é j. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA PARAÍBA GABINETE DO DESEMBARGADOR JOÃO BENEDITO DA SILVA ACÓRDÃO Apelação Criminal N." 200.2007.000335-1/001 2" Vara Criminal da Capital Relator : Exmo. Des. João Benedito da Silva Apelante : Heleno Batista Morais (Adv. Helena Isabel Pinto A. Medeiros Lucena) Apelada : A Justiça Pública PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. Autoria. Contradição no interrogatório. Depoimento testemunhal esclarecedor. Suficiência. Materialidade constatada. Conduta de guardar arma de fogo no local de trabalho. Proprietário da arma. Chefe de escritório. Desclassificação para posse. Impossibilidade. Atipicidade da conduta. Abolitio criminis temporária. Porte de arma. Inaplicabilidade. DESPROVIMENTO DO RECURSO. Irretocável a decisão que condenou por "porte" ilegal de arma fogo o funcionário que guardava uma arma no armário da empresa para a qual trabalhava, inexistindo razões para desclassificar a conduta para "posse", situação restrita às hipóteses em que a arma guardada pertença ao proprietário da empresa. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS os autos identificados acima; ACORDA a Colenda Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em desarmonia com o parecer da douta Procuradoria de Justiça, negar provimento ao recurso. Unânime. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Criminal interposta por Heleno Batista Morais, em face da decisão de fls. 135/138, prolatada pelo MM Juiz de Direito da 2" Vara Criminal da Capital, que o condenou à pena de 02 (dois) anos de reclusão, por infração ao artigo 14, caput, da Lei 10.826/2003, pelo fato de no dia 12 de maio de 2007, na operação denominada "Carta Marcada", a Polícia Federal, munida de mandado de busca e apreensão, no endereço comercial de Deczon Farias da Silva, localizado no centro desta cidade, ter apreendido um revólver cal. 38, marca Rossi e 07(sete) munições do mesmo diâmetro, de propriedade do acusado. Nas suas razões de fls. 146/153 o apelante requer a reforma da sentença de primeiro grau, aduzindo, em primeiro lugar, não ser o autor do fato, embora tenha reconhecido a autoria delitiva quando inquirido pela Polícia Federal. Em segundo plano, verbera que a sua conduta não configura porte mas simples posse de arma que, inclusive, proporcionaria o direito à suspensão do processo, na forma do art. 89, da lei 9.099/95. Em adição, verbera a atipicidade de sua conduta, visto que o tipo de "posse irregular de arma de fogo de uso pert tido" exige que a arma apreendida seja do "titular ou responsável legal do estab echn mo ou empresa", condição não ocupada pelo acusado.
_ Por fim, assevera estar extinta a punibilidade do delito de "posse de arma", tendo em vista a abolitio criminis temporária, prevista no art. 32 da Lei 10.826/03. Nas contra-razões de fls. 156/158 o representante do Ministério Público pugna pela manutenção in totum da sentença originária. Emitindo parecer ás fls. 161/164, a Procuradoria de Geral de Justiça opinou pelo provimento do apelo e absolvição do acusado. É o relatório. VOTO: Exmo. Des. João Benedito da Silva A priori, mister aferir a autoria do delito. Para tal desiderato é preciso fazer um paralelo entre o interrogatório do réu e das declarações de Deczon Farias da Cunha, na fase inquisitorial e na fase judicial: "QUE, costumava guardar referida arma de fogo dentro de um armário, cujo acesso era por meio de uma chave que só o interrogado possuía; QUE, exercia a função de auxiliar de contabilidade, sendo funcionário de DECZON FARIAS DA CUNHA; QUE, sabia que tal arma não era registrada; QUE, DECZON não tinha conhecimento da existência do revólver; QUE, resolveu possuir arma de fogo, pois foi assaltado certa vez; QUE, não possui mais armas; QUE, jamais respondeu processo por posse ou porte de arma de fogo". (fls. 19, interrogatório do acusado na fase inquisitorial) (grifei) "(...) que no momento da abordagem Policial no Escritório onde trabalhava o interrogado ficou bastante nervoso e, nessa circunstância confessou que a arma era sua, quando na realidade a arma era de propriedade do engenheiro Dr Nunes ex funcionário da firma do Senhor Dexon Farias o qual retirou-se da firma há mais de cinco anos porém deixou a dita arma naquele armário; que o armário era onde o dito engenheiro Dr Nunes guardava seus objetos; que a dita arma não lhe foi entregue a sua guarda, apenas ficou no dito armário; que o interrogado nunca se quer chegou a pegar na dita arma; que o dito engenheiro nuens duxou igualmente no escritório um carro de sua propriedade, da marca Santana, porém esse carro foi levado depois de cerca de quatro há cinco meses, não sabendo por quem; que o Senhor Dexon Farias ao alegar que a arma era de sua propriedade dele interrogado, o fez por equívoco, pois o mesmo não sabia que a arnza pertencia ao engenheiro Dr Nunes; que apesar de não ter lido o seu interrogatório na polícia, porém confirma ter dito que a arma era de sua propriedade; que confirma COMO sua a assinatura de fls. 20 aposta no interrogatório na Delegacia". (fls. 51/52, interrogatório do acusado na fase judicial) "QUE, no que tange ao revólver calibre 38, encontrado por policiais federais durante uma busca em seu escritório localizado na Av. Coremas, 716, bloco A, sala A, sendo andar, centro, nesta capital, esclarece que o seu funcion ' zo HELENO BATISTA DE MORAIS, lhe disse que tal arma lhe p rtence; QUE, só soube da existência desta
