Palavras-chaves: conto, gênero textual, sequência didática



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1 SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO COORDENAÇÃO ESTADUAL DO PDE O CONTO POLICIAL COMO OBJETO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA Autora:Soraia Adriana Patene¹ Orientadora: Profª Drª Elvira Lopes Nascimento² RESUMO A narrativa encontra-se associada ao próprio constituir-se humano. Além de ser uma necessidade social, possui um efeito cativante que será transportada para a realidade educacional como instrumento pedagógico. O ficcional no conto policial é favorecido por seu efeito desafiador, provocante que vai de encontro ao imaginário adolescente propenso à quebra de barreiras e ao desafio do perigo. Para reverter o quadro de apatia e falta de perspectivas que imperam nas salas de aulas propus este projeto, com o intuito de me valer dessa atração do adolescente pelo perigo como um motor para a aprendizagem da leitura e da escrita, despertando o interesse dos alunos e contribuindo para a protagonização do seu processo de ensino-aprendizagem. Trata-se de uma pesquisa resultante da elaboração de um Modelo Didático do gênero conto policial que embasou a elaboração de uma Sequência Didática. As atividades desenvolvidas contribuíram para o meu desenvolvimento profissional, uma vez que me permitiram posicionar-me como agente do processo educacional, conferindo-me status de pesquisadora com autonomia para elaborar materiais didáticos da minha autoria, propiciando capacidades docentes para gerenciar projetos e sequências didáticas nas aulas de língua portuguesa. Palavras-chaves: conto, gênero textual, sequência didática ¹ Pós-graduação, Graduação, Escola Estadual Profª Kazuco Ohara - EF ² Doutorado, Mestrado, Pós-graduação, Graduação, UEL

2 1 INTRODUÇÃO A educação brasileira passa por profundas mudanças motivadas, principalmente, pela grande propulsão de analfabetos funcionais oriundos das mais diferentes classes sociais, independentemente se pertencentes a rede pública ou particular. Com o objetivo de reverter esta situação caótica, não é de hoje que a perspectiva do ensino de Língua Portuguesa vem sendo questionada e discutida entre profissionais de educação. A noção de gênero tem sido amplamente debatida a partir da contribuição bakhtiniana que, inclusive, respaldou os PCN no final da década de 90. Primei por uma pedagogia do ensino de gênero textual alicerçado no Interacionismo sociodiscursivo proposto pelos pesquisadores da Universidade de Genebra (BRONCKART, SCHNEUWLY, DOLZ) e adaptada para o ensino de língua portuguesa no contexto brasileiro (NASCIMENTO, 2009), quadro teórico e metodológico que vê a linguagem como o coração do desenvolvimento humano, o que implica o foco nas atividades discursivas materializadas nos gêneros textuais. O foco da minha pesquisa recai sobre a atividade linguageira de narrar as experiências de vida, tanto próprias como de outro(s). Narrar encontra-se intrinsecamente ligado à vida em comunidade como uma necessidade de falar, de comunicarmos ao outro o que estamos sentindo, pensando, descobrindo, desejando e assim por diante. Para justificar o meu objeto de pesquisa, recorro a ARRIGUCI (2011) ao afirmar que: Porque todo mundo gosta de história e de poesia. Não há sociedade sem narrativa. O homem é um animal narrativo. Homo narrador. Todo mundo quer ouvir histórias. Contamos histórias desde o amanhecer até a hora de dormir. Senta num táxi, história; entra em um ônibus, história; vai para a escola, história; dá uma topada, história; briga com o namorado, história. Todas as situações da vida propiciam acontecimentos narráveis e vivemos desse entrelaçamento de narrativas. E é justamente essa necessidade humana que pretendi transportar para a realidade educacional como instrumento pedagógico essencialmente relevante tanto na educação fundamental quanto no ensino médio como uma proposta

