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Transcrição:

Parecer n.º 05/08 Processos: 07/ 342145-6. Nome empresarial. Registro de filial de sociedade registrada em outro Estado. Nome colidente com o de empresa já registrada nesta Junta Comercial. Impasse. Art. 11, 2 o, da IN 104/07 do DNRC. Princípios constitucionais relativos à liberdade de associação e à livre iniciativa. Possibilidade do registro, a despeito da colidência. O direito de uma empresa registrar filial em outro Estado tem fundamento nos princípios constitucionais garantidores da liberdade de associação (art. 5 o, XVII) e da livre iniciativa (art. 170). Por outro lado, o direito ao uso exclusivo de nome já registrado na Junta Comercial direito que, em tese, exclui a possibilidade de registrar, nesta mesma Junta, filial de empresa constituída em outro Estado, cujo nome seja colidente também tem guarida constitucional (art. 5 o, XXIX). O choque entre tais princípios cria um impasse e, portanto, a necessidade de superá-lo. As normas do DNRC, a rigor, não resolvem este impasse; desatentas às imposições materiais dos princípios jurídicos em confronto, tais normas trazem uma solução simplesmente incogitável além de inconstitucional. 1

O impasse, portanto, permanece. Todavia, este órgão de registro, em cada caso, deve resolvê-lo e deve então ponderar os princípios constitucionais em confronto, atendendo aos fatores concretos da realidade para a qual convergem. Esta ponderação de princípios leva esta procuradoria a alterar o entendimento que, até hoje, dispensou à questão. Os interesses econômicos e sociais a permitir o registro de filiais são bem mais relevantes do que aqueles que impõem a tutela do direito ao uso exclusivo do nome comercial. Portanto, enquanto não houver normas que resolvam adequadamente este impasse, entende esta procuradoria que o registro de filiais de empresas constituídas em outros Estados não poderá obstado, mesmo na hipótese em que seu nome colidir com o de empresa já registrada nesta Junta Comercial. Trata-se de recurso ao plenário contra decisão que indeferiu o arquivamento de alteração contratual da empresa COMMAR COMÉRCIO INTERNACIONAL LTDA, que pretende o registro de filial em Santa Catarina. Tal decisão apontava a colidência entre o nome desta empresa e outros dois já registrados nesta JUCESC COMAR EXTINTORES LTDA e COMAR COMÉRCIO E INDÚSTRIA LTDA. Alega a requerente (i) que não há a citada colidência, visto que os nomes devem ser considerados por inteiro ; (ii) e que tem direito ao registro em razão de a empresa matriz já ostentá-lo, ainda que registrado em outra Junta Comercial. 2

1. A alegação de que a eventual colidência deve ser aferida considerando os nomes por inteiro não tem procedência. A expressão empregada COMMAR é incomum; logo, conforme a claríssima dicção do art. 8 o, II, b da IN 104/07, a eventual colidência decorrerá da análise particularizada desta expressão que é inegavelmente semelhante (homófona) àquelas confrontadas. 2. A questão relevantíssima que aqui se põe, entretanto, diz respeito à possibilidade de que a filial, pretendendo registrarse nesta Junta Comercial, mantenha o nome da matriz registrada em outra Unidade da Federação, a despeito da colidência com outros nomes já registrados. Esta questão, até hoje, mereceu uma análise pouco profunda (inclusive por parte desta procuradoria), desatenta aos relevantes problemas que suscita; esta análise, baseada em disposições regulamentares do DNRC, jamais deu resposta suficiente a estes problemas. É hora, enfim, de arrostálos. As disposições regulamentares referentes ao registro de filias de empresas em outros Estados da Federação simplesmente tergiversam sobre esta problemática hipótese, em que o registro da filial é impedido pela existência de outra empresa, de nome idêntico ou semelhante, já registrada. Nesta hipótese, a empresa filial que pretende o registro fica de mãos atadas: sendo filial, deve ter o nome da matriz; sendo este nome colidente com outro, ela não pode registrá-lo. Ou seja: nem pode alterar o nome, nem pode registrar aquele que deve ostentar. Uma filial não é um ente jurídico autônomo. Sua existência é ligada à sociedade matriz; esta é pressuposto daquela. Filiais são criadas no âmbito da sociedade matriz em geral, em previsão no próprio contrato social desta última. Logo, são desdobramentos desta mesma sociedade: sua existência remonta àquele mesmo quadro social; seu capital é o mesmo da matriz (quando muito, pode haver a previsão de capital destacado que, em todo caso, é sempre da matriz); seu objeto deve reproduzir os termos do texto do objeto da empresa, integral ou 3

