As Áreas de Proteção Permanente (APP) e o Novo Código Florestal de Santa Catarina



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Transcrição:

As Áreas de Proteção Permanente (APP) e o Novo Código Florestal de Santa Catarina Ana Monteiro Barros Hardman de Castro Geógrafa ana_hcastro@yahoo.com.br Jaqueline Passos Ferreira Peluzo Geógrafa LABGIS-NIMA jaquelinepeluzo@yahoo.com.br Resumo Discussões acerca das Áreas de Preservação ou de Proteção Permanente (APP) ganharam força e novas problemáticas surgiram e vêm sendo amplamente debatidas desde o ano de 2009, já que nesse ano fora estabelecido o Novo Código Florestal do estado de Santa Catarina. O fervor de tais discussões se dá tanto no ambiente político, científico assim como no social e, por isso, o interesse por parte do presente trabalho.. As Áreas de Proteção Permanente são de extrema importância tanto as margens dos rios e suas matas ciliares (vegetação que protege essas margens) quanto aos morros e sua cobertura florestal, e são, exatamente, essas áreas que sofreram modificações no que diz respeito a sua legislação nesse Novo Código Florestal. Vale lembrar que anteriormente a implementação desse Novo Código Florestal e as mudanças do mesmo em relação as APPs, mudanças essas consideradas trágicas para ambientalistas e satisfatórias para outros agentes sociais (principalmente os agricultores, os maiores favorecidos), no ano de 2008 Santa Catarina ganhou destaque nos noticiários de todo o país por ter sofrido com grandes enchentes, tendo um grande número de mortes devido ao deslizamento de terras dos morros e a elevação do nível de água dos córregos e rios do estado, sendo que alguns municípios ficaram em um estado lamentável, assim como o de Itajaí. Todavia, essas mortes, ou pelo menos grande parte delas, poderiam ter sido evitadas se as margens dos rios não estivessem ocupadas e se a cobertura florestal dos morros estivessem preservadas. 1

Pretendeu-se, dessa forma, abordar nesse trabalho aquilo levasse ao entendimento das APPs, o Novo Código Florestal do Estado de Santa Catarina e a relação incontestável entre ambos. E, para tanto, foram consultadas diversas bibliografias através das quais as reflexões a respeito do assunto foram feitas. Todas essas bibliografias estão disponíveis na Internet e foram acessadas em abril de 2009. Além disso, é indiscutível a importância de trabalhos e pesquisas que tratem da evolução da Legislação Ambiental Brasileira, pois, desde a década de 1930 em diante diferentes normas ambientais foram implementadas no país, como o Código Florestal (Decreto 23.793/34), Código das Águas (Decreto 24.643/34), entre outros. (GUIMARÃES, 2009) Palavras-chave: Áreas de Proteção Ambiental, Novo Código Florestal de Santa Catarina (Itajaí), tragédias ambientais, interdisciplinaridade, reflexões. Introdução Apesar de não ter sido possível, nesse momento, realizar um detalhamento acerca das mais variadas razões que levaram as ocupações e desmatamentos das margens e dos morros e suas encostas no estado de Santa Catarina, e o porquê de milhares de pessoas terem resolvido manter moradia nesses locais, a discussão que segue a seguir é muito válida, já que pela proposta do trabalho, o que é de extrema importância é que tanto as margens dos rios e suas matas ciliares (vegetação que protege essas margens) como os morros e sua cobertura florestal são classificados como Áreas de Proteção ou Preservação Permanentes e, foram essas áreas que sofreram modificações em sua legislação nesse Novo Código Florestal. As APPs são Segundo Araújo As Áreas de Preservação Permanente - APP - são áreas nas quais, por imposição da lei, a vegetação deve ser mantida intacta, tendo em vista garantir a preservação dos recursos hídricos, da estabilidade geológica e da biodiversidade, bem como o bem-estar das populações humanas. O regime de proteção das APP é bastante rígido: a regra é a intocabilidade, admitida 2

