DISCUSSÕES ACERCA DA RELAÇÃO URBANO-RURAL NO DISTRITO DE AMANHECE/ARAGUARI (MG) 1



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Transcrição:

DISCUSSÕES ACERCA DA RELAÇÃO URBANO-RURAL NO DISTRITO DE AMANHECE/ARAGUARI (MG) 1 Flávia Aparecida Vieira de Araújo 2 flaviaraujogeo@yahoo.com.br Beatriz Ribeiro Soares 3 brsoares@ufu.br Universidade Federal de Uberlândia Resumo: O objetivo deste trabalho é a compreensão da relação urbano-rural o no distrito de Amanhece a partir das interações que os moradores da vila do distrito possuem com a cidade de Araguari. A análise das bibliografias que abordam a relação urbano-rural e o processo de modernização agrícola, que intensificou essa relação e de dados estatísticos do distrito e do município de Araguari, além da realização de entrevistas com os moradores do distrito, na perspectiva de analisar como o urbano e o rural se interagem no viver das pessoas, possibilitaram o alcance do objetivo proposto. A pesquisa possibilitou concluir que há uma coexistência do urbano e do rural no distrito e que eles podem se fundir sem que isso leve a uma homogeneização que suprime as especificidades de cada um. Palavras-chave: Relação urbano-rural. Modernização agrícola. Amanhece/Araguari (MG). INTRODUÇÃO No Brasil, as situações rural e urbana são definidas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que considera como população urbana as pessoas e os domicílios localizados nas cidades, nas vilas (sedes distritais) ou mesmo em áreas urbanas isoladas. A população rural é aquela que se localiza em toda a área fora dos limites urbanos, ou seja, fora do perímetro urbano, que é delimitado por uma lei municipal, sendo adotada pelo IBGE para a delimitação dos setores censitários e o processo de recenseamento. Todavia, a análise baseada na posição do domicílio no município gera enormes controvérsias, tais como o questionamento sobre o fato da população das vilas distritais ser considerada como urbana, mesmo estando localizada na área rural dos municípios. Vários estudos revelam que o rural e o urbano não podem ser interpretados como simples categorias operatórias, mas precisam ser analisados à luz dos conteúdos e significados das relações sociais, já que práticas tipicamente ligadas ao modo de vida rural podem se manifestar em áreas consideradas urbanas e vice-versa. Diante dos pressupostos de que há uma interação do urbano e do rural em um mesmo local, de que as fronteiras entre eles são cada vez mais tênues e de que o significado dessas realidades 1 Esse trabalho é parte da monografia intitulada Quando o urbano e o rural se intercruzam: discussões acerca da relação cidade-campo no distrito de Amanhece/Araguari (MG), que foi apresentada ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia no dia 30 de junho de 2008, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Geografia, tendo sido aprovada pela banca avaliadora. 2 Acadêmica: Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia. Bolsista CNPq. 3 Orientadora: Profª. Drª. do Instituto de Geografia.

