CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 1ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: Angel s Serviços Técnicos LTDA Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assunto(s): COORDIGUALDADE 06.01.01 Procurador oficiante: Wilson Roberto Prudente Necessidade de mais detalhados e possíveis elementos de prova nos autos que não autoriza, nesta fase, o encerramento da tarefa investigatória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. Arquivamento não homologado. RELATÓRIO Trata-se de procedimento administrativo instaurado em face da empresa Angel s Serviços Técnicos LTDA, em razão das denúncias às fls. 04 e 05, cujo teor é o seguinte: DENÚNCIA FL. 04. Após determinação do Ministério Público do Trabalho juntamente com o Tribunal de Contas da União e o Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão, onde funcionários que prestavam serviços 1
administrativos foram substituídos por concursados, iniciouse a demissão em massa dos obreiros que prestavam serviço para o Hospital dos Servidores do Estado, através de empresa terceirizada, dentre elas a denunciada. A referida empresa está agindo contrária a lei, ou seja, não quer pagas as verbas rescisórias devidas aos empregados que forma dispensados e está coagindo aqueles que não querem fazer acordo submetendoos a situações degradantes, ou seja, o funcionário que se recusa a assinar é submetido a tortura psicológica sendo mantido numa sala sem ventilação tendo que cumprir uma jornada de trabalho de oito horas diárias, olhando um para a cara do outro, pois se recusam a assinar o termo ao qual eu assinei para evitar passar por essa situação humilhante e constrangedora. E caso esses funcionários venha cochilar na sala,, são punidos com advertência. Estou relatando tal ocorrido pois eu fui uma das empregadas demitidas que assinei o documento nos termos da empresa, onde um funcionário de nome Damião disse-me que a empresa havia zerado a possibilidade de pagar minhas verbas rescisórias devidas em função de 40% de multa do FGTS paga pela mesma. Isto tudo somado a um formulário que o funcionário tem que preencher de pedido de desligamento da empresa com perguntas bem capciosas, tipo: porque motivo você está se desligando da emrpesa? E os itens correspondentes a resposta são os mais absurdos como : você não se dá com seu chefe e seus colegas de trabalhos; falta muito ao trabalho; demissão, etc. DENÚNCIA FL. 05. A Empresa Angels Serviços Técnicos, CNPJ 685.6553.0001-10, atualmente presta serviços para o Hospital dos Servidores do Estado, que fica localizado na Rua Sacadura Cabral, n 178 bairro saúde. Devido ao concurso ocorrido em 2005, para o ministério da saúde, o hospital dos servidores estao convocando os aprovados, com isso dispensando os funcionários da Angels serviços técnicos. 2
Segundo informações dos funcionários da Angels, ficou acordado com a Direção do Hospital do Servidores, que os funcionários dispensados receberiam seus direitos. Mas isso não ocorre. Os funcionários dispensados, são enviados para sede da Angel s localizado na Av Nova York, 284. Estando na sede, o funcionário identificado como Damião, informa que não será pago a verba rescisória (aviso prévio, proporcional de férias e 13º), os funcionários que não aceitam o acordo, são colocados em uma sala fechada, sem janela; apenas um vidro com isul film, permanecendo dias ate que pessoa não resiste e pressão psicológica e constrangimento e aceitam o acordo. Resaltando que a pessoas idosas nesta situação. Em media 46 funcionários vivem este constrangimento desumano; caracterizando Assedio moral. As consequências dessas tensões (=pressões) repercutem na vida cotidiana do trabalhador, com sérias interferências na sua qualidade de vida, gerando desajustes sociais e transtornos psicológicos. Peço em caráter de urgência que seja tomada providências, pq este fato vai ocorrer no decorrer dos meses, porque somente os funcionários mais chegados aos diretores e gerentes da emrepsa são relocados em outra empresa em que a Angels mantem contrato. O ilustre Órgão ministerial oficiante promoveu o arquivamento do presente procedimento sob os seguintes fundamentos (fl. 63-64), verbis: Feita Apreciação Prévia, o Procurador Oficiante determinou a convolação da representação em Procedimento Preparatório de Inquérito Civil, bem como a designação de audiência. Fls. 23. Por ocasião da realização da audiência, a Presidência propôs a celebração de um TAC, o que foi recusado pelo advogado da empresa investigada. Desta forma a Presidência determinou 3
