Projeto Sorrisos Intervenção em saúde Oral 0. INTRODUÇÃO A Declaração de Liverpool sobre Promoção da Saúde Oral no século XXI foi assinada em setembro 2005 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Associação Internacional para a Pesquisa Dentária (IADR), Associação Europeia de Saúde Pública Dentária (EADPH) e Associação Britânica de Estudos em Medicina Dentária e Comunitária (BASCD). Esta Declaração consagra a escola como uma das plataformas para a promoção da saúde, da qualidade de vida e da prevenção da doença em crianças e adolescentes e prevê o envolvimento das famílias e restante comunidade. Advoga ainda a organização dos Estados de forma a assegurarem os cuidados primários de saúde oral, com ênfase na prevenção e promoção da saúde, segundo uma medicina baseada na evidência 1. Desta forma, deve ser promovida e apoiada a integração das atividades do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) nos planos curriculares das escolas e jardins de infância, numa abordagem holística da saúde, em que os princípios de uma escola promotora da saúde são o referencial da intervenção e a Rede de Escolas Promotoras da Saúde é o seu paradigma. 2 De acordo com a Direção Geral de Saúde, as doenças orais constituem, pela sua elevada prevalência, um dos principais problemas de saúde da população infantil e juvenil. No entanto, se adequadamente prevenidas e precocemente tratadas, a cárie e as doenças periodontais são de uma elevada vulnerabilidade, com custos económicos reduzidos e ganhos em saúde relevantes. 1 OMS, IADR, EADPH, BASCD, http://www.who.int/entity/oral_health/events/liverpool_declaration. Acedido a 15 de Novembro 2010. 2 Leikin JB, Paloucek FP. Poisoning & Toxicology Handbook. 3th edition. Hudson: Lexi- Comp; 2002; 586-7
No contexto da saúde oral a avaliação do risco na comunidade deve usar uma metodologia precisa, que compreende sequencialmente: 1) A identificação dos fatores de risco; 2) O desenvolvimento de um modelo de avaliação multivariado (modelo de predição), que permita a seleção de fatores identificados com o desenvolvimento de doença e a sua classificação de acordo com a influência na probabilidade de desenvolvimento futuro de doença; 3) A aplicação às populações a monitorizar, para determinação de um perfil de risco; 4) A execução quer de ações quer de prevenção, quer de procedimentos terapêuticos Para uma resposta efetiva e eficaz ao PNSO, elaboramos o projeto Sorrisos, implementada no concelho de Matosinhos com início no ano letivo de 2007/2008. Este projeto pretende dar resposta a problemas de saúde oral diagnosticados, numa perspetiva de integração sistémica de todos os intervenientes na dinâmica Escola-Saúde, com a finalidade de obter ganhos em saúde efetivos. Os objetivos foram elaborados de forma a serem traduzidos em es de resultado que possibilitem quantificar ganhos em Saúde: Aumentar as crianças livres de cáries aos 6 anos e diminuir o Índice de cpod aos 6 anos. 1. METODOLOGIA O projeto sorrisos baseia-se na metodologia de Planeamento em Saúde, em que o diagnóstico se traduz num estudo longitudinal, desenvolvido pelas Equipas de Saúde Escolar/Saúde Pública realizado em parceria com a comunidade escolar. 2. Finalidades Contribuir para a melhoria da saúde oral da comunidade educativa; Melhorar conhecimentos e comportamentos sobre a alimentação e higiene oral; Aumentar a percentagem de crianças livres de cárie; Criar uma base de dados, concelhia sobre saúde oral; Avaliar os ganhos em saúde obtidos com a estratégia de intervenção em saúde oral. Posicionar a saúde oral das crianças/ jovens do concelho de Matosinhos face às metas definidas pela OMS.
