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Transcrição:

CONTRIBUIÇÕES DO ESTÁGIO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: INDICATIVOS DA LEGISLAÇÃO VIGENTE E DA ORGANIZAÇÃO DO ESTÁGIO NUM CURSO DE PEDAGOGIA G1 Formação de Professores Julia de Cassia Pereira do Nascimento (DO)/ juliacpn@interacaosp.com.br Edda Curi/ edda.curi@cruzeirodosul.edu.br Resumo O presente artigo apresenta um recorte de uma tese de doutorado, tendo como objetivo discutir a formação de professores para ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental propiciada no curso de Pedagogia, buscando a questão da contribuição dos estágios para este ensino, sob a ótica da legislação e das normas de uma Instituição de Ensino Superior da cidade de São Paulo. A partir de uma abordagem qualitativa, utilizando-se a pesquisa documental, buscou-se estabelecer uma discussão sobre esta formação, a partir da análise da legislação que orienta o cumprimento dos estágios curriculares supervisionados, assim como dos documentos orientadores que organizam a realização do estágio no curso de Pedagogia da instituição em questão, como o projeto pedagógico do curso e as normas específicas descritas no Regulamento de Estágio. Ao final verificou-se que a universidade analisada, tanto no Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia quanto em seu regulamento de estágio, obedece à legislação vigente, porém por não propor observações direcionadas ao ensino de Matemática, a contribuição do estágio para a formação para tal ensino ocorre somente quando formador e aluno se preocupam com este ensino, o que nos deixa na dependência do comprometimento de ambos, especialmente do professor orientador, com relação à formação integral do aluno que deverá ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Palavras chave: Formação de professores, Estágio Curricular Supervisionado, Ensino de Matemática, Educação Matemática: Introdução O interesse sobre a contribuição dos estágios para a formação dos futuros professores se iniciou em 2008, quando iniciei 1 meu trabalho como docente em uma universidade da cidade de São Paulo, assumindo a disciplina Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado em Orientação Educacional. A partir daí em todos os semestres subsequentes tenho sido responsável pela disciplina de Prática de Ensino e Estágio Curricular Supervisionado em Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino 1 Utilizo aqui a primeira pessoa por se tratar de experiência pessoal. 1

Fundamental e em Gestão Educacional, como Professora Orientadora de Estágio. Esta disciplina compõe-se de dois momentos: o primeiro em que os alunos vão a campo nas escolas regulares para a realização do estágio curricular e, um segundo momento em sala de aula, onde se realizam discussões, reflexões e análises no confronto entre as teorias estudadas na universidade nas diferentes disciplinas e a prática observada nos estágios. É nesta ocasião que os alunos trazem suas dúvidas, medos e expectativas com relação à formação para ensinar. As oportunidades propiciadas em aula, de troca de experiências, dúvidas e necessidades apresentadas pelos alunos, mostraram que havia forte insegurança dos mesmos com relação à formação para ensinar Matemática. Eles relatavam que no estágio podiam perceber o que ocorria quando o professor adentrava uma sala dos anos iniciais do Ensino Fundamental sem o devido conhecimento para o ensino da matemática. Por essa razão, reforçavam que precisavam desta formação e que a teoria fornecida no curso, no que diz respeito às disciplinas de fundamentos e metodologias, deixava a desejar. Entendemos que a formação do professor é fruto de diferentes situações de aprendizagem, entre elas a realização do Estágio Curricular Supervisionado, onde a observação, análise e reflexão sobre a prática do professor observado levam o aluno estagiário a construir sua própria prática. Quando os alunos relatam que não têm oportunidade de acompanhar aulas de Matemática no estágio, destacam que suas expectativas eram justamente poder refletir e analisar a atuação do professor observado, propiciando conhecimento e modos de trabalhar a Matemática que os possibilitasse exercer este ensino. Sentem, portanto que esta situação se reflete em sua formação, o que aumenta nossa preocupação com relação ao curso de formação, ao Estágio Curricular Supervisionado e à formação deste professor. Estas questões possibilitaram reflexões que direcionaram a pesquisar de minha tese de doutorado para a contribuição dos estágios curriculares para a formação do professor que vai ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Este artigo é um recorte desta tese, no sentido de entendermos a questão da contribuição dos estágios para o ensino de Matemática nos anos iniciais do Ensino 2

