Ensino Superior a distância: um estudo sobre o papel dos docentes universitários no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB) Silvana Malusá Baraúna 1 silmalusa@yahoo.com.br António José Osório 2 ajosorio@ie.uminho.pt Aldecí Cacique Calixto * Aldeci.cacique@gmail.com O presente trabalho pretende contribuir para um estudo da configuração do papel dos professores universitários envolvidos nos cursos da UAB. Foi analisado um conjunto heterogêneo de documentos do Ambiente Virtual de Trabalho da UAB. A análise documental baseou-se nas categorias gestão da matéria e gestão da classe de Gauthier (1998). Dentre o leque de componentes da gestão da matéria, observou-se que os documentos revelam maior preocupação com a produção do material didático e seu compartilhamento. São pouco evidentes as questões relativas ao conteúdo do ensino e ao ambiente educativo. Percebeu-se, também, que a necessidade de avaliação dos cursos existentes salientou a relevância do estabelecimento de critérios para a criação de novos cursos. Relativamente à gestão da classe, emerge da análise dos documentos um estilo de gestão referenciada pelo material impresso. Paradoxalmente, também se encontraram indicações de uso de outros suportes tecnológicos que permitissem a flexibilidade dos percursos de aprendizagem e estimulassem a colaboração e a interação. Face à referência teórica usada, conclui-se que a análise dos documentos suscita a necessidade de uma pesquisa mais aprofundada sobre as estratégias mais adequadas para que a organização e seus colaboradores possam concretizar a gestão da classe e a gestão da matéria em sua amplitude. Palavras chaves: Educação a distância tarefas docentes - docência universitária 1 Universidade Federal de Uberlândia 2 Universidade do Minho
Certa palavra dorme na sombra de um livro raro. Como desencantá-la? É a senha da vida a senha do mundo. Vou procurá-la Carlos Drummond de Andrade, In: A palavra mágica Discurso de Primavera Record 2009 1. Introdução O Sistema Universidade Aberta do Brasil UAB é a denominação genérica para a rede nacional brasileira formada por duas esferas distintas: as universidades públicas e as prefeituras (órgãos executivos da administração pública municipal). Instituído pelo Decreto 5.800, de 8 de junho de 2006, o sistema articula a oferta de cursos a distância ou semipresenciais, por parte das universidades públicas e a oferta de polos, por parte das prefeituras em diversos municípios espalhados pelo território nacional. Os polos são espaços físicos que visam oferecer suporte ao trabalho dos alunos que residam próximos ou no município no qual está instalado. Tal espaço físico presta-se a realização de encontros presenciais, a distribuição de materiais didáticos, ao apoio as atividades de estudo, atividades de avaliação, gestão de documentação acadêmica, acesso a biblioteca e laboratórios, dentre outros. A rede é coordenada pela Diretoria de Ensino a Distância DED, órgão integrante da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior CAPES do Ministério da Educação. Recentemente instituiu-se uma gestão colegiada da rede por meio da criação de quatro instâncias diferentes, três formadas por membros da rede (Fóruns de Área, os Fóruns Regionais, o Fórum Nacional de Coordenadores UAB) e uma quarta instância que pode abrigar elementos externos: o Grupo Assessor. A UAB objetiva atender o público em geral, mas os professores que atuam na educação básica têm prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica 3 dos estados, municípios e do Distrito Federal. 3 No Brasil, as crianças ingressam na escola aos seis anos e o processo de escolarização é seriado, ou seja, dividido em séries anuais. A Educação Básica corresponde às doze primeiras séries de escolarização, antecede o ensino superior e está divida em dois grandes segmentos: o Ensino Fundamental que corresponde às nove primeiras séries e o Ensino Médio que corresponde às três últimas séries.