3 inovadora que favoreça o multiletramento. Para isso, delimitei contos com o intuito de conquistar leitores adolescentes com as narrativas curtas, envolventes que pudessem mediar o processo de ensino-aprendizagem da leitura, da escrita e da análise linguística. Por se tratar de um contexto escolar para 9º ano, o enfoque recaiu sobre o conto policial ou de suspense, principalmente por seu efeito desafiador, provocante, gerando no imaginário adolescente uma condição favorável para explorar o ficcional. Nessa faixa etária, há uma grande propensão à quebra de barreiras, desafiar o perigo, adentrar ao desconhecido. E esse gênero exerce uma forte atração por propiciar aventura sem sair da sua zona de conforto, através de um enredo instigante, fatos desafiadores e ambientes marcados pelo inesperado gerados pelos conto de suspense, sem jamais correr riscos reais. Para reverter o quadro de apatia, desinteresse e falta de envolvimento nas atividades tradicionais que imperam nas salas de aulas propus este projeto, com o intuito de me valer dessa atração pelo perigo como um motor para a aprendizagem da leitura e da escrita. Com essa pesquisa visei apresentar um projeto de comunicação para despertar o interesse dos alunos e contribuir para que eles se sintam protagonistas do seu processo de ensino-aprendizagem. Com o objetivo geral já delineado, a pesquisa foi efetivada tendo em vista dois s objetivos específicos: 1. Elaborar um Modelo Didático do Conto Policial, a partir da análise e descrição de um corpus de contos policiais dos quais foram apreendidos suas características contextuais e a sua infraestrutura (o tipo de discurso predominante), os mecanismos de textualização (coesão) e enunciação (vozes). 2. Elaborar uma Sequência Didática (doravante SD), para a transposição didática do conto policial. A sequência didática planejada para os meus alunos, foi implementada durante o segundo semestre de 2011 na Escola Estadual Professora Kazuco Ohara - Ensino Fundamental, situada à Rua Serra da Mantiqueira, 895 no bairro Jardim Bandeirantes - Zona Oeste da cidade de Londrina. A seguir, apresento uma síntese do referencial teórico que deu base ao trabalho.

4 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Da noção de gênero textual ao Gênero Conto Policial Segundo Hila (2009), a formação de leitores na rede de ensino público precisa passar por uma ressignificação, tendo em vista que apesar de há mais de uma década estar contemplado pelos PCNs conceitos como texto, contexto, estratégias e fases de leitura, ainda não foram completamente assimilados pelos professores principalmente nas séries iniciais. Ainda predomina um desconhecimento acerca do que vem a ser gêneros textuais, e o texto acaba sendo pretexto para o ensino de gramática. O gênero textual apresenta-se como articulador indispensável das práticas de leitura em sala de aula na formação de leitores críticos, No caso da prática de leitura, o que se tem ressaltando é que a escola precisa formar leitores críticos que consigam construir significados para além da superfície do texto, observando as funções sociais da leitura e da escrita nos mais variados contextos, a fim de levá-los a participar plena e criticamente de prática sociais que envolvem o uso da escrita e da oralidade. A noção, portanto, de prática social, convoca um dos primeiros argumentos em defesa do uso dos gêneros em sala de aula. (HILLA, op. cit) Entendo como práticas sociais as formas que organizam uma sociedade, suas atividades e ações desenvolvidas por pessoa dentro do grupo a que pertence e que expressam os papéis que desempenham, bem como, em que posições que se encontram frente aos seus pares. As atividades coletivas da humanidade ocorrem dentro de um contexto social as quais configuram as práticas sociais dentro de uma esfera cultural. Ou seja, as práticas coletivas constituem um conjunto do saber/agir disponível às atividades de um indivíduo singular que as materializam gêneros textuais. De acordo com Dolz, Noverraz e Scheneuwly (2004) Gêneros textuais são as características semelhantes, regularidades presentes nos textos (orais ou escritos) apesar de sua diversidade. Sendo assim, os estudos bakhtinianos servem como âncora da abordagem ao termo gênero, originário - a priore - da retórica e da literatura, como sendo

5 tipos relativamente estáveis de enunciados elaborados em cada esfera de troca (lugar social dos interlocutores), os quais são caracterizados pelo conteúdo temático, estilo e construção composicional, e escolhidos em função de uma situação definida por alguns parâmetros (finalidade, destinatários, conteúdo).(bakhtin, 1997). Este posicionamento se justifica porque os gêneros do discurso resultam de estruturas sóciohistoricamente cristalizadas oriundas das necessidades humanas construídas em diferentes lugares sociais da comunicação. Neste enfoque os elementos contextuais ou situação social mais imediata (BAKHTIN), onde o texto é fortemente marcado pelo não-verbal presente na situação em que os elementos linguísticos integram a composição textual. Esse mesmo autor, também define como enunciado concreto o emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais ou escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Nessa abordagem, a presença de parceiros (locutor/interlocutor) e a noção de compreensão responsiva ativa é denominada de dialogismo. De uma forma mais elucidativa, Hila (2009) expõe que cada esfera da atividade humana produz seus tipos específicos de enunciados, o que faz com que cada enunciado, cada gênero textual, traga marcas da esfera na qual está inserido. Tais esferas, tanto do cotidiano como dos sistemas ideológicos (a Arte, a Política, a Ciência, a Religião, entre outras) estão intimamente relacionadas à produção de sentido fundamento considerado como alicerce do letramento. E, em se tratando do processo ensino/aprendizagem, Dolz & Schneuwly (1996), delimitaram cinco agrupamentos de gêneros alicerçados em três critérios: domínio social da comunicação a que pertencem; capacidades de linguagem envolvidas na produção e compreensão desses gêneros e sua tipologia geral. Foram assim nomeados: agrupamento da ordem do relatar, agrupamento da ordem do argumentar, agrupamento da ordem do expor, agrupamento da ordem do descrever ações e agrupamento da ordem do narrar. Este último abarca gêneros de domínio da cultura literária ficcional assinalado pela manifestação estética e tendo como característica a mimesis da ação por meio da criação, da intriga no domínio do verossímil. Dentre os diversos exemplos de gêneros orais e escritos que compõem a Cultura Literária ficcional encontra-se o

