ACIDENTE DE TRABALHO NO BRASIL WORK ACCIDENTIN IN BRAZIL



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Transcrição:

1 ACIDENTE DE TRABALHO NO BRASIL WORK ACCIDENTIN IN BRAZIL Cláudia Cristina Galvão de Oliveira Lucilene Tizo Petri Aline Fagundes dos Santos RESUMO: No Brasil, a 1ª norma infortunística surgiu em 1919, mas antes já havia referências como nas Ordenações Filipinas. O Código Comercial Brasileiro de 1850, Lei 556, de 25.06.1850, foi a 1ª norma legal a dar orientação sobre os infortúnios. Mesmo já havendo referências sobre a matéria infortunística, a Constituição Federal de 1891 não fez qualquer menção. A partir daí, surgiram diversas normas regulando a matéria, até que a Lei n.º 8.213/91, no artigo 21-A, trouxe importante inovação que facilitou o enquadramento das doenças ocupacionais, com a Classificação Nacional das Atividades Econômicas (CNAE) e da Classificação Internacional das Normas (CID-10), correlacionando algumas atividades profissionais com moléstias ocupacionais possivelmente sofridas pelos trabalhadores. Palavras chaves: Acidentes de Trabalho. Doenças. Legislação. ABSTRACT:The Brazilian Commercial Code of 1850, Law 556 of 25/06/1850, was the first legal standard to give guidance on the misfortunes. Even already there are references on the matter infortunistica, the Federal Constitution of 1891 made no any mention. From there emerged a number of rules regulating the matter, until the Law No. 8.213/91, Article 21-A, Brought an important innovation that facilitated the framework of occupational diseases, with the National Classification of Economic Activities (NCEA) and the International Classification of the Standards (ICD-10), correlating certain professional activities with occupational diseases possibly suffered by workers. Keywords: Work Accidents. Diseases. Legislation. Bacharel em Direito pela FADAF Bacharel em Direito pela FADAF * Mestre em Direitos Fundamentais pela Universidade Luterana do Brasil(ULBRA-RS), Doutoranda em Direito Previdenciário (PUC-SP). Advogada atuante em Direito Previdenciário, Professora Universitária e Coordenadora do Grupo de Iniciação científica em Direito Previdenciário da FADAF

2 INTRODUÇÃO Durante toda a história dos acidentes do trabalho, os legisladores encontraram dificuldades para defini-los. Apesar dos acidentes do trabalho terem evoluído nas últimas décadas, as normas infortunísticas também não definiram bem os acidentes do trabalho de uma forma que abrangesse todas as hipóteses que geram incapacidade laborativa. Além disso, atualmente, no País, as regras infortunísticas encontram-se disseminadas entre os benefícios da Previdência Social, acarretando em dificuldades na diferenciação dos acidentes do trabalho. Após considerar que, diante da falta de norma específica que discipline os acidentes de trabalho e de um conceito que alcance todas as hipóteses de incapacidades laborativas, muitos trabalhadores que adquiriram alguma incapacidade acabam por não conseguir, os seus direitos. As normas infortunísticas no Brasil passaram por altos e baixos, mas a proteção à saúde do trabalhador evoluiu e atualmente as normas gerais sobre os acidentes do trabalho encontram-se dispostas entre os artigos 19 e 21-A, da Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, que em ordem, se referem aos acidentes do trabalho em sentido estrito, às doenças ocupacionais, às equiparações legais ao acidente do trabalho e ao nexo técnico epidemiológico. 1ACIDENTES DO TRABALHO Diante da evolução histórica dos acidentes do trabalho, percebe-se que houve dificuldades para defini-los. Tanto foi que, ainda hoje, mesmo depois de adaptações não foi bem elaborado um conceito que abrangesse todas as hipóteses que geram incapacidade laborativa. Nesse sentido Costa (2009), corrobora com o pensamento de Sachet, ao dizer que sempre foi difícil defini-lo, tanto que os legisladores franceses e de outros países preferiram deixar aos Tribunais a árdua tarefa de fazê-lo. O legislador da atual norma de acidente do trabalho, também enfrentando a dificuldade de formular um conceito que abrangesse todas as hipóteses, acabou por definir apenas o acidente do trabalho em sentido estrito, mas, por haver incapacidades que não se encaixam diretamente no conceito, acrescentou outras hipóteses que, para os efeitos legais, passaram a ser consideradas como acidentes do trabalho.