Destaca-se que para ofertar cursos no âmbito da UAB, boa parte das universidades precisou aparelhar-se, compondo equipes técnicas, adquirindo equipamentos e outros recursos que permitissem a distribuição de conteúdo em mídias de diversos formatos (impresso, vídeo, áudios), a comunicação entre alunos, professores, tutores, técnicos e todos os envolvidos, bem como a gestão e o acompanhamento das atividades de ensino/aprendizagem. A participação na UAB se constituiu como elemento novo no cenário das atividades das universidades, bem como de seus professores. Ao assumir a oferta de cursos, a universidade pública participante da rede se responsabilizava pela proposição do projeto pedagógico, bem como da construção de material didático e todas as outros recursos envolvidos na garantia de ensino aos alunos. Frente a toda mobilização de recursos das universidades para a oferta de cursos no âmbito da UAB, parece natural perguntar-se sobre a preparação dos docentes para este mesmo processo. Em outras palavras, pergunta-se: o que se define como papel dos docentes universitários no âmbito da Universidade Aberta do Brasil? Em levantamento feito a partir de contatos por e-mail com a equipe de coordenação nacional da UAB em Brasília, ao longo de 2010, identificou-se que não havia aquele tempo e até o momento desta escrita, documentos de diretrizes formais cujo conteúdo fosse o delineamento do papel dos professores universitários a ser observado na dinâmica dos cursos e na produção do material didático. Embora se saiba que várias universidades, cada uma a seu turno, ofereceram cursos e processos de formação aos docentes, o presente trabalho optou por focalizar as ações e diretrizes da coordenação nacional do sistema por pressupor que por se tratar de sistema nacional a coordenação teria o papel de estabelecer diretrizes comuns às inúmeras instituições participantes. Neste contexto, delimitou-se como objetivo do presente artigo contribuir para o esforço de clarificação do papel do professor no âmbito da Universidade Aberta do Brasil UAB, procurando contribuir para um estudo da configuração do papel dos professores universitários envolvidos nos cursos da UAB.
2. A metodologia do estudo Na ausência de documentos específicos, obteve-se autorização de uso de documentos variados que se encontram armazenados no ATUAB Ambiente Virtual de Trabalho da UAB, no espaço destinado ao Ambiente de Trabalho dos Fóruns das Áreas do Sistema UAB, mais especificamente no Fórum de Área dos cursos de Pedagogia. Foram lidos e analisados um total de 108 documentos em arquivos de fomatos doc., Excel., Pdf e Ppt cujos conteúdos variam desde relatórios oficiais e regulamentações até memórias de encontros, correspondências, recursos visuais de apresentações públicas e sínteses diversas, no período de fevereiro a agosto de 2011. Para fins de organização, os documentos foram numerados de 1 a 108. Contudo, frente a limitação de tamanho deste texto, ponderou-se ser de pouca relevância a apresentação da relação completa e numerada. Ao longo do texto far-se-á a localização do documento pelo nome do arquivo e pelo número do mesmo na listagem dos pesquisadores. Além destes documentos, foram também considerados os textos do Decreto n. 5800 de 8 de julho de 2006, dos Editais MEC n.1 de 16 de Dezembro de 2005 e n. 1 de 18 de outubro de 2006, das Portarias CAPES n.75,77,78 e 79 de 14 de abril de 2010, da Lei 11 502, de 11 de julho de 2007, bem como os textos disponíveis no sitio da própria UAB. Boa parte dos documentos está ligada a reuniões e encontros realizados. Por esta razão procurou-se articular, sempre que possível, as informações em torno de determinados eventos e a eles relacionados com intuito de que a análise dos textos não se fizesse esvaziada de contexto. Entretanto, para alguns documentos não foi possível estabelecer este tipo de relação. Para a construção da análise foram tomadas duas categorias: a gestão da matéria e a gestão da classe, tomando como base teórica o trabalho de Clemont Gauthier (1998). Optou-se por explicar cada categoria no item 3 deste texto, simultaneamente a apresentação dos resultados de cada categoria.