6 conto. Esse gênero possui característica central de condensar conflito, tempo, espaço e reduzir o número de personagens. O termo conto deriva do latim comentum, in. (invenção, ficção, plano, projecto), ligado ao v. contueor, eris (olhar atentamente para, contemplar, ver, divisar). Narração oral ou escrita (verdadeira ou fabulosa); obra literária de ficção, narração sintética e monocrónica de um fato da vida. (COELHO, acesso maio/2011) O conto policial ou de suspense constitui um terreno ficcional propício para envolver e cativar um alunado cada vez mais carente de letramento. Dentre os diversos estilos de contos, desejei atrair uma faixa etária que se sente desafiada pelo inesperado, por um desfecho que prima pelo inusitado que surpreende. E, ainda, permite ao leitor se sentir superior, imune ao ambiente conflitivo e ameaçador em que o universo ficcional está descortinando aos seus personagens. Um pseudocontrole sobre um mundo permeado pela incerteza, pela ansiedade e pela proximidade de fatos, posicionamentos, decisões, revelações tidos como de suma importância. O efeito de suspense é provocado no conto por diversos fatores estrategicamente combinados, tais como a tipificação das personagens, suas ações, o ritmo empregado no enredo, levando ao desenlace da trama que provoca uma reação psíquica em níveis diferentes nos leitores, cujos principais objetivos são despertar e prender a atenção do leitor até a última palavra. Para esta análise, tomei como base os dois níveis de análise da ação da linguagem proposto por Bronckart (2003), os quais serão expostos no quadro a seguir, contemplando o segmento da ordem do narrar. NÍVEL I CONTEXTO DE PRODUÇÃO Contexto físico: Características da situação de produção: quem é o emissor, em que papel social se encontra, a quem se dirige. quem é o receptor e em que papel se encontra.

7 Contexto sóciosubjetivo: local em que é produzido, em qual instituição social se produz. momento da produção. suporte em que o texto está veiculado, com que objetivo, tipo de linguagem utilizada, atividade não verbal a que se relaciona, qual o valor social que lhe é atribuído etc. NÍVEL II FOLHADO TEXTUAL Infra-estrutura geral do texto Plano geral/global do texto: refere-se aos conteúdos que aparecem no texto, como se fosse um resumo do texto. tipos de discurso: referem-se aos mundos discursivos construídos no texto. No segmento do narrar (disjunção), pode ser implicado ou autônomo (apresentar ou não implicação em relação ao ato de produção por meio de dêiticos espaciais, temporais e de pessoa). Sequências: dividem-se em: narrativa, descritiva, argumentativa, explicativa, injuntiva e dialogal. Uma sequência narrativa é composta de intriga e tensão (script). Mecanismos de textualização Conexão:trata-se das relações entre os níveis de organização de um texto e é explicitada pelos organizadores textuais. (conexão entre as macro ideias do texto). Coesão: nominal (retomadas nominais e pronominais; anáforas e catáforas). verbal (tempos e modos verbais). Modalizações:

