Capacidade de Expansão do Milho Pipoca Crioulo cultivado no Cerrado Goiano em Sistema Agroecológico. Teixeira, W. G. (1), Matteucci, M. B. A. (2), Malta, C. G. (1), Barbosa, S. C. (1) e Leandro, W. M. (3) (1) Aluna do curso de Agronomia da EA/UFG, Goiânia, Goiás. Bolsista de IC pelo CNPq, e-mail: wellteixeira@hotmail.com; (2) Professora EA/UFG, orientadora de IC pelo CNPq, email: magdabeatriz@gmail.com; (3) Professor da EA/UFG, Pesquisador do CNPq. INTRODUÇÃO Agroecologia é uma ciência que visa uma agricultura sustentável, através de princípios preservadores dos recursos naturais, que sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos e economicamente viáveis (Altieri, 2004). São vários os sistemas de produção com enfoque agroecológico. Entre eles está à agricultura orgânica, que consiste em uma produção agrícola que evite ou exclua em grande parte o uso de fertilizantes e agrotóxicos sintéticos (Altieri, 2004). Uma das atividades prioritárias na agroecologia é a produção de sementes de variedades crioulas (variedades rústicas cultivadas e conservadas pelos agricultores de geração em geração). Sementes de milho, feijão, arroz, soja, adubos verdes e hortaliças são fundamentais para os agricultores familiares. Elas possibilitam que as famílias não precisem mais comprar sementes e favorece o intercâmbio com outros agricultores. É de suma importância para a humanidade que se faça o resgate de sementes crioulas, a fim de que a variabilidade genética e a rusticidade das espécies sejam mantidas. Em função desses fatores, propõe-se nesse trabalho avaliar a semente crioula de milho pipoca, com o objetivo de serem conhecidas as condições propícias para seu cultivo e conseqüente resgate. O milho pipoca pertence à espécie botânica Zea mays L., e apresenta sementes duras e pequenas nas quais, quando aquecidas a 170ºC aproximadamente, o óleo e a umidade exercem pressão sobre o pericarpo, até que ele se rompa, formando a pipoca. O milho pipoca varia quanto ao formato (redondo, chato, pontiagudo) e a coloração (rosa, creme, vermelha, roxa, preta, azul etc.), sendo as cores branca e amarela as mais comuns (Zinsly & Machado, 1978). A característica de pipoqueamento é que o torna diferente dos demais tipos de milho e esta diferença, por sua vez, lhe confere maciez e sabor bastante apreciáveis (Zinsly & Machado, 1978). Os autores comentam que a avaliação da qualidade do milho pipoca é feita através da análise do índice de capacidade de expansão e, quanto maior for esta propriedade, maior também será o valor comercial do produto, devido estar associado à maciez da pipoca. Para que este milho seja comercializado, deverá apresentar Índice de Capacidade de Expansão acima de 15, pois abaixo deste valor a pipoca apresenta-se muito rígida e com muitos grãos sem estourar. O objetivo do presente trabalho é avaliar a capacidade de expansão do grão de uma cultivar de milho pipoca crioulo em sistema de produção agroecológico. MATERIAL E MÉTODOS 1228
Os ensaios de sementes crioulas de milho pipoca foram conduzidos em condições de campo em sistema agroecológico na área experimental da Escola de Agronomia e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia Goiás. A área foi preparada com grade aradora, seguido de uma gradagem com grade destorroadora no primeiro ano. A área experimental foi selecionada numa área de pousio (com ausência de aplicação de fertilizantes e agrotóxicos a mais de quatro anos) e com vegetação espontânea predominante de Braquiaria decumbens. Após o preparo do solo a área foi sulcada e adubada com esterco de curral de bovino de leite curtido úmido na dose de 500 kg/ha. O milho pipoca foi semeado numa densidade de plantio de 55.000 plantas por hectare, manualmente. Na montagem no ensaio cada unidade experimental apresentou uma área total de 25,2 m 2 (6,3m x 4,0 m), com 7 linhas de 4 metros de comprimento espaçadas de 0,9 metros (milho). Para fins de avaliação do experimento, foi considerada uma área útil central de 10,8 m 2 (4 linhas de 