edição nº 1 2015 2ª reimpressão BULLYING: Como identificar, prevenir e administrar.
coletâneas do centro de psicologia BULLYiNG NA ESCOLA Annelise H. Hilling Maisa P. Pannuti Vera Regina Miranda Volume 2 1ª Edição 2ª reimpressão Curitiba 2015 UNIVERSIDADE Psicologia
Créditos Departamento de Marketing da Universidade Positivo 2015 Diretor do Núcleo de Ciências Humanas e Sociais Professor Manoel Knopfholz Atendimento: Lizandra Nascimento Expediente Autoras: Annelise H. Hilling Maisa P. Pannuti Vera Regina Miranda Coordenador do curso de Psicologia: Raphael Di Lascio Capa e projeto gráfico: Jessica Zanon Baja Raphael Vinicius de Souza Diagramação: Raphael Vinicius de Souza Fotos e ilustrações: ThinkStock Photos Revisão de texto: João Lemos Apoio: Serviço de Psicologia Escolar Direitos desta edição reservados à Universidade Positivo Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300, CEP 81.280-330, Campo Comprido, Curitiba Paraná Telefone: +55 (41) 3317-3000 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo Curitiba PR H6654 Hilling, Annelise H. Bullying na escola / Annelise H. Hilling, Maisa P. Pannuti, Vera Regina Miranda Curitiba : Universidade Positivo, 2015. 18 p.: il. (Coletâneas do Centro de Psicologia; 2) ISBN 978-85-99941-49-2 1. Bullying. 2. Psicologia social. 3. Comportamento social. I. Hilling, Annelise H. II. Pannuti, Maisa P. III. Miranda, Vera Regina. IV. Título. CDU 159.922.8
Apresentação CARTILHA BULLYING NA ESCOLA O que significa BULLYING? Como identificar, prevenir e administrar? Olá! Esta cartilha foi elaborada no sentido de ajudar a identificar, prevenir e lidar com o bullying, fenômeno que atinge muitas crianças e jovens em idade escolar. O que é bullying? A palavra inglesa bullying deriva de bully, que significa valentão. Segundo Fante (2005), consiste em: Forma de comportamento cruel e um tipo de violência com características próprias, em que os mais fortes atormentam a vida dos mais frágeis, mediante brincadeiras com propósitos de intimidar, magoar e maltratar; Desnível de poder, sendo que a vítima apresenta dificuldades para se defender; Repetição (é preciso haver, pelo menos, três ataques contra a vítima); Intencionalidade: há vontade de fazer sofrer e magoar o outro. O bullying é um fenônomeno moderno? Apesar de ser um fenômeno antigo, só começou a ser estudado na década de 1970, sendo que um dos pioneiros a empreender trabalhos sobre a temática foi Dan Olweus, na Noruega, que detectou as primeiras características do bullying, estabelecendo uma distinção entre essa prática e outros tipos de violência.
Então quer dizer que todo tipo de violência pode ser considerado bullying? Para responder a essa pergunta, vamos imaginar duas cenas: Cena 1: Em uma escola de Educação Infantil, duas crianças de quatro anos estão brincando no tanque de areia quando uma delas retira a pá da mão da outra, a qual começa a chorar. A criança que retirou o brinquedo ri e chama a coleguinha de chata. Cena 2: Garotos de oito anos estão jogando futebol quando um deles, que não é considerado habilidoso pelo time, perde um gol feito. Todos partem para cima dele chamando-o de perna de pau. Será que isso pode ser considerado bullying? Será que esse nosso pequeno craque está sofrendo bullying? As duas cenas retratam exemplos corriqueiros do cotidiano infantil e desvelam expressões de críticas negativas entre pares, que podem ocorrer. Portanto:
Nem tudo é bullying, pois a agressividade faz parte das relações entre crianças. Além das situações peculiares do dia a dia das escolas, pais e crianças estão expostos à mídia, que noticia situações frequentes de violência que, muitas vezes, são confundidas com bullying. Nesses momentos, surge a angústia dos pais, que se sentem inseguros e sem recursos para saber exatamente o que está acontecendo com o filho em suas relações na escola. Também se questionam sobre possíveis danos psíquicos que esses confrontos podem ocasionar a seus filhos, com destaque para o desenvolvimento deles em tais situações. A ausência de clareza conceitual sobre o termo, a abordagem muitas vezes distorcida da mídia, a falta de conhecimento dos comportamentos infantis e a interpretação apressada dos pais ou professores geram posicionamentos equivocados ou imprecisos a respeito do significado de bullying e atitudes que simplesmente poderiam consistir em aspectos inerentes ao relacionamento social entre crianças acabam sendo caracterizadas inadequadamente como bullying, conforme exemplos retratados nas cenas 1 e 2. Crianças dos anos iniciais do Ensino Fundamental, por exemplo, enfrentam diversos conflitos interpessoais, pois nessa etapa da vida aprende-se a delimitar espaços, o que promove exercícios de combatividade dos quais resultam expressões de agressividade verbais e/ou corporais, considerados muitas vezes como violência escolar. A escola é um espaço educativo no qual, além de aprender em os conteúdos pedagógicos, as crianças constroem suas relações com o conhecimento e a cultura, e reproduzem nessas ligações todas as complexidades sociais, inclusive a violência. Não se pode esquecer que essas relações adquirem particularidades próprias do ambiente escolar.