excepcionalmente a supressão da vegetação apenas nos casos de utilidade pública ou interesse social legalmente previstos. (2002, p.3) E o site http://noticias.ambientebrasil.com.br/ Áreas de preservação permanente são faixas de terra ocupadas ou não por vegetação às margens dos cursos d'água (nascentes, córregos, rios, lagos), ou no topo de morros, em dunas, encostas, manguezais, restingas e veredas (confira a Resolução do Conama que as define. De acordo com essa legislação do Conama, só pode haver supressão da vegetação nessas áreas em casos de utilidade pública, interesse social e de baixo impacto ambiental. A resolução dá ao órgão ambiental estadual o poder de emitir a autorização, desde que com anuência prévia do órgão federal ou municipal. E de acordo com a Lei Nº 4.771, no seu artigo 2, de 15 de setembro de 1965, foi estabelecido que consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de outro qualquer curso d água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: (a figura 1 em anexo ilustra essas APPs) 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d água que tenham 50 (cinqüenta) metros a 200 (duzentos) metros de largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros; 5 - de 500 (quinhentos) metros para os cursos d água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d água, naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; 3

e) nas encostas ou partes destas com declividade superior a 45 equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras e dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação. Parágrafo único - No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo. Artigo 3 - Consideram-se, ainda, de preservação permanente, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas vegetação natural destinadas; a) a atenuar a erosão das terras; b) a fixar as dunas; c) a formar as faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxiliar a defesa do território nacional, a critério das autoridades militares; e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados por extinção; g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de bem-estar público. É muito interessante mostrar a legislação acerca das APPs do Código Florestal de 1965 já que é esse o código que foi substituído pelo atual código de Santa Catarina. Cabe ressaltar que anteriormente ao Código Florestal de 1965, em 1934 foi criado, juntamente a Constituição Federal, o primeiro Código Florestal do Brasil. Talvez seja importante, nesse momento, falar bem resumidamente sobre a história dessa legislação ambiental brasileira mais recente e conseqüentemente das APPs a partir da Constituição de 1934. O ano de 1934 foi escolhido como ponto de partida já que foi nele que pela primeira vez a proteção da natureza figurava como um princípio básico para o qual deviam concorrer o Governo Federal, Estados e municípios. A 4

partir dessa Constituição, à natureza do território brasileiro fora outorgado um novo valor já que a mesma passou a ser considerada como patrimônio nacional a ser preservado sendo dever e tarefa do poder público a sua fiscalização. Como conseqüência foram criados alguns dispositivos legais dentre os quais destacam-se: Código Florestal (1934), o Código de Caça e Pesca (1934), Código de Águas (1934) e o Decreto de Proteção dos Animais (1934). Segundo Medeiros De todos eles, o Código Florestal se tornou um dos mais importantes instrumentos da política de proteção da natureza da época, pois definiu, em bases sólidas e concretas, um projeto brasileiro com este enfoque. Além disso, o Código Florestal está cultural e historicamente relacionado à tradição brasileira de proteção da natureza, uma vez que nele são estabelecidos, pela primeira vez, os critérios para a proteção dos principais ecossistemas florestais e demais formas de vegetação naturais do país além de introduzir a idéia de categorias de manejo em função dos objetivos e finalidades da área criada. (2004, p.84-85) Para ilustrar de forma muito sintética, porém, de forma valiosa essa evolução da legislação ambiental brasileira ao longo do século XX o presente trabalho se utiliza de um quadro/tabela de Medeiros (2004), quadro esse que apresenta a política de proteção ambiental brasileira juntamente ao contexto nacional e internacional da época. Infelizmente, não será possível refletir mais em cima dessa importante fonte. De válido para o objeto do presente trabalho é que foi no Código Florestal de 1965, sua segunda versão, que as Áreas de Proteção Permanentes foram criadas. E nos dias de hoje as APPs, juntamente as Unidades de Conservação (UCs) as quais foram criadas pela Lei 9985/00 e fazem parte do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), compõem os espaços destinados à proteção dos recursos naturais no território brasileiro 5

Fonte: Medeiros, p.91 A proteção da natureza no Brasil: evolução e conflitos de um modelo em construção. Revista de Desenvolvimento Econômico. Voltando a enfocar nas APPs, conforme fora decretado pela a Lei Nº 4.771/ art 2, ficou evidente no seu parágrafo único uma preocupação com as APPs em áreas urbanas. E tal fato é realmente preocupante já que se é sabido que, historicamente, as cidades surgiram ao longo das margens dos rios ou outros cursos d água. E isso não aconteceu de maneira diferente no Brasil, um país abençoado quanto aos seus recursos hídricos. Além disso, no Brasil a ocupação de morros e encostas também é característico do crescimento urbano, principalmente, ao focarmos na quantidade de moradores, por pessoas de condições financeiras baixas e cujas casas não possuem nenhum tipo de segurança em caso de enchentes, por exemplo. Todavia, vale lembrar que não são somente as casas de pessoas consideradas pobres que ocupam morros e encostas, mas também residências das classes médias e altas em muito poucas ocasiões descem morro 6