3. DESENVOLVIMENTO Um dos es do PNPSO é o Índice de cpod/cpod 3 e a percentagem de crianças livres de cáries aos 6 anos pelo que a intervenção diagnóstica se realiza aos 6 anos, através do exame objetivo e avaliação individual do risco de cárie dentária. O risco individual de cárie dentária, é determinado através de um formulário que inclui: antecedentes pessoais, hábitos alimentares, frequência da ingestão de alimentos, controlo da placa bacteriana, utilização de fluoretos e motivação param a saúde oral. Figura 1 Áreas de intervenção do projeto sorrisos De acordo com o diagnóstico de situação e priorização das necessidades, são efetuadas ações de educação para a saúde, onde se prevê o ensino, a instrução e o treino das determinantes da saúde oral, desde os hábitos alimentares (alimentação cariogenica e cariostatica) à higiene oral e abrangendo os conhecimentos da anatomia e da função dentária. Estas ações englobam não só as crianças mas toda a comunidade escolar - pais/encarregados de educação, professores/educadores e auxiliares de ação educativa, promovendo-se a adesão ao bochecho fluoretado e a adesão à implementação da escovagem nas escolas. 3 Número de dentes cariados, perdidos e obturados por criança (sendo d dentição decídua e D dentição definitiva)
Figura 2 Parcerias do projeto sorrisos Assim, as atividades privilegiadas neste projeto são as educações para a saúde, no jardim de infância e 1º ciclo, pois são as idades alvo onde melhor se desenvolvem as competências valores, atitudes e comportamentos com vista a assegurar ganhos de saúde. A evolução do índice de cpod e risco individual de cárie dentária Com o Diagnóstico de Situação em cada ano letivo, no concelho de Matosinhos, é possível comparar com os dados nacionais, como se pode ver no quadro, e refletir sobre as estratégias e prioridades, reavaliando e reestruturando o projeto de acordo com os resultados obtidos, as necessidades da população e as características de cada comunidade escolar. A Direcção-Geral da Saúde realizou durante o ano de 1999, um estudo de âmbito nacional, com o objetivo de avaliar a prevalência da cárie dentária na população escolarizada de 6, 12 e 15 anos de idade. Deste estudo, destacamos três es: A percentagem de crianças livres de cárie aos 6 anos foi de 33%. É ainda inferior ao preconizado pela Organização Mundial de Saúde (50% para o ano 2010); O índice CPOD, isto é, o número de dentes cariados, perdidos e obturados na dentição permanente, aos 12 anos, foi de 2.95, tendo-se atingido as metas da OMS para 2000 (CPO inferior a 3 para o ano 2000) 4; O Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, elaborado pela DGS em 2008, destaca a importância de, aos 6 anos de idade, 51% das crianças portuguesas estarem livres de cárie, quer na dentição temporária, quer permanente. Dos resultados deste estudo, destacamos ainda o índice CPOD aos 6, 12 e 15 anos, respetivamente de 0,07, 1,48 e de 3,04 5. Apresentação dos resultados concelhios do projeto Gráfico 1 Número de crianças rastreadas entre 2007-2011 4 Estudo Nacional de Prevalência da Cárie Dentária na População Escolarizada / Direcção-Geral da Saúde. Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, 2000, pág. 5. 5 Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, Lisboa: DGS, Julho de 2008, 126 p, ISBN: 978-972-675-164-9
Fonte: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Gráfico 2 Evolução do índice cpod aos 6 anos entre 2007-2011 Fonte: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Gráfico 3 Evolução do índice CPOD aos 6 anos entre 2007-2011 Gráfico 4 Crianças livres de cárie aos 6 anos Fonte: Unidade Local de Saúde de Matosinhos Fonte: Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Gráfico 5 Evolução do alto risco de cárie dentária entre 2007-2011 aos 6 anos Fonte: Unidade Local de Saúde de Matosinhos 4. CONCLUSÃO À semelhança do que acontece com outros programas, o PNPSO defronta-se com novos e intensos desafios à capacidade de assegurar uma ação sustentável e eficaz de molde a garantir ganhos efetivos em saúde oral. Ao longo dos anos letivos foram surgindo alguns constrangimentos/condicionantes à operacionalização do projeto. Destes destacam-se a gripe A (que reduziu a adesão à escovagem nas escolas), a atual conjuntura socioeconómica e a dificuldade na operacionalização da parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos. Com a intervenção metódica do projeto Sorrisos, têm-se obtido melhoria na qualidade da saúde oral, com ganhos em saúde, ilustrados na figura 2.