8 Mecanismos enunciativos responsáveis pelas diversas avaliações do enunciador sobre um ou outro aspecto do conteúdo temático e que podem ser divididas em lógicas, deônticas, pragmáticas e apreciativas. Vozes presentes no texto. a voz do autor empírico. vozes sociais (pessoas ou instituições humanas que não participam do conteúdo temático do texto). as vozes das personagens (pessoas ou instituições que participam do conteúdo temático do texto). 2.2 Construção um Modelo do Gênero Conto Policial Em primeira instância foi necessário uma investigação sobre o que se constituía gênero. Para tanto se respaldou na teoria interacionista sociodiscursiva do gênero da ordem do narrar mencionada anteriormente. O passo seguinte foi a delimitação dos textos que constituiriam o corpus a ser analisado. A seguir, realizou-se uma investigação sobre o gênero do conto policial e tudo o que já se conhecia sobre o mesmo compondo assim o seu Modelo de Gênero. Idealizado pelo grupo de Genebra, como uma proposta do interacionismo sociodiscursivo, constitui um instrumento para didatizar o trabalho pedagógico com gênero textual. Nascimento, Gonçalves & Saito (2009) definem como uma síntese prática que guia as ações do professor-pesquisador e, por outro lado, torna evidente aquilo que pode ser ensinável por meio de uma SD. O modelo didático constitui uma pesquisa aprofundada sobre um gênero textual específico que abarca o máximo de informações possíveis sobre o ponto de vista histórico, arquitetônico e finalidade do mesmo, consolidando-se como ponto de partida para o trabalho didático-pedagógico com gêneros, norteando assim, uma SD. Entendido como centro do processo de ensino-aprendizagem, possui caráter normativo e revela-se como um espaço de reflexões e práticas pedagógicas segundo Pietro & Schneuwly (2003). Nascimento (2004; 2009), defende que a elaboração do modelo didático de um gênero textual é o trabalho prévio crucial para o planejamento de uma SD.

9 Levando em consideração o que postula a autora, busca-se conhecer as dimensões ensináveis do conto policial que sejam adequadas e pertinentes para alunos da educação básica. Examinei um corpus constituído por três textos do gênero que constituíram um Modelo Didático que tornou evidente aquilo que pode ser ensinado, subsidiando o meu trabalho para a transposição didática. A seguir, apresento dados das diferentes etapas de elaboração do Modelo Didático de Gênero Textual. a) Conto Costa, Borges e Corrêa (2000) conceituam conto como gênero narrativo em prosa caracterizado por uma extensão reduzida, poucas personagens e concentração espaço-temporal. A ação é linear, circunscrevendo-se a um conflito, a um episódio ou a um acontecimento insólito, por vezes, insignificante. Os dicionários são sucintos ao abordarem o verbete conto. No Aurélio(1975) expõe que se trata de uma narração falada ou escrita; narrativa pouco extensa, concisa e que contem unidade dramática, concentrando-se a ação num único ponto de interesse. Luft (1998) apenas afirma que é uma narração ficcional breve, falada ou escrita. Enquanto Houaiss(2001) completa que se trata de uma história curta em prosa com um só conflito e ação e poucos personagens. Coelho em seu dicionário terminológico esclarece detalhadamente O termo conto deriva do latim comentum, in. (invenção, ficção, plano, projeto) ligado ao v. Conteor, eris (olhar atentamente para, contemplar, ver, divisar). Narração oral ou escrita (verdadeira ou fabulosa); obra literária de ficção, narração sintética e monocrônica de um fato da vida. Paz e Moniz(1997) expõem detalhadamente que conto origina-se do latim computu- que significa cálculo, conto. E acrescentam da área da aritmética o vocábulo passou à literatura para designar o relato breve, oral ou escrito, de uma história de ficção na qual participa reduzido número de personagens, numa concentração espaço-temporal. Pela sua brevidade e concisão, bem como pela sobriedade de recursos que utiliza, o conto é uma narrativa mais eficaz de comunicação, detectando-se facilmente a intenção nuclear do seu autor Massaud Moisés(1997) acrescenta a palavra conto latim computu(m) cálculo, conta, ou conto(m); grego kóntos, extremidade da lança; ou commentu(m), invenção,

10 ficção; ou deverbal de computare, calcular, contar. Francês conte, Espanhol cuento, Inglês short-stoty ou tale, Alemão novelle, erzählung ou märchen, Italiano novelle ou racconto. b) Literatura de massa D'Onofrio(1995) esclarece que Um gênero literário, individualizado pelo agrupamento de obras que possuem formas estéticas e conteúdos ideológicos semelhantes, como qualquer elemento vivo, tem seu surgimento, seu período de apogeu, sua fase de estandardização, em que se formam estereótipos que levam ao seu declínio e à sua transformação num novo gênero. Paz e Moniz (1997), na obra Dicionário Breve de Termos Literários expõem que o vocábulo paraliteratura deriva do grego pará que significa proximidade. E ainda, acrescentam termo que designa, em conjunto com outros (subliteratura, literatura kitsch ou pimba ), uma série de textos que são considerados não literário, embora possam reconhecer-se neles alguns elementos de valor literário: novela corde-rosa ou sentimental, policial, faroeste, de terror, de ficção científica, fotonovela. De acordo com Carpeaux (1968), trata-se de uma receita segura: lança a suspeita contra inocentes e revela, enfim, que o mais insuspeito é o criminoso. É um jogo monótono. Mas justamente essa permanência do quadro garante o sucesso. c) Conto policial Nos dicionários de língua portuguesa não apresentam tal verbete, apenas alguns se referem a romance policial. No que tange ao termo policial, afirmam que: no Aurélio(1975) relativo ou próprio da polícia ou que serve aos seus fins; assuntos policiais; inquérito policial, no Houaiss(2001) relativo ou pertencente a polícia; que envolve ou trata de crimes (romance) e Cegalla (2005) romance ou filme policial; que serve aos objetivos da polícia; de recorrência criminosa e do desvendamento de crimes: romance policial Pires afirma que: em linhas gerais, o romance policial é um tipo de narrativa que expõe uma investigação fictícia, ou seja, a superação metódica de um enigma ou a identificação de um fato ou pessoa misteriosa. Toda a narrativa policial apresenta um crime e alguém disposto a desvendá-lo, porém nem toda a narrativa

