PROFESSOR OU EDUCADOR? CIDADANIA UMA RESPONSABILIDADE SOCIAL NO ENSINO DE LITERATURA E DA PRÁTICA DE ENSINO NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA Referência: TOGNATO, M.I.R.. Professor ou Educador? Cidadania: uma responsabilidade social no ensino da literatura e da prática de ensino na formação inicial e continuada do professor de Língua Inglesa. Anais da III Semana de Iniciação Científica. Campo Mourão, Pr: FECILCAM, 11 a 14 de novembro/2002. p.71-79. ISSN: 1676-2835. Maria Izabel Rodrigues TOGNATO[2] Two roads diverged in a yellow wood (...) And I tood the less traveled by This made all the difference. [3] Robert Frost The Road not Taken Resumo: Este trabalho visa a apontar questionamentos bem como sugestões sobre a formação do professor em pré e em serviço, no que diz respeito a uma formação de cidadania crítica, estabelecendo-se uma relação com o ensino e aprendizagem de Literatura e a Prática de uma visão sobre o papel que o professor de Inglês exerce hoje para, então, abordar o papel da literatura e da prática de ensino na formação inicial e na formação continuada e, finalmente, comentar sobre aspectos relacionados à avaliação e reflexão, considerando-se a formação cidadã dos alunos. Portanto, a finalidade deste estudo é esclarecer o que se pretende com o ensino de Literatura no curso de Letras e como esta disciplina pode ser desenvolvida e aplicada no contexto de atuação dos professores após a formação inicial. Palavras-Chave: Literatura. Prática. Ensino. Cidadania. O papel do Professor de Inglês Hoje O professor de Inglês tem exercido um papel abrangente no que diz respeito às suas funções como profissional. Assim como deve desenvolver seu planejamento e cumprir com suas atribuições como profissional, o professor deve estar preparado para lidar com diferentes e possíveis eventualidades ou situações quando se trata de conviver com alunos, indivíduos que estão se preparando para atuarem como cidadãos em uma
sociedade, exercendo assim um papel maior, que é o de educador. Para isto, além da sua formação [4] específica, que envolve questões a serem consideradas tais como interdisciplinaridade, ensino de língua, literatura, questões culturais, o mesmo deve ter uma formação ou pelo menos noções também sobre psicologia, comportamento, sociologia, colonialismo, pós-colonialismo, abordagens de ensino, temas transversais, cidadania, entre outros. Portanto, o papel do professor de Inglês hoje é complexo e não é fácil. Contudo, não é por causa de alguns aspectos negativos que o profissional deve entregar uma caminhada de construção de conhecimentos e experiências a um espaço que considere somente questões burocráticas. Afinal, o que é a escola? Não é algo mais que um espaço burocrático? Depende de cada profissional, de cada educador, pois sob meu ponto de vista todo professor é um educador ou pelo menos deveria ser, contribuindo para que a escola seja tão ampla em seu significado e dimensões quanto possa. O cidadão [5] que a sociedade estará recebendo num momento futuro passa ou, pelo menos deveria passar, por uma escola. Como esta vai recebê-lo e transformá-lo [6] dependerá de um conjunto de ações coletivas, colaborativas e construtivas em conjunto com a comunidade. Somente educadores poderão dar conta [7] ou, pelo menos, lançar sementes ou tomar iniciativas para que um trabalho realmente educador, social e comprometido com a realidade dos alunos possa contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade melhor e mais justa. Cabe ao professor de Inglês, portanto, estar pensando e repensando sua prática pedagógica para que o processo de ensino e aprendizagem seja mais ameno com relação às dificuldades apontadas acima. Por isso, é necessário que o professor esteja sempre refletindo sobre o que faz, as coisas que acontecem em sala de aula, como e por que acontecem do modo como acontecem, principalmente, pensando em aspectos ou valores sociais e políticos que subjazem o contexto escolar e todo o trabalho educacional. Para ilustrar a compreensão do papel do professor, retomo uma fala de uma das obras de George Bernard Shaw, de sua obra Getting Married, em que diz que não é um professor, mas apenas um companheiro de viagem para quem alguém perguntou o caminho. Isto significa que o professor é muito mais que um transmissor de conhecimentos, é um direcionador de caminhos no sentido de facilitar as buscas de alguém proporcionando-lhe meios e modos que possam realmente contribuir para o desenvolvimento do indivíduo. Pensando no fato de que o currículo tem sido considerado uma questão de identidade e poder (SILVA, 2001) e que há um núcleo de subjetividade a ser libertado da alienação causada pelo capitalismo, deve-se considerar as conexões entre significação, identidade e poder que passam, então, a ser enfatizadas procurando-se explorar as capacidades e potencialidades que o contexto educacional nos propicia para a construção de uma formação cidadã crítica dos nossos alunos. O professor de Inglês, neste momento, pode dar uma grande parcela de contribuição para com o ensino de uma língua estrangeira, justamente por poder proporcionar ao aluno uma oportunidade de conhecimento e