Figura 3 Ganhos em saúde do projeto Sorrisos entre 2007-2011 Prémios Hospital do Futuro 2011/2012
5. Ficha projeto Área de Intervenção 1.1 PROMOÇÃO DA SAÚDE ORAL Denominação do Programa / projeto Projeto Sorrisos Entidade Proponente DGS Entidade Coordenadora Unidade Saúde Pública de Matosinhos (USP) Entidade Executora Entidade Avaliadora Consultoria Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC): ACES, USP Unidade Saúde Pública de Matosinhos Horizonte Temporal (2007/2008 a 2014/2015) Contribuir para a melhoria da saúde oral da comunidade educativa; Melhorar conhecimentos e comportamentos sobre a alimentação e higiene oral; Aumentar a percentagem de crianças livres de cárie; Finalidade Criar uma base de dados, concelhia sobre saúde oral; Avaliar os ganhos em saúde obtidos com a estratégia de intervenção em saúde oral, que, a nível do Concelho de Matosinhos, tem vindo a ser desenvolvida nos últimos 4 anos; Posicionar a saúde oral dos jovens do Concelho de Matosinhos face às metas definidas pela Organização Mundial de Saúde. Área de intervenção: Concelho de Matosinhos Caracterização Local: Instituições do Ensino Público e IPSS População alvo: Alunos do Jardim-de-infância e 1º ciclo do Ensino básico Objetivos Gerais Aumentar as crianças livres de cáries aos 6 anos e diminuir o Índice de cpod aos 6 anos
Implementar o projeto Sorrisos em 70% dos estabelecimentos de ensino Pré- Escolar na área de abrangência do ACES de Matosinhos, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar o Projeto Sorrisos em 98% dos estabelecimentos de ensino do 1º ciclo na área de abrangência do ACES de Matosinhos, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar o projeto Sorrisos a 50% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, que se encontrem em Educação Pré- Escolar, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar o projeto Sorrisos a 90% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar o projeto Sorrisos a 90% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, no 2º ano do 1º ciclo do ensino básico, até ao ano letivo 2014/2015. Objetivos Específicos Implementar o projeto Sorrisos a 57% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, no 3º ano do 1º ciclo do ensino básico, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar o projeto Sorrisos a 57% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, no 4º ano do 1º ciclo do ensino básico, no ano letivo 2014/2015. Monitorizar o índice cpod da população escolar matriculada no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico (coorte nascimento 6 anos de idade), na área de abrangência do ACES de Matosinhos, até ao ano letivo 2014/2015. Monitorizar o índice CPOD da população escolar matriculada no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico (6 anos de idade), na área de abrangência do ACES de Matosinhos, até ao ano letivo 2014/2015. Reduzir em 0,15 o índice cpod da população escolar matriculada no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico (6 anos de idade), na área de abrangência do ACES de Matosinhos, até ao ano letivo 2014/2015. Monitorizar a percentagem de crianças livres de cárie na população escolar
matriculada no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico (6 anos de idade) na área de abrangência do ACES de Matosinhos até ao ano letivo 2014/2015. Aumentar em 2% a percentagem de crianças livres de cárie na população escolar matriculada no 1º ano do 1º ciclo do ensino básico (6 anos de idade) na área de abrangência do ACES de Matosinhos até ao ano letivo 2014/2015. Implementar a escovagem em 30% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, que se encontrem em Educação Pré- Escolar, até ao ano letivo 2014/2015. Implementar a escovagem em 10% dos alunos matriculados na área de abrangência do ACES de Matosinhos, do 1º ciclo do ensino básico, até ao ano letivo 2014/2015. Estabelecer parceria com os agrupamentos de escolas para enviarem no início de cada ano letivo as informações relativas ao parque escolar. Estratégias Estabelecer parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos, para entrega de Kits de higiene oral às turmas que implementem a escovagem. Produzir material pedagógico dirigido à população alvo (JI e 1º ciclo). Recursos Humanos Enfermeiros, médicos dentistas Espátula de madeira; Luvas; Recursos Materiais Fonte de luz artificial; Computador; Impressora; Material audiovisual (data show). Custos Constrangimentos Profissional envolvido ( / hora x nº de profissionais x nº de horas) No início do ano letivo há ainda alguns processos de transferência de alunos e profissionais de educação, pelo que algumas escolas poderão não conseguir disponibilizar de imediato as informações solicitadas, relativas ao Parque Escolar.