abaixo. Porém, tanto as casas dos pobres quanto as dos ricos são responsáveis por retirar e/ou modificar a vegetação florestal que formam coberturas naturais dos morros e das encostas. Por isso, uma outra questão a se levantar nesse trabalho é se realmente as APPs e suas normas são aplicadas no espaço urbano. Pelo que se vê na prática, isso não ocorre. Principalmente ao se pensar nas grandes capitais e metrópoles urbanas nacionais. Além de não serem respeitadas as APPs, o descaso com a irregularidade por parte do Estado é total. Segundo Araújo, as normas que regulam as APPs estão entre as interfaces mais mal trabalhadas entre a legislação ambiental federal e a questão urbana. As falhas presentes na legislação são apontadas como um dos fatores que mais contribuem para o descumprimento dessas normas em áreas urbanas (2002, p.3). O não entendimento mais profundo das autoras do presente trabalho acerca do direito e do direito ambiental faz com que a discussão apresentada por Araújo (2002) em sua contribuição cientifica sejam um tanto quanto não compreendidas, principalmente nos assuntos referentes diretamente ao direito como, por exemplo, medida provisória, revogação de artigos e etc. No entanto, fica evidente que é necessário uma maior compreensão de todos acerca das leis e afins para que se entenda a atuação (ou não) das APPs em áreas urbanas. Porém, se torna claro que quando se fala em APPs em áreas urbanas, os municípios e seus planos diretores possuem grande responsabilidades. Uma questão crucial nesse momento, tendo ainda como base a contribuição de Araújo (2002), é que o principal objetivo perseguido pelas APPs naquilo que se refere aos recursos hídricos, já talvez seja nesse ponto que se dão os principais embates em torno das APPs em áreas urbanas, é que essa proteção não se diferencia das áreas rurais para as áreas urbanas. A autora lembra muito bem que em áreas muito urbanas as APPs talvez sejam muito mais importantes do que em áreas rurais devido a impermeabilização dos solos e, que além disso, o estabelecimento de limites menos rígidos no que diz respeito as APPs e recursos hídricos, como projetos de leis que vêm tramitando em alguns locais, é considerado como prejudicial ao meio ambiente e justificável por outros órgãos. Para Araújo a Alternativa a ser analisada é a flexibilização das normas que regulam as APP, em áreas urbanas, não no que se refere a limites, 7

mas sim no que se refere ao uso. Nas cidades, o uso das APP ao longo dos corpos d água para implantação de infra-estrutura de atividades a serem desenvolvidas ao ar livre, se garantida a preservação de cobertura vegetal que assegure o cumprimento dos objetivos da APP, parece medida positiva. A melhor solução técnica, não apenas em áreas urbanas, mas também em áreas rurais, passaria por uma análise caso a caso, a partir de um plano de ocupação da bacia hidrográfica, no qual fossem analisados o regime hídrico, a geologia, as atividades econômicas e sociais predominantes, etc. O problema é que, se a legislação federal for omissa a respeito de limites mínimos para as APP e tais planos não vierem a ser elaborados, provavelmente haverá a supressão da maior parte da vegetação que hoje protege os corpos d água. Uma opção seria estabelecer que os limites atualmente constantes do Código Florestal valem transitoriamente até a aprovação do respectivo plano de ocupação da bacia hidrográgica. Mas essa opção não é tão simples. Quem ficaria responsável pela aprovação do plano, os comitês de bacia previstos pela Lei nº 9.433, de 1997? O comitê de bacia tem legitimidade para definir um zoneamento que apresenta interferência direta nas atividades econômicas e sociais? Qual seria a relação entre o plano de ocupação da bacia hidrográfica, os zoneamentos ecológico-econômicos que vêm sendo aprovados por algumas leis estaduais e o plano diretor aprovado por lei municipal? São perguntas em aberto (2002, p.11) De acordo com a Procuradora Ana Lucia Hartmann em entrevista ao G1 (http://g1.globo.com/noticias/brasil/0,,mul1088313-5598,00.html) a mesma diz que Na verdade, a legislação estadual só pode complementar a legislação federal, de maneira a proteger mais o meio ambiente. Se ela não protege, ou seja, se ela reduz esta proteção, ela é inválida. Assim, o Novo Código Ambiental de Santa Catarina fere leis federais. O que podemos observar é que o estado de Santa Catarina quer que o código vigente não se realize em algumas áreas, pois como o próprio discurso do Governador Luiz Henrique da Silveira diz, essa medida inviabiliza a permanência de trabalhadores rurais nessas áreas. Ele alega também que o limite de mata ciliar proposto não pode ser adequado já que a maioria das propriedades são pequenas propriedades e, sendo assim, teriam pouca área para cultivo. Sua proposta é de que se tenha apenas 5 metros de mata ciliar para as pequenas propriedades (que são em torno de 90%) e 10 metros para os que tiverem mais de 50 hectares. Ele defende a idéia de que cada Estado deve ter o seu código ambiental, diz que se a Lei 8

