886 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL



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Sessão de 02 de fevereiro de 2016 RECURSO Nº ACÓRDÃO Nº REDATOR CONSELHEIRO PAULO EDUARDO DE NAZARETH MESQUITA

Transcrição:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº 0245825-97.2008.8.19.0001 Apelante: Heimo Eerikki Riippa Apelado: João Couri Relatora: Des. ELISABETE FILIZZOLA ACÓRDÃO APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL. PRODUTO INOVADOR (COLETOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS). CONCEPÇÃO DE SOCIEDADE ESTRANGEIRA. REPRESENTAÇÃO/DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL. PARCERIA NATIMORTA. PATENTE POSTERIORMENTE CONCEDIDA AO RÉU. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. QUESTÃO DEBATIDA NO FORO PRÓPRIO. NOCIVIDADE DE INTERFERÊNCIAS DO RÉU NOS NEGÓCIOS PESSOAIS DO AUTOR: INDEMONSTRAÇÃO. DANOS MORAIS: INOCORRÊNCIA. I) Conquanto questionáveis, em tese, as atitudes imputadas pelo autor ao réu, como a reivindicação para si de patente de invenção antes concebida por sociedade finlandesa em discussão na sede jurisdicional própria, bem como o uso de material publicitário da mesma sociedade para a divulgação de produto similar por ele então patenteado, é certo que os danos morais ou patrimoniais causados à sociedade, que não é parte da demanda, não podem ser aqui considerados, assim como os danos materiais sugeridos pela argumentação do autor, porque não pedidos e tampouco comprovados. II) Limitado o debate à configuração dos danos morais suportados unicamente pelo demandante, há de se analisar, tão-somente, eventual prejuízo concreto à sua credibilidade perante o mercado, em decorrência direta das ditas investidas paralelas do réu, conforme o grau de interferência dessas Tmp6286.Doc

ações em seus negócios, visando à cooptação de clientela e eventualmente colocando em dúvida a exclusividade do produto comercializado. Caso em que, contudo, não ficaram comprovadas repercussões negativas e concretas dessas condutas nas referidas relações comerciais, essenciais para o possível reconhecimento de danos à sua honra objetiva. RECURSO DESPROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível número 0245825-97.2008.8.19.0001, em que é apelante Heimo Eerikki Riippa e apelado João Couri. Acordam os Desembargadores da Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. oferecido. Integra o presente acórdão o relatório antecedentemente VOTO Em apertada síntese, o autor acusa o réu de agir de forma desleal, atrapalhando suas negociações, por tentar cooptar seus clientes, colocando em risco a exclusividade do produto comercializado. Relata que, com vistas à consecução de um empreendimento conjunto (constituição de sociedade para comercialização de equipamento finlandês) que acabou malogrado, o réu tornou-se conhecedor de técnicas desenvolvidas por sociedade finlandesa relativas ao armazenamento de resíduos sólidos. Nada obstante, após o insucesso das negociações formalizadas em 2001, aproveitou-se das ideias do produto inovador para requerer, para si, sua patente, passando a anunciá-lo e comercializá-lo no mercado, inclusive perante clientes originariamente contatados pelo autor. 2

Com efeito, foi a patente concedida ao réu em 2009 (fls. 302 e- JUD 314 originais), conquanto haja demanda visando à declaração de sua nulidade em trâmite perante a Justiça Federal (fls. 451 e seguintes e-jud originais 454 e seguintes). O debate no processo, muitas vezes misturado a matérias atinentes à propriedade industrial, foi depurado pela sentença, que salientou não tratarem estes autos de tal questão, mas sim meramente de responsabilidade civil, unicamente com postulação de indenização por danos morais, pretendendo o autor ver o réu condenado por eventual conduta ilícita, que, contudo, não foi vislumbrada pela sentenciante (fls. 832 e-jud originais 827-v). Talvez por isso, em seu recurso, o autor inclusive abandona o pedido tocante à obrigação de abstenção, qual deduzido na inicial. Nota-se, ainda, que a linha argumentativa do autor por vezes mescla elementos relativos a danos materiais por ele suportados e a danos morais ou patrimoniais aparentemente sofridos pela sociedade finlandesa. Bem por isso e mais uma vez, convém reforçar os limites do debate: danos morais ou materiais causados à sociedade, que não é parte dessa demanda, não podem ser aqui considerados, assim como os sugeridos danos materiais do autor, porque não pedidos e tampouco comprovados. É o próprio autor quem destaca que nesta pendenga não se discute patente e sim a prática de ato ilícito nos negócios havidos pelo autor e atravessado pelo réu (fls. 825 e-jud originais 823). Vale dizer: ele postula indenização por danos morais por ele mesmo sofridos. Assim, por mais que tenha assumido o dever de proteção da marca e da imagem Molok (fls. 06 e-jud originais 06), nesta demanda, ele pleiteia direito próprio em nome próprio. Ocorre que estes danos morais não foram demonstrados. É claro que, de fato, a despeito da defendida legalidade do depósito do pedido da patente, no mínimo, chama a atenção a circunstância 3