Mas, quais são as principais características do bullying? Segundo o Conselho Nacional de Justiça (2010), o bullying pode ser considerado todo comportamento agressivo que acontece no ambiente escolar de maneira intencional e repetitiva contra vítimas com dificuldades para se defender. COMO ACONTECE O BULLYING? Esse fenômeno pode ocorrer de várias formas, bem como de maneiras combinadas: Verbal (insultar e apelidar de modo pejorativo); Física e material (bater, empurrar e furtar); Psicológica e moral (humilhar, discriminar, chantagear e difamar); Sexual (abusar, violentar, assediar e insinuar); Virtual (cyberbullying).
O QUE É CYBERBULLYING OU BULLYING VIRTUAL? Esse tipo de bullying é bastante específico, apresentando algumas características próprias: Ataques ocorrem por meio de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas e internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos e vídeos); Propagação instantânea das difamações, não havendo possibilidade de serem extintas; Efeito multiplicador das postagens e, consequentemente, do sofrimento das vítimas; Extrapolação dos muros das escolas e expsição da vítima ao escárnio público, em grande escala; Praticantes valem-se do anonimato e, sem nenhum constrangimento, atingem a vítima da forma mais vil possível; Traumas e consequências dramáticas geram danos na autoestima e na identidade, em um procedimento que torna público aquilo que tem caráter privado.
Vale lembrar que todas as formas de bullying precisam de orientação e ajuda. A análise desse fenômeno deve sempre considerar a tríade de participantes, também denominada por Fante (2005) de protagonistas, a saber: Agressor: caracteriza-se por ser aquele que vitimiza; Vítima: sofre repetidamente as consequências dos comportamentos agressivos; Espectador: presencia as ocorrências. QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Dos Agressores? Pessoas com poucos limites; Fazem brincadeiras de mau gosto e dão apelidos pejorativos; São populares, egocêntricos e arrogantes; Divertem-se com o sofrimento alheio (carência de empatia); Enfrentam e procuram conflitos; Em casa, mantêm uma atitude desafiadora.
e Das vítimas? Mantêm postura de isolamento e de retraimento; São excluídas de atividades; Podem ser atacadas fisicamente e em seus pertences; Têm dificuldade de colocar-se frente às agressões; Encaram conflitos com temor, evitando-os. Quais são as consequências possíveis para os envolvidos, geralmente para as vítimas? Sentimentos de medo, raiva e tristeza; Pensamentos e desejos de vingança; Dificuldades de aprendizagem; Problemas psicossomáticos diversos, como dores de cabeça e de estômago e insônia; Baixa autoestima; Fuga a situações relacionais e acadêmicas; Depressão e suicídio; Condutas delinquenciais.
Quais são as consequências psíquicas possíveis aos agressores? Tanto os agressores quanto as vítimas e os espectadores enfrentam consequências físicas e emocionais a curto e longo prazo, as quais podem causar dificuldades acadêmicas, sociais, emocionais e legais (Rosenstock, 2011). Quando não há intervenções eficazes, o ambiente escolar tornase contaminado, afetando negativamente todas as crianças, que passam a experimentar sentimentos de ansiedade e medo, além de emoções negativas, como raiva, frustração, humilhação, rejeição e isolamento. As consequências a curto prazo são falha nos trabalhos escolares, falta de concentração nas aulas, discussões ou lutas e mudança de amigos; e, a longo prazo, são depressão, diminuição total de interesse na escola, problemas disciplinares, violência contra os outros, fugas e tentativas de suicídio (Barbosa e Santos, 2010). Essas consequências permanecem restritas apenas às vítimas, agressores e espectadores, mas estendem-se à sociedade em geral, que acaba sendo formada por indivíduos com condutas geradoras de violência (Rosenstock, 2011; Francisco e Libório, 2009).