3. A Configuração do papel dos professores universitários com base na análise dos documentos postados no ATUAB Na perspectiva Gauthier (1998), a tarefa docente se constitui em duas ações básicas: ensinar conteúdos e gerir o funcionamento da classe. O autor denominou a primeira função de gestão da matéria e a segunda de gestão da classe. Ele destaca que estas duas ações são realizadas igualmente em três momentos distintos da ação docente: (a) no planejamento da ação, (b) no processo de interação com os alunos (c) na avaliação. Desse modo, a gestão da matéria ocorre nos momentos de planejamento da ação, no processo de interação com os alunos e na avaliação. O mesmo se dá com a gestão da classe. Os textos usados para análise neste trabalho trazem conteúdos relativos tanto à gestão da matéria quanto à gestão da classe. Entretanto, permitem uma análise apenas do momento denominado por Gauthier de planejamento da ação. O estudo tanto do processo de interação com os alunos quanto da avaliação, no sentido atribuído pelo autor, demandaria outros procedimentos investigativos que não só a análise documental. 3.1 Planejamento da Gestão da matéria A gestão da matéria diz respeito ao planejamento, ensino e avaliação de uma aula ou parte dela. Ela engloba o conjunto de operações de que o mestre lança mão para levar os alunos a aprenderem o conteúdo. (Gauthier, 1998, p. 197). A gestão da matéria no momento de planejamento requer a organização do trabalho docente quanto a: determinar objetivos de aprendizagem; priorizar e transformar os conteúdos em correspondência com os objetivos; identificar as necessidades individuais dos alunos e prevê suas possíveis reações; organizar o ambiente educativo (tempo, material, recursos); selecionar estratégias de ensino e atividades de aprendizagem; sequenciar estas estratégias e atividades; definir os procedimentos de avaliação. Estas tarefas aparecem de forma muito imbricada no cotidiano docente Dos aspectos que envolvem a gestão da matéria, enunciados anteriormente, localizaram-se várias ocorrências nos textos dos documentos pertinentes a produção do material didático. A preocupação fundamental expressa quanto ao processo de produção se centrava nos aspectos legais dos direitos das obras didáticas produzidas.
A realização do I Encontro das Comissões Editoriais realizado em Curitiba nos dias 13 e 14 de dezembro de 2010 se mostrou um evento importante na articulação dos dados relativos à gestão da matéria. No arquivo do ATUAB denominado CARTA DE RECOMENDAÇÕES AS COMISSÕES DE MD POR TEL AMIEL (documento 25) registra-se que de um modo geral, este encontro teve como escopo definir quais temas devem conduzir o trabalho de aprimoramento e atualização da produção e compartilhamento de materiais didáticos do sistema UAB e quais as melhores estratégias para tal, a serem adotados ao longo de 2011. (DOCUMENTO 25, p.1). Os documentos relativos especificamente a este evento registraram que as discussões e análises das realidades dos diferentes cursos indicaram dificuldades em comum e áreas prioritárias em relação a produção do material didático: Em 2010, ficou claro nos Fóruns de Área que as comissões editoriais requeriam maior atenção, tanto pela necessidade das IES de aprimorar os materiais didáticos produzidos, quanto pela escassez de materiais disponibilizados no sistema e compartilhados entre os cursos. Ficou acordado nestes Fóruns que essa atenção deveria ser direcionada tanto no sentido de atualizar a noção de Direitos Autorais, quanto no de modernizar as estratégias de produção e compartilhamento de materiais didáticos adotadas na UAB. (DOCUMENTO 25, p.1) O relatório técnico MEMÓRIA DOS FÓRUNS DE ÁREA DE 2010 (documento 71) registrou que: As comissões editoriais, por sua vez, encontravam-se