deve ser buscado nas práticas sociais dos agentes, surgiu o interesse de se estudar a relação cidadecampo 4 no distrito de Amanhece. O aspecto motivador deste estudo é a própria vivência nesse lugar, que possibilitou observar a intensa relação que o distrito estabelece com o distrito-sede, Araguari (MG). Conforme já discutido, a população da vila distrital é considerada como urbana, porém, a partir dos estudos realizados durante a graduação acerca da relação urbano-rural e da observação de algumas práticas e vivências dos moradores do distrito, surgiram questionamentos, como: de que forma o rural está presente no viver das pessoas, dada a proximidade e estreita relação do distrito com o campo? E ainda, como o urbano e o rural se interagem no viver dessas pessoas? Tais questões se tornaram, assim, norteadoras desta pesquisa e merecem ser aqui colocadas: qual o sentido, o significado e a importância que a cidade tem para os moradores do distrito? A cidade seria o lugar do trabalho, do estudo e do lazer? Os modos de vida da cidade se proliferam sobre o distrito? Os modos de vida (hábitos e valores) são marcados por traços urbanos, rurais ou por uma mescla deles? Assim, na perspectiva de se compreender as relações e complementaridades que se estabelecem entre o distrito e a cidade, o objetivo geral desta pesquisa é a compreensão da relação urbano-rural no distrito de Amanhece a partir das interações que os moradores da vila do distrito possuem com a cidade de Araguari. Para o alcance dos objetivos propostos, a metodologia utilizada na pesquisa consistiu no levantamento bibliográfico sobre os principais estudos da relação cidade-campo. Essa etapa foi de fundamental importância para a delimitação teórica do trabalho. O levantamento de informações em fontes secundárias foi realizado no Arquivo Público Municipal de Araguari, no qual foram buscados dados históricos sobre o distrito de Amanhece e no IBGE, onde foram encontrados dados censitários e estatísticos do município. Na perspectiva de analisar a interação urbano-rural em Amanhece e o modo de vida da população e compreender a importância do distrito para as pessoas, realizamos entrevistas com os moradores da vila distrital. Foram realizadas vinte entrevistas e é importante justificar que não desconsideramos a importância do rigor metodológico e de se delimitar a amostra de acordo com o universo pesquisado. Todavia, optamos por trabalhar com os dados de forma qualitativa e entendemos que esse número de entrevistas possibilita um entendimento da realidade estudada. Porém, é necessário ressaltar que reconhecemos as limitações desse recorte e devido a isso as reflexões foram realizadas de acordo com o universo pesquisado, uma vez que sabemos do risco de se cometer equívocos a partir de generalizações. As entrevistas foram realizadas com pessoas de faixa etária variando entre 15 e 85 anos de idade, residentes no distrito há mais de dez anos, sendo que dez entrevistas foram realizadas com pessoas na faixa etária entre 25 e 50 anos e dez entrevistas com idade acima de 50 anos. Isso é justificado pelo fato de que entendemos que essa é uma forma de analisar as semelhanças e diferenças na forma de relação com a cidade entre jovens, adultos e idosos e compreender as vivências de diferentes gerações. Nas entrevistas realizadas a partir de um roteiro pré-estabelecido, procuramos conhecer o motivo de escolha do distrito para viver, o sentido que o distrito representa 4 É importante deixar claro que utilizaremos as expressões relação cidade-campo e relação urbano-rural como respectivos sinônimos de relação campo-cidade e relação rural-urbano e isso se justifica pelo fato de que alguns autores utilizam as primeiras expressões, enquanto outros as segundas. Não obstante essa diferença nas composições, percebemos, a partir das leituras realizadas, que as expressões possuem os mesmos significados. Assim, utilizaremos as expressões relação cidade-campo e relação urbano-rural por uma postura metodológica e por optarmos em privilegiar uma visão de análise que é a influência da cidade sobre o campo, destacando a visão da Geografia Urbana sobre o campo. Isso se justifica pelo fato de que se percebe uma falta de análises acerca dessa temática, a relação cidade-campo, por parte de pesquisadores da Geografia Urbana, já que a maior parte dos trabalhos produzidos são realizados por pesquisadores da Geografia Agrária/Geografia Rural, Sociologia, entre outros. 2

