III SEMINÁRIO INTERNACIONAL VIOLÊNCIA E CONFLITOS SOCIAIS: ILEGALISMOS E LUGARES MORAIS. 6 a 9 DE DEZEMBRO DE 2011. LABORATÓRIO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA- UFC. FORTALEZA-CE GT: 08 ECONOMIA, PRÁTICAS SOLIDÁRIAS E SEGURANÇA. TURISMO SOLIDÁRIO: DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL NA PRAINHA DO CANTO VERDE. AUTORAS: ANTONIA CLEIDIANE ROCHA LIMA HELENIR CRISPIM MENDES LEIDIANE FREIRE DA HORA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ (UFC).
RESUMO O Turismo Solidário, também chamado de Comunitário, Social e de Conservação, ganha, cada vez mais, notoriedade tanto na academia, sendo objeto de pesquisa das Ciências Humanas, como no setor público, sendo base para a formulação de Políticas Públicas que auxiliem os novos empreendimentos desse ramo a alcançarem progresso e respaldo. Sendo assim, ele tinha de ser visto pelo Poder Público como um movimento social de resistência à tradicional forma de expansão econômica, mas que também é capaz de potencializar e complementar a ordem econômica tradicional. Nesse contexto, a proposta desse trabalho é realizar um estudo de caso, a partir da origem e do funcionamento da atividade turística solidária na Prainha do Canto Verde, Município de Beberibe CE. Tendo por objetivo analisar as determinações físicas e socioeconômicas que condicionaram o surgimento do Turismo Comunitário na região, bem como identificar suas possibilidades e limites, nos propomos a lançar alguns argumentos e propostas no sentido de viabilizar uma melhoria na infraestrutura local e, por conseqüência, na própria atividade como um todo. Palavras-Chave: Turismo Comunitário, Desenvolvimento Local e Autogestão.
1. INTRODUÇÃO O turismo é um dos setores de maior destaque no Ceará, responsável pela geração de 2,49 mil ocupações formais só nos primeiros cinco meses desse ano, proporcionando R$ 1,8 bilhões em receita para o estado, o que representa 10,4% do PIB cearense. O gráfico abaixo ilustra a elevação percentual da demanda turística no Estado do Ceará: Gráfico 1: Participação percentual do VA de Alojamento e Alimentação no Setor Serviços, Estado do Ceará 2007/2010 Fonte: Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) e Secretaria do Turismo do Estado do Ceará (SETUR). Diante desse fato, é válido questionarmos qual o papel do turismo de base comunitária para o desenvolvimento local e a inserção socioeconômica de segmentos marginalizados da economia de mercado.
2. O TURISMO SOLIDÁRIO E SUAS PECULIARIDADES O Turismo Solidário é uma expressão da essencial participação comunitária, a qual agrega valor à oferta de bens e serviços de cunho turístico, mas emoldurados por uma nova roupagem: a de um desenvolvimento local centrado na valorização e na promoção humana, bem como na preservação cultural, artística e ambiental. Ele também propicia novas formas de gerar emprego e renda sem suplantar as outras atividades econômicas, ou seja, essa nova concepção de Turismo vem auxiliar e complementar a pesca, o artesanato e o comercio, atividades já existentes na região antes da implantação da atividade supracitada. Sendo assim, o objetivo do turismo comunitário deve ser o de promover segurança local, trabalho, renda e divisas, bem como a redução das desigualdades regionais. Apesar de existirem diversas definições do que seja Turismo Comunitário, podem-se identificar algumas características comuns a essas denominações. São elas: cooperativismo e associativismo; autogestão; centralidade da participação, parceria e participação; democratização de oportunidades e benefícios; valorização da cultura local e, principalmente; protagonismo das comunidades locais na gestão das atividades e na oferta de bens e serviços turísticos, visando à apropriação dos benefícios advindos da atividade turística.
