OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES: Território, Coesão e Governança Democrática



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES: Território, Coesão e Governança Democrática Relatório de Pesquisa Dimensão socioespacial da Exclusão/Integração nas metrópoles: Região Metropolitana de São Paulo (Parte II) Rio de Janeiro, Outubro de 2008

Equipe Técnica Luiz Cesar de Queiros Ribeiro (Coordenador) Rômulo Ribeiro Colaboração Juciano Martins Rodrigues Arthur Molina Moreira Ricardo Sierpe Silva Vidal Observatório das Metrópoles www.observatoriodasmetropoles.ufrj.br

Exclusão na Região Metropolitana de São Paulo - RMSP Visão Geral O processo de exclusão pode ser caracterizado pela impossibilidade de acesso às condições mínimas de qualidade de vida, como por exemplo, capacidade de sustento da família, educação, saneamento, lazer, dentre outros aspectos. O principal fator de exclusão, que encontramos presente na sociedade brasileira, refere-se à renda familiar, pois a baixa remuneração ou uma remuneração irregular, comum em situações de trabalho informal 1, impede que as famílias, envolvidas nesta situação, tenham acesso às melhores condições de infra-estrutura, equipamentos e serviços. Elas só podem se instalar em locais afastados e que comumente oferecem riscos à saúde e a vida. Num primeiro momento optamos por escolher a renda como principal fator de exclusão, uma vez que sem as condições financeiras mínimas, a população não tem como ter acesso aos equipamentos, serviços e lazer de qualidade. Assim, definimos quatro faixas de representação: Situação de Pobreza ganho menor que 2 salários mínimos; Situação de Não Pobreza ganho acima de 2 salários mínimos; Distribuição Igual setores censitários onde as porcentagens de pobres e não pobres são iguais, com variação de 5%; e Setores Sem População. Ressaltamos que os dados utilizados são referentes ao Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2001), para setor com situação urbana (definidos pelo IBGE), no qual o valor de referência para o salário mínimo é de R$ 151,00, e a base espacial refere-se aos setores censitários do Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2002). As análises geradas por este estudo são descritivas, baseadas em processos matemáticos e estatísticos, uma vez que, para uma análise mais completa, é necessário o trabalho em conjunto com pesquisadores que conheçam o processo histórico de formação do espaço urbano, assim, teremos 1 Entendemos como trabalho informal aquele que não oferece carteira assinada e nem faz os recolhimentos dos encargos trabalhistas.

uma visão sistêmica da área de estudo. Desta forma, apresentamos aqui a parte inicial dos resultados obtidos. Na RMSP verificamos que 30,26%, das pessoas responsáveis por domicílio permanente, encontram-se em situação de pobreza. Número alto, pois corresponde a 1.444.608 de pessoas que têm ganho mensal abaixo de 2 salários mínimos Para a RMSP podemos verificar pela Figura 1 que a situação de pobreza está dispersa nos municípios da RM, sendo que, visualmente, a uma leve tendência de agrupamento de setores censitário em Situação de Pobreza próximos ao centro do município de São Paulo. Em relatório anterior mostramos que as condições de vida neste município são melhores que nos demais, o que o transforma em um pólo de atração. Como o custo de vida neste município é alto, parte da população não consegue se manter morando próximo ao centro, assim, ela migra para regiões mais afastadas, causando uma faixa de redução de qualidade de vida em volta do município pólo.

Figura 1 Distribuição de pobres e não pobres na RMSP por setor censitário. O Quadro 1 mostra a distribuição das situações de pobreza, não pobreza e de distribuição igual nos municípios que compõem a RMSP. A definição da situação de pobreza e de não pobreza se deu pelas características de cada setor censitário, assim, os setores que tivessem mais de 50% de sua população com ganho menor que 2 salários mínimos, foram considerados com em situação de pobreza. Os setores censitários com mais de 50% de sua população com ganho igual ou acima de 2 salários mínimos, foram considerados como em situação de não-pobreza. Depois, agrupamos os setores por município, para obtermos um panorama geral da distribuição de renda.