Indicadores do Projeto Atuais : 1. Média do valor da avaliação de risco de cárie dentária dos alunos matriculados no 1º ano do 1º Ciclo do ensino básico Indicador que exprime a média do valor da avaliação do risco individual de cárie dentária de todos os alunos do 1º ano matriculados área de abrangência do ACES de Matosinhos. 2. Média do valor da avaliação de risco de cárie dentária dos alunos matriculados no 4º ano do 1º Ciclo do ensino básico Indicador que exprime a média do valor da avaliação do risco individual de cárie dentária de todos os alunos do 4º ano matriculados área de abrangência do ACES de Matosinhos. 3. Percentagem de estabelecimentos de ensino que foram alvo de intervenção do projeto Sorrisos Indicador que exprime a proporção de estabelecimentos de Ensino que foram abrangidos do projeto Sorrisos. 4. Percentagem de alunos dos estabelecimentos de ensino do Pré-escolar e Ensino Básico que foram alvo do projeto Sorrisos Indicador que exprime a proporção de alunos dos estabelecimentos de ensino do Pré-escolar e Ensino Básico que foram alvo de intervenção do Projeto Sorrisos. 5. Percentagem de alunos do ensino do Pré-escolar que implementam a escovagem Indicador que exprime a proporção de alunos do estabelecimento de Ensino Pré-escolar que implementaram a escovagem. 6. Percentagem de alunos das escolas do 1º Ciclo que implementaram a escovagem dos dentes 7. Índice cpod aos 6 anos 8. Índice CPOD aos 6 anos Indicador que exprime a proporção de alunos dos estabelecimentos do 1º ciclo do ensino básico que implementaram a escovagem dos dentes na escola. Indicador que permite calcular o número médio de dentes cariados, perdidos e obturados na dentição temporária. Indicador que permite calcular o número médio de dentes cariados, perdidos e obturados na dentição permanente. 9. Percentagem de crianças livres de cárie aos 6 anos Indicador que permite aferir a percentagem de crianças livres de cárie aos 6 anos
Bibliografia Circular Normativa nº 01/DSE de 18/01/2005 - Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, 2005 Circular Normativa nº 09/DSE de 19/07/2006 - Avaliação do Risco em Saúde Oral Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, 2006 Estudo Nacional de Prevalência da Cárie Dentária na População Escolarizada / Direcção-Geral da Saúde. Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, 2000. 44 p. ISBN: 972-9425-89-2 Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, Lisboa: DGS, Julho de 2008, 126 p ISBN: 978-972-675-164-9
O Grupo de educação e promoção da Saúde Alice Martins (UCC Senhora da Hora) Carla Pimentel (USP) Carmen Vieira (UCC Leça da Palmeira) Graça Fonseca (UCC Senhora da Hora) Joana Vieira (UCC- S. Mamede Infesta) Marta Valadar (UCC Matosinhos) Pedro Melo (UCC- S. Mamede Infesta) Sandra Santos (UCC Matosinhos) Sérgio Sousa (USP) Teresa Cardoso (UCC Matosinhos)