1 Introdução. 1.1. Objeto do estudo e o problema de pesquisa



Documentos relacionados
6 Conclusão e Recomendação para estudos futuros 6.1. Conclusão

Restrições ao turismo de consumidores de mais idade

O método adotado neste trabalho obedeceu a seguinte seqüência de passos:

Visão Geral da Comunidade Airbnb em Lisboa e Portugal

A DESPESA EM CONSUMO TURÍSTICO REPRESENTA 10,2 % DO PIB EM 2000

DESEMPENHO DO TURISMO EM ALAGOAS, PARA ABRIL DE 2015

Geografia do Turismo Definições de turismo e sua dimensão geográfica. Prof. Dr. Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira - Geografia - UFPR

7 Considerações finais

MERCADO DE MEIOS ELETRÔNICOS DE PAGAMENTO ANO VI POPULAÇÃO E COMÉRCIO

PERFIL SOCIAL E DA APTIDÃO FUNCIONAL DE IDOSOS RESIDÊNTES NO MUNICÍPIO DE TRIUNFO - PE

Ocupação Hoteleira da cidade do Rio de Janeiro Dezembro de 2010

GESTÃO DE PRODUTOS TURÍSTICOS 2º ano ANIMAÇÃO TURÍSTICA 2010/2011. Planeamento e metodologias para as práticas de Animação Turística.

Restrições intrapessoais para o lazer em turismo

Conta Satélite do Turismo

III Seminário de Inteligência Competitiva México

DESIGUALDADE DE RENDA NAS REGIÕES NAS REGIÕES DO ESTADO DE SÃO PAULO

Perfil Turístico Minas Gerais

1. O PROBLEMA Introdução

Panoramas dos Mercados Internacionais

Turismo sénior: Estudo de Caso no Concelho de Câmara de Lobos

ASPECTOS GERAIS ECONÔMICOS -

Conta Satélite do Turismo

Fernando Trigueiro QUALIDADE NOS SERVIÇOS DE LOGISTICA NO MERCADO INTERNACIONAL

O impacto económico do Alojamento Local na Área Metropolitana de Lisboa. junho de 2017

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador CÉSAR BORGES

Despesa turística retoma crescimento

ABIH-RJ FECOMÉRCIO- RJ

2.2 Ambiente Macroeconômico

APRESENTAÇÃO ESTUDO DE COMPETITIVIDADE RESULTADOS Total geral Infraestrutura geral Acesso...

As Potencialidades do Turismo Acessível em Portugal. Departamento de Desenvolvimento e Inovação

Módulo 1 - Mês 1- Aula 3

Perspectivas do Crédito Imobiliário no Brasil. Octavio de Lazari Junior Presidente - ABECIP

Estratégia de Negócios em TI

A ATIVIDADE FÍSICA COMO UMA PRÁTICA NORTEADORA DA LONGEVIDADE NA TERCEIRA IDADE.

Estudos. População e Demografia

O SEGMENTO TURÍSTICO PARA A TERCEIRA IDADE: UM OLHAR SOBRE AS EXCURSÕES PRATICADAS EM CARANGOLA MG

Panorama Municipal. Município: Barreiros / PE. Aspectos sociodemográficos. Demografia

III Seminário de Inteligência Competitiva Estados Unidos

Margarita Barreto. Grabum, N. [et al.]. Turismo e antropologia: novas abordagens. Campinas: Papirus, 2009.

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador ROMÁRIO I RELATÓRIO

Os veículos eléctricos na Alta de Coimbra

Elementos Condicionantes da Atividade Turística. Por: Prof Dr José Paulo G. Hernandes

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS ESCRITÓRIO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL INSTITUTO TÉCNICO DE PESQUISA E ASSESSORIA ITEPA

Impactos da redução dos investimentos do setor de óleo e gás no PIB

INQUÉRITO A PASSAGEIROS DE CRUZEIRO

TAXA DE OCUPAÇÃO HOTELEIRA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Brasil tem 5,2 milhões de crianças na extrema pobreza e 18,2 milhões na pobreza

FICHA TÉCNICA. Presidente António dos Reis Duarte

A Dimensão Económica do Turismo e a necessidade de novos indicadores de avaliação 1

Turismo emissivo na cidade de São Paulo: perfil do turista rodoviário

AGÊNCIA PRODETEC [ABRIL 2016]

PROJETO PARA IMPLANTAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM RESTAURANTES COMERCIAIS DAS PRINCIPAIS CIDADES TURÍSTICAS DO ESTADO DE GOIÁS.