Fundamental, buscando embasamento na legislação vigente e nas normas da instituição escolhida para a pesquisa. Objetivo O objetivo deste trabalho é analisar documentos legais que orientam a organização dos estágios curriculares supervisionados, assim como o projeto pedagógico do curso de Pedagogia e normas específicas da instituição para tal realização, sempre buscando a contribuição dos estágios para ensinar Matemática aos alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Metodologia de Pesquisa A metodologia utilizada será a análise de dados por meio da Pesquisa documental. Segundo Gil (2002, p. 45-47), a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. Não se trata de pesquisa bibliográfica, cujas fontes são os materiais impressos disponíveis nas bibliotecas ou em outras formas de publicação. Portanto, como pretendemos nesta pesquisa discutir e analisar a legislação que rege a realização dos estágios curriculares supervisionados no curso de Pedagogia, assim como as normas e regulamentos institucionais para tal realização, é forçoso basearmos estes estudos em documentos, que segundo Gil (2002, p.46) constituem fonte rica e estável de dados. Neste trabalho a pesquisa documental se constituiu no principal caminho para a obtenção de dados que auxiliassem o desenvolvimento do trabalho, podendo auxiliar no entendimento da situação dos estágios no curso de Pedagogia e até mesmo na produção de novos conhecimentos. Os documentos analisados serão as leis publicadas e em vigência quanto à formação de professores no curso de Pedagogia e à realização do estágio curricular; o Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia e o Regulamento de Estágio da instituição escolhida para a pesquisa. 3

A legislação vigente Pode-se conceituar estágio supervisionado como um conjunto de atividades de formação, que deverão ser supervisionadas por docentes da instituição e acompanhadas por profissionais da área, de forma que o aluno possa vivenciar situações de aprendizado profissional. Esta concepção está amparada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Os sistemas de ensino estabelecerão as normas para a realização de estágios dos alunos regularmente matriculados no ensino médio ou superior em sua jurisdição. Parágrafo único. O estágio realizado nas condições deste artigo não estabelece vínculo empregatício, podendo o estagiário receber bolsa de estágio, estar segurado contra acidentes e ter a cobertura previdenciária prevista na legislação específica. (BRASIL, 1996, Lei nº 9.394, art. 82). As atividades a serem desenvolvidas no estágio curricular supervisionado deverão atender às exigências de formação de cada área de conhecimento, conforme definidas nas respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação. Nelas estarão detalhados os parâmetros curriculares para o estágio curricular, como por exemplo, o formato, a abrangência e a carga horária mínima, sem que com isso se contrarie a legislação específica que dispõe sobre o estágio de estudantes: Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. 1 o O estágio faz parte do projeto pedagógico do curso, além de integrar o itinerário formativo do educando. 2 o O estágio visa ao aprendizado de competências próprias da atividade profissional e à contextualização curricular, objetivando o desenvolvimento do educando para a vida cidadã e para o trabalho. (BRASIL, 2008, Lei nº 11.788, art.1º). Os cursos de licenciatura destinam-se à formação para a docência, porém como reza a lei, cada curso deverá estabelecer suas próprias normas de realização dos estágios. Assim sendo, cada curso, de acordo com as especificidades de seu Projeto Pedagógico, deverá direcionar as atividades exigidas no estágio para a atividade 4

