DIAGNÓSTICO: EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NOS CURSOS DE DIREITO DO ESTADO DO TOCANTINS-BRASIL



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Transcrição:

DIAGNÓSTICO: EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NOS CURSOS DE DIREITO DO ESTADO DO TOCANTINS-BRASIL Resumo Patrícia Medina 1 - UFT-ESMAT Graciela Barros 2 - UFT-ESMAT Grupo de Trabalho - Educação e Direitos Humanos Agência Financiadora: não contou com financiamento Trata-se de resultados parciais de pesquisa descritiva, que objetiva identificar o tratamento didático-metodológico dado à educação em direitos humanos (DH) pelos cursos de Direito (2015) no Estado do Tocantins como parte da pesquisa do trabalho de final de curso para o Mestrado Profissional Interdisciplinar em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da Universidade Federal do Tocantins e Escola Superior da Magistratura do Tocantins. Justificase pelo cenário de profundas contradições da sociedade caracterizada pela acentuação da violação dos direitos humanos que desencadeiam toda sorte de exclusão, evidentes disparidades e miséria que indicam à relevância do tema na formação dos profissionais que farão a prestação jurisdicional. Visa ao conhecimento do processo de ensino de DH a partir dos marcos legislativos nacionais, locais e educacionais das instituições, os Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs). As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos (2012) indicam o tratamento pedagógico a ser evidenciado e neste recorte constitui o elemento paradigma a partir do qual os PPCs foram analisados com a aplicação de procedimentos metodológicos inspirados na análise integrativa. No Tocantins, 15 instituições disponibilizam 1.704 vagas-ano. Dessas, quatro são públicas e as demais privadas, sendo duas confessionais. Foram analisados 12 projetos pedagógicos e/ou matrizes curriculares. Os resultados indicam para atendimento às diretrizes: a) um programa pedagógico de curso optou por tratar exclusivamente pela transversalidade; b) sete cursos atendem como conteúdo específico de uma disciplina existente no currículo ou como disciplina própria; c) dois cursos combinando transversalidade e disciplinaridade; d) um curso sequer refere a expressão Direitos Humanos; e) um curso faz indicação da centralidade do tema, mas não indica a 1 Doutora em Educação: Cultura e Processos Educacionais pela UFG. Professora Ajunta da Universidade Federal do Tocantins (UFT) nos cursos de Pedagogia e Mestrado Profissional Interdisciplinar Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos em convênio com Escola da Magistratura do Tocantins, Editora Assistente Revista da Escola Superior da Magistratura do Tocantins e Científica da Revista Jurídica Adsumus da Defensoria Pública do Tocantins-Brasil. Coordenadora do Programa de Educação Não Escolar da UFT. E-mail: patriciamedina@uft.edu.br. 2 Aluna do Mestrado Profissional Interdisciplinar de Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos UFT/ESMAT, graduada em Direito pela Universidade Federal do Tocantins, graduada em Letras pela Universidade Luterana do Brasil, Pós-Graduada em Língua Portuguesa pela Faculdade Darwin, Pós-graduanda em Direito e Processo Constitucional na Universidade Federal do Tocantins e Servidora Pública Federal, atualmente ocupa o cargo de analista na Procuradoria Federal junto à UFT. E-mail: gracielabarros@uft.edu.br. ISSN 2176-1396