para o morador, a consideração das qualidades do distrito e da cidade, a freqüência de deslocamento para a cidade e a forma como é realizada esse deslocamento, o local de realização das principais compras e os tipos de produtos comprados no distrito e na cidade, os principais serviços buscados na cidade, o local de trabalho, a identificação com o modo de vida rural ou urbano, as expectativas em relação ao futuro do distrito e a opinião sobre sua emancipação. Consideramos, assim, que este estudo poderá trazer contribuições para a discussão da relação urbano-rural no âmbito da Geografia, uma vez que as pesquisas produzidas sobre distritos são ainda bastante incipientes, apesar da curiosidade intelectual que despertam e de sua importância para a compreensão da dinâmica socioespacial do território. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DO DISTRITO DE AMANHECE O distrito de Amanhece compreende uma área localizada ao norte do município de Araguari, a qual inclui a área urbana (vila) e rural. Sua distância do distrito-sede é de 12 quilômetros e o acesso é obtido por meio da rodovia 5 MG-414. A criação oficial do distrito deu-se por intermédio da Lei 843, de 07 de setembro de 1923. O distrito conta com ruas e avenidas asfaltadas, água encanada, coleta de lixo, energia elétrica e sistema de telefonia. A limpeza urbana no distrito é satisfatória, havendo uma varrição diária das vias públicas (ruas e praça) da área urbana do distrito. A coleta de lixo é realizada três vezes por semana, sendo o material encaminhado ao aterro público municipal. Os equipamentos urbanos presentes na vila do distrito são: uma praça, um posto de saúde, uma unidade do PSF (Programa Saúde da Família), uma escola municipal (ensino fundamental), uma escola estadual (ensino médio), uma creche, um clube de mães, um salão comunitário, um Cartório de Paz e Registros, uma unidade da agência de Correios e Telégrafos, um ginásio poliesportivo, um campo de futebol, uma quadra de esportes, uma antena de telefonia celular, uma caixa d água (poço artesiano), um posto policial e cinco templos religiosos, sendo: Igreja Católica, duas Assembléia de Deus, Congregação Cristã, Igreja Batista e Adventista do Sétimo Dia. O principal ponto da vila é a Praça Nossa Senhora Aparecida, onde se localiza a Igreja Católica de mesmo nome e os principais pontos comerciais. Entre os equipamentos urbanos, há alguns estabelecimentos comerciais, podendo-se destacar os bares. Esses estabelecimentos são: um posto de gasolina, uma oficina mecânica, uma borracharia, duas olarias, três lojas de vestuário, uma loja de produtos agropecuários, dois supermercados, uma padaria, uma sorveteria, um restaurante self service, uma lanchonete e oito bares. Além da organização interna simples do distrito, a população total também é pequena. De acordo com o Censo Demográfico de 2000, o distrito possuía 2.692 habitantes, sendo 1.185 na área urbana (vila) e 1.507 na zona rural (Tabela 5). É importante considerar que, apesar do distrito localizar-se na área rural do município de Araguari, a população da vila (sede distrital) é contada como sendo urbana, já que, para o IBGE é considerada área urbanizada toda área de vila ou de cidade, legalmente definida como urbana e caracterizada por construções, arruamentos e intensa ocupação humana; as áreas afetadas por transformações decorrentes do desenvolvimento urbano, e aquelas reservadas à expansão urbana (IBGE apud MARQUES, 2002, p. 97). (Grifo da autora). 5 É importante destacar que a rodovia é pavimentada e bem conservada até o local. 3