3 Sebastião Geraldo de Oliveira (2009, p.39), afirmando que pode haver incapacidades que não se encaixam diretamente ao conceito estrito de acidentes do trabalho, esclarece quais são as hipóteses que podem se equiparar ao acidente do trabalho em sentido estrito:... enfermidades decorrentes do trabalho; acidentes ou doenças provenientes de causas diversas, conjugando fatores do trabalho e extralaborais (concausas); acidentes ocorridos no local do trabalho, mas que não têm ligação direta com o exercício da atividade profissional; acidentes ocorridos fora do local da prestação dos serviços, mas com vínculo direto ou indireto com o cumprimento do contrato de trabalho e acidentes ocorridos no trajeto de ida ou volta da residência para o local do trabalho (...) o legislador formulou um conceito para o acidente do trabalho em sentido estrito, o acidente típico, e relacionou outras hipóteses que também geram incapacidade laborativa, os chamados acidentes do trabalho por equiparação legal. Ressalta-se que, atualmente, não há no País uma lei específica disciplinando os acidentes do trabalho, há apenas regras infortunísticas que se encontram disseminadas entre os benefícios da Previdência Social, ou seja, na Lei n.º 8.213 de 24 de julho de 1991, cujas regras gerais encontram-se disciplinadas entre os artigos 19 e 21. A falta de norma específica que discipline os acidentes do trabalho acabou por se tornar motivo de críticas, conforme comenta Hertz Jacinto da Costa(2009, p.36): A orientação palmilhada do Governo deu no que aí esta: os resultados negativos mostram que o que temos são normas acidentárias com linha muito tênue de separação com aquelas estritamente previdenciária, causando perplexidade e boa dose de dificuldade na aplicação quando o tema em debate é proteger à saúde do trabalhador acidentado, bem como outorgar o ressarcimento justo. Ousa-se dizer que há muito não estávamos em uma indigência legal tão flagrante no tocante ao direito infortunístico. Conclui-se que, quando se fala em acidentes do trabalho, refere-se a acidente tipo, doenças ocupacionais, que estão subdivididas em doenças profissionais e doenças do trabalho, e, ainda, em acidentes do trabalho por equiparação legal. Antes de definir e diferenciar os acidentes do trabalho, importante que se entenda que, para a ocorrência desses sinistros, se faz necessária a presença de três requisitos,os quais agora passam a ser estudados. 1.1 Requisitos para a caracterização Segundo Francisco Milton de Araujo Junior, os acidentes do trabalho são caracterizados por três requisitos: a causa, o efeito e o nexo causal entre a causa e o efeito. a) causa: é o evento súbito lesionando a saúde física ou mental do trabalhador. Neste sentido, Francisco Milton(2009,p.66) entende que causa é um evento inesperado e de natureza fortuita, inexistindo, ao menos em princípio, dolo na ação ou omissão que propiciou o acidente.

4 Na mesma linha de raciocínio, Hertz(2009, p.42) complementa dizendo que esse evento ou acontecimento poderá ser provocado por ação humana própria, excluindo-se o dolo, evidentemente, ação humana de outra pessoa vinculada ao trabalhador, ou provocado por ferramentas e maquinarias em geral. Quanto à causa, é importante alertar que, considerando que qualquer atividade extralaboral pode acarretar em um acidente, para os acidentes do trabalho, é exigência legal (art. 19) que o evento que agrediu a integridade física ou psíquica do trabalhador tenha decorrido do exercício do trabalho a serviço da empresa ou em razão dele. Nesse sentido, Octavio Bueno Magano (2009, p.82) conclui que não são os riscos gerais a que se sujeitam todos os cidadãos que caracterizam o acidente do trabalho, mas sim os riscos específicos decorrentes do exercício do trabalho. b) efeito: é o resultado do evento, ocasionando lesão à saúde do trabalhador. Esta lesão poderá ser tanto de natureza física, através de mutilação no corpo em si, ou ainda nos, sentidos do corpo (visão, audição, olfato, etc.); também de natureza psicológica, que é o desequilíbrio psíquico do trabalhador. Deve-se entender então, como efeito a lesão à saúde física ou mental do trabalhador (lesão corporal ou perturbação funcional ou ainda lesão psicofísica), que, sem a qual, não há o que se falar em acidente do trabalho, conforme dispõe a alínea c, do 2º, do artigo 20, da Lei nº 8.213/91. Destaca-se que o acidente do trabalhado só estará caracterizado se a lesão resultar morte ou perda, ou ainda redução, permanente ou temporária, da capacidade laborativa do trabalhador. Quando a lesão resultar em morte, haverá a perda da capacidade jurídica do trabalhador e a titularidade dos seus direitos será transmitida aos seus herdeiros. Agora, quando a lesão resultar na perda ou na redução da capacidade laborativa, conforme explica Francisco Milton Araújo Junior (2009, p.57), estas consistirão na ausência ou na anormalidade da estrutura fisiológica e psicológica do trabalhador para desenvolver suas atividades profissionais. A incapacidade resultante do acidente do trabalho poderá ser permanente, e se dará quando o trabalhador não conseguir desempenhar as atividades que normalmente desenvolvia (incapacidade permanente parcial) ou, ainda, não conseguir desempenhar qualquer atividade pelo resto da sua vida (incapacidade permanente total). Nesse sentido, João Salvador Reis Menezes e NarayJesimar Aparecida Paulino (2002, p. 96/97) afirmam que a incapacidade permanente poderá ser classificada em:

5 a) uniprofissional é aquela em que o impedimento alcança apenas uma atividade específica; b)multiprofissional é aquela em que o impedimento abrange diversas atividades profissionais; c) omniprofissional é aquela que implica na impossibilidade do desempenho de toda e qualquer atividade laborativa. A incapacidade também poderá ser temporária e se dará quando o trabalhador não conseguir desempenhar as suas atividades rotineiras, como também atividades específicas por pouco tempo, determinados de acordo com a moléstia e o tempo de recuperação. Já se comentou, mas vale lembrar que a lesão à saúde do trabalhador poderá ser percebida tardiamente e, mesmo assim, ter relação com o evento. Nesse sentido, Oswaldo e Sílvia Optiz(1988, p.44) entendem que a lesão pode ser tão profunda que não se apresente aos olhos dos peritos, imediatamente, mas decorridos alguns dias ou até meses. Basta lembrar os vários casos de perturbações nervosas, causadas por acidentes do trabalho. c) nexo causal entre a causa e o efeito: também chamado de nexo de causalidade ou nexo etiológico, essa característica determina um liame entre o acidente decorrente do exercício do trabalho a serviço da empresa e a lesão psicofísica que o trabalhador veio a sofrer, ou seja, que o infortúnio ocorrido seja em decorrência do desempenho das atividades laborais. O Conselho Federal de Medicina estabeleceu critérios para a fixação do nexo de causalidade, conforme destaca Francisco Milton Araújo Júnior (2009, p.58): Cabe destacar que o Conselho Federal de Medicina, por meio da Resolução n. 1.488/98 (art. 2º), estabeleceu critérios do nexo de causalidade entre os transtornos de saúde e as atividades do trabalhador, de modo que além do exame clínico (físico e mental) e os exames complementares, quando necessários, deve o médico considerar: a história clínica e ocupacional, decisiva em qualquer diagnóstico e/ou investigação de nexo; o estudo do local de trabalho; o estudo da organização do trabalho; os dados epidemiológicos; a literatura atualizada; e ocorrência de quadro clínico ou subclínico em trabalhador exposto a condições agressivas; a identificação de riscos físicos, químicos, biológicos, mecânicos, estressantes e outros, o depoimento e experiência dos trabalhadores; os conhecimentos e as práticas de outras disciplinas e de seus profissionais sejam ou não da área da saúde. Conclui-se, então, que o nexo de causalidade é a relação entre o acidente e o serviço prestado; logo, se o trabalhador sofrer um acidente na sua casa realizando uma atividade que não tenha relação com o seu trabalho, não há o que se falar em acidente do trabalho, por falta de nexo causal. Entendidos os pressupostos para a caracterização dos acidentes do trabalho, passamos a defini-los e a diferenciá-los.

6 1.2Acidente do trabalho em sentido estrito. O acidente do trabalho, também chamado de acidente tipo, acidente típico, acidente do trabalho em sentido estrito ou, ainda, macrotrauma está disciplinado no caput do artigo 19 da Lei n.º 8.213 de 24 de julho de 1991, e dispõe o seguinte: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Costa (2009, p.81) conceitua acidente do trabalho em sentido estrito como um ataque inesperado ao corpo humano ocorrido durante o trabalho, decorrente de uma ação traumática violenta, subitânea, concentrada e de consequências identificadas. Para a identificação do acidente-tipo, Antonio Lopes Monteiro e Roberto Fleury de Souza Bertagni (1998, p.42) comentam tratar-se de um evento único, subitâneo, imprevisto, bem configurado no espaço e no tempo e de consequências geralmente imediatas. A instantaneidade (lesão imediata) do acidente-tipo é o diferencial desta para as demais entidades mórbidas. Mas, Sebastião Geraldo de Oliveira (2009, p.44) assevera que nem sempre a perturbação funcional é percebida de imediato, podendo haver manifestação tardia com real demonstração do nexo etiológico com o acidente ocorrido. Nesse sentido, Hertz Jacinto Costa(2009, p.82) comenta: Evidentemente não perde a característica de acidente modelo, ou típico, aquele cujos efeitos venham a ser tardios, quando o comum é serem imediatos. É possível exemplificar com o golpe que produz a lesão em um órgão interno e que o resultado lesionado só se revela passado algum tempo. Houve neste caso lesão corporal, ação súbita e violenta de uma causa exterior, mas seus efeitos não foram imediatamente percebidos. Observa-se que a atual legislação admite como sujeitos passivos de tal infortúnio, o trabalhador temporário e o avulso que até então não eram tutelados pelo ordenamento jurídico. Para a caracterização do acidente do trabalho a partir da sua definição legal há de se observar também os possíveis sujeitos passivos que, até então, não eram tutelados pelo ordenamento jurídico, que são o trabalhador empregado, temporário, avulso, autônomo e o integrante de economia familiar. Tal fato demonstra um avanço no ordenamento jurídico brasileiro, considerando que o conceito clássico permitia que somente os trabalhadores subordinados aos seus empregadores fossem vítimas de acidente do trabalho, mas, apesar da inovação, ainda excluem-se os empregados domésticos e os contribuintes individuais e facultativos.