17396 operacionalidade. Esses dados continuarão sendo processados pelo método descente hierárquico visando identificar categorias que poderão estabelecer novas trajetórias de interpretação e orientar as demais etapas da pesquisa. Palavras-chave: Educação em direitos humanos. Ensino superior. Tocantins-Brasil. Introdução O objetivo desse relato é tornar público os resultados da primeira parte da pesquisa que visa a identificar o tratamento didático-metodológico dado à educação em direitos humanos (DH) pelos cursos de Direito em funcionamento no Estado do Tocantins neste ano de 2015. A partir do diagnóstico será possível apresentar propostas e estratégias para fortalecimento dos Direitos Humanos no ensino superior naquele estado, tendo como base a Resolução nº 1 de 30 de maio de 2012 que Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos e os indicativos previstos no Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos aprovado em 2014. A inclusão dos conhecimentos relativos à Educação em Direitos Humanos na educação superior tem previsão expressas nos artigos 6º e 7º da Resolução recémmencionada. O primeiro artigo indica que essa educação deverá ser considerada, de modo transversal, na construção dos diferentes documentos institucionais, Projetos Políticos- Pedagógicos, nos Regimentos Escolares, nos planos de Desenvolvimento Institucionais e nos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) além de materiais didáticos e pedagógicos, no âmbito da pesquisa, extensão e ensino, da gestão e nos processos de avaliação. A didática, como saber instrumental da educação, concebe a transversalidade como uma forma de organização do trabalho educacional mediante a integração de temas em áreas convencionais de tal modo que estes se mantenham presentes em todas elas e assim se estabeleça, na prática educativa, uma estreita relação e imbricamento entre os conhecimentos teóricos sistematizados, aprendizagem sobre a realidade e aspectos da vida real e as transformações, ou seja, aprendizagens na realidade e da realidade. Já a inserção dos conhecimentos relativos à Educação em Direitos Humanos na dimensão da organização curricular poderá ocorrer de três diferentes modos, como prevê o Art. 7º: a) pela transversalidade, por meio de temas relacionados aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; b) como um conteúdo específico de uma das disciplinas já existentes no currículo escolar; c) de maneira mista, ou seja, combinando transversalidade e

17397 disciplinaridade, sendo o objetivo dessa pesquisa identificar o tratamento didáticometodológico dado à educação em direitos humanos (DH) pelos cursos de Direito (2015), no Estado do Tocantins. Justificativa Uma significativa produção legislativa de Direitos Humanos, ideados como exercício de direitos sociais, civis, culturais, econômicos e políticos, assim como a incorporação pelo Estado brasileiro de normas internacionais de proteção dos direitos humanos, emanam da promulgação da Constituição de 1988. Objetivamente concretizam-se no âmbito Executivo via implantação de políticas públicas incorporadas por Programas, Secretarias, Assessorias e outras instituições jurídicas bem como a inclusão da temática na totalidade dos concursos de ingresso a cargos das carreiras jurídicas. Na educação superior, programas de pós-graduação lato e stricto sensu foram e continuam sendo criados e orientados à inserção dos direitos humanos, além da exigência no ensino superior, desde 2012, à semelhança do que já ocorria desde 2006 na educação básica, pelo Plano Nacional da Educação em Direitos Humanos. Deste cenário é possível deduzir que há uma crescente e emergente pauta a ser incorporada por diversas instituições e que o âmbito do ensino superior, na estrutura prevista pelo modelo educacional brasileiro, constitui espaço ao mesmo tempo privilegiado e desafiador para a realização da interlocução e de preparação para a busca de efetividade das possibilidades e necessidades criadas pelas instâncias sociais, normativas e executivas. Acrescenta-se a esta condição uma conjuntura de profundas contradições da sociedade nacional, por conseguinte, a tocantinense em suas particularidades caracterizada por grande diversidade étnica e contraste econômico, associados a problemas de uso dos solos e águas que resultam numa acentuação da violação dos direitos humanos que desencadeiam exclusões de natureza social, econômica, cultural e política e tornam evidente disparidades, discriminações, posturas autoritárias e miséria, indicando por isso, à relevância do tema na formação dos profissionais especialmente daqueles que se envolverão diretamente com a prestação jurisdicional. Além disso, o cenário de inserção profissional das pesquisadoras poderá ser amplamente beneficiado pela pesquisa tendo em vistas a necessidade de subsidiar a formação profissional dos mestrandos do Programa de Mestrado Interdisciplinar em Prestação