parcialmente (item 4.2.5 da IN 98/03). Não há, na filial, autonomia em relação à matriz: seu comando, seus propósitos, sua atuação tudo isto remonta à sociedade-mãe. Diante destas características, as normas regentes impõem que a filial tenha o mesmo nome da matriz. Trata-se, por sinal, de uma imposição rigorosamente lógica: se a filial é uma extensão da matriz, seu principal elemento de identificação o nome não pode ser distinto. A rigor, nem mesmo se poderia dizer que a filial, por si mesma, tenha um nome: tratando-se de uma extensão da sociedade-mãe, ela ostenta o nome desta última; não há, portanto, dois nomes idênticos, mas apenas um nome que identifica a matriz e que se estende à filial. Se a filial deve ser registrada ostentando o nome da matriz, origina-se então a dúvida: o que fazer nos casos em que, pretendendo-se registrar a filial em outra Unidade da Federação, já houver nesta última outra empresa registrada com nome colidente? Se a filial não pode ter senão o nome da matriz, e se este nome colide com o de outra empresa, como superar este impasse? Diante do art. 11, 2 o, da IN 104/07, nesta hipótese restaria somente a seguinte alternativa: a sede (a matriz) deve alterar seu nome empresarial. Desnecessário dizer o quanto esta solução é irrazoável. Empresas que pretendem abrir filiais em outros Estados, em geral, têm situação consolidada após uma história de esforços para se estabelecer no mercado; neste contexto, o nome é um elemento fundamental, na medida em que é o sinal que distingue e identifica a empresa diante da sociedade. Portanto, condicionar a abertura de filial à mudança do nome da empresa sede é uma exigência rigorosamente inviável. Na verdade, nem mesmo se trata de uma solução: é antes uma alternativa aliás, bastante ruim que a norma sugere ao empresário; poderia a norma dizer abra uma subsidiária, ou constitua, ao invés de uma filial, uma empresa com nome diverso e capital controlado, ou ainda abra uma filial em outro Estado, onde não haja o registro de nome colidente. Nenhuma destas sugestões são soluções para o impasse mencionado; são apenas alternativas evidentemente dispensáveis, já que o empresário poderia adotá-las sem que estivessem previstas na norma que nos desviam da solução e, como dissemos, apenas tergiversam diante de toda esta problemática. A questão, diante das normas regulamentares, não foi solucionada. O impasse permanece. 4

Na verdade, este impasse reflete o confronto de dois princípios fundamentais da Ordem Jurídica brasileira, que na existência concreta deste caso paradigmático parecem inconciliáveis. De um lado, há o direito da empresa que, já registrada na Junta Comercial em que se pretende o registro da filial (de sociedade registrada em outro Estado), tem direito ao uso exclusivo do nome (CF, art. 5 o, XXIX); de outro, os princípios da liberdade de associação (CF, art. 5 o, XVII) e da livre iniciativa (CF, art. 1 o, IV e art. 170), que não toleram restrições infundadas ao exercício do direito de constituir sociedades empresárias e realizar atividade econômica. Sendo a livre iniciativa um fundamento da Ordem Econômica, é simplesmente absurdo pensar que uma empresa não possa abrir uma filial em outro Estado simplesmente porque, diante da colidência de nome, não pode obter o necessário registro. Há um claro interesse social a impor a superação destes obstáculos formais. A instalação de filias gera empregos, produto econômico, receitas tributárias. Repita-se: a Ordem Econômica brasileira é fundada na iniciativa privada, cuja manifestação não pode esbarrar em obstáculos meramente formais. Por outro lado, ao permitir o registro de filiais em Estados nos quais haja empresa registrada com nome idêntico ou semelhante, o direito desta última ao uso exclusivo deste nome estará sendo desrespeitado. O impasse, como dissemos, permanece. Todavia, este impasse deve ser resolvido. As normas do DNRC ainda não se deram conta de que ele existe; ou melhor, não compreenderam os relevantes problemas ligados a ele. Enquanto não houver uma solução que contemple este impasse em toda a sua dimensão, convém às Juntas Comerciais estarem sensíveis a este problema. Entretanto, não há esta solução; ou melhor, há uma solução que se traduz numa hipótese inviável e, portanto, absurda além de ser, como já se deve ter notado, inconstitucional. O Direito, enquanto ordem regente do convívio humano, não pode conter absurdos, já que regula a realidade por meio de um discurso lógico e racional e a lógica e a razão necessariamente excluem a possibilidade de soluções absurdas, inviáveis, irrazoáveis. Portanto, o impasse está em aberto e é necessário resolvê-lo. Neste sentido, é indispensável que os órgãos de registro empresarial e, em especial, o órgão de cúpula, a quem compete justamente regulamentar esta atividade (cf. Lei 8934/94, art. 4 o ) criem regras que 5