Essa consideração deve ser problematizada, uma vez que, conforme demonstraremos mais à frente, os moradores, apesar de serem contados como população urbana, ainda conservam hábitos, costumes e valores típicos do mundo rural. Tabela 1 - Distrito de Amanhece/Araguari (MG): evolução da população total, urbana e rural (1991-2000) Habitantes Percentagem (%) 1991 1996 2000 Evolução 1991-1996 Evolução 1996-2000 Total 2.395 2.180 2.692-8,97 23,48 Urbana 1.011 1.091 1.185 7,91 8,61 Rural 1.384 1.089 1.507-21,31 38,38 Fonte: IBGE Censo Demográfico (1991 e 2000) e Contagem Populacional (1996) Organização: ARAÚJO, F. A. V. (2008) A análise da tabela permite constatar que, entre os anos de 1991 e 1996, houve uma diminuição de 8,97% da população total do distrito. Entretanto, nesse mesmo período ocorreu uma evolução da população considerada urbana, com um crescimento na ordem de 7,91%. A diminuição de 21,31% da população rural entre os anos mencionados é um fator que explica a queda no número da população total do distrito. No período de 1996-2000 houve um crescimento de 23,48% da população total, sendo que o aumento da população urbana foi de apenas 8,61%, enquanto que a rural aumentou 38,38%. O crescimento da população rural nesse período pode estar relacionado com a mudança da população da vila para o campo e também com a chegada de trabalhadores temporários provenientes, principalmente, dos estados da Bahia e do Paraná, que se dirigiram ao distrito para trabalhar nas lavouras de café. Esses trabalhadores moram na fazenda do empregador durante o período de colheita (março a agosto) e, apesar de muitos retornarem à sua terra natal, alguns optam por permanecer no distrito, contribuindo, assim, para o aumento da sua população total. A renda da população residente no distrito, aliada à proximidade espacial com a cidade de Araguari, torna-se um fator determinante à organização espacial da vila, já que a possibilidade de consumir pode também determinar a existência ou não de estabelecimentos comerciais no distrito. Essa renda é resultante das formas de trabalho encontradas na vila e não atende a todas as necessidades básicas do trabalhador e de sua família. As principais fontes de renda em Amanhece estão ligadas ao trabalho rural, que possui uma remuneração menor em relação aos empregos urbanos. Todavia, apesar da renda média do distrito ser de um a três salários mínimos, uma pequena parcela da população (1,31%) possui renda superior a 15 salários mínimos. Isso demonstra que em Amanhece também existe má distribuição de renda e desigualdade social, não nos permitindo tratar o distrito como um espaço homogêneo, já que o desenvolvimento do capitalismo no local também ocorre de forma desigual e combinada. Essa renda significativa de alguns moradores pode estar ligada à presença de grandes fazendeiros na área rural do distrito (Tabela 2). 4

Tabela 2 - Distrito de Amanhece/Araguari (MG): rendimento nominal mensal (urbano e rural) por pessoa responsável pelo domicílio (2000) Dados de rendimento nominal mensal Classes de rendimento nominal mensal em percentual Pessoa responsável pelo domicílio 6 Renda (salários mínimos) Percentual Até 1 22,05 Mais de 1 a 3 51,57 Mais de 3 a 5 11,94 Mais de 5 a 10 9,84 Mais de 10 a 15 0,92 Mais de 15 a 20 0,39 Mais de 20 0,92 Sem rendimentos 2,36 Fonte: IBGE (Censo 2000) Organização: ARAÚJO, F. A.V. (2008) A INTERAÇÃO URBANO-RURAL NO DISTRITO DE AMANHECE/ARAGUARI (MG) A partir da caracterização socioeconômica do distrito, podemos afirmar que o pequeno número de habitantes, a baixa renda média e a proximidade espacial com a cidade de Araguari tornam-se fatores condicionantes ao incipiente desenvolvimento da vila distrital. Esta não possui um comércio e estrutura de serviços que atenda a todas as necessidades da população, que é obrigada a se deslocar para a cidade, aumentando seu grau de dependência e intensificando, assim, a relação urbano-rural. Além de buscarem a cidade para o trabalho, o estudo e o lazer, os entrevistados disseram que também buscam em Araguari os serviços que o distrito não oferece, como serviços bancários, médicos especializados e lojas de vestuário e calçados. Apesar de o distrito possuir três lojas de vestuário, a diversidade de produtos encontrados é reduzida e os preços são mais caros em comparação às lojas de Araguari. A menor diversidade e os maiores preços podem ser explicados pela reduzida escala de compra dos comerciantes locais do distrito e pela falta de concorrência, a qual influencia diretamente no preço de revenda adotado por eles. É importante ressaltar também que, quando os moradores necessitam de serviços mais especializados que a cidade de Araguari não oferece, eles se deslocam até o centro urbano mais importante, ou seja, a cidade de Uberlândia, que ocupa um importante papel na rede urbana regional. Os entrevistados disseram que compram os produtos alimentares de necessidade mais imediata nos dois supermercados do distrito, já que, ao contrário das roupas e calçados, não há diferença em relação aos preços adotados na cidade. Nem todos os supermercados da cidade realizam a entrega das compras no distrito, por isso, os moradores optam por realizá-las nos supermercados locais por questão de comodidade e praticidade. Essa escolha também é decorrente do fato de que os supermercados do distrito vendem seus produtos a crediário, sendo que cada 6 Segundo dados do IBGE, o distrito de Amanhece possuía 762 imóveis, incluindo aqueles localizados na área urbana e rural. 5