7 1.3 Doenças ocupacionais Como já dito, por haver incapacidades laborativas que surgem em consequência de outros fatores que não sejam os do acidente do trabalho, estendeu-se aos infortúnios laborais o conceito de doenças ocupacionais. As doenças ocupacionais estão reguladas no artigo 20, da Lei n.º 8.213/91, que dispõe: Art. 20. Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; II doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. 1º Não são consideradas como doença do trabalho: a) doença degenerativa; b) a inerente de grupo etário; c) a que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva, salvo comprovação de que é resultante de exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho. 2º Em caso excepcional, constatando-se que a doença não incluída na relação prevista nos incisos I e II deste artigo resultou das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a Previdência Social deve considerá-la acidente do trabalho. Conforme dispositivo legal, consideram-se como acidentes do trabalho as entidades mórbidas da doença profissional e das doenças do trabalho, que também podem ser entendidas como doenças ocupacionais. Para um melhor entendimento destes infortúnios laborais, deve-se entender então que a denominação doenças ocupacionais é o gênero que, segundo Sebastião Geraldo de Oliveira (2009,p.47), abrange todas as modalidades das doenças relacionadas com o trabalho e que as doenças profissionais e as doenças do trabalho são suas espécies. As doenças ocupacionais estão ligadas à atividade desempenhada pelo trabalhador ou às condições de trabalho às quais ele se submete quando da realização dos seus serviços. Hertz Jacinto Costa (2009, p.84) explica o que são essas moléstias ocupacionais: As doenças profissionais ou do trabalho são definidas como afecções, perturbações funcionais, lesões agudas ou crônicas de que podem ser vítimas os trabalhadores, por força da atividade, de um trabalho ou profissão, na manipulação de materiais empregados ou por influência das condições e processos especiais de industrialização, produzindo dano físico ou psíquico, que os incapacita para a atividade habitual. Os incisos do artigo 20, da Lei sobre os Planos de Benefícios de Previdência Social, mencionam, uma relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social que serve como referências às doenças ocupacionais.

8 Esta relação foi regulamentada pelo Decreto 3.048, de 06 de maio de 1999 e é explicada pelo autor Sebastião Geraldo de Oliveira (2009, p.47): A relação das doenças profissionais e do trabalho mencionada no art. 20, I, retro, está inserida no Anexo II do atual Regulamento da Previdência Social. O mencionado Anexo, após a mudança introduzida pelo Decreto n. 6.042, de 12 fev. 2007, engloba três relações importantes: a primeira indica os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho; a segunda Lista A aponta os agentes ou fatores de risco de natureza ocupacional, relacionados com o trabalho e a terceira Lista B indica as doenças ocupacionais e os possíveis agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional. Essa listagem também foi adotada pelo Ministério da Saúde através da Portaria nº 1.339/GM, de 18 de novembro de 1999, evitando, assim, um tratamento diferenciado por parte da Previdência Social e do Sistema Único de Saúde. Este regulamento englobou as espécies de doenças ocupacionais num todo, através de uma única listagem sem diferenciar as doenças profissionais das doenças do trabalho. Por isso, trata-se a denominação de doenças ocupacionais como gêneros das espécies (doença profissional e doença do trabalho). O 1º, do art. 20, do dispositivo ora em questão, traz exclusões ao conceito das doenças do trabalho. Estas exclusões se deram porque elas não se relacionam ao serviço prestado, ou seja, foram excluídas por não possuírem nexo de causalidade com o trabalho, pois elas poderiam aparecer mesmo que o trabalhador acometido pela moléstia não estivesse trabalhando. Quando a moléstia não se enquadrar na já mencionada relação da Previdência Social, mas tiver nexo de causalidade com o serviço prestado permite-se que a mesma seja considerada como acidente do trabalho. É o que deixa claro o 2º, do art. 20, que alargou as hipóteses de enquadramento das doenças do trabalho, para aquelas que têm nexo de causalidade com o serviço prestado pelo trabalhador infortunado. Conclui-se, então, que o Regulamento da Previdência Social, por ser apenas norma interna da instituição, tem apenas caráter exemplificativo e que é possível que o trabalhador esteja acometido por doenças não relacionadas pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Previdência Social. Nesse sentido, assevera Araújo Júnior (2009, p.61): O não enquadramento da enfermidade laboral na relação das doenças ocupacionais adotadas pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) não é obstáculo na caracterização de novos tipos de doença do trabalho ou de doença profissional, uma vez que a listagem das doenças ocupacionais que consta do Regulamento da Previdência Social não é exaustiva, conforme estabelece o art. 20, 2º, da Lei n. 8.213/91.