Quadro 1 Distribuição das situações de pobreza, não pobreza e distribuição igual por município. Município % Situação de % Situação de Não Pobreza Pobreza Definição Arujá 35,78 64,22 Situação de Não Pobreza Barueri 36,11 63,89 Situação de Não Pobreza Caieiras 29,73 70,27 Situação de Não Pobreza Cajamar 34,27 65,73 Situação de Não Pobreza Carapicuíba 36,23 63,77 Situação de Não Pobreza Cotia 35,32 64,68 Situação de Não Pobreza Diadema 35,68 64,32 Situação de Não Pobreza Embu 40,72 59,28 Situação de Não Pobreza Embu-Guaçu 42,49 57,51 Situação de Não Pobreza Ferraz de Vasconcelos 41,39 58,61 Situação de Não Pobreza Francisco Morato 49,71 50,29 Distribuição Igual Franco da Rocha 39,48 60,52 Situação de Não Pobreza Guarulhos 34,37 65,63 Situação de Não Pobreza Itapecerica da Serra 43,12 56,88 Situação de Não Pobreza Itapevi 46,35 53,65 Situação de Pobreza Itaquaquecetuba 47,16 52,84 Situação de Pobreza Jandira 34,56 65,44 Situação de Não Pobreza Mairiporã 36,61 63,39 Situação de Não Pobreza Mauá 36,78 63,22 Situação de Não Pobreza Moji das Cruzes 32,62 67,38 Situação de Não Pobreza Osasco 32,86 67,14 Situação de Não Pobreza Poá 36,76 63,24 Situação de Não Pobreza Ribeirão Pires 31,87 68,13 Situação de Não Pobreza Rio Grande da Serra 43,85 56,15 Situação de Não Pobreza Santa Isabel 40,76 59,24 Situação de Não Pobreza Santana de Parnaíba 36,55 63,45 Situação de Não Pobreza Santo André 26,27 73,73 Situação de Não Pobreza São Bernardo do Campo 26,62 73,38 Situação de Não Pobreza São Caetano do Sul 16,78 83,22 Situação de Não Pobreza São Paulo 27,46 72,54 Situação de Não Pobreza Suzano 38,63 61,37 Situação de Não Pobreza Taboão da Serra 34,52 65,48 Situação de Não Pobreza Vargem Grande Paulista 35,63 64,37 Situação de Não Pobreza O mesmo raciocínio foi utilizado para agrupamento das situações por grau de integração, de forma que pudéssemos avaliar a distribuição destas variáveis por integração na metrópole. A única situação presente foi a de não pobreza. Assim, os municípios com diferentes graus de integração apresentaram o mesmo resultado para sua classificação, não sendo possível estabelecer relações entre os resultados. (Quadro 2).

Quadro 2 Distribuição das situações de pobreza e não pobreza por grau de integração. Grau de % Situação % Situação de Integração de Pobreza Não Pobreza Definição Pólo 27,46 72,54 Situação de Não Pobreza Muito Alto 33,74 66,26 Situação de Não Pobreza Alto 37,12 62,88 Situação de Não Pobreza Médio 33,87 66,13 Situação de Não Pobreza As figuras 2a) e 2b) ilustram espacialmente as situações de pobreza e não pobreza. Na Figura 2a) temos a representação por município, onde podemos verificar que apenas o município de São Paulo tem diferença nas situações de renda, enquanto que os demais municípios apresentaram condições semelhantes de situação de não pobreza. A Figura 2b), onde temos a representação por Grau de Integração, os municípios apresentam a mesma situação de renda, não sendo observada nenhuma variação. a) b) Figura 2 - a) Distribuição da Situação de Renda por município da RMSP. b) Distribuição da Situação de Renda por Grau de Integração. Desta forma, podemos afirmar que a situação de renda na RMSP é boa, uma vez que não foram encontradas variações nos municípios periféricos. Apenas o município de São Paulo apresentou variação, por ser um pólo histórico de atração populacional, esperávamos que a maior contração de pobreza ocorresse neste município. Em continuidade de nossa análise, trataremos dos setores subnormais, de acordo com o levantamento e classificação do IBGE, a partir dos dados do Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2001; 2002).