11 em que esses elementos estão presentes pode ser considerada policial. Isto porque além da necessidade de um crime, é preciso também uma forma de articular a narrativa, de estabelecer a relação do detetive com o crime e com a narração. Carpeaux (1968) garante que o sucesso do conto policial deve-se ao fato de bajular a inteligência do leitor ao convidá-lo a embrenhar-se em atividades mentais consideradas de alto grau de dificuldade. d) Textos que compõem o corpus Os três textos que serviram de base analítica para este projeto foram: A. O mistério do sobrinho perfumado de Hélio de Soveral; B. Se eu fosse Sherlock Holmes de Medeiros de Albuquerque; C. O último cuba-libre de Marcos Rey. O conto de Hélio de Soveral foi retirado do livro didático Português: Ideias e Linguagens da 8ª série das Profª Maria da Conceição Castro e Dileta Antonieta Delmanto F. De Matos - publicado pela Editora Saraiva. Os demais contos, que constituem o corpus em análise, compõem a obra Para Gostar de Ler (v. 12): História de Detetives da Editora Ática e integram o acervo de muitas bibliotecas das escolas públicas estaduais do Paraná. d) Especificidades do Conto Policial Assim, o que se pode depreender deste gênero é que se apresenta na modalidade escrita, pertencente à esfera literária (paraliteratura, subliteratura ou literatura de massa) e se caracteriza por ser uma narrativa curta ficcional verossímil constituída de personagens tipo com ambiente recorrente dentro do tempo e do espaço, em que é indispensável a presença da personagem que norteia a trama: o detetive. Produzido por autor enunciador contista - que tem como objetivo produzir contos que despertem fruição, prazer com a finalidade comercial - embasado no pensamento lógico maniqueísta, ou seja, a luta do bem contra o mal. Possui como público-alvo leitores juvenis e adultos que compram, emprestam coletâneas e/ou acessam via internet esse gênero. Destinatários oriundos das mais diversas classes sociais, constituídos por um perfil social subjetivo baseados na lógica e que

12 apreciem uma narrativa curta, marcada por uma estrutura previamente conhecida e um conteúdo recorrente por se tratar de uma literatura de massa em que considera que quanto mais fiel ao padrão, tanto melhor será. A relação entre o produtor e o destinatário se efetua de forma assimétrica, já que o leitor é apenas um ser passivo do deslumbre do raciocínio do autor que se vale do narrador para enunciá-lo no texto. A valoração social deste gênero em primeira instância é o entretenimento, seguido do pedagógico moralizante. Os suportes mais comuns são livros, coletâneas, antologias, livros didáticos e em sites na internet. Os seus meios de circulação são basicamente internet, bibliotecas e salas de aula. Este gênero pertence ao discurso do narrar ficcional pautado no verossímil, cuja estrutura textual é composta de: título: com todas as letras em maiúsculo e pouco frequente a presença de verbos; corpo textual: geralmente iniciado pela primeira letra maiúscula em destaque em relação às demais, formado por parágrafos que podem ou não apresentarem discurso direto (marcado de acordo com o estilo pessoal de seu produtor por aspas ou travessão) e/ou discurso indireto e até mesmo direto livre. autor: apresentado ou no final to texto ou como marcas extralinguísticas como cabeçalho na parte superior a partir da segunda página textual - junto com a numeração da mesma. ocasionalmente tradutor entre parênteses. Dependendo do estilo do produtor, alterna a pessoa verbal na narrativa (ora 1ª, ora 3ª pessoa do discurso). Porém sempre permeado de fragmentos sequências descritivas que compõem o quadro físico, social e psicológico do crime investigado revelando o ponto de vista da personagem detetive ao leitor, bem como, de sequências dialogais. Possui como temática recorrente: crime, morte, investigação, punição. De acordo com D'Onofrio (1995), a narrativa policial clássica é formada por duas sequências narrativas encadeadas: a história do crime em que a vítima é a personagem principal e na história do inquérito tem como protagonistas o detetive e o criminoso.