que a Denunciada juntasse aos autos relação nominal de empregados que se encontram prestando serviço no hospital dos servidores. Fls. 37/47. A empresa investigada forneceu relação nominal, conforme consignado em audiência. Fls. 48. O Procurador Oficiante determinou a designação de audiência com empregados da empresa investigada. Fls. 61. Após a oitiva dos empregados da Denunciada, a Presidência concluiu que os depoimentos infirmam a denúncia de fls. 04 que também não veio a ser comprovada pelo relatório fiscal de fls. 34/35. Sendo assim, a Presidência determinou o arquivamento da presente. autos a esta Relatora. Por distribuição deste feito na CCR/MPT, vieram os É o relatório. VOTO-FUNDAMENTAÇÃO Data venia dos argumentos expedidos pelo digno Procurador proponente, entendo não caiba, por ora, a cessação da tarefa persecutória ao encargo do Ministério Público do Trabalho. O ofício oriundo do Ministério do Trabalho e Emprego às fls. 34/35, tampouco os depoimentos de fls. 58 a 60 infirmam 4
os termos das denúncias acima transcritas. Na verdade, nada deles (ofício e depoimentos) se extrai de proveitoso ao deslinde do presente procedimento. O ofício acima referido, impropriamente denominado de relatório fiscal pelo i. Órgão oficiante, não se presta a suportar o encerramento das investigações, mormente quando em seu corpo traz considerações insatisfatórias e descabidas do quanto aqui investigado. Deste quadro não se destoa os depoimentos acima referidos, porquanto os depoentes apenas se limitaram em informar que não foram atingidos pelas denunciadas demissões em massa e que estão recebendo salário ou verbas rescisórias, conforme o caso. A manifesta gravidade do assédio moral denunciado ( A referida empresa está agindo contrária a lei, ou seja, não quer pagas as verbas rescisórias devidas aos empregados que forma dispensados e está coagindo aqueles que não querem fazer acordo submetendo-os a situações degradantes, ou seja, o funcionário que se recusa a assinar é submetido a tortura psicológica sendo mantido numa sala sem ventilação tendo que cumprir uma jornada de trabalho de oito horas diárias, olhando um para a cara do outro, pois se recusam a assinar o termo ao qual eu assinei para evitar passar por essa situação humilhante e constrangedora. E caso esses funcionários venha cochilar na sala,, são punidos com advertência. (fl. 04). Estando na sede, o funcionário identificado como Damião, informa que não será pago a verba rescisória (aviso prévio, proporcional de férias e 13º), os funcionários que não 5
aceitam o acordo, são colocados em uma sala fechada, sem janela; apenas um vidro com isul film, permanecendo dias ate que pessoa não resiste e pressão psicológica e constrangimento e aceitam o acordo. (fl. 05)), confere legitimação à atuação do Ministério Público do Trabalho, por se tratar de conduta lesiva ao direito fundamental da dignidade da pessoa humana, erigido como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, por força do contido no inciso III, do artigo 1º, de nossa Carta Política de 1988. Quanto ao não pagamento de salários e de verbas rescisórias, os poucos depoimentos tomados neste feito não são suficientes a comprovação de que tais irregularidades não estão a atingir a coletividade de trabalhadores da empresa denunciada. A continuidade investigatória é medida que se impõe diante dos gravíssimos fatos denunciados, para que, com segurança, seja possível afirmar acerca da correta ou não adequação da representada. A ausência de mais apurada investigação neste feito não autoriza o seu precoce arquivamento, e, muito menos a superveniente homologação. CONCLUSÃO Pelo exposto, voto no sentido de NÃO HOMOLOGAR a proposta de arquivamento. 6
para as providências cabíveis. Retornem os presentes autos à PRT de origem Brasília, 09 de maio de 2011. VERA REGINA DELLA POZZA REIS Subprocuradora-Geral do Trabalho Membro da CCR/MPT - Relatora 7