dispersas e sem noção clara de suas funções. Primeiro, porque os professores conteudistas não foram convencidos da importância ou das vantagens do compartilhamento de seus materiais. Depois, porque não compreendem a extensão da produção de materiais didáticos via Tecnologias da Informação e da Comunicação. Em todos os Fóruns do primeiro semestre de 2010, foram apontadas dúvidas quanto à livre utilização dos materiais didáticos, ao alcance de sua publicação e à relevância acadêmica desses materiais. Neste sentido, acreditamos que um trabalho formativo é necessário. Constatou-se a necessidade de que os coordenadores de curso sejam incitados ao estudo da produção e da legalidade de materiais didáticos, incluindo aí estudos sobre o caráter dos recursos educacionais abertos, por exemplo. Não se trata, pois, de um convencimento financeiro, mas, sim, de um convencimento intelectual, o que dependerá, como já se disse, de um trabalho formativo. Quanto às comissões de gestão, poucas atividades puderam ser elencadas, embora seja grande a importância esperada dessa comissão. (DOCUMENTO 71, p.13)
A recomendação de compartilhamento apareceu de forma insistente e destacada não só nos documentos citados como em outros documentos do conjunto analisado, apelando-se a ideia de parceria entre as instituições na produção de material didático. Mesmo acomodando realidades e experiências diversas documentos do I Encontro registraram observações quanto a partilha: Entre as experiências apresentadas no painel da manhã, foi possível perceber que há entendimentos diferentes acerca da produção e gerenciamento de materiais didáticos na UAB, mas que o espírito colaborativo pode contribuir para uma otimização dos esforços e para a melhoria da qualidade de nossa produção. (DOCUMENTO 32) A criação do SisUAB - plataforma de suporte para a execução, acompanhamento e gestão de processos da Universidade Aberta do Brasil, reforçou a impressão de que exista, por parte da UAB, a intenção de criar um repositório centralizado de materiais que possam ser usados pelas diversas instituições ligadas a ela. Esta itenção é claramente expressa no Comunicado UAB aos coordenadores de curso de 03/06/2009 (documento 15). As ferramentas de reuso e remix de material apresentadas são perspectivas futuras e metas que podem ser alcançadas, porém por hora devem ser tratadas como uma linha mestra ou um objetivo a ser atingido, para que políticas e práticas levem a construção de um sistema que permita maior acesso e flexibilidade aos materiais existentes dentro do sistema UAB. (DOCUMENTO 25, p.4) Ao lado de registros sobre a necessidade de compartilhar os materiais produzidos encontrou-se a indicação que esta não tem sido, entretanto, a prática efetiva no sistema UAB: Assim como o número de materiais didáticos divulgados no Sisuab não chega a ser pequena, seus acessos também não chegam a ser grandes. (DOCUMENTO 32) Pode-se se afirmar que, no que concerne a temática de compartilhamento de materiais, encontram-se registros que abordam duas questões principais: (a) o direito autoral e suas características (b) a formatação e natureza de materiais para repositório. Há no conjunto de documentos analisados apresentações usadas em palestras com especialistas que definem os conceitos fundamentais sobre a temática (direitos autorais, direitos do autor, direitos conexos, propriedade material e imaterial, dentre outros) bem como outros documentos relativos à legislação/regulação do tema. O
