Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 314 ÁREA CARENTE DE VITALIDADE EM PRESIDENTE PRUDENTE E PROPOSTA DE PLANEJAMENTO INCLUSIVO Brysa Yanara de Mendonça Thamazini¹; Letícia Pirola Maziero¹, Karina Trindade Batistão¹, Marciel Roberto Encenha¹, Lygiane Lima de Souza¹, Amanda Medina Duarte¹, Thalita Salvador¹, Sibila Corral de Arêa Leão Honda² 1 Docentes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista UNOESTE. 2 Arquiteta e Urbanista, Mestre e Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Docente do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Oeste Paulista UNOESTE. RESUMO O planejamento e a gestão urbanos são fundamentais no processo urbanístico, focando em uma cidade mais justa e inclusiva. Áreas degradadas, carentes de vitalidade ou de diversidade tornamse grandes problemas urbanos. Com base nessa análise, este artigo visa a analisar a cidade de Presidente Prudente, no oeste do Estado de São Paulo, verificando possíveis regiões degradadas na malha urbana, objetivando propostas de planejamento adequado na sua recuperação e reestruturação. Essas propostas são importantes na recuperação de ambientes urbanos, favorecendo a população residente, a usuária, assim como toda sociedade, além de facilitar a gestão dos processos urbanos. O resgate de áreas degradadas também visa a uma cidade mais segura. Palavras chave: Degradação Urbana, Revitalização Urbana, Centro Cultural, Comércio, Planejamento e Gestão Urbanos. INTRODUÇÃO Este artigo busca, por meio da análise espacial e social de Presidente Prudente, município do interior do Estado de São Paulo, levantar as necessidades e problemas da cidade, adquirindo subsídios para um planejamento urbano inclusivo, que possibilite reduzir as regiões urbanas carentes de vitalidade. O planejamento urbano é parte fundamental da gestão das cidades, antecedendo aos problemas e proporcionando condições de resolvê los. A manutenção de áreas urbanas degradadas ou carentes de diversidade gera custos sociais e urbanos significativos. Da mesma forma, sua recuperação é essencial, mas os investimentos públicos são importantes. METODOLOGIA A metodologia se baseia em estudos teóricos e históricos, que contextualizados permitem uma analise espacial da cidade, e posteriormente com estudo de campo e documentação, finalizando com a elaboração da argumentação.
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 315 ANÁLISE GERAL DE PRESIDENTE PRUDENTE Presidente Prudente é uma cidade formada a partir da Estação Ferroviária. A estação dividiu a cidade em duas partes, no qual um lado apresentou maior crescimento, o lado oeste, a antiga Vila Goulart, local do centro tradicional, e o outro, o lado leste, a antiga Vila Marcondes. Esse aspecto é recorrente em cidades geradas pela ferrovia devido ao fato de as linhas férreas servirem como barreiras físicas, reduzindo a interação entre as partes, resultando na segregação da parte menos favorecida (VILLAÇA, 2012; JACOBS, 2000). Essa segregação tem como consequência a exclusão social, que no caso de Presidente Prudente, pode ser percebida a exclusão da população pertencente ao lado de lá da linha (VILLAÇA, 2012), devido à dificuldade de acesso aos serviços e infraestruturas urbanas (MARICATO, 2001). Essa bipolaridade continua até os dias atuais, tendo orientado a expansão da cidade, mais forte na região oeste, contribuindo ainda mais para a exclusão da parte leste (HONDA, 2011). Com o crescimento da cidade os problemas tenderam a se somar, além da segregação causada pela ferrovia, presente deste sua formação, surgiram problemas sociais causados principalmente pela implantação dos conjuntos habitacionais, o surgimento dos primeiros condomínios fechados, a degradação do centro, dentre outros. A necessidade da implantação dos conjuntos habitacionais é causada pelo déficit habitacional, que pode ser mensurado pela coabitação, pelo ônus excessivo do aluguel, pelas habitações precárias e pela necessidade da reposição de casas rústicas. Alem da carência de um bem de consumo, a falta de moradia resulta na carência de um meio de renda, considerando a casa como o primeiro grande bem de consumo, agravando assim a pobreza urbana (CASTELLS, 2009). Em Presidente Prudente, algumas políticas de habitação social buscaram suprir a necessidade de moradia da população, na qual conjuntos habitacionais foram construídos em áreas predominantemente afastadas na malha urbana, muitas vezes com falta de infraestrutura (HONDA, 2011). Os grandes conjuntos habitacionais geram ainda o fenômeno que Jacobs (2000) chamou de fronteiras desertas, permitindo a circulação em apenas um de seus lados, sendo encarado como uma barreira de uso. Ao contrário, uma localização de mobilidade facilitada propicia uma melhor condição de vida. Os condomínios fechados de população de maior renda, no entanto, se encaixam na categoria de enclaves fortificados, que são espaços privatizados, fechados e monitorados, os quais atraem quem teme a heterogeneidade. Essa privatização acaba por transformar o espaço público,