Visão a partir dos Setores Censitários Subnormais Tomamos como unidade de análise os setores subnormais, por representam situações críticas de existência no meio urbano. Segundo o IBGE (2002), podemos definir estes setores como sendo conjunto constituído por um mínimo de 51 domicílios, ocupando ou tendo ocupado até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular), dispostos, em geral, de forma desordenada e densa, e carentes, em sua maioria, de serviços públicos essenciais. Os dados utilizados em nossas análise foram obtidos a partir dos dados do agregado por setores censitários do Censo Demográfico de 2000 (IBGE, 2002). Desta forma, pretendemos caracterizar estas localidades por representarem áreas de grande interesse social, no que tange à melhoria de qualidade de vida e eqüidade social. A RMSP possui 9,55% de sua população habitando em condições subnormais. Os setores subnormais da RMSP possuem 1.624.717 pessoas, sendo que 53,46% destas pessoas encontram-se no município pólo. É interessante notar que nos municípios de médio grau de integração não foi encontrada a situação de subnormalidade. O Quadro 3 mostra a distribuição da população por grau de integração. Quadro 3 Distribuição da população em setores subnormais por grau de integração. Integração População_SubN Pop Total %Pop SubN Pólo 868.659 9.813.187 8,85% Muito Alta 732.952 5.546.554 13,21% Alta 23.106 1.284.103 1,80% Total 1.624.717 16.643.844 9,76% População_SubN Pop Total %Pop SubN População nos setores subnormais População total por classe de Integração Porcentagem da população subnormal em relação ao total da população O Quadro 4 mostra a distribuição de resultados de exclusão social, nos setores subnormais, a partir do grau de integração. Foi calculada a média dos valores nos setores subnormais por grau de integração. O cálculo dos índices de

exclusão/inclusão social foi realizado tomando-se todo o conjunto da RMSP, consideramos que, para termos uma visão mais realística destes setores, temos que analisá-los em relação a todo o conjunto metropolitano. Quadro 4 Distribuição das médias dos índices de exclusão/inclusão social por grau de integração. Integração Média Média Média Média Média IEXC_ARCF IEXC_DH IEXC_EQ IEXC_QV IEXF_EXC/INC Pólo -0,151-0,214 0,025 0,537-0,007 Muito Alta -0,143-0,152-0,048 0,576 0,006 Alta -0,251-0,219-0,042 0,383-0,125 Média IEXC_ARCF Média IEXC_DH Média IEXC_EQ Média IEXC_QV Média IEXF_EXC/INC Média da Autonomia de Renda dos Chefes de Família por setores subnormais Média da Desenvolvimento Humano por setores subnormais Média da Eqüidade por setores subnormais Média da Qualidade de Vida por setores subnormais Média do Índice de Exclusão/Inclusão Social por setores subnormais O Gráfico 1 ilustra a relação entre os graus de integração. Observamos que há uma tendência no aumento da exclusão à medida que reduzimos o grau de integração, isto é, nos afastamos do município pólo. Isto significa que, as pessoas, que já se encontram em situação crítica, habitando em setores subnormais, têm melhores condições nas regiões mais integradas do que nas menos integradas. O que continua a reforçar nossa análise anterior, que a proximidade com o município pólo propicia maior acesso a qualidade de vida.