documento 25 registra que não havia até a realização do I Encontro do Fórum da área, conhecimento o suficiente por parte das Comissões para que aconselhem suas partes quanto a uma política de direitos autorais para os materiais criados ou utilizados na UAB. (p.2). Neste sentido o arquivo denominado ATUAB_ DIREITOS_ AUTORAIS_ ORIENTACAO_ AOS_ COORDENADORES_DE_CURSO.doc (documento 15) recomenda o uso de três documentos básicos para produção e disponibilização de materiais didáticos: (a) Termo de Licença de Direitos Autorais: (b) Termo de Disponibilização de Material Didático (c) Termo de Uso de Material Didático. No arquivo NOVOS_ TERMOS_ DE _DISPONIBILIZACAO _ E _USO _MATERIAL _DIDATICO.doc (documento 23) podem ser encontrados modelos de textos para o Termo de Disponibilização de Material Didático e o Termo de Uso de Material Didático. O espirito de ambos os textos parece ser o de encaminhar a responsabilidade referente aos direitos autorais às instituições e não ao Sistema. O Termo de Compromisso se baseia no fato de que a Lei 11.273/2006 autoriza a concessão de bolsas de estudo e de pesquisa a participantes de programas de formação inicial e continuada e que a lei determina a obrigatoriedade da celebração do termo de compromisso em que constem os direitos e obrigações do bolsista professor pesquisador. Como exemplos podemos citar o direito de receber a bolsa e como obrigações produzir a pesquisa e entregar o material (DOCUMENTO 14) A autorização de uso é estabelecida mediante o Contrato de cessão de Direito Autoral. Quanto a este instrumento os documentos UAB esclarecem que: Os direitos patrimoniais podem ser transferidos a terceiros mediante licenciamento, concessão, cessão ou outros meios admitidos. A cessão de direitos autorais será sempre feita por escrito. Ela pode ser gratuita ou onerosa, mas se nada estiver expressamente exposto, será presumida como onerosa. No caso de obras futuras, a cessão de direitos autorais abrangerá, no máximo, o período de cinco anos. (DOCUMENTO 14) Os documentos analisados procuram orientar as instituições para o fato de que os textos dos documentos para a regulação de direitos produzidos pelas IES não mencionem exclusividade, integralidade ou totalidade da cessão dos direitos autorais. A UAB não tem o intuito de privar o autor professor pesquisador de usar a sua obra de outras maneiras, por exemplo, vendê-la para uma editora. (DOCUMENTO 14).
No arquivo ATUAB _ ORIENTACOES _MD _E _ COMPOSICAO _FORUM _DAS _ AREAS.doc (documento 19) encontra-se o registro da natureza do conteúdo do material passível de disponibilização, um leque muito amplo que vai desde conteúdos das disciplinas até de cursos e atividades de apoio, recomendando-se que o impresso seja disponibilizado em meio digital. Aspectos da organização e formato dos conteúdos, por sua vez, citados no arquivo intitulado I ENCONTRO DAS COMISSOES DE MD 2010 HELENA NUNES UFRGS (documento 27). Outro aspecto a se tratar quanto à colaboração é a questão da validação de materiais produzidos. Os registros indicam que há posições a favor de uma processo de validação a partir da UAB e outras favoráveis a autonomia das IES em relação a qualidade dos produtos disponibilizados as demais instituições. A recomendação com relação a este tema é que: Em um primeiro momento, deve-se definir que tipo de material poderá ser disponibilizado no sistema da UAB (criado somente por docentes, alunos, disponível na Internet, entre outros) critérios de validação do conteúdo criado pelas IES para a UAB. Para tanto, se recomenda que cada IES apresente o modelo de validação adotado, e que haja um consenso das práticas aceitáveis para a validação do material e sua posterior publicação ou divulgação no âmbito da UAB. Para além do material inicial produzido, deve-se pensar na sustentabilidade do modelo de avaliação. Foram apresentados modelos variados de avaliação, um tema que deve ser retomado na medida que sejam definidos os sistemas (bibliotecas digitais/repositórios) a serem utilizados. (DOCUMENTO 25, p. 4) Outro evento que fez significativo na articulação