proposta pelo código ambiental de Santa Catarina não entrar em vigor os proprietários de terra estarão trocando as áreas de lavouras por favelas, ou seja, a população sairia de suas áreas em busca de melhores condições de vida na cidade. Sergio Ahrens diz em seu texto O novo código florestal brasileiro: conceitos jurídicos fundamentais que A história contemporânea da sociedade brasileira é testemunha de um intenso debate em face da imposição do conteúdo normativo do Código Florestal brasileiro (Lei n 4.771, de 15-09-1965) e que condiciona o exercício dos poderes inerentes ao domínio sobre a propriedade imóvel agrária. Essencialmente, o debate ocorre em torno das seguintes duas figuras jurídicas: a) a Reserva Legal; e b) as Florestas e outras formas de vegetação natural de Preservação Permanente e suas respectivas Áreas de Preservação Permanente. É bastante válida a fala de Sergio Ahrens no presente trabalho, pois os embates em torno das questões ambientais são e sempre serão travados com diversas argumentações prós e contras a um melhor equilíbrio ambiental. É diante dessa discussão que podemos perceber como é complexa e dotada de grandes discussões as questões ambientais, pois podemos notar que até que ponto a preocupação com o econômico é maior que com o meio ambiente. Resultados preliminares Nota-se que mesmo após diversas catástrofes que ocorreram e ainda ocorrem ao redor do mundo ao longo dos anos, justamente pela má manutenção e/ou destruição do meio ambiente pelo homem ainda sim, se tem uma inclinação muito maior para o viés econômico, sendo que as catástrofes ambientais podem gerar gastos onerosos, tendo que arrecadar grandes investimentos para a reconstrução de diversas localidades, o que talvez pudesse ser evitado se não houvesse grandes explorações tendendo ao esgotamento de um equilíbrio ambiental. Com isso, é necessário se ter uma política que respeite ambos os lados, econômico e ambiental para que assim se tenha grandes avanços, pois se continuar com a política de que um prevalece sobre o outro, será bastante difícil encontrar uma solução mais sadia para todos. 9

Precisa-se ter em mente que é possível obter lucros, respeitando uma melhor funcionalidade do meio ambiente. Anexo: Figura 1: Fonte: http://www3.pr.gov.br/mataciliar/perguntas.php Referências Bibliográficas: AHRENS, Sergio: O NOVO CÓDIGO FLORESTAL BRASILEIRO: CONCEITOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS 10

ARAÚJO, Suely Vaz Guimarães de. As Áreas de Preservação Permanente e a Questão Urbana. Câmara dos Deputados, Consultoria Legislativa Anexo III Térreo, Praça dos Três Poderes, Brasília DF. 12p. Agosto, 2002. GUIMARÃES, Virginia T. Educação Ambiental, formação de valores ético-ambientais para o exercício da cidadania. NIMA-PUC Rio. Outubro, 2009. MEDEIROS, Rodrigo, IRVING, Marta, GRAY, Irene. A proteção da natureza no Brasil: evolução e conflitos de um modelo em construção. Revista de Desenvolvimento Econômico (RDE). Ano VI. Nº 9. p 83-93. Janeiro de 2004, Salvador BA. RIBEIRO, Carlos Antonio A. Soares, SOARES, Vicente Paulo, OLIVEIRA, Ângelo M. Santos, GLERIANI, José Marinaldo. O desafio da delimitação de Áreas de Preservação Permanentes. Artigo publicado na Sociedade de Investigações Florestais. p.203-212, 2005. Parecer sobre o Código Florestal de Santa Catarina. Projeto de Lei n 0238/2008. 26p. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm http://www3.pr.gov.br/mataciliar/perguntas.php http://noticias.ambientebrasil.com.br/ http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/ http://www.comiteitajai.org.br/blog/ http://g1.globo.com/noticias/brasil/0,,mul1088313-5598,00.html 11