0,6 0,5 0,4 0,3 Exclusão Média 0,2 0,1 Pólo P-MA P-MA-A P-MA-A-Md 0 Média_IEXC_ARCF Média_IEXC_DH Média_IEXC_EQ Média_IEXC_QV Média_IEXF_EXC/INC -0,1-0,2-0,3 Índices de Exclusão/Inclusão Social Gráfico 1 Distribuição dos índices de exclusão/inclusão social por grau de integração. Quando analisamos a partir do agrupamento dos graus de integração, verificamos que ocorre uma estabilização dos valores, pois como pode ser visto no Quadro 5, praticamente não há alteração entre os conjuntos. O que notamos é que nestes setores as condições de vida são ruins, apresentando valores altos de exclusão (valores negativos) ou valores muito baixos de inclusão (valores próximos a zero). A diferença continua sendo para o índice de qualidade de vida, que apresenta valores altos de inclusão social (valores próximos a 1). Quadro 5 Distribuição das médias dos índices de exclusão/inclusão social por agrupamento do grau de integração. Integração Média Média Média Média Média IEXC_ARCF IEXC_DH IEXC_EQ IEXC_QV IEXF_EXC/INC Pólo -0,0803-0,0759-0,0160 0,5197-0,0548 P-MA -0,1509-0,2480-0,0614 0,4702-0,0246 P-MA-A -0,1219-0,0476-0,0105 0,4646-0,0144 P-MA-A-Md -0,1491-0,1847-0,0109 0,5520-0,0031 Pólo P-MA P-MA-A P-MA-A-Md Município Pólo Rio de Janeiro Pólo e Muito Alto Grau de Integração Pólo, Muito Alto e Alto Grau de Integração Pólo, Muito Alto, Alto e Médio Grau de Integração

Analisamos também o comportamento dos dados à medida que nos afastamos do centro social. Os resultados obtidos mostram a grande concentração de população em condições subnormais próxima ao centro social, o que pode indicar que a necessidade de acesso a trabalho, equipamentos, serviços, dentre outros, faz com que estas pessoas busquem esta proximidade, habitando em condições ruins. 25,00% 20,00% % de População Subnormal 15,00% 10,00% 5,00% 0,00% 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Distância ao Centro Social (km) Gráfico 2 Porcentagem de população em condições subnormais à medida que se afasta do centro social. O Gráfico 3 mostra, mesmo suavemente, que há uma tendência de maior densidade populacional próxima ao centro social. Outra informação interessante, é a alta densidade populacional em todas as distâncias, indicando a alta concentração de pessoas em pequenas áreas.

700 600 Densidade em População Subnormal (hab/ha) 500 400 300 200 100 0 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Distância ao Centro Social (km) Gráfico 3 Densidade populacional, referente à população em condições subnormais, à medida que se afasta do centro social. A distribuição dos índices de exclusão/inclusão social mostra que quanto mais próxima ao centro social, maiores são as condições de inclusão. Os resultados altos (próximos a 1) indicam que as pessoas que ali habitam têm melhores condições de vida, mesmo estando em condições subnormais, pois a proximidade com as áreas mais favorecidas permite, também, o acesso, às melhores condições, aumentando a integração destas áreas. O Gráfico 4 a) a e) mostra a distribuição dos índices de exclusão/inclusão social à medida que nos afastamos do centro social. O que observamos é o comportamento comum já citado, a maior proximidade do centro social favorece à inclusão social.

a) 1 b) 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 Média do IEx ARCF 0,2 0-0,2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Média do IEx DH 0,2 0-0,2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35-0,4-0,4-0,6-0,6-0,8-0,8-1 -1 Distância ao Centro Social (km) Distância ao Centro Social (km) c) d) 1 1 0,8 0,8 0,6 0,6 0,4 0,4 Média do IEx QV 0,2 0-0,2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Média IEx EQ 0,2 0-0,2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35-0,4-0,4-0,6-0,6-0,8-0,8-1 Distância ao Centro Social (km) -1 Distância ao Centro Social (km) 1 0,8 0,6 0,4 Média do IEx de EXC/INC 0,2 0-0,2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35-0,4-0,6-0,8-1 Distância ao Centro Social (km) e) Gráfico 4 Distribuição das médias dos índices de exclusão/inclusão social à medida que se afasta do centro social. a) IEx Autonomia de Renda dos Chefes de Família Iex ARCF; b) IEx Desenvolvimento Humano Iex DH; c) IEx Qualidade de Vida Iex QV; d) IEx EQ Iex Eqüidade; e) IEx Exclusão/Inclusão Social Iex EXC/INC.