13 Em relação à história do crime, geralmente o leitor é apresentado a um mistério cujas circunstâncias inclusas a situação não são reveladas portanto, serão necessário uma explicação racional e lógica para os fatos constituindo um desafio à mente humana. Neste momento entra em cena o detetive dotado de observação aguçada e raciocínio que excedem a normalidade dos demais seres humanos. O suspense encontra-se no modo como que os fatos vão sendo elucidados cientificamente, em detrimento a uma possível explicação sobrenatural, fantasiosa que uma mente despreparada pudesse fazer uso. Em relação à história do inquérito, ainda podem ser subdivididos em: inquérito da polícia, inquérito do detetive, reconstrução do crime e o fim da história. No Inquérito da polícia compreendem os depoimentos das testemunhas e um possível suspeito que geralmente funcionará como bode expiatório para mascarar a incompetência do sistema em resolver o caso. No inquérito do detetive, que surge para desfazer uma injustiça e localizar o verdadeiro culpado. Essa personagem, que funciona como o maestro e pivô central, costura a trama entrelaçando vitima assassino fazendo uso basicamente da investigação da cena do crime, da observação minuciosa cujos detalhes que escaparam a primeira vista e de reflexão dos depoimentos sob a ótica da razão. Desta maneira solucionando o mistério do qual narra seu raciocínio reconstruindo os fatos ordenadamente que revelam como o crime foi cometido, em que circunstâncias e principalmente quem foi o autor do mesmo. Após o entendimento de quem, como e por que motivaram o crime o final da história (narrativa do inquérito) ainda é necessário que o verdadeiro criminoso seja punido e quando há - o possível inocente liberto (finalizando a narrativa do crime). Onde o bem vence o mal proporcionando um final feliz e que nenhum elemento textual fique em aberto, não sendo preciso imaginar como terminaria. Composto por começo/meio/fim bem claros e que a justiça seja restabelecida com a punição do vilão que não colocará mais a sociedade em perigo - típico em literaturas de massa. Uma marca da literatura de massa é a incidência da mesma estrutura textual, mesmo ambiente, mesmo tipologia de personagens pois, principalmente, o detetive é uma personagem tipo. O leitor busca um padrão que lhe gera uma 'zona de conforto com a recorrência dos elementos constitutivos deste gênero textual que no policial clássico é o suspense. Pois de acordo com D'Onofrio (1995) o consumidor de literatura de massa não quer saber de mudanças: gosta de encontrar,

14 no livro ou na tela do cinema ou da televisão, figuras conhecidas, que ele mesmo possa imediatamente identificar. E como ainda ele afirma a fixidez da história corresponde a fixidez caracterológica do protagonista onde o constitui um gênero previamente estabelecido e classificado, onde a redundância predomina em que sua fidelidade aos padrões o destacam e o elevam em relação aos demais, em detrimento a originalidade dos outros gêneros literários. Em relação ao conteúdo ideológico está calcado na recorrência isotópica, ou seja, sempre o mesmo sentido, mesma ideologia em que há uma manutenção de um conjunto de valores sociais que, segundo esta sociedade, garantem a felicidade humana e qualquer indivíduo ou até um grupo que os coloquem em risco deve ser considerado um 'perigo público'. O herói da literatura de massa, pouco importa se agindo dentro, à margem ou fora do sistema policial, representa o símbolo do desejo de salvaguardar os valores sociais, lutando contra os elementos perturbadores da ordem, inimigos do Estado e dos cidadãos integrados na sociedade. D'Onofrio (1995) Desta maneira, o detetive, que simboliza o bem lutando contra o mal, apesar de um possível sofrimento inicial ou mesmo no meio da narrativa, tem vitória garantida. O elemento maléfico é incluso apenas para ser subjugado pelas forças do bem que restituem a harmonia, a justiça, a ordem revelando assim sua característica didático-moralizante em que alerta aos marginais sociais, que se ousarem praticarem o mal, serão inegavelmente punidos. Conforme esboça Bronckart (2003), a situação inicial da sequência narrativa apresenta-se com a apresentação das personagens e do ambiente em que será inserido o enigma a ser elucidado. Neste momento tem início a complicação o raciocínio lógico e a observação detalhista do detetive sendo postos a prova. Durante a fase de ações ocorre a investigação das pistas e falsas pistas que culminam com a fase da resolução onde o crime é desvendado. Na última fase, da situação final, ocorre a punição do malfeitor e o reconhecimento ao herói que livrou a sociedade de um ser que prejudicou e possivelmente prejudicaria ainda mais seus semelhantes. O desfecho é a explicação final da narrativa e dos fatos que coordenaram