17398 Jurisdicional e Direitos Humanos da Universidade Federal do Tocantins e Escola Superior da Magistratura Tocantinense cujos egressos são potenciais professores dos cursos de Direito. Metodologia Esta etapa da pesquisa tem seus procedimentos metodológicos inspirados na análise integrativa a qual impõe que a partir da delimitação de uma questão de pesquisa deve-se realizar a exploração rigorosa e padronizada da literatura seguindo-se a análise e a discussão da produção científica da área sobre o tema de modo a promover o conhecimento aprofundado sobre o objeto de estudo (MENDES, 2008). A metodologia procura conservar padrões de rigor e possibilidade de replicação do estudo primário. A questão-problema que guiou esta etapa da pesquisa foi: como se caracteriza o ensino de Direitos Humanos nos cursos de Direitos do Estado do Tocantins? Além da questão-problema e da realização da revisão, neste caso a partir dos projetos pedagógicos dos cursos de Direitos e ou bases curriculares, o método prevê o estabelecimentos claro de critérios de inclusão e exclusão para a composição da amostra; definição de informações a serem extraídas do recorte selecionado e a sua categorização; avaliação dos estudos incluídos; interpretação de resultados e apresentação da síntese do conhecimento (MENDES, 2008). Assim, para o levantamento deste momento de estudo, foi selecionado um só descritor: direitos humanos. Este descritor foi utilizado para a busca na base de dados: projetos pedagógicos de todos os curso, usando o menu editar, opção pesquisar. A expressão direitos humanos foi colocada no campo de pesquisa do Word esse posicionou na primeira aparição das palavras no texto, e clicando no botão próximo, na próxima, e assim sucessivamente até o fim do texto. Foram excluídos da análise os cursos que não estavam em efetivo funcionamento no segundo semestre de 2014, bem como um segundo projeto pedagógico idêntico em duas diferentes instituições, uma vez que se trata de subterfúgio utilizado por uma organização que impedida de ampliar o número de vagas criou uma nova instituição, que funciona no mesmo endereço, com mesmo projeto pedagógico e mesmos professores. Assim, após a aplicação desses critérios de exclusão e inclusão, embora conste dos controles do Conselho Nacional de Educação a existência de 15 cursos no Estado do Tocantins, restaram um total de 12 cursos que efetivamente foram objeto de análise.

17399 Os resultados foram sistematizados de modo a) caracterizar os cursos; b) confirmar o cumprimento legal quanto a oferta do tema direitos humanos no ensino superior no Brasil; c) identificar o tratamento didático dado à educação aos direitos humanos buscando caracterizar o ensino de DH no Tocantins; e d) delinear as condições de intervenção sobre o problema nas etapas posteriores da pesquisa que se concretizará com o estudo comparado com as recomendações dos organismos internacionais, limitados à América Latina. Na etapa qualitativa os dados serão coletados através da técnica de grupos de foco com Coordenadores dos cursos de Direito do Tocantins e de pesquisa quantitativa, segundo método Survey,na modalidade online cujos respondentes serão os alunos dos cursos. Resultados A busca pela base de dados da pesquisa, os projetos pedagógicos de curso (PPC), ocorreu nos meses de fevereiro e março de 2015, a partir dos sites oficias das instituições de ensino superior, identificados nos dados disponibilizados pelo Conselho Nacional de Educação Câmara da Educação Superior, que relaciona 15 cursos de Direito no Estado do Tocantins. A exploração resultou na localização de 14 sites. Uma instituição desabilitou o site e não foram encontrados quaisquer dados acerca do curso, exceto os disponibilizados pelo MEC. O telefone encontrado remete a um departamento na Prefeitura do Município que informou que o curso foi fechado. Da pesquisa pelos PPCs resultou na localização de seis projetos pedagógicos de cursos, outras seis instituições disponibilizaram somente as matrizes curriculares, sendo esses também qualificados para este estudo; três instituições apenas informam que o curso é oferecido, mas não divulgam a duração do curso, a carga horária das disciplinas, número de vagas, forma de ingresso sendo por isso excluído da análise nesta fase da pesquisa. A Tabela 1 apresenta a caracterização geral dos cursos. Tabela 1 - Caracterização geral Cursos Direito do Tocantins, 2015 Forma Ingresso Modalidade Total Vagas por ano Variação Carga Horária Localização Geográfica Natureza Jurídica Divulgação Semestral 100% Presencial 100% 1.704 Mínima 3.700horas Capital 46,67 (7) Púbica 26,67 (4) PPC 40% (6) Máxima 4.800horas Interior 53,33 (8) Privada 73,33(11) Matriz Curricular 40% (6) Nenhuma