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 316 resultando em espaços segregados, gerando assim a homogeneização da cidade, que passa a ter a população de alta renda agrupada em certos pontos nos quais as camadas de renda mais baixa não tem o direito de frequentar. O novo modo de segregação social gera uma perda das noções de público, invertendo o uso de partes da cidade, tornando as ruas, que de principio são voltadas ao uso de toda a população, em particulares (CALDEIRA, 2003). No caso de Presidente Prudente, concomitantes com o surgimento dos conjuntos habitacionais surgiram os condomínios horizontais, localizados cada vez mais em setores urbanos específicos, acentuando o problema da segregação. Devido à formação de grandes barreiras físicas, além dela, é criada uma barreira psicológica, onde a população se sente impossibilitada de transitar. Dessa forma, esses dois sistemas de moradia urbana modifica fortemente os processos e espaços urbanos, provocando uma redução de cuidados com as áreas centrais tradicionais, ou processos de degradação urbana. Isso pode ser notado em Presidente Prudente, no qual o centro perdeu vitalidade urbana a partir da década de 1980. Esse centro é denominado de quadrilátero central, área da cidade envolvida pelas quatro principais Avenidas: Manoel Goulart, Cel. José Soares Marcondes, Brasil e Washington Luiz; antiga Vila Goulart. É caracterizado por ser uma área comercial de grande importância para a economia da cidade. No passado, de forma geral, segundo Vargas e Castilho (2009), o uso do centro se diferenciava principalmente pela prática do footing, que proporcionava o encontro entre as pessoas, sendo um importante meio de convívio social. Essa prática fazia com que a vitalidade do centro permanecesse em todos os períodos do dia. Essa vitalidade ainda está presente nos dias atuais, no período diurno, pois o centro serve como referência simbólica da cidade, tendo várias atividades, movimentação de pessoas, veículos, mercadorias, comércio. Entretanto, por ser um local que atualmente é basicamente voltado ao comércio, com poucas residências e devido ao crescimento e a não adequação desse lugar para suprir o aumento populacional, tornou se um lugar com diversos problemas. Porém o principal problema ocorre no período noturno, devido à ausência de circulação de pessoas e à falta de diversidade de usos. CENTROS CULTURAIS Quando se fala de centros culturais quase sempre há referencia à revitalização de uma área. A revitalização de um espaço visa à recuperação e preservação do meio ambiente, levando
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 317 uso ao local, dando lhe nova vida. Com relação à áreas degradadas é necessário torná las atraentes através de equipamentos culturais (ARANTES, VAINER e MARICATO, 2007). O centro cultural é uma área que reúne cultura de diversas formas, como exposições, bibliotecas, cinematecas, etc. É um local aberto à população tendo como objetivo reunir as pessoas, incentivar a criação da arte, difundir a cultura entre a população, desde a origem até suas mais novas manifestações; resultando em um amadurecimento artístico, influenciando na formação de plateias para o usufruto duradouro de bens simbólicos, até mesmo em outros equipamentos culturais da cidade (MENEZES, 2005). Essas atividades são fundamentais na escolha da cidade como destino turístico. Sendo um dos papéis principais dos centros é a inclusão social da população na cadeia produtiva da cultura (SOUZA, 2008). Entretanto, se voltados para população errada, podem gerar ainda mais segregação, devido à falta de uso. Atualmente a criação de mega centros culturais vem se tornando cada vez mais frequentes, buscam ser uma referência para cidade, tendo seu foco mais voltado aos turistas do que aos próprios moradores, acarretando às cidades problemas com relação à manutenção e ao custo elevado de sua implantação. No Brasil o projeto cidade da música até agora só gerou prejuizo e escândalos de superfaturamento (CARNEIRO, 2012). Nos centos culturais, no entanto, é fundamental a presença de comércios, ainda que seja de pequeno porte, gerando assim encontro entre a população e sustentabilidade de uso e econômica a esses ambientes. Pois os comércios colaboram com a manutenção do centro, além de poderem gerar vida noturna. Vargas (2001, p.71) afirma que: a intensidade de fluxos, que é um elemento determinante para o desenvolvimento das atividades econômicas, ocorre mais facilmente nas grandes aglomerações. Com isso é notável que os centros culturais quando bem elaborados produzem um fluxo favorável às atividades econômicas, pois o comércio atrai as pessoas, bem como as propostas culturais como oficinas de artesanato, feiras, e espaços para manifestações regionais de arte. PRESIDENTE PRUDENTE OBSERVAÇÃO URBANÍSTICA Nesta pesquisa, pode se analisar a cidade de Presidente Prudente, observando aspectos de degradação urbana e áreas que necessitassem de intervenção urbanística para o processo de revitalização ou de reestruturação urbana. Dessa forma, foi verificada que a região que abrange os bairros Jardim América, Santa Clara e Maracanã, na proximidade do Estádio Eduardo José Fará (Prudentão) apresenta sérios problemas.
