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Transcrição:

LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS(LIBRAS) AULA 03: O PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DA LÍNGUA DE SINAIS (TILS) TÓPICO 03: O PROFISSIONAL INTÉRPRETE DA LÍNGUA DE SINAIS (ILS) E SUA ATUAÇÃO NA ESCOLARIZAÇÃO DE SURDOS Com todo esse movimento de inclusão e a presença dos surdos em espaços cada vez mais diferenciados, tornou-se mais visível a presença do ILS e o aumento significativo de ações e políticas linguísticas em torno da Língua de Sinais e das implicações que essa prática ocasiona. Portanto, a profissão dos ILS está num momento histórico de estruturação e, certamente, a Lei nº. 12.319, de 1º de Setembro de 2010, embora com todas as discussões surgidas a partir dos vetos dos artigos que tratavam da formação em nível superior, representa uma vitória em termos de reconhecimento dos profissionais ILS e da importância deste cargo, para consolidar uma categoria que por décadas atuou de maneira informal e que agora tem o reconhecimento de sua profissão, para qual existe uma demanda significativa no mercado de trabalho, que engloba desde os espaços públicos, a área específica da educação e a comunidade de um modo geral. OBSERVAÇÃO Dos espaços de atuação dos intérpretes de Língua de Sinais, como apresentado anteriormente nesta pesquisa, existe um que tem suscitado grandes discussões e polêmicas: o espaço educacional. De acordo com Quadros (2004), é o espaço onde a interpretação é mais requisitada atualmente. A partir do desenvolvimento e enfoque que as escolas deram ao processo de colocação de estudantes surdos em suas salas de aula, o sucesso e resultados sonhados não seriam possíveis sem a presença desse profissional na escola que se intitula inclusiva. Segundo a mesma autora, o intérprete, especialista para atuar na área de educação, deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como entre alunos surdos e ouvintes. Concordamos categoricamente que, ao se pensar nas competências e responsabilidades deste profissional, existem muitas dificuldades em determinar quais suas reais responsabilidades e até onde sua atuação pode ser considerada adequada e pertinente, de modo a causar problemas de ordem ética quando realizar as intermediações em sala de aula, nem sua responsabilidade e função ser confundida com a do professor, por exemplo. Uma questão fundamental a ser problematizada, diz respeito ao nível educacional do intérprete. Quadros (2004, p. 62) afirma: Outro aspecto a ser considerado na atuação do intérprete em sala de aula é o nível educacional. O intérprete de Língua de Sinais poderá estar atuando na educação infantil, na educação fundamental, no ensino médio, no nível universitário e no nível de pós-graduação. Obviamente que em cada nível devese considerar diferentes fatores. Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente

como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar a interpretação compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização. Recentemente, com o reconhecimento da profissão do Intérprete de Língua de Sinais, através da Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, a questão de sua formação vem sendo apresentada como urgente e necessária. O problema é que só especifica a formação em nível médio e esse aspecto pode dificultar ainda mais o processo de formação desse profissional, que almeja aprofundar sua prática e conhecimentos e o nível desta formação, em nível médio não dá conta de embasar sua pratica e ações, principalmente no espaço da educação. OLHANDO DE PERTO Desde 2002, quando a Lei 10.436 foi sancionada, reconhecendo a Língua de Sinais, como língua utilizada pela comunidade surda, o aumento na contratação de intérpretes para atuar no ambiente educacional é visível. As escolas estaduais também precisaram contratar ILS para os alunos surdos que a elas chegavam. Um fato interessante é que, no ano de 2009, houve uma denúncia ao Ministério Publico de João Pessoa, sobre uma escola estadual que tinha alunos surdos em sala, mas que não oferecia intérprete. Esse fato levou o Ministério Publico a realizar visitas em todas as escolas que tinham alunos surdos para verificar se faltava mesmo esse profissional. Um dos motivos da ausência de alguns ILS era o atraso de três meses do pagamento de seus salários, fato que impossibilitava sua ida ao trabalho. Depois das visitas do Ministério Publico e da exigência de se resolver esse problema, o Estado providenciou o pagamento e logo a situação foi regularizada. Percebemos que atualmente tem ocorrido uma maior cobrança dos surdos por seus direitos, dentre estes, o da presença deste profissional intermediando a comunicação entre professores e alunos surdos e entre alunos ouvintes e surdos nas escolas. Existe esse profissional que está inserido nas escolas, que agora tem sua profissão reconhecida, porém, para que possa efetivamente desenvolver suas funções adequadamente, urge uma maior mobilização em termos de lutas e reivindicações para que o que está assegurado na lei seja realmente realizado na prática. Assim, acreditamos ser fundamental a organização da categoria e a articulação com as associações que tem surgido em vários estados do Brasil, bem como com as associações dos surdos, com a comunidade surda, entre outros segmentos sociais, para suscitar e promover as mudanças necessárias e urgentes nesse momento histórico. Lacerda (2009, p. 120) afirma que:

a questão da educação dos surdos no Brasil ainda é um problema longe de ter uma solução satisfatória, e que as escolas próprias para surdos, atentas à sua condição bilíngue e às suas necessidades específicas, são ainda pouquíssimas e, portanto, acessíveis a uma minoria de surdos nesse país. Com o advento da implantação da inclusão e os discursos em torno de atendimento igualitário no mesmo espaço educacional, ocorreu que, desta quantidade ínfima de escolas específicas, muitas foram forçadas a mudarem seu foco de atuação e se tornarem instituições de apoio especializado, para complementar o atendimento que os surdos têm nas escolas regulares. Realmente, todo esse movimento de implementação de políticas voltadas para o atendimento de todos os alunos nas escolas regulares provocou mudanças na educação de nosso país e, em relação às pessoas surdas, provocou mudanças sérias e complexas. Lacerda acrescenta que a expansão da política educacional de inclusão, a partir principalmente da Declaração de Salamanca, ganha adeptos entre políticos, que advogam tratamento igual para todos, e em algumas famílias de sujeitos surdos surgem opiniões de respeito e atenção dos sujeitos com necessidades especiais e na sociedade de modo geral, que veem com bons olhos toda essa integração e o respeito aos diferentes. Lacerda contrapõe todo esse discurso e realidade apresentada, a partir de pesquisas realizadas especialmente em São Paulo, afirmando que o que se constata na prática é apenas uma inserção sem nenhum cuidado especial, onde os fracassos são bem mais presentes do que os sucessos. Concordamos com ela, a partir de nossas experiências com pesquisa em inclusão de surdos nas escolas regulares na cidade de João Pessoa, em que pudemos constatar uma realidade similar à percebida em São Paulo. Certamente, a presença desse profissional no espaço inclusivo é fundamental, porém, precisa acontecer com cuidados específicos e reflexões, pois, como observa Lacerda (2009, p. 121), a prática observada até o momento, aponta para evidência de desconhecimento da realidade das comunidades surdas, de falta de preparo e de oportunidades para discussões sobre essas possibilidades. A atuação do intérprete educacional requer grandes responsabilidades, por isso mesmo suas atitudes merecem atenção especial. Os complexos conflitos que ocorrem e as formas de relações que se estabelecem no ambiente escolar inclusivo precisam ser percebidos, compreendidos e refletidos. Apenas a inserção do profissional no espaço que se diz inclusivo não resolve as questões que o processo educacional produz. Sua atuação em muitos momentos é confusa e complexa. Dentre muitas questões levantadas por Quadros (2004) estão: O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas surdos e os colegas ouvintes. No entanto, as competências e responsabilidades destes profissionais não são tão fáceis de serem determinadas. Há vários problemas de ordem ética que acabam surgindo em

função do tipo de intermediação que acaba acontecendo em sala de aula. Muitas vezes, o papel do intérprete em sala de aula acaba sendo confundido com o papel do professor. Os alunos dirigem questões diretamente ao intérprete, comentam e travam discussões em relação aos tópicos abordados com o intérprete e não com o professor. O próprio professor delega ao intérprete a responsabilidade de assumir o ensino dos conteúdos desenvolvidos em aula ao intérprete. Muitas vezes, o professor consulta o intérprete a respeito do desenvolvimento do aluno surdo, como sendo ele a pessoa mais indicada a dar um parecer a respeito. O intérprete, por sua vez, se assumir todos os papéis delegados por parte dos professores e alunos, acaba sendo sobrecarregado e, também, acaba por confundir o seu papel dentro do processo educacional, um papel que está sendo constituído. Vale ressaltar que se o intérprete está atuando na educação infantil ou fundamental, mais difícil torna-se a sua tarefa. As crianças mais novas têm mais dificuldades em entender que aquele que está passando a informação é apenas um intérprete, é apenas aquele que está intermediando a relação entre o professor e ela. Inúmeros aspectos podem ser problematizados a partir dessa afirmação, envolvendo desde questões éticas que ocorrem neste espaço, até isenção ou transmissão de responsabilidades por parte dos professores para os intérpretes, além de confusão dos alunos surdos em perceber qual a atribuição de cada profissional que divide o mesmo espaço. Com a comprovação de que essa é uma realidade refletida na maioria dos espaços escolares que os intérpretes atuam, não podemos reproduzir os discursos de muitos adeptos desse movimento de inclusão que manifestam total apoio e reprodução das falas daqueles que não querem rever essa forma de inclusão que tem se estabelecido nas escolas brasileiras e advogam todo mérito aos espaços que desenvolvem a inclusão, como sendo muito bem sucedida. PARADA OBRIGATÓRIA O profissional intérprete é necessário no ambiente escolar sim, mas existem outras formas de desenvolver suas atividades e outros momentos em que ele é necessário, sem ser especificamente a sala de aula. Em relação aos surdos, especificamente, quando se afirma que o intérprete resolve a questão da acessibilidade e que assim os alunos surdos estão sendo incluídos, essa é uma forma de análise simplista, que pode acentuar a exclusão e negar as diferenças e peculiaridades dos alunos surdos. A atuação do intérprete é benéfica quando, no cotidiano, os sujeitos surdos são considerados em suas especificidades linguísticas e cultural. Fato que não ocorre no interior das escolas que se intitulam inclusivas e que contam com o intérprete intermediando as relações existentes nesse espaço tão complexo e repleto de contradições. Lacerda (2009) acrescenta que no ambiente bilíngue, as barreiras não são sanadas, embora a presença do intérprete tenha trazido benefícios para os surdos, por possibilitar o acesso no/ao espaço escolar, essa acessibilidade não dá conta das necessidades educacionais, linguísticas e comunicacionais

que os surdos precisam e que estão presentes nas legislações e políticas inclusivas. Fonte [1] OLHANDO DE PERTO Nessa perspectiva, com esses conhecimentos a respeito da atuação do TILS no contexto escolar, apresentamos o próximo tópico que traz considerações a respeito de um outro profissional existente no interior dessas atividades de interpretação e tradução das línguas de sinais, o Guia -Intérprete. Tais considerações são fruto das reflexões de Natália Almeida que vem atuando nessa área. FONTES DAS IMAGENS 1. http://2.bp.blogspot.com/- jtvoiszavbm/tzrwrl_tsui/aaaaaaaaeba/dd-ln9mmw- Y/s1600/sala+de+aula.jpg Responsável: Prof.ª Margarida M. P. de Souza Universidade Federal do Ceará - Instituto UFC Virtual