Orçamento Rectificativo Lei n.º 20/2012, DE 14 DE MAIO No âmbito da iniciativa para o reforço da estabilidade financeira foi publicada, no passado dia 14 de Maio a Lei n.º 20/2012 (Lei 20/2012) que entrou em vigor no dia seguinte ao da sua publicação (15 de Maio), que procedeu à primeira alteração à Lei n.º 64-B/2011, de 30 de Dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para 2012, bem como à alteração de diversos diplomas tributários. As alterações agora levadas a cabo, que se revestem de grande relevância em diversas matérias, são abaixo melhor explanadas. (i) Unidade dos Grandes Contribuintes É publicada a autorização legislativa ao Governo para que sejam feitas as alterações necessárias para que a legislação fiscal portuguesa seja adaptada no sentido de acolher a Unidade de Grandes Contribuintes, nomeadamente: a) Estabelecer os critérios de selecção dos contribuintes cuja situação tributária e aduaneira deve ser acompanhada pela Unidade de Grandes Contribuintes; b) Conferir ao director-geral da AT (Autoridade Tributária) competência para definir os contribuintes cujo relacionamento com aquela Autoridade é efectuado através de um gestor de contribuinte; c) Adaptação dos códigos tributários e aduaneiros e demais legislação tendo em vista a atribuição à Unidade de Grandes Contribuintes da AT das competências relativas aos procedimentos referente aos contribuintes cujo acompanhamento lhe seja atribuído. (ii) Código do IRS regime do residente não habitual Em sede de IRS, a única alteração feita respeita ao regime do residente não habitual, que foi inicialmente criado pelo Decreto-Lei n.º 249/2009, de 23 de Setembro. Os critérios para que um contribuinte possa beneficiar deste regime sofrem assim ligeiras alterações. 1
Se, anteriormente, eram requisitos legais, que i) os sujeitos passivos se tornassem fiscalmente residentes em Portugal e que ii) não tivessem, em qualquer dos cinco anos anteriores, sido tributados como tal em sede de IRS, na sua actual redacção, os critérios para beneficiar deste regime passam a ser que a) os sujeitos passivos se tornem residentes em território português, nos termos dos critérios gerais previstos no art. 16.º, n.º 1 e 2 1 e que b) não tenham sido residentes em Portugal em qualquer dos cinco anos anteriores. Por outro lado, continuando os sujeitos passivos a poder beneficiar deste regime por um período de 10 anos consecutivos, a partir do ano em que seja feita a sua inscrição como residentes em Portugal, deixa de existir previsão legal quanto à possibilidade de renovação deste período. Outra alteração relevante nesta matéria, passa a ser na existência de um prazo peremptório para ser solicitada a inscrição como residente não habitual. Para este efeito, o sujeito passivo deverá requerer a sua inscrição como residente não habitual no acto de inscrição como residente em território português ou, posteriormente, até 31 de Março, inclusive, do ano seguinte àquele em que se torne residente em Portugal. No entanto, esta norma não tem eficácia retroactiva, i.e., este novo prazo não é aplicável aos sujeitos passivos que se tenham tornado residentes em território português até 31 de Dezembro de 2011 e tenham solicitado, até à data da entrada em vigor da presente lei, isto é, 15 de Maio de 2012, a inscrição como residente não habitual nos termos da redacção anterior desta norma. (iii) Código Fiscal do Investimento Em complemento à alteração ao regime do residente não habitual prosseguida no âmbito do Código do IRS, é revogada a parte III do Código Fiscal do Investimento, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 249/2009, de 23 de Setembro, relativa ao regime fiscal do investidor residente não habitual. 1. Artigo 16.º, n.º 1 São residentes em território português as pessoas que, no ano a que respeitam os rendimentos: a) Hajam nele permanecido mais de 183 dias, seguidos ou interpolados; b) Tendo permanecido por menos tempo, aí disponham, em 31 de Dezembro desse ano, de habitação em condições que façam supor a intenção de a manter e ocupar como residência habitual; c) Em 31 de Dezembro, sejam tripulantes de navios ou aeronaves, desde que aqueles estejam ao serviço de entidades com residência, sede ou direcção efectiva nesse território; d) Desempenhem no estrangeiro funções ou comissões de carácter público, ao serviço do Estado Português. Artigo 16.º, n.º 2 São sempre havidas como residentes em território português as pessoas que constituem o agregado familiar, desde que naquele resida qualquer das pessoas a quem incumbe a direcção do mesmo. 2