profissional de seus alunos, pensando em sua inserção futura no mercado de trabalho e na sociedade. Alguns procedimentos devem seguir determinação legal, enquanto outros podem ser normatizados por ato institucional, visando atender às necessidades específicas de cada curso. As considerações a seguir baseiam-se na Legislação Educacional, especificamente focada no Curso de Licenciatura em Pedagogia 2. A realização do estágio pelos licenciandos de Pedagogia deve privilegiar a articulação teoria e prática, voltadas para as áreas específicas de formação docente previstas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia 3. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (BRASÍLIA, 2006, Resolução CNE/CP nº 1, art.4º). Este artigo remete à diversidade de funções que o futuro professor poderá exercer e se levarmos em conta o Parecer citado anteriormente, o Curso de Pedagogia deveria proporcionar a seus alunos momentos em que fosse possível efetivar o processo de ensino e aprendizagem permitindo a profissionalização e a autonomia do estagiário. No nosso entender torna-se praticamente impossível ao futuro professor se profissionalizar em todas essas funções e, ou os cursos deveriam focar parte delas, ou os futuros professores deveriam escolher algumas delas. As referidas Diretrizes destacam as horas destinadas ao estágio e reforça que este deve contemplar a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e outras áreas específicas, de acordo com o Projeto Pedagógico da instituição: O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, assim distribuídas: [...] II 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da instituição. (BRASÍLIA, 2006, Resolução CNE/CP nº 1, art.7º). 2 Lei nº 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 3 Resolução CNE/CP 1/2006 Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. 5

A Resolução CNE/CP nº 1, dá continuidade às instruções referentes ao Estágio Supervisionado, reforçando a ideia de que o futuro professor tenha várias especificidades para exercer diversas funções na escola: Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de: IV - estágio curricular a ser realizado, ao longo do curso, de modo a assegurar aos graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares e não-escolares que ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e competências: a) na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, prioritariamente; b) nas disciplinas pedagógicas dos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal; c) na Educação Profissional na área de serviços e de apoio escolar; d) na Educação de Jovens e Adultos; e) na participação em atividades da gestão de processos educativos, no planejamento, implementação, coordenação, acompanhamento e avaliação de atividades e projetos educativos; f) em reuniões de formação pedagógica. (BRASÍLIA, 2006, Resolução CNE/CP nº 1, art.8º). A leitura e análise dos documentos oficiais que subsidiam a formação do professor para os anos iniciais do Ensino Fundamental, realizadas até aqui, mostram que a formação que se pretende é de um profissional generalista que pode atuar em diferentes funções na Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, no Ensino Médio (na formação de outros professores) e na EJA Educação de Jovens e Adultos, e na Gestão Educacional. No entanto, a nosso ver, não demonstra preocupação com os objetos de ensino, ou seja, com as áreas do conhecimento que serão desenvolvidas na escolarização das crianças. Em nenhum momento, até aqui, houve indicações de os estágios serem realizados com foco no ensino das áreas. Cabe destacar que, no Estado de São Paulo, desde 2002 não existem mais os cursos de formação de professores de nível Médio (as habilitações para o magistério) e que o curso de Pedagogia é o único que objetiva a formação do professor que vai atuar na Educação Infantil ou nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Consideramos que não há uma preocupação quanto à formação do professor que vai ensinar várias disciplinas. O aluno do curso de Pedagogia e futuro professor pode realizar o Estágio Curricular com foco em diferentes âmbitos, não havendo determinação em observarem-se os professores atuando com diferentes disciplinas. 6

Porém o que ocorre é que o professor egresso do curso de Pedagogia acaba atuando nos anos iniciais do Ensino Fundamental e precisa ensinar diferentes disciplinas. Portanto, muito embora o aluno do curso de Pedagogia será efetivamente um professor que vai ensinar Matemática, não há nas Diretrizes ou em qualquer legislação que rege a realização dos estágios Curriculares Supervisionados, qualquer orientação sobre observações que direcionem para a formação desse professor para ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia: Nos termos do projeto pedagógico da instituição, a integralização de estudos será efetivada por meio de: [...] II práticas de docência e gestão educacional que ensejem aos licenciandos a observação e acompanhamento, a participação no planejamento, na execução e na avaliação de aprendizagens, do ensino ou de projetos pedagógicos, tanto em escolas como em outros ambientes educativos; [...] (BRASÍLIA, 2006, Resolução CNE/CP nº 1, art.8º). Percebemos, portanto, que a legislação ressalta a autonomia da instituição formadora nas orientações e exigências quanto à realização dos estágios pelos futuros pedagogos, com foco nas práticas docentes em geral e na gestão educacional, sem especificar as diferentes disciplinas que deverão ser trabalhadas pelo futuro professor. Interessante ressaltar que, de acordo com as Diretrizes, caso a Instituição assim determinar, os licenciandos de Pedagogia poderão realizar seus estágios supervisionados em ambientes não escolares, como empresas, classes hospitalares, brinquedotecas, ONGs ou qualquer ambiente em que se necessite de uma ação educativa, prerrogativa especial dos pedagogos. Esta prerrogativa, quando assumida, afasta ainda mais o futuro professor das observações do ensino nas diferentes áreas de conhecimento, que embasariam sua formação para tal atuação. Os princípios que regem a legislação vigente nos permitem afirmar que a formação propiciada na graduação é importante, mas não suficiente, sendo necessário que o estágio proporcione a vivência na sala de aula e a participação no cotidiano escolar para que os alunos possam se preparar para exercer sua profissão. Dessa forma consideramos que o futuro professor possa encontrar no estágio subsídios que o sustentem na prática docente, no desenvolvimento de um trabalho 7