3 metros de comprimento de milho). O delineamento experimental foi o de blocos casualizados em arranjo fatorial 2x5. Sendo que os tratamentos constituíram-se dos fatores consorciação (milho solteiro e milho consorciado com feijão de porco (Canavalia ensiformis) 1:1 - uma linha de feijão de porco intercalada com uma linha de milho) e da aplicação de adubação de cobertura orgânica (adubos verdes Milheto - Pennisetum glaucum, Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis e Feijão de porco C. ensiformis e uma testemunha, sem adubação de cobertura). Quatro semanas após o plantio foi feita a aplicação dos adubos verdes em cobertura. Os adubos verdes foram produzidos em área próxima ao ensaio e foram cortados rente ao solo na época de pleno florescimento. As amostras de solo foram coletadas na profundidade de 0-20 cm retirando-se 15 amostras simples na entre-linha de plantio. As análises químicas para a fertilidade do solo foram realizadas conforme método descritivo da Embrapa (1997). Os dados foram submetidos à análise de variância, comparando-se as médias pelo teste de Tukey, em nível de 1 e/ou 5% de probabilidade (SAS, 1995). O Índice de Capacidade de Expansão (CE) foi determinado pela relação entre o volume final de pipoca e o volume inicial de grãos, através da utilização do volume padrão de 35 ml de grãos medidos em proveta de 100 ml. Em seguida, este material foi colocado em uma pipoqueira de fabricação brasileira, juntamente com 12 ml de óleo de soja, tendo como fonte de calor um fogão doméstico (chama média) e, após o completo pipoqueamento, foi determinado o volume de pipoca estourado utilizando uma proveta de 500 ml. Foi estabelecida a CE na umidade de grãos a 13% e 7%. Foi determinada a taxa de expansão entre 13 e 7% de umidade. O peso de 100 ml de grãos foi obtido em balança. Os dados obtidos referentes às análises físicas foram submetidos à análise de variância, comparando-se as médias pelo teste de Tukey, em nível de 1 e/ou 5% de probabilidade (Gomes, 1976). A análise de variância foi realizada utilizando-se o software ASSISTAT 6.1 (Silva, 1996). Os teores de nutrientes nos grãos e adubos verdes foram correlacionados (Correlação de Pearson) com as variáveis tecnológicas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve diferença significativa entre a interação dos tratamentos nos atributos tecnológicos do milho pipoca crioulo (Tabela 1). Porém, houve efeito do consórcio nas variáveis peso de grãos em 100 ml de grãos (P 100 ml), capacidade de expansão a 7% de umidade (CA 7%) e efeito da adubação em cobertura com adubos verdes na capacidade de expansão a 13% de 1229
umidade (CA 13%). Verifica-se na Tabela 2 que o consórcio com o feijão de porco proporcionou incremento de 6 % do peso de grão do milho e de 37% na diferença entre a expansão do milho pipoca entre 13 e 7% de umidade. Por outro lado, a ausência de consorciação incrementou a CE do milho pipoca a 13% de umidade em 69%. Na Figura 1 verifica-se que o maior peso de 100 ml de sementes foi obtido com a adubação em cobertura com Crotalaria spectabilis. O feijão de porco foi o que proporcionou menor peso. Foram estabelecidas relações de causa e efeito entre teor de N no grão e CE a 13% através de ajuste polinomial do 2º. Grau (Figura 2). Verifica-se que há uma correlação negativa e significativa. Conforme interpretação de Normas de Identidade e Qualidade de Milho Pipoca, do Ministério da Agricultura e Abastecimento (Brasil, 1992), para comercialização, uma cultivar precisa ter CE de, no mínimo, 15 ml ml -1 (Pacheco et al., 1996). Segundo Green & Harris (1960), cultivares com CE menor que 25 ml ml -1 são consideradas pobres. Se a CE está entre 25 e 30 ela é considerada como regular. Valores entre 30 e 35 são considerados como bons e cultivares com CE acima de 35 são classificadas como excelentes. Os valores das variáveis tecnológicas encontram-se na classe muito baixa, com exceção da TCE 13/7, que foi muito elevada. As CE s encontradas indicam que a cultivar não