cliente possui sua caderneta onde são anotadas as compras a serem pagas quinzenalmente ou mesmo mensalmente. Essa prática nos revela uma característica que não pode ser encontrada com facilidade nas cidades, mas sim, em locais menores espacialmente e demograficamente, como o distrito, nos quais todas as pessoas se conhecem e as relações são permeadas por laços de amizade e confiança. Nessa perspectiva, para entender a interação urbano-rural, é necessário ir além dos dados estatísticos, investigando o significado que o viver no distrito representa para os moradores. O processo de modernização agrícola no município de Araguari engendrou profundas transformações na relação cidade-campo e contribuiu para intensificar a interação urbano-rural no distrito de Amanhece. Além da proximidade espacial da vila distrital com o campo, o estreitamento das relações entre o rural e o urbano ocorreu em decorrência da migração dos produtores que foram expropriados, os quais passaram a residir no distrito, mesmo continuando a trabalhar no campo. Assim, os hábitos, costumes e valores típicos desse espaço se tornaram mais presentes na vida dos residentes da vila, da mesma forma que a presença dos valores urbanos também foi intensificada, dada a nova relação que esses residentes passaram a estabelecer com a cidade de Araguari. A intensidade dessa relação, conforme já apontado, decorre do fato de o distrito não possuir equipamentos e serviços que atendam a todas as necessidades de sua população, levando-a a buscar os serviços da cidade. Nessa perspectiva, em nossas entrevistas procuramos entender a identificação do morador com o modo de vida rural ou urbano. É importante considerar que isso representa uma forma de entender a interação existente entre os modos de vida urbano e rural, bem como uma relativização da classificação do rural e do urbano. Entendemos que essas são espacialidades complexas que só podem ser apreendidas a partir do entendimento das relações que os sujeitos estabelecem no espaço em que vivem, seja ele o campo ou a cidade. Conforme já apontado, as áreas de abrangência do rural e do urbano são definidas pelo arbítrio dos poderes municipais, sendo adotada pelo IBGE, que [...] distingue as situações urbana e rural, tais como são legalmente definidas em cada município. Na situação urbana, consideram-se as pessoas e os domicílios recenseados nas áreas urbanizadas ou não, correspondentes às cidades (sedes municipais), às vilas (sedes distritais) ou às áreas urbanas isoladas. A situação rural abrange a população e os domicílios recenseados em toda área situada fora dos limites urbanos, inclusive os aglomerados rurais de extensão urbana, os povoados e os núcleos. (WANDERLEY, 2001, p. 4). Indubitavelmente, essa classificação é importante no processo de recenseamento, porém, devemos considerar que, na conceituação de uma localidade como rural ou urbana, é preciso atentar para a dinâmica regional do lugar que se investiga, pois a diferenciação entre rural e urbano está no conteúdo das relações sociais contidas em cada espaço, seja ele o campo ou a cidade. Nesse sentido, concordamos com Abramovay (2000, p. 27) quando afirma que o importante não é apenas saber se um distrito censitário é rural ou urbano, mas qual é a dinâmica de uma certa região, sem que sua aglomeração urbana seja isolada de seu entorno. É imprescindível considerar que essa diferenciação é uma tarefa complexa, já que nos distritos que se localizam próximo ao campo, como é o caso de Amanhece, o rural e o urbano se interagem no viver das pessoas, formando um espaço híbrido. A compreensão desse espaço não pode ser dada apenas pelas tradicionais concepções de urbano e rural, já que há uma combinação desigual de ambos em cada localidade, sem que essa combinação leve à destruição do rural, que é visto como o espaço residual e subalterno. A partir das entrevistas realizadas, foi possível perceber que, apesar de serem contados como população urbana, os moradores se identificam mais com o modo de vida rural, já que há uma 6