A única diferença de comportamento ocorre para a média do índice de qualidade de vida, pois, próximo ao centro social ocorre baixos valores (negativos), depois temos um crescimento (entre os quilômetros 5 e 20), depois ocorre um decréscimo suave (entre os quilômetros 21 e 32), passando a um decréscimo abrupto nos quilômetros finais. Mais uma vez, este índice merece destaque e deve ser estudado de forma mais acurada, a fim de esclarecer o comportamento tão diferenciado dos outros índices. Considerações Os dados espaciais da situação de pobreza e não pobreza geraram informações importantes, principalmente no que se refere à localização espacial dela. A faixa formada em torno do município pólo é muito clara e que representa um padrão clássico de ocupação em torno do município mais rico (Figura 1). Os assentamentos subnormais são, basicamente, caracterizados por serem desprovidos de qualidade construtiva, equipamentos, serviços públicos, lazer, dentre outras características. São localidades, normalmente, geradas por ocupações irregulares, muitas vezes próximas aos centros geradores de economia. Consideramos que os métodos utilizados para a caracterização dos setores subnormais foram eficientes no que se refere à geração de informações socioeconômicas de forma espacial, o que permite a identificação de sistemas diferentes de ocupação, bem como ocorre este tipo de ocupação na RMSP. Na RMSP os setores subnormais também são caracterizados pela alta exclusão social, o que temos de diferente é que proximidade do centro social traz benefícios à população que ali habita. Em alguns aspectos, aumentando a inclusão social desta população. O que deve ser observado em pesquisas futuras é que, apesar do aumento da inclusão social em função da proximidade, devem-se avaliados aspectos como qualidade construtiva, posse do imóvel, qualidade sócio-ambiental, para que assim, possamos entender melhor estas ocupações.

Referências Bibliográficas GENOVEZ, P. C, Território e Desigualdades: Análise Espacial Intraurbana no Estudo da Dinâmica de Exclusão/Inclusão Social no Espaço Urbano em São José dos Campos SP, Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, São José dos Campos, SP, 2002. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/teses/genovez.htm>. Acesso em: 20/10/2003. GENOVEZ, P. C., CAETANO, N. R. & ESTRADA, R. D., Análise Espacial e Estatística da Metodologia de Construção do Índice de Exclusão/Inclusão Social: Relativo à Área Urbana de São José dos Campos SP (Censo IBGE 1991), São José dos Campos, SP, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, 2000. Disponível em <http://www.dpi.inpe.br/geopro/exclusao>. Acesso em: 20/10/2003. IBGE, Censo Demográfico de 2000. Características da População e dos Domicílios. Resultado do Universo, Rio de Janeiro, RJ, IBGE, 2001. CD-ROM. IBGE, ESTATCART Sistema de Recuperação de Informações Georreferenciada, Rio de Janeiro, RJ, IBGE, versão 1.1, 2002. CD-ROM. KOGA, D., Medida das Cidades Entre Territórios de Vida e Territórios Vividos. São Paulo, SP, Cortez, 2003. 299p. RIBEIRO, R. J. C., Geotecnologias em Apoio à Aplicação de Instrumentos de Política Urbana. Brasília, DF, Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 2003. SPOSATI, A., Cidade, Território, Exclusão/Inclusão Social, Congresso Internacional de Geoinformação GeoBrasil, 2000 a. In: GENOVEZ, P. C, Território e Desigualdades: Análise Espacial Intraurbana no Estudo da Dinâmica de Exclusão/Inclusão Social no Espaço Urbano em São José dos Campos SP, Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, São José dos Campos, SP, 2002. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/teses/genovez.htm>. Acesso em: 20/10/2003. SPOSATI, A., Mapa da Exclusão/Inclusão Social da cidade de São Paulo: dinâmica social dos anos 90, São Paulo, SP, CDRom, 2000 b. In: GENOVEZ, P. C, Território e Desigualdades: Análise Espacial Intraurbana no Estudo da Dinâmica de Exclusão/Inclusão Social no Espaço Urbano em São José dos Campos SP, Dissertação de Mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, INPE, São José dos Campos, SP, 2002. Disponível em: <http://www.dpi.inpe.br/teses/genovez.htm>. Acesso em: 20/10/2003.