As primeiras experiências de Turismo Comunitário datam de meados de 1990. Sendo assim, é importante citarmos alguns exemplos dessa inovadora atividade econômica, como o caso da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri. Localizada em um pequeno município na região do Cariri Cearense, chamado Nova Olinda, o qual conta com uma população de 13 mil habitantes, a iniciativa teve fundação em 2007 e, hoje, recebe uma média de 33 mil visitantes por ano. Criaram-se pousadas domiciliares, oficinas caseiras de artesanato e restaurantes de comidas típicas. Com a renda gerada a partir desse fluxo turístico, criou-se um fundo de Educação usado para dar a oportunidade de uma formação universitária aos jovens da comunidade. 2.1. A VALORIZAÇÃO CULTURAL E O DESENVOLVIMENTO LOCAL Uma cultura autêntica nasce a partir da interação do povo com o meio ambiente e independe das influências de outros povos no seu processo de desenvolvimento. Uma comunidade tem de encontrar sua forma de sustento no uso apropriado dos recursos naturais. A partir disso, nascem as atividades produtivas, as quais são os fundamentos da sobrevivência e do desenvolvimento local. Essas atividades devem ser realizadas dentro da própria comunidade, possibilitando, assim, a organização da cadeia produtiva, isso com recursos que permitam o crescimento comprovado com benefícios originados internamente, evitando a dependência externa. É sabido que o processo de globalização destrói a autenticidade das culturas, forçando uma uniformidade a qualquer custo. A partir do desenvolvimento desse processo, o lazer natural vai se tornando desinteressante, indesejável, destrutivo e aculturado. Pode se perceber que isso é observado em praias e em locais onde há um forte turismo de massa. Um fator que contribui para o fortalecimento da comunidade é o conhecimento da sua cultura, o que pode representar a sua sobrevivência com qualidade e equilíbrio. O resultado desse autoconhecimento leva a comunidade
a desenvolver um turismo que atraia outras culturas, de forma sustentável, simples, social, legítimo e pacífico. Dessa forma, conclui-se que uma cultura fortalecida pode viabilizar mudanças sociais, um possível crescimento, através de formas organizadas de sobrevivência, e um lazer e uma inclusão de atividades complementares, como o turismo, firmadas na essência do local, geridas e mantidas pela população. A integração de atividades econômicas próprias promove formas de sobrevivência diferenciadas, pois estão enraizadas nas características locais. Então, desenvolvimento local no Turismo significa a ação de atores sociais e econômicos que assumem o papel essencial na organização da oferta de serviços e produtos nos destinos turísticos. 2.2. O APOIO DO MINISTÉRIO DO TURISMO E DE OUTRAS ENTIDADADES O fomento ao Turismo de Base Comunitária, como uma atividade econômica, com potencial de geração de trabalho e renda e de diversificação da oferta turística dos destinos, requer do poder público uma nova perspectiva de planejamento e promoção, que considere as especificidades e peculiaridades desta oferta, em particular no que se refere à sua divulgação para o mercado (MINISTÉRIO DO TURISMO, p. 31, 2010). O Ministério do Turismo (MTur) está apoiando as práticas do Turismo Comunitário para perceber e analisar os desafios e as potencialidades dessa forma de turismo de contribuir para a diversificação da oferta turística brasileira, bem como de promover um desenvolvimento local e geração de emprego e renda. Não só o Ministério do Turismo, mas também outras entidades, como ONGs (Organizações Não Governamentais), dão suporte às comunidades que desenvolvem essas atividades turísticas, auxiliando na melhoria da infraestrura e do capital humano. 3. METODOLOGIA UTILIZADA
A pesquisa utilizou as seguintes técnicas e métodos de investigação: 1. Pesquisa teórica sobre os postulados que fundamentam o Turismo Comunitário; 2. Pesquisa empírica, a qual foi desenvolvida nas seguintes etapas: I) estudo de caso; II) elaboração de um roteiro de entrevista semiaberta; III) observação participativa in loco. 4. RESULTADOS/DISCUSSÃO 4. 1 A EXPERIÊNCIA DA PRAINHA DO CANTO VERDE A Comunidade da Prainha do Canto Verde fica localizada a 126 km de Fortaleza. Possui uma população de aproximadamente 1100 habitantes e está situada no litoral leste do Ceará, distrito de Paripueira, Município de Beberibe e tem como atividades econômicas a pesca marítima, o artesanato e as atividades relacionadas ao turismo. O turismo comunitário da Prainha do Canto Verde é uma das primeiras experiências de turismo comunitário no Brasil e se destaca por ser um exemplo de resistência, luta e participação comunitária. A comunidade recebeu apoio do Ministério do Turismo para articular a Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (TURISOL) e aperfeiçoar a Rede Cearense de Turismo Comunitário (TUCUM), da qual fazem parte 12 comunidades do litoral cearense. 4.2. ATIVIDADES ANTERIORES AO TURISMO COMUNITÁRIO: A pesca e as culturas de subsistência eram as atividades que existiam antes do desenvolvimento do projeto turístico.