reflexão sobre as relações sociais, políticas e econômicas entre os países falantes da língua que se estuda, além de poder aprofundar um estudo sobre o próprio país, estado, município, região e comunidade. Desse modo, o aluno terá uma chance de exercitar seu pensamento crítico tornando-se consciente do seu papel na sociedade e que contribuições pode dar ao contexto em que vive. O Papel da Literatura e da Prática de Ensino na Formação Inicial e na Formação Continuada O ensino de literatura tem seu papel definido, que é o de contribuir para a construção de uma formação cidadã e crítica dos alunos. Uma vez que a questão da cidadania tem sido considerada como uma responsabilidade social imprescindível na formação do aluno, a literatura tem um papel essencial ao dar sua contribuição para esta formação. Esta construção da cidadania deve fazer parte da prática pedagógica do professor. Afirmo isto não somente porque se trata de um assunto comentado nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) os quais deveriam ser aplicados pelos professores no ensino fundamental e médio, mas porque para se viver em sociedade hoje é necessário que se tenha uma visão de mundo ampliada, questionadora, portanto, crítica. Para isso, é necessário que se considere algumas questões sobre o ensino de literatura, que deve estar relacionado à prática de ensino, desde o primeiro ano de formação do futuro professor de Inglês. Estas questões, que não são direcionadas somente aos professores em pré-serviço, mas também aos que atuam no ensino fundamental e médio, são: 7. Ensino de Língua Inglesa somente? Por quê? 8. Ensino de Literatura? Por quê? 9. Por que aprender e/ou ensinar literatura? 10. Quais são os objetivos do ensino de língua inglesa, ou literatura? 11. Que tipo de aluno se pretende formar no ensino de língua ou literatura? 12. É possível se obter um tema gerador como problema conflito com a literatura? 13. A literatura pode contribuir para uma educação pelas línguas? Como? Para quê? Por quê? Além disso, o professor em pré-serviço não deve ver a literatura que se está aprendendo num curso de graduação somente como um conteúdo que faz parte daquela formação isolada, sem pensar na possibilidade de se ensiná-lo no ensino fundamental e médio. Por isso, o professor em pré-serviço deve aprender e assimilar um conteúdos de literatura na
graduação, pensando sobre como este conteúdo poderia ser explorado no ensino fundamental e médio de modo a contribuir para a formação crítica do aluno. A literatura é uma área que possibilita um trabalho com a visão de mundo do aluno podendo propiciar oportunidades de desenvolvimento de opinião crítica, criando condições para que este aluno compreenda melhor o mundo em que vive. Isto pode ocorrer através de um trabalho feito com diversos tipos de recursos, tais como vídeo, computador, textos, livros atividades de compreensão auditiva com materiais gravados em CDs, fitas k-7, desde que se faça um questionamento e se crie condições para que o aluno pratique a expressão de sua opinião crítica numa tentativa de compreender melhor a sociedade em que vive. Esta proposta de trabalho pode ser desenvolvida tanto na graduação como no contexto de aplicação pelo professor em pré ou em serviço no ensino fundamental e médio. Portanto, é necessário que se estabeleça uma relação entre literatura e prática de ensino e, principalmente, desenvolvendo pesquisas tanto na formação inicial quanto na continuada. Nesse sentido, o papel da literatura é essencial para a formação profissional, por isso é que se deve considerar sua relevância no curso de letras, no ensino de literatura propriamente dito na graduação e na sala de aula onde irá atuar. Como é possível ao professor de Inglês trabalhar literatura no ensino de Inglês, desenvolvendo e questionando valores junto aos alunos, seu papel vai muito além do de um simples professor, este papel envolve o senso de educador. Desse modo, como Lopes (2002:191) comenta em seu livro Identidades Fragmentadas, os significados são construídos em sala de aula através de representações que começam a ser elaboradas por alunos e professores, o que acaba definindo as identidades sociais que ambos desempenham.[8] Avaliação e Reflexão Nesse contexto, não se pode deixar de pensar na questão da avaliação. O que fazer e como fazer? De acordo com as considerações feitas anteriormente, a avaliação deve considerar vários aspectos que contribuam realmente para educar o cidadão para um desempenho social e responsável na sociedade. Para isso, uma reflexão se faz necessária sobre as questões já consideradas anteriormente, as abordagens utilizadas em sala de aula envolvendo a prática pedagógica do professor. Se o professor iniciar um trabalho mais efetivo de pesquisar a própria prática (GIMENEZ, 1995) esta poderá propiciar um trabalho melhor para o ensino de Inglês e Literatura Inglesa. Além de estar se questionando com as questões sugeridas acima além de outras que se possa fazer, o professor de Inglês pode explorar e se aprofundar numa pesquisa da sua prática pedagógica, utilizando outros recursos ou ajuda de outros autores ou professores capacitados nesta área. Agindo dessa forma, o professor pode desenvolver uma abordagem reflexiva de ensino refletindo sobre mudanças e atitudes que ocorrem, principalmente, com improviso em sala de aula (SCHÖN, 1998), denominada pelo autor de reflexão na ação e sobre a ação.