polivalente, tendo em vista sua atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos diferentes campos do conhecimento, e não uma formação ampla e generalista como a proposta na legislação. Orientações de estágio na instituição pesquisada A análise sobre a forma como o estágio curricular é desenvolvido na instituição pesquisada iniciou-se pela leitura e interpretação do PPC - Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia 4. Neste documento encontramos alguns dos objetivos da realização do estágio deste curso, como a necessidade de propiciar reflexões contextualizadas para que os alunos sejam autores de sua prática, abordando diferentes dimensões de sua atuação profissional. Nesta instituição o Estágio Curricular Supervisionado de todas as licenciaturas tem suas orientações ditadas por um núcleo de formação e estágios. Tais orientações vêm ao encontro do estabelecido em lei, porém semestralmente são realizadas reuniões com representantes de cada curso, para que se possam fazer considerações quanto à operacionalização do Estágio Supervisionado e sobre os procedimentos adotados na sua realização. Todos os procedimentos e orientações são contemplados no Regulamento do Estágio Curricular Supervisionado e da Prática de Ensino e Orientação de Estágio Curricular Supervisionado das Licenciaturas da referida instituição, elaborado em 2010. Nesse ponto já podemos notar a falta de especificidade no que diz respeito à realização do estágio curricular do curso de Pedagogia, uma vez que o manual serve a todas as licenciaturas, sendo que somente a Pedagogia formará professores para atuar na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, e Gestão Educacional. As demais licenciaturas têm como foco a docência nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Aliás, no próprio PPC há destaque para o foco da realização do estágio no curso de Pedagogia, que deverá ser desenvolvido em Gestão de processos e projetos educativos, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, inclusive 4 Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia da instituição pesquisada, referente 2012. 8

Educação de Jovens e Adultos e de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino regular, seja em ambientes escolares ou não escolares. Em se tratando da disposição na matriz curricular e da denominação da atividade de estágio, o Regulamento de Estágio da Universidade determina que o Estágio Curricular Supervisionado é obrigatório e articulado com a Prática de Ensino, sendo tratado como atividade sob o acompanhamento, na universidade, de professor orientador de estágio. Atualmente, atendendo à determinação legal, os alunos do curso de Pedagogia realizam 300 horas de estágio. A realização do estágio ocorre a partir do 4º semestre, com foco na Educação Infantil. No 5º semestre os alunos realizam o estágio de observação nos anos iniciais do Ensino Fundamental. A partir do 6º semestre o estágio é feito com observações na Gestão Educacional. Como é possível observar, as horas de estágio são subdivididas em três focos. Desta forma, o foco desta pesquisa encontra-se no estágio realizado pelos alunos do 5º semestre, quando os mesmos desenvolvem diferentes atividades, acompanhando e observando os professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Entendemos que os alunos deverão ter um acompanhamento que lhes possibilite realizar conexões entre a teoria aprendida em sua formação e as observações do estágio. Este acompanhamento é inclusive determinado, conforme já citado, pelo PPC do curso de Pedagogia da instituição em questão. Conforme destacamos anteriormente há na instituição uma disciplina denominada Prática de Ensino e Orientação de Estágio Curricular Supervisionado (em Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e Gestão Educacional) disciplina esta com 40 horas-aula. Desta forma o professor responsável deve discutir as concepções sobre a prática docente relacionada ao estágio realizado naquele semestre e orientar os alunos na realização do estágio, assinando documentos e tirando dúvidas. Consideramos importante ressaltar o trabalho do professor com relação à orientação de estágios. O trabalho deste professor deve ser desenvolvido de forma a colaborar com o desenvolvimento profissional dos futuros professores, orientando a realização do estágio para as reflexões sobre as ações e práticas que serão necessárias no desenvolvimento de sua docência. É preciso que este professor possa aproximar a teoria 9