17400 20% (3) Total 15 100% (15) Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base pesquisa nos PPCs e Matrizes Curriculares. Percebe-se que o ingresso se dá exclusivamente por semestre; todos 12 cursos que divulgam dados atendem a Resolução nº 2 de 19 de junho de 2007 que dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação, bacharelados, na modalidade presencial. Majoritariamente são cursos oferecidos por instituições de natureza privada sendo destas três confessionais, duas católicas e uma luterana; das instituições públicas, uma é federal, uma estadual e duas fundações municipais. Quanto ao cumprimento legal da oferta da educação em direitos humanos no ensino superior no Brasil conforme estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos não é atendido pela totalidade dos PPCs, uma vez que uma matriz curricular em funcionamento não atende a grande parte das recomendações didático-pedagógica e de conteúdos em vigência após 2008, ano de vigência das diretrizes curriculares do ensino de direito. Mesmo não tendo acesso à estrutura curricular, mas analisando o site institucional encontra-se referência de autorização de funcionamento restrita ao ano 2008 e nenhuma outra atualização legislativa desde lá foi feita no curso de Direito e dos demais, naquela instituição. Todos os demais cursos referem à Educação em Direitos Humanos, sendo em algumas na construção dos programas pedagógicos de curso ou na organização didático-metodológica do ensino e da aprendizagem. No Quadro 2 são identificadas as instituições por letras e o descritor DH, o local que ocupa no currículo e o tratamento didático proposto pela instituição respondendo a questãoproblema que guiou esta etapa da pesquisa: Quadro 2: Caracterização didático-metodológica Direitos Humanos nos cursos de Direito do Tocantins, 2015. Curso A B C Caracterização didático metodológica do descritor Direitos Humanos A educação em DH é referida no perfil do egresso no campo habilidades e competências de conhecer e contextualizar os DH no âmbito regional, nacional e internacional e proteção dos oprimidos contra agressões. Conteúdo da disciplina Antropologia e Sociologia, 2º semestre No Eixo Profissional como disciplina nominada Direitos Humanos com 36h, ofertada como obrigatória no 10º período. Outras disciplinas que compõem o eixo: Direito Agrário, Seguridade Social, Direito do Consumidor, internacional e Privado É referido na concepção do curso Constitui o eixo norteador, correlaciona à formação humanista e consolidação dos direitos humanos junto com desenvolvimento sustentável, democracia, paz e justiça. Disciplina de 40h no 8º período. Eixo temático de formação profissional eletivo intitulado Cidadania, Direitos Humanos e Solidariedade que articula as disciplinas obrigatórias: Direito à Acessibilidade, Direito