da compreensão dos elementos relativos a gestão da classe foi a reunião de comissão para elaboração das Diretrizes para Projetos Pedagógicos de Cursos a Distância no âmbito do Sistema UAB, realizada em Brasília, no período de 5 a 7 de outubro de 2010, segundo informa o Ofício n. 18/2010/DED CAPES de 17 de setembro de 2010 (DOCUMENTO 10). O objetivo do trabalho desta comissão é atualizar o processo de avaliação de projetos pedagógicos dos cursos do Sistema UAB, mediante desenvolvimento de instrumentos de análise. Documentos oriundos desta reunião dão conta de processo avaliativo na dimensão institucional e não circunscrita ao processo ensino/aprendizagem como se situa na gestão da matéria. A proposição de avaliação estava muito mais relacionada ao acompanhamento e a correção de problemas do que a concepção de auditoria da instituições e seu trabalho. Contudo, defende-se a necessidade de padronização dos
instrumentos. O relatório técnico MEMÓRIA DOS FÓRUNS DE ÁREA DE 2010, num resumo dos encontros do 1º. Semestre de 2010 avalia que:... apenas as comissões de Avaliação e Acompanhamento possuem uma noção clara de suas atribuições, alcance e produtividade. Todavia, ainda que avaliem uma certa quantidade de Projetos Pedagógicos, muitas vezes sem um instrumento de análise ou critérios de avaliação comuns, estas comissões não definiram até então uma dinâmica de acompanhamento dos cursos UAB, seja por avaliação sazonal, seja por contato contínuo com os coordenadores de área. Assim sendo, tratava-se de padronizar os instrumentos de análise dos projetos pedagógicos e, depois, de criar instrumentos de acompanhamento desses cursos, o que se espera fazer no prazo de um ano. (DOCUMENTO 71.p.10). Documentos analisados neste estudo e postados juntamente com o relatório citado, deram conta da Portaria 1.051, de 7 de novembro de 2007, do MEC, que aprovava, em extrato, o instrumento de avaliação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP para autorização de curso superior na modalidade de educação a distância. A referida Portaria estabelece três categorias para avaliação e seus respectivos pesos, bem como os indicadores de cada categoria. Chamou atenção o fato de que não se encontrou nos demais documentos do ATUAB qualquer referência a esta Portaria como balizador ou mesmo referência aos documentos de proposta de Avaliação e Acompanhamento. No entanto, o documento do arquivo AVALIADORES _DE _ POLOS _ PANORAMA _ CGTI _ 04. _ 2010. ppt (DOCUMENTO 4) esclareceu que a proposta da avaliação no contexto UAB tem como meta subsidiar o planejamento e a evolução dos cursos impulsionando a melhoria da qualidade, sendo independente do sistema de avaliação /regulação / supervisão do MEC. Neste mesmo documento estão expressos os princípios que devem ordenar a proposição da avaliação dos cursos, registrados no diagrama a seguir: Fonte: AVALIADORES _DE _POLOS_ PANORAMA_ CGTI_04._ 2010.ppt (DOCUMENTO 4)
A avaliação, último aspecto da gestão da matéria, recebeu atenção equivalente à produção de material didático nos registros analisados, mas se constrói por um processo invertido, ou seja, dada a demanda de parâmetros para avaliação dos cursos é que se começou a pensar em critérios a construção de cursos. Mesmo que se argumente que os cursos foram aprovados pela equipe UAB de Brasília estes parâmetros de avaliação não foram detalhados, nem nos editais, nem nos documentos legais dos anos iniciais da UAB quando os projetos foram examinados. A questão que advém deste processo avaliativo seria como se pode aferir o desempenho de cursos por parâmetros que não estavam postos quando estes mesmos cursos foram criados. Em síntese, percebeu-se que quanto a gestão da matéria o papel do professor tem foco na organização do ambiente educativo, marcadamente