de um quase representante da sociedade finlandesa decidir, alguns anos depois da avença malsucedida, patentear produto muito similar ao que ele originariamente comercializaria. Mas realmente isso é matéria respeitante à demanda acerca da patente, em trâmite na justiça federal. Analisa-se aqui, tão-somente, eventual dano à credibilidade do autor perante o mercado em decorrência das alegadas investidas paralelas do réu, conforme o grau de interferência dessas ações nas relações do autor com seus clientes, não assim a deslealdade em relação à sociedade estrangeira, tanto por ter requerido a patente do produto quanto por ter utilizado o seu material publicitário para a respectiva divulgação. Com efeito, no plano teórico e não sem alguma dificuldade, até se poderia admitir que as atitudes do réu, tal qual narradas, pudessem vir a macular, de alguma forma, a imagem do autor no mercado. Ocorre que esta argumentação não veio amparada pela adequada e concreta comprovação da repercussão negativa das ações do réu nas relações bilaterais entre o autor e seus clientes, o que seria essencial para se vislumbrar possíveis danos à sua honra objetiva. É que, para se dizer, com segurança, que a credibilidade do autor tenha vindo a se arranhar pelo só atravessamento dos seus negócios pelo réu, seria preciso fazer a mínima demonstração de que os clientes-alvo do recorrido tivessem, verdadeiramente, se tornado céticos quanto à legitimidade da representação da Molok pelo autor, ou passado a ter dúvidas quanto ao produto até então comercializado pelo apelante. E isso porque o dito contato direto do réu com os clientes do autor pode ter se dado em circunstâncias tais que eles sequer o consideraram, atribuindo-lhe, quiçá, mínima relevância, de maneira que, nesse hipotético cenário, não se cogita de danos morais à pessoa do autor. Relembre-se que os questionáveis expedientes de que o réu teria se valido rasurando materiais publicitários da sociedade finlandesa para divulgação de seu próprio produto, ou reivindicando para si patente de invenção possivelmente não inédita não têm o condão de, por si sós, impingir ao recorrente danos à sua reputação, senão à sociedade estrangeira. 4

Veja-se, outrossim, que são nebulosas as circunstâncias que levaram ao insucesso do empreendimento. O autor aduz que o requerido não cumpriu com a sua parte e tal empresa jamais foi constituída (fls. 04 e-jud originais 04). De sua vez, o réu assinalou que o autor deixou de lhe pagar e de cumprir com as obrigações pactuadas (fls. 165 e-jud originais 190). Como se vê e já bem salientou a sentença, ambas as partes se acusam mutuamente de terem descumprido os compromissos assumidos, sem se precisar, a rigor, quais seriam eles ou em que medida teria havido o desinteresse da outra parte em prosseguir o negócio entabulado condições básicas objetivando a constituição da Molok do Brasil Limitada (v. fls. 30 e-jud originais 30). Nesse contexto, é preciso analisar as condutas objetivamente imputadas ao réu como potencialmente capazes de causar danos morais ao autor: i) uso de material publicitário da sociedade finlandesa como relativo ao seu próprio invento; e ii) contato direto com clientes do autor, inclusive quando este já detinha a representação exclusiva do produto finlandês (fls. 75 e seguintes e-jud originais 67 e seguintes). A primeira ação, como já examinado, não repercute diretamente na figura do autor, porque se trata de possível uso indevido de materiais da sociedade Molok Oy, terceira na presente relação jurídicoprocessual. E, quanto à segunda conduta referida, é preciso observar o que há de concreto nestes autos. Diz o autor que, verbis, foi surpreendido ao ser informado por dois de seus clientes, Clin Companhia Municipal de Limpeza Urbana de Niterói e Mundo Limpo Ltda. de que um de seus representantes, Sr. João Couri, havia deixado com a empresa um folder dos Molok, bem como de uma tabela de preços para sua apreciação e compra (fls. 05 e-jud originais 05). 5

Mais adiante no processo, o autor faz juntar declaração (datada de 25.05.2009) de representante da Resiplastic Indústria e Comércio Ltda. no sentido de que sua indústria foi procurada recentemente, pelo Sr. João Curi, com a proposta de fabricar para ele os mesmos containers semienterrados para armazenamento de lixo em profundidade que já fabricamos com exclusividade para a empresa CH-Brasil Empreendimentos Ltda. sob autorização expressa do Sr. Heimo Eerikki Riippa pedido este por nós a ele negado por estarmos sob contrato com a pessoa acima referida e a empresa do Rio de Janeiro (fls. 247/248 e-jud originais 268/269). No que tange às sociedades Clin e Mundo Limpo, o autor até requereu o depoimento de seus representantes, mas não chegaram a ser colhidos ou carreados aos autos (cf. fls. 253 e-jud originais 273). Nesse contexto, é muito pouco o que se tem de objetivo para demonstrar, inequivocamente, a lesividade das ações do réu contra o autor: apenas um testemunho e, mesmo assim, de uma sociedade firmemente vinculada ao apelante, sem que se tenha revelado qualquer risco à sua imagem, ao menos naquele contrato. Por isso que não se pode chancelar a existência de sérios aborrecimentos, sofrimentos e constrangimentos até mesmo quase a ponto de perder sua representação finlandesa (fls. 857 e-jud originais 832), porque nada disso é provado nem vinculado a uma conduta precisa, atribuída ao réu. E, sem dano nem nexo causal, não há falar em responsabilidade civil. Por derradeiro e ad nauseam, insista-se em que a essência de toda a discussão se reporta mesmo à questão da propriedade industrial, que desborda dos lindes dessa relação jurídico-processual. É que, a rigor, legitimamente ou não, o réu conseguiu a patente do aludido invento similar, não vindo a comercializar, tecnicamente, produto da marca Molok, esta sim, protegida e confiada à guarda exclusiva do autor pelos contratos firmados com a sociedade 6

finlandesa; daí o incremento na dificuldade de se configurarem os alegados danos morais, afinal, ele detinha a patente do produto negociado ( Tatu e não Molok ). Forte nesses fundamentos, nega-se provimento ao recurso, mantendo-se a sentença tal qual lançada, inclusive quanto aos honorários de sucumbência questionados pelo recorrente, porque o dispositivo foi explícito em invocar a norma do art. 12 da Lei nº 1.060/50. Rio de Janeiro, 05 de fevereiro de 2014. Desembargadora ELISABETE FILIZZOLA Relatora 7