arma pouco antes do início deste depoimento, através do próprio HELENO; QUE, possui arma de fogo; QUE, HELENO exercia a fimção de secretário de seu escritório. (17s. 18, declarações de Deczon Farias da Cunha na fase inquisitorial)(grifei) "que o acusado era empregado da firma do declarante exercendo a função de secretário; que o declarante nunca tinha visto a aludida arma no escritório, na sala do acusado (...); que salvo engano a arma foi apreendida quando se encontrava no bureaux do acusado; que o bureaux do acusado ficava localizado na mesma sala do declarante, sendo porém bureaux distintos; que o declarante nunca chegou a pegar na dita arma." (fls. 90, declarações de Deczon Farias da Cunha na fase judicial) (grifado) Pois bem. Em que pese a contradição existente nos interrogatórios do acusado, o depoimento da testemunha Decson Farias é esclarecedor no sentido de apontá-lo como autor do delito. Ademais, os depoimentos dos policiais federais às fls. 75 e 83 são vagos, nada acrescentando a instrução criminal. Por outro lado, os depoimentos das testemunhas arroladas pela defesa às fls. 91/92 não são suficientes para afastar a autoria do delito. A materialidade da infração está presente, conforme espelha o Laudo de Exame de Eficiência de Disparos em Arma de Fogo, encartado às fls. 10/11, cuja conclusão indica que o revólver calibre 38, marca Rossi e as munições, apreendida na operação "Carta Marcada" estavam "em bom estado de conservação e em plenas condições de uso". Sob outra vertente, não subsistem as teses de desclassificação do delito de "porte" para "posse" de arma e, por conseqüência a declaração da atipicidade da conduta ou extinção da punibilidade pela abolicio criminis temporária, prevista no art. 32, da Lei 10.826/03. Com efeito, a conduta de guardar arma de fogo em local de trabalho é considerada "posse" tão somente quando a arma pertencer ao proprietário da empresa. Ora, ficou assente que o acusado guardava a arma de fogo em um armário, no seu local de trabalho, onde exercia tão somente a função de "chefe de escritório", situação diversa da que ensejaria a pretensa desclassificação. Essa é a lição da doutrina nacional, da qual nos serviços: "Também será considerado crime possuiṙ sem registro a arma de fogo, o acessório ou a munição, no local de trabalho do agente, desde que seja o titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa. Nesta última hipótese, não sendo o titular do local de trabalho, responderá pelo crime mais grave de porte ilegal, e não pela mera posse. Por exemplo, um garçom que leva sua arma de fogo sem registro e porte para o restaurante em que trabalha comete a infração descrita no art. 14 e não no art. 12 da Lei." (In. ernando Capez, Curso de Direito penal, vol. 4, r ed., p. 341)
I 1. No mesmo passo, por não se tratar de "posse de arma" afasta-se qualquer alegação de atipicidade da conduta, oriunda da incidência da abolido criminis temporária do art. 32, da Lei 10.826/03. A propósito, colaciona-se enxerto da jurisprudência pátria: 010 "EMENTA: PENAL - PORTE DE ARMA DE FOGO - ART. 14, LEI 10.826/03 - SUPER VENIÊNCIA DO ESTATUTO DO DESARMAMENTO - DESCRIMINALIZAÇÃO - INOCORRÊNCIA - SUSPENSÃO DA TIPICIDADE - INAPLICABILIDADE EM CASO DE PORTE DE ARMA - PENA SUBSTITUTIVA DE LIMITAÇÃO DE FINS DE SEMANA - INDISPONIBILIDADE DE PRISÃO ALBERGUE - IMPOSSIBILIDADE DE FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DA PENA - RECURSOS A QUE, DE OFÍCO, SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO. - A suspensão da tipicidade ou abolitio criminis temporalis, através do quê se isenta de responsabilidade penal aquele que possui arma de fogo no prazo concedido pela lei para a sua entrega ou regularização, não se aplica a quem a porta, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal. - A limitação de fins de semana, quando é limitado o número de vagas em prisão albergue compromete, se não inviabiliza, a execução da pena substitutiva, porquanto dificulta a fiscalização de seu cumprimento, em flagrante prejuízo ao seu caráter pedagógico. - Recurso parcialmente provido." (TJMG, Apelação Criminal 1.0027.05.066072-2/001(1), Relator: Des. Hélcio Valentim, julgado em 28/04/2009, publicado no DJ do dia 11/05/2009) (Grifei) Ante o exposto, em desarmonia com o parecer da Douta Procuradoria de Justiça, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO APELATÓRIO para manter in totum a decisão guerreada. É como voto. Presidiu o julgamento o Exm. Des. João Benedito da Silva, que também funcionou como relator. Participaram ainda do julgamento o Exmo. Des. Nilo Luís Ramalho i Vieira e o Exmo. Dr. José Guedes Cavalcanti Neto (Juiz de Direito convocado para substituir o Exmo. Des. Leôncio Teixeira Câmara)., Presente à Sessão o(a) Exmo.(a) Dr.(a) Manuel Cassimiro Neto, Promotor(a) de Justiça convocado(a). Sala de Sessões da Cole.; nara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em o Pe.oa C.,., aos 21 (vinte e um) dias do mês de janeiro do ano de 2010., i /,( (17 1 f D s. oão Benedit a Sil /R elat r,- - -
.. TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenadorla Judiciária Registrado 410