a produção de recursos didáticos. Do ponto de vista didático, entretanto, entende-se que a organização do ambiente educativo precisaria ser articulada com a determinação de objetivos de aprendizagem, que por sua vez interfeririam na organização e seleção de conteúdos, os quais requereriam a identificação das necessidades individuais dos alunos e suas possíveis reações. Veja-se que se estabelece uma cadeia. Na análise dos documentos da UAB tal cadeia não pode ser identificada já que só se localizam informações sobre a produção de material didático e sob a avaliação e assim mesmo em sua dimensão institucional. 3.2 Planejamento da Gestão da classe A gestão da classe diz respeito à ordenação do ambiente de forma propícia ao ensino/aprendizagem. Entretanto: A ordem é necessária, mas nem por isso constitui uma garantia absoluta para aprendizagem e bom êxito escolar. De fato, numa classe onde reina a ordem, é possível que certos alunos não se dediquem plenamente a atividade programada, sem todavia perturbar o programa de ação criando uma situação concorrente. (GAUTHIER, 1998, p.240) Para o autor a eficácia da gestão da classe reside no fato dos professores conhecerem a matéria que ensinam, bem como os alunos a quem vão ensinar e se sabem o momento de assumir a condução direta do processo. No momento de planejamento a gestão da classe envolve a tomada de decisões quanto seleção, organização e
sequenciamento de rotinas de atividades, de rotinas de intervenções, de rotinas de supervisões e de rotinas de execução. (GAUTHIER, 1998, p.242) Os documentos analisados insistiram em que há necessidade de múltiplas definições para que estabeleça um trabalho coletivo cujos sentidos sejam efetivamente partilhados. O documento 27, especificamente, enfatiza a necessidade de Definir conceitos como: presencialidade real e virtual, imposições e controle ou liberdades, perfil de autor e de usuário, atribuições e etapas de produção, acesso e utilização pelo público-alvo, plágio, convergência, proporcionalidade e hierarquia em autorias. A simples observação das práticas de ensino a distância mais frequentes no cotidiano do ensino superior nas quais, apesar das expectativas de mudanças advindas do uso das tecnologias, indicam que as práticas acabam domesticando as novas ferramentas. (SANCHO, 2008, p.36). Tal fato é observável a partir da leitura de registros sobre os suportes midiáticos e a produção de material didático realizadas no âmbito da UAB: A metáfora comum entre os projetos apresentados é a do livro didático, que se vê reificada no SisUAB em livros digitais (formato PDF) ou similares. Nos deixa a impressão de que os cursos da UAB podem estar, em alguns casos, seguindo um caminho errôneo o de transferir o curso presencial, seus materiais e processos para o ambiente online. (DOCUMENTO 25, p.3) Concomitantemente a observação da inadequação de retorno ao modelo tradicional e ao chamado livro didático há a recomendação de que se deva:...abordar as premissas por trás da produção de material digital e como estes podem ser utilizados por alunos em ambientes virtuais: a potencialidade e aplicação de diferentes mídias, hipertextualidade, temporalidade, entre outros. Uma discussão em torno das peculiaridades do ambiente online poderá potencializar a criação e o uso de materiais abertos, modelos distribuídos e maior flexibilidade na educação a distância. (DOCUMENTO 25, p.3) Registra-se nos documentos a necessidade de construir espírito de colaboratividade, assim como noção de pertencimento e adequação do material didático à proposta pedagógica, definições institucionais e avaliação por Conselho Editorial, fomalizando o processo de produção pela explicitação das expectativas e pela oferta de seguranças ao professor autor. (DOCUMENTO 27).