9 Uma vez entendido que as doenças ocupacionais se subdividem em doenças profissionais e doenças do trabalho, insta diferenciá-las. Doenças profissionais: são consequências naturais de certas profissões que exigem que o trabalhador realize os seus serviços em ambientes peculiares, ou seja, são doenças que se relacionam a determinados tipos de trabalho, conforme disciplina o inciso I, do art. 20, da Lei nº 8.213/91: as doenças profissionais típicas, ou também chamadas de tecnopatias ou ergopatias, são doenças peculiares ao exercício de determinadas atividades profissionais, ou seja, são aquelas típicas de determinadas profissões. Estas doenças, decorrentes de microtraumas, cotidianamente agridem e vulneram as defesas orgânicas do trabalhador, até que, por efeito cumulativo, terminam por vencê-los, deflagrando o processo mórbido. São consideradas moléstias típicas de determinadas atividades laborais em virtude das condições peculiares a que são submetidos os trabalhadores quando em determinada atividade profissional. Por serem patologias inerentes a alguns trabalhadores peculiares ou a determinadas atividades profissionais, o Ministério do Trabalho e da Previdência Social elaborou uma relação de doenças profissionais. Nas doenças profissionais, presume-se o nexo causal da atividade exercida com a patologia, portanto, inadmite-se prova em sentido contrário, bastando ao trabalhador doente comprove o acometimento da moléstia e o labor na atividade. Doenças do trabalho são contraídas de acordo com a maneira como trabalhador desempenha a sua atividade laboral, são ligadas a excesso de esforço físico, posturas incorretas durante a realização do serviço etc. As doenças do trabalho, mesopatias ou moléstias profissionais, atípicas, reguladas pelo inciso II, do artigo 20, da já citada Lei, são adquiridas em virtude das condições especiais em que o trabalho foi realizado, conforme destaca Costa (2009, p.81/82), elas decorrem das condições de agressividade existentes no local de trabalho, que agiram decididamente, seja para acelerar, eclodir ou agravar a saúde do trabalhador. Percebe-se, através do comentário feito pelo doutrinador Hertz (2009), que estas moléstias não são exclusivas do trabalhado realizado, ou seja, que não estão vinculadas a esta ou aquela profissão, pois podem advir de fatores que não sejam a atividade laboral. Sebastião Geraldo de Oliveira(2009, p.45) afirma que seu aparecimento decorre da forma em que o trabalho é prestado ou das condições específicas do ambiente do trabalho.

10 Ao contrário das doenças profissionais, as doenças do trabalho não têm nexo causal presumido, por isso exigem que seja comprovado que a moléstia é decorrente das condições especiais em que o trabalho foi realizado, o que torna o ônus probatório obrigatório ao trabalhador, conforme Costa(2009, p.83): Isso porque embora exista presunção de que ingressou em perfeitas condições de saúde, ou que apresentava determinada doença que não o impedia de trabalhar, deverá comprovar ter sido o ambiente laborativo que fez eclodir ou provocou o agravamento da doença ou perturbação funcional. É do obreiro o dever de comprovar a impossibilidade de se manter naquela mesma atividade, sob pena de ver a incapacidade aumentada, com previsibilidade razoável de sobrevir à incapacitação total ou permanente. Tanto o perito como o magistrado, quando da análise das doenças do trabalho, devem fazê-lo de forma minuciosa, avaliando pormenorizadamente possíveis irregularidades no ambiente do trabalho, os exames que podem demonstrar a evolução da doença, e também, os elementos probatórios trazidos aos autos. Francisco Milton Araújo Junior (2009, p.59/60) afirma que no caso da doença do trabalho, cabe ao trabalhador comprovar que a patologia desenvolveu-se em razão do desequilíbrio no meio ambiente do trabalho. O mesmo autor ainda menciona um importante aspecto diferenciador destas moléstias: A importância na diferenciação entre a doença profissional e a doença do trabalho consiste principalmente na fixação do ônus probatório, há vista que no caso da doença profissional, havendo prova de que o obreiro sofre de enfermidade enumerada na relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, aplica-se a presunção júris tantum para considerar que a enfermidade decorre das condições de trabalho. No caso da doença do trabalho, cabe ao trabalhador comprovar que a patologia desenvolveu-se em razão do desequilíbrio no meio ambiente do trabalho. As moléstias ocupacionais atingem o trabalhador de forma lenta e gradual, de tal modo que não se torna possível precisar o exato momento em que a doença ocorreu. Para facilitar o enquadramento das moléstias ocupacionais, o legislador criou o nexo técnico epidemiológico, que será objeto de estudo do próximo tópico. 1.4. Nexo técnico epidemiológico A Lei n.º 11.430, publicada em 27 de dezembro de 2006, acrescentou uma importante inovação à Lei n.º 8.213/91, o nexo técnico epidemiológico, instituído no artigo 21-A com o seguinte texto: Art. 21-A. A perícia médica do INSS considerará caracterizada a natureza acidentária da incapacidade quando constatar a ocorrência de nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e o agravo, decorrente da relação entre a atividade da empresa e a entidade mórbida motivadora da incapacidade elencada na