Na prática, tal significa que a lei fiscal portuguesa deixa de contemplar o conceito de investidor residente não habitual, deixando estes de beneficiar do regime especial de tributação anteriormente previsto, incluindo as normas especiais para efeitos de eliminação da dupla tributação, passando apenas a aplicar-se o regime geral do residente não habitual previsto no Código do IRS. (iv) Código do IRC A dispensa da obrigação de apresentação de declaração Modelo 22 deixa de ser aplicável às entidades que, não exercendo a título principal uma actividade comercial, industrial ou agrícola: (i) não obtenham rendimentos no período de tributação; (ii) obtendo rendimentos, beneficiem de isenção definitiva, ainda que a mesma não inclua os rendimentos de capitais e desde que estes tenham sido tributados por retenção na fonte a título definitivo; e (iii) apenas aufiram rendimentos de capitais cuja taxa de retenção na fonte, com natureza de pagamento por conta, seja igual a 21,5%. Após a entrada em vigor da Lei 20/2012, apenas as entidades isentas de IRC, previstas no artigo 9.º do Código do IRC, isto é, o Estado, Regiões Autónomas e autarquias locais, bem como qualquer dos seus serviços, estabelecimentos e organismos, ainda que personalizados, compreendidos os institutos públicos, com excepção das entidades públicas com natureza empresarial; as associações e federações de municípios e as associações de freguesia que não exerçam actividades comerciais, industriais ou agrícolas; as instituições de segurança social e previdência, e os fundos de capitalização e os rendimentos de capitais administrados pelas instituições de segurança social, beneficiarão da dispensa de apresentação da declaração Modelo 22, salvo quando estejam sujeitas a uma qualquer tributação autónoma. (v) Código dos Impostos Especiais sobre o Consumo O valor mínimo da taxa do imposto sobre os produtos petrolíferos e energéticos, aplicável à electricidade, em vigor no Continente e na ilha de São Miguel (Arquipélago dos Açores), aumenta de 0,00 para 0,50, mantendo-se o seu máximo em 1,00. 3
(vi) Código do IMI Desde a entrada em vigor da Lei que aprovou o Orçamento de Estado para 2012, que a taxa de imposto aplicável aos prédios que fossem propriedade de entidades que tivessem domicílio fiscal em país, território ou região sujeito a regime fiscal claramente mais favorável, foi agravada de 5% para 7,5%. A Lei 20/2012 vem agora ajustar este regime fiscal, prevendo que esta taxa agravada não será aplicável quando o prédio seja propriedade de pessoa singular residente nesse território. A nova regra aplica-se ao IMI respeitante ao ano de 2011 (pagável em 2012) e seguintes. (vii) Código do IMT Em moldes semelhantes ao IMI, também a taxa agravada de IMT de 10%, aplicável à aquisição de imóveis por entidades residentes em país, território ou região sujeito a regime fiscal claramente mais favorável, deixa de ser aplicada na aquisição de imóveis por pessoas singulares residentes nesses territórios. (viii) Lei Geral Tributária Passa a ser possível à Administração Fiscal, a pedido do director-geral da Autoridade Tributária e Aduaneira ou do seu substituto legal, ou do conselho directivo do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I.P., solicitar às instituições de crédito e sociedades financeiras que forneçam, a qualquer momento, as informações respeitantes aos fluxos de pagamentos com cartões de crédito e de débito, efectuados por seu intermédio, aos sujeitos passivos que aufiram rendimentos da categoria B de IRS e de IRC, sem por qualquer forma identificar os titulares dos referidos cartões. Para efeitos de controlo de contas bancárias exclusivamente afectas à actividade empresarial, os pagamentos respeitantes a facturas ou documentos equivalentes de valor igual ou superior a 1.000 devem ser efectuados através de meio de pagamento que permita a identificação do respectivo destinatário, designadamente transferência bancária, cheque nominativo ou débito directo. 4