da prática, mediando a formação dos alunos, direcionando as observações para as diferentes disciplinas que certamente deverão ser trabalhadas por este professor. Porém, não é o que se observa no desenvolvimento desta disciplina. A instituição possui um sistema denominado webestágio, onde os alunos lançam as atividades nas planilhas num sistema on line, o professor corrige via sistema e todas as ações referentes à parte burocrática do estágio são assim desenvolvidas, culminando na autorização de impressão pelo professor orientador e a devida entrega de todos os documentos pelos alunos. Como percebemos, as discussões individuais sobre as observações realizadas por cada aluno, problemas enfrentados, ações interessantes que o aluno gostaria de discutir, enfim, isto só ocorre se o aluno procurar o professor após o atendimento e o professor se dispuser a atendê-lo entre uma aula e outra. Caso contrário, as atividades são registradas, o estágio é entregue e perdem-se valiosas contribuições de ambas as partes para aprimorar a formação dos professores. Ainda de acordo com a legislação e atendendo determinação do núcleo de estágios, a Universidade entende que caso o aluno exerça atividade regular de docência, poderá utilizar esta atividade como até 50% da carga total do estágio a ser cumprido. A legislação que embasa tal procedimento é a Resolução CNE/CP nº 2, de 19/02/2002 (D.O.U. 04/03/02), que em seu art. 1º, diz: Parágrafo único. Os alunos que exerçam atividade docente regular na educação básica poderão ter redução da carga horária do estágio curricular supervisionado até o máximo de 200 (duzentas) horas. Para esta finalidade, o aluno estagiário do Programa Ler e Escrever também é beneficiado. Este programa teve início no ano de 2006 no município de São Paulo, com foco na qualidade de ensino, contemplando três projetos: Toda força ao 1º. Ano - TOF, Projeto Intensivo no Ciclo I - PIC, e Ler e escrever em todas as áreas no Ciclo II. O primeiro deles, cujo foco está no ciclo I, tem como meta criar condições adequadas para que todos os alunos leiam e escrevam já ao final do 1º ano do Ciclo I. Para tanto a Secretaria Municipal de Educação (SME) e a Diretoria de Orientação Técnica (DOT), colocaram um estudante universitário de Pedagogia ou Letras, como auxiliar de ensino, junto a cada professor do 1º ano, para ajudá-lo na alfabetização. 10

De acordo com o art. 8º das Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia, este momento de acompanhamento, ensino e participação em projetos pedagógicos, desenvolvido pelo aluno estagiário daquele programa, constitui-se em prática que assegura a formação para o exercício profissional. Entendemos que o estágio é momento importante de observação da prática docente, momento em que o futuro professor pode analisar a ação do outro, alicerçando assim suas ações, a utilização de sua própria docência como estágio poderia estar privando este aluno de ricas experiências, pois quando assim é feito, metade de seu estágio estará sendo cumprido sem as observações que se espera que sejam feitas para sua formação como professor. Por outro lado, ao utilizar a própria docência o aluno vivencia as diferentes disciplinas na rotina estabelecida pela escola, além de que, quando em exercício, a reflexão sobre a prática propagada por Schön (2000) pode ser desenvolvida. Importa considerarmos que, seja em sua prática, ou seja, observando a prática do outro, é essencial que o aluno reflita sobre esta prática na constituição de sua identidade profissional, conforme determinam a legislação e as orientações da instituição; assim como aprenda conteúdos e formas de atuar nas diferentes disciplinas que se apresentam nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Considerações Finais Após estas considerações gerais sobre a realização do Estágio Curricular Supervisionado no curso de Pedagogia da universidade analisada, reforça-se nossa preocupação quanto à possibilidade dos alunos refletirem cabe sobre sua formação para ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em virtude da forma como é desenvolvido o Estágio Curricular Supervisionado. Percebe-se que não há no Regulamento um direcionamento para a realização do estágio. Os alunos devem cumprir determinada carga horária, em determinado nível de ensino, observando determinadas ações dos professores. Após organizarem suas planilhas de estágio, com os lançamentos de todas as atividades realizadas dia a dia, elaboram um Relatório em que devem emitir suas opiniões, críticas e sugestões sobre a 11