15 agradavelmente na descoberta do mistério. Tudo nesse desfecho se encaminha para um único ponto: apagam-se as discordâncias, os erros, os desvios, as falsas pistas. Com o leitor, o autor recapitula os fatos seguindo a sua ordem lógica. É como a contra-prova do acontecimento D ÁVILA (1967) Dentro do conto policial a personagem do detetive revela-se o eixo norteador de toda a trama textual. Além dele, estão presentes: a vítima, o criminoso, poder público (polícia) e demais personagens para constituir o cenário humano textual. Conforme D'Onofrio (1995), o que é indispensável no perfil de um bom detetive são sua faculdade analítica e uma observação detalhista e o compara com um intuitivo jogador de damas onde a sagacidade, a avaliação e entendimento do funcionamento das estruturas determinam seu sucesso. Ainda o iguala a um jogador de cartas consegue descobrir quais cartas cada integrante da mesa possui por suas expressões faciais e/ou corporais, análise de cada jogada proveniente de um profundo exame dos detalhes. Mas para torná-lo um detetive brilhante faz necessário acrescentar um profundo conhecimento geral de mundo, bem como, um entendimento das regras de seu funcionamento. Em um contexto capitalista, essa intelectualidade geralmente é enfatizada em detrimento ao desapego material onde a reclusão introspectiva meditativa o torna um excêntrico. Essa clausura não é maior pela presença do seu amigo/ajudante que compõe a dupla detetive-amigo confidente (geralmente seu assistente) como, por exemplo, Sherlock-Watson preconizada pela tradição anglo-saxônica tradicional. Sequência narrativa, descritiva e dialogal. (FRASES) A coesão textual nominal é estabelecida por preposições, conjunções e advérbios (e suas respectivas locuções) e por pronomes e retomadas. Desta forma, são acionadas diversas estratégias de retomadas textuais como pronomes, nomes, substituições por sinônimos, termos genéricos/específicos, nominalizações, repetições. A coesão verbal é realizada considerando a escolha verbal, observa-se a predominância do modo indicativo com o que é padrão no texto narrativo o início com pretérito imperfeito, seguido pelo início da complicação com pretérito perfeito apesar de se constatar o mais-que-perfeito incluso, em alguns textos. O presente do indicativo é empregado prioritariamente durante o discurso direto.

16 A organização textual emprega tanto aspectos: lógicos (por meio de conjunções e locuções conjuntivas), como temporais e espaciais (advérbios e locuções adverbiais). Considerando relação as vozes presentes no conto policial pode-se observar que a voz do enunciador (geralmente através da personagem do detetive) representa a verdade científica e objetiva. Encontram-se presentes personagem que simulam os possíveis questionamentos do destinatário que são imediatamente sanadas pelo enunciador principalmente no descortinar do enigma. A variedade linguística pertencente à norma culta, com presença de informalidade/coloquial principalmente no discurso direto. No que diz respeito à escolha lexical constata-se o predomínio de substantivos concretos, verbos indicando ação para narrar fatos e implicar o ritmo dinâmico ao texto. Percebe-se de forma enfática a presença de adjetivos objetivos, afetivos, físicos, superlativos comparativos, bem como, locuções adjetivas. Há também palavras com sentido conotativo e palavras e/ou expressões com sentido irônico. O tom do enunciador caracteriza-se por ser detalhista, rico em informações e impressões que visam minuciar com a maior precisão o espaço em que se desenrola a trama, os fatos, as personagens, etc. Os sinais de pontuação são bem variados dentre eles ponto final, de exclamação, interrogação, reticências, dois pontos, travessão. O discurso direto está presente em quase todos os contos marcados principalmente por dois pontos e travessão, enquanto que o discurso indireto aparece com pouca frequência. 2.3 Didatização do Gênero por meio da Sequência Didática Dolz, Noverraz & Schneuwly (2004) definem Sequência Didática (SD) como um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito - fruto do estudo sobre o gênero realizado no Modelo didático. Desta forma, a elaboração de uma SD desencadeia inúmeras atividades de escrita, orientadas tanto pela pesquisa como pela prática: a elaboração do modelo didático, que por sua vez inclui a pesquisa sobre um gênero em específico,