Todas estas preocupações nos remetem à algumas idéias que Paulo Freire defendia em 1996, que são as características de um educador, em seu livro Pedagogia da Autonomia: ENSINAR EXIGE PESQUISA, respeito aos saberes dos educando, criticidade, REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA, consciência do inacabamento, HUMILDADE, tolerância, convicção de que a mudança é possível, curiosidade, segurança, COMPETÊNCIA PROFISSIONAL e generosidade, COMPROMETIMENTO, compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo, liberdade e autoridade, tomada consciente de decisões, SABER ESCUTAR, reconhecer que a educação é ideológica, DISPONIBILIDADE PARA O DIÁLOGO, querer bem aos educandos. (grifo nosso) Considerações Finais No contexto atual, são várias as dificuldades encontradas na área da educação, entre elas, o problema das turmas numerosas de alunos, indisciplina, número insuficiente de aulas, falta de recursos adequados nas escolas, entre outros. No entanto, utilizando os recursos que temos, mesmo com vários fatores que possam servir como obstáculos para uma boa qualidade de ensino e aprendizagem de Língua Inglesa, o professor de Inglês não pode deixar de exercer o seu papel de educador, tendo em vista seu comprometimento e responsabilidade social para com seus aprendizes. A Língua Inglesa tem sua contribuição uma vez que possibilita o conhecimento, a exploração e ampliação da visão de mundo, oferecendo aspectos geográficos e culturais para serem estudados. Se a Língua Inglesa tem a sua importância no processo de formação do aluno, o ensino de Literatura também tem sua relevância e pode ser desenvolvido no ensino de Inglês. Desse modo, a literatura pode contribuir para que a aprendizagem da língua se torne mais interessante e motivadora trabalhando a imaginação e pensamento crítico dos alunos. Se a Língua Inglesa propicia oportunidades para se trabalhar a visão de mundo do aluno, a Literatura oferece ainda mais espaços para que sua capacidade de raciocínio crítico se desenvolva, pois ao retratar épocas, momentos sociais, estabelecendo uma relação entre as épocas passadas e a contemporaneidade, pode-se compreender melhor as relações sociais, os papéis sociais atribuídos aos indivíduos, ou seja, as identidades que são construídas ao longo da existência humana. Como conclusão proponho um questionamento ao leitor sobre tudo o que foi comentado neste texto e quem sabe numa oportunidade possamos discutir estas idéias de modo a dar nossa parcela de contribuição para o exercício da educação e cidadania. Para isso, me
coloco à disposição do leitor, como professora pesquisadora, para que haja uma interação cognitiva. Será que o tempo todo, desde o início do exercício de nossa profissão, nós professores não nos deparamos com a questão o que ensinar? Se a resposta é positiva, e se já houve uma preocupação com esta questão num momento anterior a este que estamos vivendo na educação, por que há um sentimento de insatisfação no ar? Esta insatisfação seria referente a que exatamente? Se o problema quanto ao que deveria ser ensinado foi resolvido, por que algo está errado, por que não se consegue resultados melhores? Este problema estaria ligado ao como ensinar? Mas esta questão também já não foi pensada em momentos anteriores a este na educação? Seria este modo de pensar uma crise de paradigmas? Se devemos pensar num currículo, envolvendo o ensino de Língua Inglesa e Literatura, como sendo um campo ético e moral, que valores deveriam ser ensinados aos alunos, se é que valores podem ser ensinados. Pensar em questões como ética e moral me faz pensar em o que é realmente ser ético e moral. Se o currículo deve passar tais valores a alunos, que deveriam ser cidadãos ao aprender a utilizá-los, primeiramente, não é dever da escola e dos próprios educadores compreender e exercer a ética e a moral como realmente deve ser? A escola não poderia fazer algo para resgatar certos valores essenciais para o cumprimento da educação na comunidade? Se o exercício da cidadania acontecer nestes tipos de situação, creio que o trabalho com alunos poderia ser facilitado e, então, estes poderiam realmente compreender e vivenciar a ética, moral, enfim, cidadania. Talvez, dessa forma, estes valores pudessem ser ensinados, através de exemplos de vivência e convivência. Deste modo, se estes valores podem ser ensinados através de exemplos, fica claro que os professores podem ser muito mais que professores, sendo educadores e passando valores por meio de seus exemplos de vida, ou seja, comportamento, atitudes, ações. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília, DF: MEC/SEF, 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. Coleção Leitura. São Paulo: Editora Paz e Terra S/A, 1997. GIMENEZ, Telma N. O ensino de lnguas estrangeiras na perspectiva do professor. Semina: Cl.Soc./Hum., Londrina, v.16, n.3, set. 1995. LOPES, Luiz Paulo da Moita. Identidades Fragmentadas. A construção discursiva de raça, gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002. SCHÖN, D. Coaching reflective teaching. In: GRIMMET, P. P.; ERICKSON, G. L. (Eds.) Reflection in teacher education. New York : Teachers College Press, 1988.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.