prática do professor observado e eventualmente fundamentar teoricamente suas opiniões. O professor orientador, muitas vezes em virtude da dificuldade enfrentada pelos alunos para encontrar uma escola que os aceite para realizar o estágio, não cobra a observação em todas as disciplinas. Vemos alunos que só têm tempo para realizar o estágio no horário de seu almoço ou no final do dia, o que faz com que sempre observem lanche, intervalo, cópia da lição de casa. Desta forma, a observação e reflexão sobre a ação do professor ficam prejudicadas, em virtude das atividades acompanhadas. Por outro lado, como não há tempo suficiente disponível para as discussões tão importantes quanto necessárias em sala de aula, sobre as articulações entre as disciplinas de Fundamentos e Metodologias e o estágio, as observações ficam restritas à didática do professor, sua postura, relações pessoais na escola, entre outros aspectos. Compreendemos que a universidade analisada, tanto em seu Projeto Pedagógico quanto no regulamento de estágio obedece à legislação vigente, porém não propõe o foco no ensino de Matemática nas observações realizadas no estágio. Entretanto, professores que desenvolvem trabalhos ou pesquisas em determinadas áreas, como Matemática, Ciências ou Língua Portuguesa, por exemplo, costumam ser orientadores que reforçam com seus estagiários a necessidade de observações específicas que vão auxiliar em sua formação como professores chamados de polivalentes. No que diz respeito à alfabetização, por exemplo, os alunos que participam do Projeto Ler e Escrever têm momentos de reflexão sobre a prática do professor em seu dia a dia, no desenvolvimento de seu próprio trabalho. Porém com relação à Matemática, foco de nosso olhar, não temos estes importantes momentos de trabalho. É certo que é preciso ter bom senso e análise individual dos problemas que possam ocorrer, pois cada aluno pode apresentar uma particularidade, um problema diferenciado na unidade escolar, uma necessidade específica. É preciso que se cumpram as leis e as normas da instituição, mas nossa preocupação deve ser especialmente com a formação destes alunos e a contribuição que o estágio supervisionado trará para esta formação. 12

Ao pensar em quem são os professores para ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental que estamos formando, percebemos que as contribuições do estágio para o ensino de Matemática só existem quando o formador tiver a preocupação de direcionar as observações e reflexões para este ensino, vislumbrando aos alunos sua atuação futura, como professores ditos polivalentes. Mas somente isto não é suficiente, pois ficamos na dependência do comprometimento do professor orientador com a formação integral do aluno que deverá ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Referências BRASIL. Lei n 9394 de 20 de dezembro de 1996 Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso set. 2012.. Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008 Dispõe sobre estágio de estudantes. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm. Acesso set. 2012. Resolução CNE/CP nº 2, de 19/02/2002 - Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. Disponível em http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/cp022002.pdf. Acesso set. 2012 Resolução CNE/ CP nº 1 de 15 de maio de 2006 - Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação de Pedagogia, Licenciatura. http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. SCHÖN, Donald A. Educando O Profissional Reflexivo: Um Novo Design Para O Ensino e a Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia. São Paulo: 2012. Regulamento do Estágio Curricular Supervisionado e da Prática de Ensino e Orientação de Estágio Curricular Supervisionado das Licenciaturas. São Paulo: 2010 13