(ix) RGIT Para efeitos de imputação dos rendimentos obtidos por entidades não residentes em território português e sujeitas a um regime fiscal privilegiado, o sujeito passivo residente ao qual serão imputados os rendimentos deverá ter um processo de documentação fiscal, do qual farão parte os seguintes elementos: a) Contas devidamente aprovadas pelos órgãos competentes das entidades não residentes a que respeitam o lucro ou os rendimentos a imputar; b) A cadeia de participações directas e indirectas existentes entre entidades residentes e a entidade não residente, bem como todos os instrumentos jurídicos que respeitem aos direitos de voto ou aos direitos sobre os rendimentos ou os elementos patrimoniais; c) A demonstração do imposto pago pela entidade não residente e dos cálculos efectuados para a determinação do IRC que seria devido se a entidade fosse residente em território português, nos casos em que o território de residência da mesma não conste da lista aprovada por portaria do Ministro das Finanças. A falta de apresentação, no prazo que a administração tributária fixar, destes elementos, é punível com coima de 500 a 10.000. (x) Decreto-Lei n.º 10/2011, de 20 de Janeiro - Regime jurídico da arbitragem em matéria tributária Passa a ser possível aos magistrados jubilados exercer funções de árbitro em matéria tributária, devendo, para o efeito, fazer uma declaração de renúncia à condição de jubilados ou solicitar a suspensão temporária dessa condição, por um período mínimo de um ano, renovável, aplicandose em tais casos o regime geral da aposentação pública. 5
(xi) Estatuto dos Benefícios Fiscais As entidades que exerçam actividades de intermediação financeira, de seguros e as instituições auxiliares de intermediação financeira e de seguros e do tipo «serviço intragrupo», designadamente centros de coordenação, tesouraria e distribuição licenciadas na Zona Franca da Madeira e na Zona Franca da ilha de Santa Maria, deixam de beneficiar do benefício fiscal de isenção de IMI quanto aos prédios ou parte de prédios destinados directamente à realização dos seus fins. Os rendimentos pagos a entidades instaladas nas zonas francas e a entidades não residentes em território português, pelas instituições de crédito instaladas nas zonas francas, e relativos a operações de financiamento dos passivos de balanço dos respectivos estabelecimentos, quaisquer que sejam as actividades exercidas pelos seus estabelecimentos estáveis nelas situados, deixam de estar isentos de IRS ou de IRC. (xii) Pagamentos por conta IRS e IRC Os sujeitos passivos de IRS que desenvolvam a título principal uma actividade agrícola, silvícola ou pecuária podem concentrar a totalidade dos pagamentos por conta do imposto referente ao ano de 2012 num único pagamento a efectuar até 20 de Dezembro. Os sujeitos passivos de IRC que desenvolvam a título principal uma actividade agrícola, silvícola ou pecuária podem concentrar a totalidade dos pagamentos por conta do imposto referente ao ano de 2012 num único pagamento a efectuar até 15 de Dezembro ou até ao 12.º mês do respectivo período de tributação. Considera-se que o sujeito passivo de IRC ou IRS desenvolve a título principal uma actividade agrícola, silvícola ou pecuária quando, no ano anterior, os rendimentos desta actividade tenham sido, pelo menos, de metade do respectivo volume de negócios. Esta Analysis contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos através do email apdf@abreuadvogados.com ABREU ADVOGADOS 2012 Lisboa Porto Funchal LISBOA PORTO MADEIRA LISBOA Av. das Forças Armadas, 125-12º 1600-079 Lisboa, Portugal Tel.: (+351) 21 723 1800 Fax.: (+351) 21 7231899 E-mail: lisboa@abreuadvogados.com Rua S. João de Brito, 605 E - 4º 4100-455 Porto Tel.: (+351) 22 605 64 00 Fax.: (+351) 22 600 18 16 E-mail: porto@abreuadvogados.com Rua Dr. Brito da Câmara, 20 9000-039 Funchal Tel.: (+351) 291 209 900 Fax.: (+351) 291 209 920 E-mail: madeira@abreuadvogados.com PORTO MADEIRA ANGOLA (EM PARCERIA) MOÇAMBIQUE (EM PARCERIA) CHINA (EM PARCERIA) WWW.ABREUADVOGADOS.COM