11 Classificação Internacional de Doenças CID, em conformidade com o que dispuser o regulamento. 1º A perícia médica do INSS deixará de aplicar o disposto neste artigo quando demonstrada a inexistência do nexo de que trata o caput deste artigo. 2º A empresa poderá requerer a não aplicação do nexo técnico epidemiológico, de cuja decisão caberá recurso com efeito suspensivo, da empresa ou do segurado, ao Conselho de Recursos da Previdência Social. Tal instituto, como já dito, facilitou o enquadramento das doenças ocupacionais, pois, a partir da Classificação Nacional de Atividades Econômica (CNAE) e da Classificação Internacional de Doenças (CID 10), estabeleceu algumas correlações entre as atividades profissionais desempenhadas em determinados empreendimentos econômicos, com possíveis moléstias ocupacionais sofridas pelos trabalhadores que lhes prestam serviços. Se constatado em perícia médica realizada pelo INSS que o trabalhador encontra-se enfermo e incapaz para o labor há mais de 15 dias, e que esta enfermidade é reconhecida pelo INSS como de natureza epidemiológica, ser-lhe-á concedido o benefício previdenciário sem a necessidade de emissão da CAT por parte da empresa e sem multa administrativa. Comenta Araújo Júnior (2009,p.72) que o INSS pode reconhecer o nexo epidemiológico mesmo quando a incapacidade laborativa for inferior a 15 (quinze) dias, porém neste caso o trabalhador não receberá benefício previdenciário. Nesse contexto, é importante esclarecer que, na dúvida, o INSS poderá recorrer a outros meios, como oitiva de testemunhas, vistoria no local de trabalho, solicitação de documento etc., para a verificação do nexo técnico epidemiológico e, conforme parágrafo primeiro, do artigo em comento, inexistindo nexo de causalidade entre as condições em que foram prestados os serviços e a moléstia, o INSS desconstituirá o nexo técnico epidemiológico. Destacando o avanço que gerou a normatização do nexo técnico epidemiológico, Francisco Milton Araújo Junior (2009, p.72) observa que tal instituto permite a presunção das moléstias ocupacionais, veja-se: Observa-se que o nexo epidemiológico constitui-se em grande avanço do ordenamento jurídico brasileiro, na medida em que institui a inversão do ônus da prova na caracterização do agravo ocupacional, ou seja, passou-se a considerar a presunção relativa da ocorrência da doença ocupacional mediante enquadramento epidemiológico do CNAE da empresa, cabendo ao empregador o ônus de desconstituir o NTEP mediante a produção de prova, consoante estabelece o art. 21- A, parágrafo segundo, da Lei n. 8.213/91, combinado com o art. 337, parágrafo sétimo, do Decreto n. 6.042/07. Note que, mesmo havendo presunção causal presumida, segundo 2º, do artigo 21-A, em comento, o empregador quando puder demonstrar a inexistência de relação entre o serviço prestado e a moléstia, poderá requerer a não aplicação do nexo epidemiológico ao caso concreto.