intensa proximidade do distrito com o campo e com seu respectivo modo de vida, especialmente em relação às relações de trabalho. Essa proximidade nos leva a refletir acerca da construção das relações cotidianas no distrito, que são baseadas em uma intensa ligação com a terra. A terra representa uma garantia de sobrevivência tanto aos moradores que possuem uma propriedade na área rural e que cultivam determinado produto para consumir ou vender quanto àqueles que trabalham na colheita desse produto. Nesse sentido, podemos refletir acerca do fato de que, apesar dos moradores serem contados como urbanos, suas relações estão fortemente atreladas aos espaços rurais, nos quais [...] as relações cotidianas são construídas tendo como base uma intensa ligação com a terra. O sustento da família é assegurado pelo trabalho sobre ela produzido, seja por intermédio dos produtos cultivados (para venda ou consumo), seja por intermédio da criação de animais (pastagem e outras fontes de alimento). A terra não é mero chão, mas a garantia de sobrevivência. (BAGLI, 2006, p. 87). Contraditoriamente, nos espaços urbanos a terra possui uma outra dimensão, já que não é nela que o trabalho ocorre, mas sim sobre ela. Assim, as relações se realizam por intermédio daquilo que sobre a terra está construído, como as casas, prédios, ruas, lojas, dentre outros e pela funcionalidade que possuem. Isso nos leva a pensar na afirmação de Alentejano (2003, p. 32): [...] enquanto a dinâmica urbana pouco depende de relações com a terra, tanto do ponto de vista econômico, como social e espacial, o rural está diretamente associado à terra, embora as formas como estas relações se dão sejam diversas e complexas. A afirmação do autor nos leva a pensar na dimensão rural que o distrito possui, já que nele há uma forte dependência em relação à terra, que possui para os moradores, tanto da área rural quanto da vila, uma importância econômica, social e espacial no estabelecimento de suas relações sociais. A terra funciona, assim, como elemento que perpassa e dá unidade a todas essas relações (ALENTEJANO, 2003, p. 32). É importante destacar que nem todos os entrevistados se identificam com o rural e isso ficou claro na fala de uma entrevistada que afirmou se identificar com o modo de vida urbano, atribuindoo à existência de infra-estrutura no distrito, como comércio e escola. Entendemos que a presença dessa infra-estrutura no distrito, como asfaltamento, energia, telefone, posto de saúde, escola e estabelecimentos comerciais não permite afirmar que sua população é eminentemente urbana. Se a condição de urbano é dada pela presença de infra-estrutura, os espaços que não a possuem seriam rurais? Seguindo essa lógica, as imensas áreas desprovidas de infra-estrutura situadas no interior das cidades, como as favelas, não seriam urbanas. Conforme nos aponta Bagli (2006, p. 96), a condição de ser rural ou urbano não está dada pela presença ou ausência de infra-estrutura. Envolve outros aspectos que ultrapassam a mera aparência. Diante dessa afirmação, entendemos a necessidade de se investigar esses aspectos que estão presentes na vida dos moradores do distrito. Os laços de vizinhança e o sentimento de pertencimento a uma comunidade são características reconhecidas como sendo típicas do rural e estão fortemente presentes em suas relações. É importante ressaltar que, em nossa pesquisa, percebemos que não são apenas os idosos que consideram importante as relações mais centradas na proximidade e na vizinhança, já que os mais jovens também reconhecem essa importância. A identificação que os entrevistados demonstraram possuir com o local nos leva a pensar na territorialidade, a qual pode se tornar um fator de distinção entre o rural e o urbano, já que essa territorialidade é mais intensa no modo de vida rural, conforme nos aponta Alentejano (2003, p. 31), ao afirmar que é a intensidade da territorialidade que distingue o rural do urbano, podendo-se afirmar que o urbano representa relações mais globais, mais descoladas do território, enquanto o rural reflete uma maior territorialidade, uma vinculação local mais intensa. 7