17401 Eleitoral, Direitos Fundamentais e Estado, Democracia, Gestão Pública e Privada, Acesso à justiça e Cidadania, Libras, Gestão da Educação e Docência do Ensino Superior. Núcleo de Pesquisa e Extensão em Direitos Humanos. D Ênfase do curso: Direitos Humanos e Desenvolvimento, por decisão unânime do Colegiado. Linha de Pesquisa Direitos Humanos e Desenvolvimento com 15 diferentes áreas de concentração Disciplina Optativa intitulada Direitos Humanos, 30h Conteúdo na disciplina obrigatória de Filosofia do Direito, 60h, 2º período. E É referido na organização curricular como tema transversal a ser desenvolvido por intermédio de pesquisa ou temas interdisciplinares na forma de Seminários de Direitos Humanos. Realização de seminários e palestras para o ensino médio pelos acadêmicos e professores sobre cidadania e direitos humanos realizados com calendário próprio F Refere que é área de atuação acadêmica (ensino, pesquisa e extensão) fazer enfrentamento das opressões e desrespeito aos Direitos Humanos, mas não indica linhas de pesquisa ou atividades que operacionalizem essa afirmativa. Como bibliografia complementar nas disciplinas Antropologia Jurídica e Direito Internacional Público e Privado. G Currículo não atende as diretrizes curriculares nacionais para os cursos de Direito O descritor não foi referido H Disciplina Direitos Humanos, 30h, 1º período. I Conteúdo da Disciplina História do Direito e os Direitos Humanos, 30h sem indicação de período de oferta. J Conteúdo da Disciplina História do Direito e os Direitos Humanos, 30h sem indicação de período de oferta. Possui exatamente a mesma matriz curricular da instituição I K Disciplina Direitos Humanos 80h, 8º período. L Disciplina Direitos Humanos e Novos Direitos, 60h, 3º período Fonte: Dados organizados pelas autoras, com base pesquisa nos PPCs e Matrizes Curriculares. Quando se leva em consideração o objetivo subjacente dessa pesquisa, sobretudo na terceira fase que é contribuir com o processo de aperfeiçoamento dos cursos a partir da formação dos coordenadores dos cursos, é possível destacar que o diagnóstico didático metodológico confirmou o que Morin (2003) afirmava relativamente aos termos disciplinaridade e transdisciplinaridade como sendo difíceis de definir em decorrência da polissemia e imprecisão dos termos. Interdicisplinaridade pode significar que diferentes disciplinas são colocadas em volta de uma mesa, sem fazerem nada além de afirmar, cada qual, seus próprios fundamentos, mas, também, poderá promover a troca e cooperação, sendo vista como algo orgânico. Além disso, há de se considerar que embora não constitua alternativa apresentada pelas diretrizes, a muldiciplinaridade, que se caracteriza pela associação de disciplinas com vistas a um projeto comum também poderia se concretizar na situação objeto de análise, pois, ora as disciplinas foram convocadas como que técnicos especializados para dar conta de um problema ou o contrário, se apresentando em completa interação para conceber esse projeto como descrevia Morin ( 2003) e como se viu no caso da organização em forma de eixo

17402 temático. Parece razoável inferir que o fiel diagnóstico didático-metodológico de dará nas próximas fases da pesquisa. Entretanto, desde já foi possível identificar situações de afronta às exigências legais e às recomendações didático-metodológicas, no caso de um curso que sequer atende às determinações gerais do ensino de Direito no Brasil pelo atendimento às Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito; acrescenta-se o caso de evidente contradição entre pressuposto principiológico e operacionalidade, no caso do curso que indica expressamente ser direitos humanos uma área de atuação acadêmica (ensino, pesquisa e extensão), mas, não indica nenhuma dessas alternativa no programa pedagógico de curso ficando a educação em direitos humanos constrangido a duas referências bibliográficas complementares. Considerações Finais Estes resultados permitem apresentar como possível enquadramento de ser dado à educação aos direitos humanos nos 12 cursos inseridos nesse estudo: a) um programa pedagógico de curso optou por tratar exclusivamente pela transversalidade, ou seja, por meios de temas relacionados aos Direitos Humanos, b) sete cursos atendem a diretriz legal pela disciplinaridade, como conteúdo específico de uma disciplina existente no currículo ou como disciplina intitulada Direitos Humanos; c) dois cursos de maneira mista, combinando transversalidade e disciplinaridade; d) um curso sequer refere a expressão Direitos Humanos; e) um curso faz indicação da centralidade do tema, mas não indica a operacionalidade. Considera-se que as evidências disponíveis dão sustentação para afirmar que a realização das demais etapas da pesquisa via estudo comparado, grupos de foco e inquérito com alunos serão fundamentais para concretização do diagnóstico. O conhecimento por ora sistematizado terá impacto direto na formulação dos instrumentos e estratégias de coleta de dados e instrumentalização dos pesquisadores para a condução da pesquisa. REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução nº 1 de 30 de maio de 2012 - Estabelece Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos. Brasilia 2012. Disponível em: <http://http://portal.mec.gov.br /index.php?option=com_content&id=17810&itemid=866>. Acesso em: 23 Jun. 2015.

17403 MENDES, Karina Dal Sasso; SILVEIRA, Renata Cristina de Campos Pereira; GALVAO, Cristina Maria. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto contexto - enferm., Florianópolis, v. 17, n. 4, Dec. 2008. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/s0104-07072008000400018>. Acesso em: 25 Nov. 2011. MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.