proporcionem uma solução adequada ao problema posto. Há diversas idéias: (1) a aposição, no registro da filial, de expressão que especifique o nome, de modo a discerni-lo, com tal especificação, daquele já registrado por exemplo, no caso em tela poderia ser Commar filial catarinense, ou Comar de Santa Catarina ; (2) criar um procedimento prévio ao registro da filial, em que a titular do nome já registrado teria oportunidade de manifestar-se sobre as possíveis repercussões do registro da filial sobre suas atividades; (3) estabelecer hipóteses mais restritas, nestes casos, para a tutela do direito à exclusividade: por exemplo, limitá-la (a tutela) às hipóteses em que as empresas atuem em mesmos ramos econômicos e/ou em mesmos espaços geográficos. Enfim, são soluções sugeridas de lege ferenda, que simplesmente visam a resolver o impasse mencionado mas que não passam disto: sugestões. (Na verdade, todas estas sugestões são apenas tentativas de reparar um problema bem mais complexo e profundo, que decorre do anacronismo do sistema normativo à base do registro empresarial. Este sistema ainda reflete o modelo federativo daquela primeira constituição republicana (de 1891), que conferia aos estados a atribuição de organizar o registro de comércio (o mesmo acontecia, apenas para ilustrar com um exemplo, quanto à competência para legislar sobre matéria processual) e que, sob este enfoque, era um federalismo bem mais exacerbado. Este modelo não vigora sob a vigente Ordem Constitucional. A norma do art. 22, XXV, da CF deixa claro que o registro empresarial é matéria de competência da União e que os meios de proteção aos direitos correspondentes deveriam ter abrangência federal; por sinal, saliente-se que é absolutamente pacífico o entendimento jurisprudencial de que as Juntas Comerciais executam seus serviços por delegação federal. Não faz sentido, neste contexto, que a proteção ao nome se restrinja aos limites de um Estado. O sistema de proteção ao nome empresarial deveria ser análogo àquele que rege o registro de marcas até porque a Constituição Federal, no art. 5 o, XXIX, põe num mesmo plano os direitos correspondentes a um e outro tipos de registro. Isto não implica que os órgãos responsáveis pela execução dos serviços sejam federalizados ; apenas impõe um sistema de compartilhamento de dados tão à moda de nossa época diante do qual os nomes registrados em todo o país formariam um único acervo, cuja proteção teria abrangência nacional. O modelo federativo de proteção ao nome empresarial reflete um 6

anacronismo inaceitável, desatento às imposições da presente Ordem Constitucional e que, afinal, deságua em problemas como este ora analisado.) A questão fundamental, entretanto, é a seguinte: enquanto perdurar este impasse, enquanto não houver regras a solucioná-lo adequadamente, qual a postura a ser adotada por esta Junta Comercial? Simplesmente aplicar a regra constante da IN 104/07 do DNRC, e então inviabilizar o registro de filias cujos nomes sejam colidentes com o de empresa já registrada neste Estado? Esta procuradoria, até hoje, sustentou esta última solução: aplicou simplesmente a regra do DNRC (neste sentido, pareceres 42/04, 102/05, 75/06 e 132/07, entre outros), desconsiderando o fato de que tal regra conduzia a uma solução absurda; portanto, prestigiou o princípio que garante o uso exclusivo do nome registrado, em detrimento daqueles que impõem a liberdade de associação e de iniciativa. Todavia, o tempo e a conseqüente experiência mostraram a este procurador que tal resposta ao problema é inadequada e que deve, enfim, ser revista. Há que se fazer aqui, como dizem os constitucionalistas, uma ponderação de princípios; e esta ponderação, como também dizem os constitucionalistas mais renomados, há que levar em contas os elementos da realidade concreta a que tais princípios convergem. A existência de empresa com nome colidente nem sempre traz maiores problemas à sociedade que primeiro o registrou e que, diante disso, detém o direito à exclusividade. Tais problemas, quando houver, restringem-se à possível confusão gerada nas pessoas que se relacionam com a empresa, em especial os consumidores; e, neste caso, a situação da empresa sempre pode ser tutelada pelo Judiciário. Por outro lado, ao se impedir o registro de filial cujo nome é colidente com o de empresa já registrada, os problemas daí decorrentes são sempre existentes e sua extensão, muitas vezes, é imensurável. O impedimento ao registro de uma filial significa, necessariamente, menos empregos, menos receita tributária e menos atividades econômicas. A balança, note-se, pende claramente para o outro lado. É absolutamente intolerável, portanto, que as empresas, diante da situação narrada, fiquem sem opções. O direito ao registro, lembrese, está ligado aos princípios constitucionais da livre associação de pessoas e da livre iniciativa. Constituir uma sociedade empresária é, antes de tudo, um 7

direito daqueles que a integram. Portanto, o sistema legal que rege a matéria não pode conduzir a este impasse. Tem que lhe dar uma solução adequada. E enquanto não o fizer, não pode obstar a realização daqueles direitos. Assim, esta procuradoria modifica seu entendimento, para permitir o registro de filial de empresas estabelecidas em outros Estados, ainda que o nome seja colidente com outro já registrado nesta Junta Comercial. Reitera que tal conclusão baseia-se não apenas na inconstitucionalidade material (cf. CF, artigos 5 o, XVII e 170) da regra prevista no art. 11 da IN 104/07 do DNRC, mas sobretudo na irrazoabilidade das imposições nela previstas. E adverte os Ilustres Vogais, a quem competirá decidir a questão, que tal solução poderá inclusive motivar eventuais demandas judiciais contra esta Junta Comercial por parte das empresa titulares dos nomes colidentes mas que, ainda assim, tal solução se impõe, por ser a mais razoável. Ante o exposto, opina-se pela procedência do pedido. Florianópolis, 21 de janeiro de 2007. Victor Emendörfer Neto Procurador da JUCESC 8