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 318 O local possui grande fluxo de veículos e comércios que funcionam durante o dia, e a noite torna se deserto, gerando marginalização. Outro relevante é que o estádio recebe cada vez mais jogos importantes, atraindo a população, gerando um aglomerado de pessoas nas ruas que atrapalham o fluxo do local, fato que ocorre pela falta de local de permanência onde os turistas esportivos pudessem comer e aguardar o inicio dos jogos. Por ser um local distante do centro da cidade essa população encontra dificuldade em se deslocar para outros pontos com entretenimento e alimentação. Partindo das questões tratadas, observa se a necessidade de reestruturação urbanística na área, focando em diretrizes de planejamento urbano. A implantação de um centro cultural próximo ao Prudentão, na Avenida Paulo Marcondes, reduziria os problemas existentes na área, seja em dias de evento no estádio assim como nos dias sem concentração populacional. A proposta partiria da união entre educação e cultura em um só espaço; e, independente da programação, o lugar seria utilizado por públicos diversos e em todos os horários. Diretrizes projetuais poderiam ser definidas a partir de áreas de exposição, palcos abertos voltados para apresentações teatrais, música e dança, locais destinados a oficinas de trabalhos manuais para diversas faixas etárias, além de ambientes de comércio e lanchonetes. O problema do período noturno e dos turistas seria minimizado, em um local de interação entre pessoas, arte, cultura e comércio. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo buscou apontar as necessidades socioculturais da população dos bairros Jardim América, Santa Clara e Maracanã. Esta região possui comércios diurnos porém no período da noite nota se presença de vandalismo devido ao vazio das ruas e falta de atrativos para os moradores, que buscam em outros lugares da cidade entretenimento e lazer. Além disso, os turistas, que são cada vez mais frequentes devido à proximidade ao estádio Prudentão, geram problemas para a população local, devido à carência de áreas de permanência. Aliando esses aspectos com a carência de uma proposta de planejamento urbano, deveria visar à implantação de um centro de cultura e comércio, fazendo também a inclusão social, aspecto claramente dependente de políticas públicas urbanas.
Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 319 REFERÊNCIAS ARANTES, O.; VAINER, C.; MARICATO, E. Cidade do pensamento único. 4ª.ed. Petrópolis: Vozes, 2007. CALDEIRA, T.P.R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. 2ª.ed. São Paulo: Edusp, 2003. CARNEIRO, A. Centros culturais, a varanda gourmet da escala urbana. Vitrúvius, Revista Drops, abr 2012. São Paulo. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/drops/12.055/4282. Acesso em: 16 maio 2012. CASTELLS, M. A questão urbana. 4ª.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. HONDA, S. C. A. L. Habitação de baixa renda como produto do capital: O programa de arrendamento residencial (PAR) em Presidente Prudente SP. São Paulo: UPM, 2011. (Tese de Doutorado). JACOBS, J. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000. MARICATO, E. A bomba relógio das cidades brasileiras. Revista Democracia Viva, v.11, p.3 7, 2001. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.usp.br/fau/depprojeto/labhab/ biblioteca/textos/maricato_bombarelogio.pdf. Acesso em 16 maio 2012. MENEZES, H. Que papéis um centro cultural exerce para o desenvolvimento do povo de uma cidade? Arte & Cultura. 29 mar 2005. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaimprimir.cfm?materia_id=7830. Acesso em: 01 jun 2012. VARGAS, H.C. Espaço terciário: o lugar, a arquitetura e a imagem do comércio. São Paulo: SENAC, 2001. VARGAS, H.C.; CASTILHO, A.L.H. Intervenções em centros urbanos objetivos, estratégias e resultados. 2ª.ed. Barueri: Manole, 2009. VILLAÇA, F. Espaço intra urbano no Brasil. 2ª.ed. São Paulo: Studio Nobel, 2012. SOUZA, M.L. Mudar a cidade. Uma introdução crítica ao Planejamento e a gestão urbana. 5ª.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.