tem índices adequados para comercialização. Tabela 1. Teste F para as variáveis Peso de grãos em 100 ml de grãos (P 100 ml), Capacidade de expansão a 13% de umidade (CA 13%), Capacidade de expansão a 7% de umidade (CA 7%), Taxa de expansão entre 13 e 7% (TCE 13/7) e Peso de grãos estourados (PG estourados) em áreas cultivadas com milho pipoca crioulo orgânico. Causa da Teste F (1) Variação P 100 ml CE 13% CE 7% TCE 13/7 PG estour. Cultivo (C) 0,83 1,79 5,34* 0,84 1,40 Ad Cob (A) 9,68* 14,63* 2,12 5,90* 5,52 Inter. AxC 0,67 1,73 0,83 3,48 4,22 CV% 3,59 19,12 23,62 25,82 18,12 Média 71,50 0,31 2,88 979,9 11,12 Unidade g/100ml % % % g Interpretação Baixo Baixo Baixo Elevado Baixo (1) Ausência de asterisco significa não significativo no teste F (análise de variância). Os maiores valores de correlação de Pearson entre as variáveis tecnológicas e o teor de nutrientes nos grãos e adubos verdes foram obtidos com o teor de N x CE a 13% (Figura 2). Verifica-se com o incremento no teor de N nos grãos implicou numa diminuição na CE a 13%. Tabela 2. Teste de média (Tukey a 5%) para as variáveis Peso de grãos em 100 ml de grãos (P 100 ml), Capacidade de expansão a 7% de umidade (CA 7%) e Taxa de expansão entre 13 e 7% (TCE 13/7); em áreas cultivadas com milho pipoca crioulo orgânico. Tratamentos Variáveis P 100 ml CE 7% TCE 13/7 g % % Sem consórcio 69,50 b 0,39 a 826,3 b 1230
Consorciado 73,50 a 0,24 b 1133,5 a (1) Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. 4 3,77 a 3,5 CE a 13% umidade (%) 3 2,5 2 1,5 1 2,88 ab 2,59 ab 2,29 b 0,5 0 C. Spectabilis C. Juncea Milheto F. de Porco adubaçao em cobertura com adubos verdes Figura 1. Teste de média (Tukey a 5%) para a Capacidade de expansão a 13% de umidade do milho pipoca crioulo orgânico em função das espécies de adubos verdes empregadas em adubação de cobertura. 4,00 3,50 CE (ml/ml grão) 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 y = 3,99x 2-17,696x + 21,962 R 2 = 0,6446 0,00 1,50 1,60 1,70 1,80 1,90 2,00 2,10 2,20 2,30 2,40 teor de N no grão (dag/kg) Figura 2. Ajuste de equação polinomial do 2º. Grau entre o teor de N no grão e a capacidade de expansão a 13% de umidade do milho pipoca crioulo orgânico em função das espécies de adubos verdes empregadas em adubação de cobertura. CONCLUSÕES 1231
As características tecnológicas do milho pipoca crioulo resgatado para a agricultura orgânica familiar não se adequaram às exigências comerciais; A consorciação com feijão de porco e a adubação em cobertura com adubos verdes afetaram as características tecnológicas do milho pipoca, e O teor de nitrogênio no grão afetou a capacidade de expansão do milho pipoca. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4 ed.. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. BRASIL. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 1992. 365p. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA. 1997. Manual de métodos de análise de solo. 2. ed. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Pesquisas de Solos, 212p. GOMES, F. P. Curso de estatística experimental. Piracicaba: ESALQ, 1976. 430p. GREEN JR., V.E.; HARRIS JR., E.D. Popcorn quality and the measurement of popping expansion. Proceedings of The Soil and Crop Science Society of Florida, v.20, p.28-41, 1960. PACHECO, C.A.P.; CASTOLDI, F.L.; ALVARENGA, E.M. Efeito do dano mecânico na qualidade fisiológica e na capacidade de expansão de sementes de milho pipoca. Revista Brasileira de Sementes, v.18, p.267-270, 1996. ROSHDY, T.H.; HAYAKAWA, K.; DAUN, H. SAS INSTITUTE (Cary, Estados Unidos). SAS language and procedures: usage statistics SAS Institute. Version 6. Cary, 1995. 373p. SILVA, F. de A. S. e. The ASSISTAT software: Statistical assistance. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTER, 6, Cancun, 1. Anais... American Society of Agricultural Engineers, 1996, p.294-298. ZINSLY, J.R.; MACHADO, J.A. Milho-pipoca. In: Melhoramento e produção de milho no Brasil. Piracicaba, ESALQ: Fundação Cargill. 1978. p. 339 348. 1232