4.3. ORIGENS DO ASSOCIATIVISMO: Em 1976, o associativismo se deu como forma de resistência ao processo de grilagem. Sendo uma região de grande potencial turístico, a Prainha do Canto Verde despertou o interesse de empresários comprometidos em criar na comunidade um turismo tradicional. 4.4. OBJETIVOS INICIAIS DO ASSOCIATIVISMO: Os primeiros focos do associativismo eram resistir às pressões externas, promover melhorias comunitárias, pautadas nos valores locais e discutir como implementar e atender à demanda turística, com a participação de toda a comunidade. 4.5. REALIZAÇÕES DA ASSOCIAÇÃO COMUNITÁRIA: Em 1998, a comunidade realizou um seminário de Ecoturismo. Na ocasião, foi elaborado um Projeto de Turismo Comunitário, pautado na autogestão, bem como no respeito à cultura local. A partir de então, os empreendimentos turísticos foram surgindo, os quais têm como proprietários os moradores da comunidade. Quanto aos recursos utilizados, pode-se afirmar que todos os meios de produção foram locais. O Apoio Financeiro, Técnico e em infraestrutura foi realizado por Instituições nacionais e internacionais, de caráter público, como o Ministério do Turismo (Mtur) e ONGs (Organizações Não-Governamentais). 5. CONCLUSÕES/PROSPOSTAS O turismo comunitário da Prainha do Canto Verde utilizou recursos naturais privilegiados para estimular o desenvolvimento local e assegurar uma sobrevivência digna para sua população.
A Comunidade organizou toda a cadeia produtiva turística com recursos locais, desenvolvidos com o trabalho digno de seus habitantes evitando, assim, a dependência externa. Como proposta, é importante, com o intuito de oferecer serviços de melhor qualidade e uma melhor infraestrutura local, que o turismo solidário na Prainha do Canto Verde busque mecanismos de promoção do progresso dessa atividade, melhorando o capital humano empregado nas atividades, tudo isso de forma centrada no aproveitamento das potencialidades locais. 6. REFERÊNCIA MINISTÉRIO DO TURISMO, Dinâmica e diversidade do turismo de base comunitária: desafio para a formulação de política pública. Ed.Nacional Soluções Gráfica Ltda, 2010. BARTHOLO, Roberto (Org.).; SANSOLO, Davis Gruber (Org.).; BURSZTYN, Ivan (Org.). Turismo de Base Comunitária Diversidade de Olhares e Experiências Brasileiras. Ed. Nova Letra Gráfica e Editora, 2009. PIMENTA, Solange Maria; CORRÊA, Maria Laetitia. Turismo Sustentabilidade e Meio Ambiente. Ed. Autentica, 2009. VIEIRA, Lorena Cláudia. A Comunidade, a Cultura e o Turismo. Premius Editora, 2006. CARVALHO, Vininha F. O Turismo Comunitário como instrumento de desenvolvimento sustentável. Disponível em: <http://www.revistaecotour.com.br/novo/home/default.asp?tipo=noticia&id=175
9>. Último acesso em: 07/09/2011 às 10:54:30. Disponível em: <http://prainhadocantoverde.org/ >. Último acesso em: 08/06/11 às 18: 30:00. RIBEIRO, Gleiciane, Turismo de base comunitário. Disponível em: <www.periodicodeturismo.com.br>. Último acesso em: 29/11/11 às 20: 40: 40.