Envelhecimento + Ativo Sessões Informativas transfronteiriças sobre hábitos de vida saudável

Macroeconomia. Diagrama do Fluxo Circular. Entendendo a Economia. Renda e Gastos de Uma Economia. Métodos Para Contar a Economia

Pulso Brasil FenaPrevi

DINÂMICA POPULACIONAL E INDICADORES DEMOGRÁFICOS. Aula 4

Previdência Social Brasília, junho de 2015

RESULTADO DA PESQUISA DO PERFIL E SATISFAÇÃO DO TURISTA

CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS ECONOMIA E ADMINISTRAÇÃO NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Radiografia da Educação Infantil, RS, Três Coroas

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA TAXA DE OCUPAÇÃO HOTELEIRA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Pacotes de Oportunidades de Promoção Digital WTM Latin America 2016

5ª Pesquisa Anual "Atitude de marca nas maiores empresas do Brasil Realização Significa. Todos os direitos reservados.

YOUNG CREATIVES INTEGRATED COMPETITION 2011 BRIEFING

1 O Problema 1.1 Introdução

CITY TOUR E QUALIDADE DE VIDA NA TERCEIRA IDADE: O CONDUTOR NA INTERMEDIAÇÃO DO BEM-ESTAR DOS IDOSOS

Mercados emergentes precisam fazer mais para continuar a ser os motores do crescimento global

Turismo e Espaço Econômico. Prof. Dr. Marcos Aurélio Tarlombani da Silveira

Gestão Mercadológica. Unidade 12 - Comunicação de Marketing. Capítulo 18 - Gerenciamento da comunicação de massa

CURRÍCULO DO CURSO. Atividade Curricular Créditos T E P EAD Estrutura Tipo pré-requisito Pré-requisito

Secretaria de Turismo e Lazer da Cidade do Recife

Macroeconomia para executivos de MKT. Lista de questões de múltipla escolha

1 - Introdução Enquadramento Geral Problema de estudo Objetivos de pesquisa Objetivo geral 14

19/03/ : OMT. Elementos comuns a diferentes definições de turismo. Conceitos-chave:

PESQUISA COM EMPRESÁRIOS

VGBL/PGBL/Capitalização

Minicurso sobre Trabalho Infanto-juvenil Grupo PET/SER/UnB

GEP Grupo de Estudos e Pesquisas do Capítulo Brasileiro do IREM

Políticas públicas, Pobreza Urbana e Território

III SEMINÁRIO DE INTELIGÊNCIA COMPETITIVA América do Sul

Envelhecimento elevará o total de internações de beneficiários em mais de 30% até 2030, aponta IESS

ANÁLISE ESTRATÉGICA. Análise SWOT

Administração de Serviços. Prof. Marcos Cesar

Conceitos introdutórios

Aula Mercado para as MPE s. Prof. M.Sc. Aécio Flávio de Paula Filho

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU (ESPECIALIZAÇÃO) LLM em Direito Empresarial Coordenação Acadêmica: Escola de Direito/FGV Direito Rio

A Previdência Social e o Envelhecimento da População. Brasília, junho de 2015

2 Revisão da Literatura Pertinente

Uma política econômica de combate às desigualdades sociais

Turismo Informação e animação Turística

O IDOSO COMO CUIDADOR: UMA NOVA PERSPECTIVA DE CUIDADO DOMICILIAR

Alojamento turístico acelera crescimento em 2016

5 Conclusões e Recomendações Gerenciais

Nome do aluno: MATRIZ DE CORRECÇÃO

O Perfil e o impacto econômico do Visitante da Cidade de Niterói durante a Copa do Mundo 2014

L_AO_CUBO. Região Douro Escola Secundária João de Araújo Correia Competição Europeia de Estatística 2ª avaliação Categoria B

Compreender os estágios que envolvem o projeto de produto e serviços e os tipos de processos de produção e a aplicabilidade de cada um.

Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública. Introdução ao gerenciamento de projeto

Planejamento Estratégico

INQUÉRITO AO GOLFISTA ESTRANGEIRO

Transcrição:

1 Introdução Este capítulo irá descrever o objeto do estudo, o problema de pesquisa a ser estudado, o objetivo do estudo, sua delimitação e sua limitação. 1.1. Objeto do estudo e o problema de pesquisa O turismo é um fenômeno social, cultural e econômico que implica a livre circulação de pessoas para países ou lugares fora do seu ambiente habitual para fins pessoais ou de negócios / profissional. Estas pessoas são chamadas de visitantes (que podem ser turistas ou excursionistas, residentes ou não residentes) e o turismo tem a ver com as suas atividades. Estas atividades implicam despesas em turismo que é o montante pago para a aquisição de bens de consumo, de serviços, e de objetos de valor para uso próprio ou para presentear, assim como os gastos durante os passeios turísticos (UNWTO, 2010). O turismo tem tido nas últimas décadas (1950 até 2005) uma taxa de crescimento anual mundial médio de 6,5%. Este crescimento vem permanecendo neste período acima do crescimento anual médio do PIB dos países no mundo, segundo a Organização Mundial de Turismo (UNWTO, 2010). Diversos programas de estímulo ao turismo foram criados no Brasil nos últimos anos para favorecer o turismo. Um destes programas do Ministério do Turismo - Viaja mais Melhor idade - visa especialmente o segmento da sociedade das pessoas maiores de 60 anos (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2011). O avanço da tecnologia e o desenvolvimento científico têm proporcionado um aumento da longevidade humana (PEREIRA S. L., 2010), (PERES, 2007), fazendo que tanto os países desenvolvidos como os em desenvolvimento alterem sua relação de idosos na proporção total de sua população e elevem não somente a perspectiva de tempo de vida das pessoas, mas também o perfil de consumo em áreas como o lazer (BALLSTAEDT, 2007).

14 Esse aumento do tempo de vida da população não se traduz somente no aumento da idade das pessoas, mas também na qualidade de vida melhor que as mesmas passam a ter quando do seu envelhecimento. Este fato favorece o desenvolvimento de atividades antes limitadas pelas suas condições físicas e que hoje, nos aspectos físicos e psicológicos, favorecem atividades sociais e recreativas para os idosos (SILVA, KUSHANO, & ÁVILA, 2008). Ao aumento do tempo e da qualidade de vida se junta o crescimento do rendimento médio desta população (IBGE, 2011), em função do crescimento da economia brasileira, que vem permitindo o aumento da renda familiar, o que faz com que os idosos possam desfrutar de diversas atividades, tais como o turismo. Além desses aspectos econômicos e demográficos que favorecem o crescimento do setor turístico no segmento de consumidores idosos, existem outros aspectos socioculturais que devem ser analisados para compreensão das atitudes, favoráveis ou não, dos idosos em relação ao turismo. Estudos têm sido feitos no Brasil nos últimos anos sobre o comportamento de compra dos idosos no setor de turismo como os elaborados por Pupin (2002), Piazzi (2003), Schein et al (2008) e Esteves (2010). Assim, as empresas deste setor, ao utilizá-los, podem melhor atender aos desejos destes consumidores. O conceito de idoso difere de um país para outro. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera pessoa idosa os indivíduos com 60 anos ou mais que residem em países em desenvolvimento, e com 65 anos e mais, os que residem em países desenvolvidos. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica os idosos em três grupos: pré-idosos (pessoas entre 55 e 64 anos), idosos jovens (pessoas entre 65 e 79 anos) e os idosos de idade avançada (pessoas a partir de 80 anos) (BARRETO, 1999). Apesar do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, do aumento da qualidade de vida dos idosos no Brasil e do aumento do rendimento desse segmento populacional existem fatores que ainda restringem e impedem a compra de produtos relacionados a turismo. Diversos estudos têm sido feitos sobre esses fatores restritivos como os de Godbey, Crawford, & Shen (2010), Godbey & Crawford (1987) e Godbey, Crawford & Jackson (1991). No Brasil foi feito um estudo sobre restrições ao turismo de consumidores de mais idade por Diniz & Motta (2006).