Depreende-se que a gestão da classe é definida pelos materiais construídos, especialmente o impresso. As possibilidades educativas em lugar de se articularem com os propósitos de ensino/aprendizagem se subordinam as potencialidades do suporte tecnológico disponível, mesmo que se apele ao uso daqueles suportes que permitam a flexibilidade dos percursos de aprendizagem e estimulem a colaboração e a interação. 4. Considerações finais Presume-se que a oferta de formação de professores, prioridade declarada da UAB, se faça com base em delineamentos claros do papel dos docentes universitários no âmbito dos cursos e que se colocam, também, na condição de formadores de professores. A primeira constatação é que não há qualquer documento explicito neste sentido. Este fato por si só já inspira reflexões, tanto em relação às possíveis causas da inexistência destes documentos quanto as consequências deste fato para a prática dos professores. A análise dos documentos aos quais se teve acesso permitiu esboçar um delineamente que se reconhece se tornaria mais preciso se ampliado pela contribuição da equipe da UAB, em Brasília e nas IES, no sentido de analisar o que aqui se conseguiu esboçar. Considerando a referência teórica usada, concluiu-se que os documentos analisados deixam lacunas quanto a clarificação do papel dos professores universitários no âmbito da UAB o que obstaculiza a compreensão do que seja a tarefa docente no âmbito da UAB. O presente estudo reconhece a complexidade do problema de se compreender o papel do professor no sistema UAB frente a pulverização dos indícios deste papel na documentação oficial e da ausência de diretrizes enunciadas mais claramente. É um problema complexo já que ao estabelecer parâmetros, diretrizes ou qualquer definição desta natureza, a gestão da UAB caminha-se por terreno delicado, considerando-se o zelo das universidades por sua autonomia. Em nenhuma hipótese, as universidades aceitariam que um elemento externo, mesmo que vinculado ao governo federal, determinasse compulsoriamente o perfil pedagógico que um curso ofertado por elas tivesse que ter. Ao mesmo tempo em que se tem que lidar com a questão da autonomia, há que se pensar que uma rede de caráter nacional não poderá subsistir sem um mínimo de
coerência interna, ou seja, sem partilhar um conjunto de aspectos em comum. O problema transita em instâncias que vão desde a estrutura compartimentada do saber e seus reflexos na estrutura e na dinâmica por vezes pouco flexível das universidades, passando pelas estratégias de vigilância e monitoramento do trabalho na academia. O insistente apelo ao compartilhamento em certos documentos exibe um tom de obrigatoriedade. Ao lado do que se declara sobre o espirito colaborativo e a otimização de esforços, para usar os termos dos próprios documentos, há que se pensar também na possibilidade da influência da economia em escala e da massificação do ensino. Por fim, aponta-se para os riscos desta ambiência pouco definida e com os limites localizados na análise torna possível a domesticação das ferramentas pelas práticas tradicionais, promovendo práticas nas quais pouco se explorem as possibilidades de um ensino/aprendizagem interativo e colaborativo tendo os suportes tecnológicos voltados para estas mesmas caraterísticas. Tem-se clara a necessidade de um debate sobre o delineamento didático pedagógico coletivo, com a participação do sistema como um todo, tendo em conta o respeito a autonomia das IES mas ao mesmo tempo acomodando as necessidade de um sistema nacional, no sentido de definir com mais clareza o que se espera dos docentes quanto a gestão da matéria e a gestão da classe. Referências BRASIL.(2010). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior. Portaria n.75 de 14 de abril de 2010. BRASIL.(2010). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior. Portaria n.77 de 14 de abril de 2010. BRASIL. (2010). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior. Portaria n.78 de 14 de abril de 2010. BRASIL.(2010). Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior. Portaria n.79 de 14 de abril de 2010. BRASIL.(2007). Lei 11 502, de 11 de julho de 2007. BRASIL.(2006). Decreto n. 5800 de 8 de julho de 2006. BRASIL.(2006) Ministério da Educação. Edital n.1 de 18 de outubro de 2006.
BRASIL.(2005). Ministério da Educação. Edital n.1 de 16 de Dezembro de 2005. GAUTHIER, C. (1998) Por uma teoria da pedagogia: pesquisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí: Editora Unijuí. MARTINS, G. P. de C. ; AMARAL, M. C. M (2011). A Universidade Aberta do Brasil e a Massificação do Ensino Superior. XV Congresso Brasileiro de Sociologia. Curitiba: 26 a 29 de julho de 2011. SANCHO, J. M. (2008) De tecnologias da informação e comunicação a recursos educativos. In: SANCHO, J. M.; HERNANDEZ, F. et al. Tecnologias para transformar a educação. Porto Alegre: Artmed.