17 a organização das oficinas, a elaboração dos exercícios de cada oficina, o planejamento da transposição didática de cada oficina (Hila & Nascimento, 2010) Portanto, a SD tem por intuito auxiliar o aprendizado do discente em relação a um gênero de texto específico e lhe proporcionando letramento, em que não apenas tome posse de todas as condições necessárias para produzi-lo (oral ou escrito), mas também, faça uso numa dada situação de comunicação. De acordo com Dolz, Noverraz e Schneuwly (2040), uma SD é composta basicamente de quatro etapas básicas que serão discorridas e expressa no quadro a seguir: Apresentaçã o da situação PRODUÇÃO INICIAL Módulo 1 Módulo 2 Módulo n PRODUÇÃO FINAL ESQUEMA DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA: A primeira, denominada apresentação inicial, compreende a exposição minuciosa aos alunos - oral ou escrita - do que se espera que eles desempenhem. Nesta fase, (considerada a da conquista ou sedução) é necessário que fique bem claro o projeto coletivo de gênero - seja ele oral ou escrito - que será requerido da turma, bem como, seu conteúdo. Enfim, muni-los de todas as informações necessárias para que obtenham sucesso. Os alunos, bem motivados, adentram da segunda etapa: a produção inicial. Será a resposta ao que foi proposto que poderá se apresentar de forma satisfatória ou não. Entretanto, não possui um caráter valorativo e sim diagnóstico que proporcionará detectar as informações que eles já dominam e os problemas que deverão ser abordados no próximo momento. A seguir, inicia-se o momento de suma importância que visa a superação das dificuldades constatadas na produção inicial por meio de módulos. Trata-se de oficinas voltadas a sanar as deficiências elencadas nos diferentes níveis como da situação de comunicação, elaboração dos conteúdos, planejamento e realização do

18 texto. Desta forma, precisam ser atividades e exercícios diversificados que contemplem os problemas levantados, propiciando a aquisição gradual e progressiva do conhecimento e favorecendo uma ação linguística reflexiva. Finalmente, após ter sido posto em prática todos os instrumentos e noções previamente estabelecidos, culmina com a produção final, que pode tanto ser feita por meio de uma nova produção ou como a reestruturação da produção inicial. Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) afirmam que o estudo lento e crescente do gênero por meio de SD possibilita uma avaliação formativa e amplia as oportunidades discentes de aprendizado em função da diversidade de atividades propostas. E ainda, contribui para uma maior consciência de seu comportamento linguístico, o qual é adaptado às situações reais de comunicação de forma voluntária a dominar a sua língua e suas capacidades de escrever e falar. E ainda, as oficinas desta SD foi constituída empregando os descritores (ANEXO 1) preconizados pelo Sistema de avaliação da Educação Básica por meio da Prova Brasil que afirma que Estruturalmente, a Matriz de Língua Portuguesa se divide em duas dimensões: uma denominada Objeto do Conhecimento, em que são listados os seis tópicos; e outra denominada Competência, com descritores que indicam habilidades a serem avaliadas em cada tópico. Para a 4ª série/5º ano EF, são contemplados 15 descritores; e para a 8ª série/ 9º ano do EF e a 3ª série do EM, são acrescentados mais 6, totalizando 21 descritores. Os descritores aparecem, dentro de cada tópico, em ordem crescente de aprofundamento e/ou ampliação de conteúdos ou das habilidades exigidas. PROVA BRASIL, 2011)

19 3 METODOLOGIA 3.1 Dados da pesquisa Como já fora dito, a pesquisa foi implementada com o 9º ano A composta por 32 alunos muito comunicativos e ativos da Escola Estadual Professora Kazuco Ohara localizada na periferia de Londrina. 3.2 O projeto de comunicação apresentado aos alunos Expus o projeto com o gênero conto policial, visando despertar nos alunos o desejo de embrenhar-se nesta aventura didático-pedagógica. Explanei oralmente o projeto a ser desenvolvido, bem como, o que se esperava de cada um deles. Anunciei que iríamos fazer uma visita à Biblioteca Municipal e que no término do nosso projeto realizaríamos um Sarau com o lançamento do nosso livro de contos incluindo noite de autógrafos e coquetel para os familiares. E que na ocasião também seriam premiados os melhores contos desenvolvidos durante o projeto que pretendíamos apresentar em forma de leitura para os convidados. 3.3 Desenvolvimento a) Produção inicial Fiz uma leitura dramatizada do conto O último cuba-livre de Marcos Rei e solicitei que eles com base no conhecimento que possuíam brincassem de ser escritores e compusessem um conto policial empregando muita criatividade. Em seguida, fiz uma análise diagnóstica da produção inicial que norteou a construção de oficinas. Essas oficinas visavam sanar as dificuldades apresentadas pelos alunos que permitiam a assimilação do gênero conto policial. Como pode ser vista a seguir: SÍNTESE DAS PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS ALUNOS: PRODUÇÃO INICIAL 1) Planejamento textual: título (localização e letras - maiúsculas, minúsculas); onde registrar o nome do autor; e estruturação e/ou ausência de diálogos;