EDSON ALVES DE ARAÚJO INDICADORES FÍSICOS DE QUALIDADE DO SOLO: ENFASE PARA SOLOS TROPICAIS



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Transcrição:

EDSON ALVES DE ARAÚJO INDICADORES FÍSICOS DE QUALIDADE DO SOLO: ENFASE PARA SOLOS TROPICAIS 1

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INDICADORES FÍSICOS DE QUALIDADE DO SOLO: ENFASE PARA SOLOS TROPICAIS Revisão de Texto: Maria Célia. Normatização Bibliográfica: Edson Alves de Araújo Ficha Catalográfica: Maria do Socorro de O. Cordeiro. CRB-11/667. Capa: Régis Macuco E-mail: regismacuco@gmail.com Editoração Eletrônica: Régis Macuco E-mail: regismacuco@gmail.com Impressão: 1ª edição: Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Araújo, Edson Alves de Indicadores físicos de qualidade do solo: ênfase para solos tropicais / Edson Alves de Araújo. Rio Branco: Ed. do Autor, 2011. ISBN 54p. CDD 21.ed. 633.3098 Exemplares desta publicação podem ser solicitados a: 3

SUMÁRIO 1. Introdução... 4 2. Qualidade do solo... 8 2.1. Conceito e importância... 8 2.2. Indicadores de qualidade do solo...12 2.3. Indicadores físicos de qualidade do solo...15 2.3.1. Textura do solo...16 2.3.2. Profundidade do solo...17 2.3.3. Densidade aparente do solo...18 2.3.4. Resistência à penetração...20 2.3.5. Porosidade do solo...21 2.3.6. Capacidade de retenção de água...23 2.3.7. Condutividade hidráulica...23 2.3.8. Estrutura e estabilidade de agregados do solo...25 2.3.9. Uso de funções de pedotransferência (pedotransfer functions)...27 3. Novas tendências...29 3.1. Densidade relativa...29 3.2. Intervalo Hídrico Ótimo (IHO)...31 3.3. Parâmetro S...35 3.3.1. Efeitos da textura do solo...38 3.3.2. Efeito da compactação...39 3.3.3. Efeito da matéria orgânica...41 3.4. Micromorfologia do solo...42 4. Considerações finais...45 Referências...47 4

1. INTRODUÇÃO A qualidade do solo vem sendo discutida mais intensamente a partir da década de 90 e continua sendo uma área em expansão. Usualmente, a qualidade do solo baseia-se em três principais aspectos: físico, químico e biológico. A qualidade física de solos para fins agrícolas, pecuários e florestais refere-se, primariamente, as características favoráveis de resistência e de transmissão e estocagem de fluídos na rizosfera (Reynolds et al., 2002). A qualidade física do solo é considerada pobre, quando este apresenta sintomas relacionados à baixa infiltração de água, acentuado escoamento de água de sua superfície, problemas de coesão (solos coesos), baixa aera ção, baixa densidade de raízes e dificuldade de mecanização. Por outro lado, o solo apresenta boa qualidade física quando exibe o oposto, ou não apresenta as condições citadas anteriormente (Dexter, 2004). No entanto, freqüentemente, o solo apresenta vários desses problemas simultaneamente. Esses problemas têm uma causa comum a pobreza estrutural do solo (Oades, 1984; Bronick & Lal, 2005). A qualidade física do solo é considerada importante para a avaliação da degradação do solo e identificação de 5

práticas de manejo sustentáveis de uso da terra. Para mensuração da qualidade física do solo, tem sido sugerida a utilização de suas propriedades físicas, relacionadas a processos que ocorrem no sistema solo-planta (Doran & Parkin, 1996; Schoenholtz et al., 2000). Dentre essas propriedades físicas utilizadas destacamse: a densidade do solo, a estrutura do solo, a porosidade do solo (macro e microporosidade), a capacidade de retenção de água, a temperatura do solo, a estabilidade de agregados, a capacidade de infiltração do solo, a resistência à penetração, condutividade hidráulica, dentre outras (Doran & Parkin, 1996; Schoenholtz et al., 2000; Reynolds et al., 2002). Para o manejo de solos tropicais com ênfase na física do solo, de modo a reduzir a degradação do solo e melhorar a qualidade ambiental, algumas prioridades de pesquisa tem sido destacadas, como a necessidade de avaliar as principais limitações de ordem física do solo em escala de propriedade rural e desenvolver indicadores físicos de qualidade do solo (Lal, 2000). Neste contexto, recentemente, tem sido desenvolvidos parâmetros físicos, que integram propriedades físicas do solo, tais como o intervalo hídrico ótimo (IHO) (Silva et al., 1994), 6

a densidade relativa do solo (Carter, 1990) e o parâmetro S (Dexter, 2004). Portanto, este livro tem o intuito de discorrer sobre a utilização de indicadores físicos na avaliação da qualidade do solo, assim como abordar algumas tendências atuais, envolvendo a utilização de indicadores físicos de qualidade do solo. 7

2. QUALIDADE DO SOLO 2.1. Conceito e importância A partir dos anos 90, tem aumentado o interesse no estudo sobre a qualidade do solo, o que se comprova no aumento crescente de trabalhos indexados em periódicos internacionais, em que consta o termo soil quality (Figura 1). Contrariamente a outros conceitos como a qualidade da água e qualidade do ar, a qualidade do solo não possui padrões, nem têm sido criadas regulamentações para manter a qualidade do mesmo. Mas, o que vem a ser qualidade do solo? Consultando a literatura especializada, encontraram-se múltiplas definições (Warkentin, 1995; Karlen et al., 1997; Sojka & Upchurch, 1999; Letey et al., 2003), o que sugere que o conceito de qualidade do solo continua evoluindo. Singer & Ewing (1999) enfatizam que o termo qualidade do solo não é idéia nova. Os autores mencionam que, historicamente, a qualidade do solo tem sido comparada à produtividade agrícola. Além disso, Singer & Ewing (1999) referem-se ao Índice de Storie e ao Sistema de Capacidade de 8