12 Araújo Júnior (2099, p. 72) ainda destaca a unificação do reconhecimento do nexo técnico epidemiológico: Cabe destacar que o INSS, por meio da Instrução Normativa n. 31, de 10 de setembro de 2008, unificou o reconhecimento do NTEP, fixando 03 (três) categorias: nexo técnico profissional ou do trabalho, fundamentado nas associações entre patologias constantes das listas A e B do Anexo II, do Decreto n. 3.048/99; nexo técnico por doença equiparada a acidente ou nexo técnico individual, decorrente de acidentes de trabalho típicos ou de trajeto, bem como de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele relacionado diretamente, nos termos do art. 20, parágrafo segundo, da Lei n. 8.213/91; nexo técnico epidemiológico previdenciário, aplicável quando houver significância estatística da associação entre o código da Classificação Internacional de Doença CID, e o da Classificação Nacional de Atividade Econômica CNAE, na parte inserida pelo Decreto n. 6.042/07, na lista B do anexo II do Decreto n. 3.048/99. Percebe-se, então, que o nexo técnico epidemiológico poderá ser entendido como nexo causal presumido e a sua caracterização é oficialmente reconhecida, segundo relação de moléstias ocupacionais, apresentada pelo órgão previdenciário. 1.5 Principais diferenças entre acidente do trabalho em sentido estrito e doença ocupacional Para diferenciar os acidentes do trabalho das doenças ocupacionais, utiliza-se citações de alguns doutrinadores. Costa (2009, p.81) diz que, nos acidentes do trabalho, conhece-se perfeitamente o momento da lesão, podendo ser estabelecido uma cronologia entre lesões sucessivas, e Oliveira (2009, p.45) complementa dizendo que nestes, os efeitos danosos normalmente são imediatos e o evento é perfeitamente identificável, tanto com relação ao local da ocorrência quanto no que tange ao momento do sinistro, diferentemente do que ocorre nas doenças ocupacionais. A doutrina esclarece de forma clara as situações que tratam especificamente de acidente do trabalho e ainda doenças ocupacionais. 1.6 Equiparações ao acidente do trabalho Amparando ainda mais o trabalhador desvalido, o artigo 21, da Lei nº 8.213/91, exibe situações que se equiparam aos acidentes do trabalho, pois se relacionam indiretamente com a atividade do obreiro: Art. 21. Equiparam-se também ao acidente de trabalho, para efeitos desta Lei:

13 I o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) Ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) Ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) Ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) Ato de pessoa privada do uso da razão; e) Desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. 1º Nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. 2 Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às consequências do anterior. O termo acidente do trabalho, ora utilizado pelo legislador, não deve ser entendido apenas em seu sentido estrito, mas também deve ser entendido como doenças ocupacionais. Com relação aos requisitos para a caracterização das enfermidades equiparáveis aos infortúnios laborais, Francisco Milton Araújo Júnior (2009, p.67) ressalta que o nexo de causalidade deve ser fixado de forma diversa dos demais infortúnios laborais, pois o artigo em comento (art. 21) não exige que haja nexo direto ou exclusivo entre as condições de trabalho e a lesão, basta apenas que o labor do obreiro contribua para a produção do evento danoso. Entende-se, então, que, nas equiparações aos acidentes do trabalho, não se exige que as condições em que o serviço foi prestado pelo trabalhador tenham nexo de causalidade com o acidente do trabalho ou com a doença ocupacional (infortúnios laborais), mas sim, que estas contribuam de forma indireta para a ocorrência da moléstia ou da patologia. As causalidades diretas, também entendidas como concausas, são as moléstias dispostas no inciso I, do artigo 21, da Lei nº 8.213, e se dão quando entre o infortúnio e o trabalho existe uma relação precisa e inafastável de causa e efeito.

14 Já as causalidades indiretas se dão quando o trabalho enseja ou dá oportunidade para que o evento danoso ao trabalhador aconteça. Estas moléstias estão dispostas nos incisos II, III, e IV do já mencionado artigo, e na mesma ordem, se referem a infortúnios laborais ocorridos no local e horário de trabalho, por contaminação acidental dos profissionais da área da saúde e, ainda, quando o trabalhador está fora do local e horário de trabalho. Dentre os infortúnios laborais ora citados, merecedestaque, pelo peso estatístico considerável, o acidente de trajeto, ou ainda chamado de acidente in itinire, que será comentado aose falar em acidente do trabalho quando o trabalhador está fora do local e horário de trabalho. Quanto aos demais infortúnios laborais, dos mesmos são apenas superficialmente levantados, pois, por serem raros, não chamaram atenção dos doutrinadores e não se tornaram objetos de estudos. Veja-se comentário de Sebastião Geraldo de Oliveira (2009,p.51): Os acidentes do trabalho mencionados nesses dispositivos legais acontecem raramente, tanto que nem constam separadamente nas estatísticas da Previdência Social. São hipóteses que, mesmo quando ocorrem no local e no horário de trabalho, não estão diretamente relacionadas com a atividade profissional, apesar do vínculo causal indireto. Além disso, são indicados os acidentes ocorridos fora do local ou do horário do trabalho, mas que guardam vinculação estreita com o cumprimento do contrato laboral. Mas, não é por serem raros que não merecem atenção, vejam-se as definições dessas equiparações aos infortúnios laborais nos próximos tópicos. 1.7 Acidente no local e horário de trabalho Através das alíneas do inciso II, do artigo 21, da Lei nº 8.213/91, o legislador enumerou cinco situações que configuram o acidente no local e horário de trabalho. Tais situações foram explicadas por Francisco Milton Araújo Junior (2009). A alínea a, do referido dispositivo, refere-se a agressões, sabotagem ou terrorismo como infortúnios laborais. Francisco Milton diz que, para a caracterização deste infortúnio laboral, independe quem pratica tais atos. A alínea b faz referência a ofensas físicas, que devem ser relacionadas com assuntos do trabalho, caso contrário, se o motivo da ofensa for extralaboral, não será caracterizado o infortúnio laboral. Vejam-se exemplos de Francisco Milton Araújo Júnior(2009,p.66): São exemplos de ofensas físicas ocorridas no horário e local de trabalho: a) as ofensas físicas praticadas pelo operário contra um chefe de serviço, em represália à repreensão que por este lhe fora feita por causa do serviço; b) envenenamento de um fiscal por parte do operário em razão de queixa contra si apresentada por ele ao patrão; c) o atentado realizado contra o empregador para o fim de roubar-lhe