15 O modelo de restrições apresentado por Godbey, Crawford & Jackson (1991), baseado em três fatores restritivos (intrapessoal, interpessoal e estrutural), propõe que a ordem sequencial das restrições tem sua representação hierarquicamente relacionada. Estes fatores estão dispostos do mais proximal (intrapessoal) até o mais distal (estrutural), podendo sofrer influências, nesse caminho, dos fatores restritivos interpessoais. As restrições influenciadas pelos fatores intrapessoais, as quais envolvem estados psicológicos individuais, são consideradas as mais fortes por condicionar a motivação para o consumo de lazer e acompanhar o consumidor desde a vontade até a ação (GODBEY, CRAWFORD, & JACKSON, 1991). Para o setor de turismo do Rio de Janeiro, entender quais os fatores que restringem a compra de pacotes turísticos pelos idosos é fundamental para as estratégias de marketing das empresas deste setor como hotéis, transportadoras, agências de viagens, locais para visitação turística, entre outras. Este entendimento, ainda pouco estudado e que nem sempre é de conhecimento das empresas deste setor, pode conferir uma vantagem competitiva a estas empresas neste setor de grande crescimento. Assim, considerando, para este estudo, os idosos de acordo com a classificação da ONU, ou seja, a partir de 55 anos,a necessidade de aprofundamento dos estudos dos fatores restritivos para consumo em lazer pelos idosos, e ser o fator intrapessoal o mais potente dos três fatores do modelo de Godbey, Crawford & Jackson (1991), chegamos ao seguinte questionamento: - Quais os fatores intrapessoais restritivos que influenciam na compra de pacotes turísticos pelos idosos residentes na região metropolitana do Rio de Janeiro?

16 1.2. Objetivo do estudo Sem uma compreensão da forma pela qual o consumidor idoso do Rio de Janeiro toma a decisão e age em relação à compra de pacotes turísticos, o gerenciamento de planejamento de marketing das empresas de turismo não será eficaz. A identificação e a influência dos fatores restritivos, relativos ao comportamento do consumidor, e que influenciam esta tomada de decisão, contribuem para o entendimento do processo de decisão de compra pelo idoso por parte de todo segmento de turismo envolvido, como agências de viagem, operadores de turismo, empresas de transporte, hotéis, e outros locais para hospedagem. Este estudo tem como objetivo principal determinar quais são os atributos e estados psicológicos individuais existentes como barreiras intrapessoais, na decisão de compra, pelos idosos, de produtos relacionados a turismo. Como objetivo intermediário, busca-se observar: 1) quais os fatores intrapessoais com maior e com menor poder restritivo; e 2) se há diferença significativa destas barreiras intrapessoais para intenção de consumo de atividades de lazer através do turismo quando a população de idosos é segmentada por sexo, por estado de saúde percebido, por ocupação (trabalho), por idade cronológica, por frequência de viagens e por classificação econômica. Estas investigações se fazem através de sete perguntas: 1. Entre os fatores intrapessoais existentes como barreira para compra de pacotes turísticos, quais aqueles com maior poder restritivo e menor poder restritivo? 2. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos diferem entre homens e mulheres? 3. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos diferem em relação à autopercepção do estado de saúde do idoso? 4. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos diferem entre o idoso que têm atividades de trabalho remunerado e aqueles que não as têm?

17 5. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos dependem da idade cronológica das pessoas idosas? 6. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos diferem em relação à frequência de viagens das pessoas idosas? 7. As barreiras intrapessoais existentes para intenção de compra de pacotes turísticos dependem da classificação econômica das pessoas idosas? 1.3. Delimitação do estudo Este estudo procura identificar as restrições intrapessoais que impedem o lazer em atividades de turismo pelas pessoas com mais de 55 anos e moradoras da região metropolitana do Rio de Janeiro. É importante lembrar que existem vários tipos de restrições, as quais, segundo Godbey & Crawford (1987), podem ser classificadas em intrapessoais, interpessoais e estruturais; entretanto, objetivando um estudo mais focado no tipo de restrição com maior poder dentre essas três, este estudo focaliza apenas as restrições intrapessoais. 1.4. Limitação do estudo A coleta dos dados poderia abranger um número maior de idosos dentro de uma área mais ampla, para que se obtivesse um resultado mais representativo; porém, devido ao limite de tempo e de custo, esta análise ficou restrita apenas a quantidade de questionários respondidos obtidos para esta pesquisa.