COMO AJUDAR? Todos os fatores envolvidos na prevenção (escola, aluno, família e comunidade) devem ser vistos como uma totalidade que influencia e determina as condutas presentes (Rosenstock, 2011). Vale lembrar que a superação das consequências do bullying depende de vários aspectos: Características individuais: em geral, as crianças não relatam o sofrimento vivenciado na escola, seja por medo de represálias ou vergonha. Além disso, os adultos devem sempre estimulá-las a aprimorar a comunicação de seus sentimentos. Escola (colegas, professores e profissionais): a observação atenta objetivando a identificação precoce do bullying pelos responsáveis (pais e professores) é de suma importância, considerando que as manifestações geralmente ocorrem longe da supervisão do adulto. Relações com a família: a observação dos pais sobre o comportamento dos filhos diante das mudanças de conduta detectadas é fundamental, bem como o diálogo franco entre eles. Auxílio externo envolvendo os contextos escola-família: os pais podem buscar ajuda de profissionais da área da Saúde Mental, para que seus filhos venham a superar traumas e transtornos psíquicos, pois algumas vezes isso se faz necessário. Orientação: é necessário que a escola proporcione meios de manifestação para que as pessoas possam conversar sobre suas diferenças e aceitá-las. O QUE AS CRIANÇAS E JOVENS PRECISAM APRENDER PARA EVITAR O BULLYING? (MIRANDA, 2011) Dividir mais e competir menos; Resolver conflitos, aprimorando recursos de comunicação sem o uso da violência física ou verbal;
Exercitar a empatia e a corresponsabilidade: adultos devem estimular crianças e jovens a analisar as situações sob a ótica do outro e a pensar na sua parte diante dos relacionamentos; Canalizar a agressividade (expressão aceitável) e procurar ampliar os canais de comunicação e o controle da impulsividade; Ouvir com atenção e sensibilidade seus colegas e familiares; Exercitar a assertividade, podendo manifestar verbalmente aquilo de que não gosta ou que gera incômodo sem ofender e humilhar. O QUE A ESCOLA PODE FAZER? (MIRANDA, 2011) A escola desempenha importante papel no trabalho preventivo contra o bullying, podendo ser destacadas algumas estratégias: Envolver um maior número de participantes, pois uma mudança compartilhada com mais pessoas é muito mais rápida e efetiva; Realizar trabalhos com a turma, tais como histórias, jogos e dramatizações; Introduzir uma Urna da Ouvidoria, para que os alunos expressem sigilosamente desconfortos em relação à sala, colegas e escola, sem acumular mágoas, medos e ressentimentos; Estabelecer combinados com alunos, determinando acordos entre o que é considerado adequado e esperado e o que deve ser evitado;
Fornecer orientações a familiares, pais, professores e funcionários, lembrando-os de que todos devem procurar ser modelos positivos de conduta; Organizar grupos de pais, para que eles possam compartilhar aspectos sobre educação de filhos e comunicação, entre outros temas relevantes para o desenvolvimento infanto-juvenil; Realizar encaminhamentos a profissionais (psicoterapeutas) quando necessário. PARA TANTO, ALGUNS VALORES E VIRTUDES DEVEM SER FORTALECIDOS... Amor e respeito a si e aos outros; Coragem e persistência: para superar medos e inseguranças; Alegria: procurar praticar o bom humor e realizar brincadeiras de bom gosto; Temperança: dosar expressões emocionais, sem exacerbar manifestações de agressividade física e verbal. EM RESUMO, TUDO ISSO SIGNIFICA QUE TEMOS UM GRANDE DESAFIO! O desafio consiste em construir a paz no cotidiano, por meio de uma postura ativa e participativa, aprendendo a cuidar bem de si mesmo, dos outros e do ambiente. Para isso, é preciso lembrar que é tarefa dos educadores (pais e professores) auxiliar crianças e jovens a desenvolverem uma capacidade resiliente, para que tenham condições de enfrentar, vencer e serem fortalecidos ou transformados por experiências de adversidade, superando crises que possam surgir na vida.
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