15 dinheiro destinado ao pagamento dos operários; d) as lesões praticadas no curso de discussão motivada por ajuste de contas referentes a salários. E, ainda, o autor critica este dispositivo pela falta da menção à ofensa moral, considerando que esta pode lhe causar perturbações funcionais, reconhecidas pelo artigo 19 da Lei nº 8.213/91, como acidentes do trabalho. Atos praticados por terceiros ou por companheiros de serviço, em que houve imprudência, negligência ou imperícia causando dano ao trabalhador é a situação prevista na alínea c, do inciso em estudo e caracteriza acidente de trabalho. Conforme a alínea d, pessoa que não tenha capacidade de discernimento ou que não possa exprimir sua vontade, mesmo que transitoriamente, também poderá causar dano ao trabalhador, se o causar, está configurado o acidente do trabalho. Já a última, a alínea e, fala em fatos decorrentes de caso fortuito ou força maior, que se ocorridos durante o horário e local do serviço, causando danos ao trabalhador caracterizam o acidente do trabalho. CONCLUSÃO Nos dias atuais o acidente do trabalho está regulamentado pela Lei nº 8.213/91, sendo conceituado como aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, redução ou perda da capacidade laborativa. Salienta-se, que a legislação reconhece as doenças ocupacionais como se acidente do trabalho fossem. E ainda que o reconhecimento das incapacidades laborais geradas por esses infortúnios não abrange todos os segurados da Previdência Social, pois ainda ficam sem proteção acidentária algumas categorias profissionais como, por exemplo, os trabalhadores domésticos, os autônomos. Em busca por uma avaliação crítica dos dados referentes ao fato acidente do trabalho, constatou-se que, mesmo tendo evoluído quanto aos problemas do risco do trabalho no âmbito das instituições, especialmente no que diz respeito ao Seguro Social, o modelo brasileiro deverá ser revisto, tendo em vista alguns fatores significativos como o grande número de óbitos decorrentes do acidente do trabalho, a carência no tratamento médico adequado, o alto custo dos eventos para a população e a ausência total de uma política prevencionista, vem contribuindo para o aumento dos danos dos trabalhadores.

16 Ao pesquisar os acidentes do trabalho e as situações legalmente equiparáveis percebemos a importância de uma legislação específica possibilitando a elaboração de um sistema adequado de proteção ao trabalhador, enfim um novo modelo que acima de qualquer situação, seja antes de tudo humanitário. Conclui-se, dessa forma, que uma nova legislação deverá corrigir substancialmente aspectos ainda não contemplados pela Previdência Social, garantindo a proteção integral do trabalhador, promovendo, acima de tudo condições saudáveis de trabalho. REFERÊNCIA ARAÚJO JUNIOR, Francisco Milton. Doença ocupacional e acidente de trabalho: Análise multidisciplinar. 1 ed. São Paulo: LTr, 2009. BRASIL. Código Civil. 2ª. ed. Rev. Ampl. e Atual. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2008. (VadeMecum) COSTA, Hertz Jacinto. Manual de acidentes do trabalho. 3ª ed. Rev. e Atual. Curitiba: Juruá. 2009. LIMA, Maria Marta Rodovalho Moreira de. Acidentes do trabalho: Responsabilidades relativas ao meio ambiente laboral. Disponível em http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5815. Acessado em 15.02.2012. OLIVEIRA. Sebastião Geraldo de. Indenizações por acidente de trabalho ou doença ocupacional. 5 ed. São Paulo: LTR Editora Ltda., 2009.