINTO, Renata (org). Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: saberes para os professores, fazeres para os alunos. Belo Horizonte: Fino Traço Editora Ltda, 2012. 50