Assim, a territorialidade presente na vida dos moradores do distrito é um aspecto que nos permite identificar a presença de valores rurais nas relações sociais que estabelecem e, mais importante, um fator que nos permite relativizar a classificação que os considera como urbanos, levando-nos a pensar na interação urbano-rural presente no distrito. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da pesquisa realizada no distrito de Amanhece, percebemos que há uma intensa interação entre os valores rurais e urbanos na vida dos moradores. Apesar de serem considerados urbanos pelos órgãos e instituições oficiais, observamos que os valores e práticas característicos do mundo rural, como o vínculo identitário com o lugar, as tradições, os hábitos alimentares, dentre outros, estão fortemente presentes em sua vida. Nesse sentido, apesar de buscarem a cidade para trabalhar, estudar, realizar compras ou mesmo se divertir, os moradores não deixam de valorizar os valores, costumes e a vida que o distrito proporciona, sejam os mais velhos ou mesmo os jovens, conforme constatamos nas entrevistas. Consideramos, assim, que a presença do rural e sua interação com o urbano ocorre no viver das pessoas, revelando-nos uma complexidade na qual rural e urbano coexistem e não se sobrepõem. A intensidade da relação rural-urbano decorre do fato de o distrito não possuir equipamentos e serviços que atendam a todas as necessidades de sua população, levando-a a buscar os serviços da cidade. Percebemos que há uma carência de serviços na vila do distrito, pois apesar de possuir asfaltamento, energia elétrica, água encanada, rede de telefonia, serviços de limpeza urbana e dos moradores terem acesso à educação, saúde e moradia, eles possuem poucas opções de trabalho e lazer. Essa reduzida oferta de oportunidades de trabalho e lazer é sentida especialmente na vida dos mais jovens. Aqueles que não possuem condições de dar continuidade aos seus estudos, se submetem ao trabalho pesado e cansativo nas lavouras de café e tomate. Alguns trabalham em Araguari e outros preferem se mudar para essa cidade ou mesmo para Uberlândia em busca de melhores condições de estudo e emprego. A renda da população obtida por meio do trabalho exercido em atividades ligadas ao campo não é suficiente para que os moradores tenham uma ascensão social e uma diversificação de consumo. A baixa renda, aliada ao reduzido número de habitantes e à proximidade espacial com a cidade de Araguari, determina a organização espacial da vila, visto que a possibilidade de consumir pode se tornar um fator de grande relevância para a existência de estabelecimentos comerciais no distrito. Ressaltamos, assim, a necessidade de revitalização da área urbana do distrito de Amanhece pelos órgãos competentes, pois ela é importante para a melhoria da qualidade de vida da população residente. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Ricardo. Funções e medidas da ruralidade no desenvolvimento contemporâneo. Texto para Discussão 702. Rio de Janeiro: IPEA, 2000. p. 1-37. ALENTEJANO, Paulo R. As relações campo-cidade no Brasil do século XXI. Terra Livre, São Paulo, v. 2, n. 21, p. 25-39, ano 18, jul./dez. 2003. 8

BAGLI, Priscila. Rural e urbano: harmonia e conflito na cadência da contradição. In: SPOSITO, M. E. B.; WHITACKER, A. M (org.). Cidade e campo: relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006. p. 81-109. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censos Demográficos: 1970, 1980, 1991 e 2000. Disponível em: <htpp://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: mar. 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Contagem populacional: 1996. Disponível em: <htpp://www.sidra.ibge.gov.br>. Acesso em: mar. 2008. MARQUES, Marta I. M. O conceito de espaço rural em questão. Terra Livre, São Paulo, n. 19, p. 95-112. 2002. WANDERLEY, Maria de Nazareth B. Urbanização e ruralidade. Relações entre a pequena cidade e o mundo rural e estudo preliminar sobre os pequenos municípios em Pernambuco. Recife, 2001. Disponível em: <http://www.ipese.com.br/manabawa>. Acesso em: mar. 2008. 9