O POTENCIAL DO ENSINO A DISTÂNCIA NO CENÁRIO ATUAL DA EDUCAÇÃO Elizandra Prates de Oliveira Especialista em Psicologia da Educação Instituto Toledo de Ensino de Araçatuba-ITE Fábia Prates de Oliveira bio_fabia@hotmail.com EMEF Cel. Joaquim Franco de Mello, Lavínia-SP Resumo No processo de ensino-aprendizagem da modalidade ensino a distância (EaD), os alunos e os professores encontram-se em momentos e espaços físicos distintos o aprendizado ocorre de forma planejada e intencional por parte dos agentes envolvidos e faz uso de tecnologias para a transmissão de informações e interação entre aluno e professor. No Brasil mais de 13 milhões de brasileiros foram atendidos por essa modalidade da educação desde o seu início em 1937. No cenário atual da educação tradicional o EaD ganha espaço com a criação do Sistema Universidade Aberta do Brasil UAB e com o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Diante da ineficácia do processo de aprendizagem atual verificado também através da indisciplina e descaso dos alunos, a EaD aparece com um potencial de transformação e de interação de culturas atenta às exigências sociais como a rapidez das transformações e falta de tempo e de disponibilidade para freqüentar espaços formais de educação. Mesmo com desafios e limitações a serem superadas a EaD mostra sinais positivos no que diz respeito formação de um considerável número de sujeitos até então excluídos. Palavras-chave: Ensino. Distância. Educação. INTRODUÇÃO A Educação a Distância EaD é uma modalidade com um processo de ensino-aprendizagem com características peculiares e que, por sua conveniência e eficácia, vem se consolidando cada vez mais no cenário educacional. A EaD pode ser definida como processo de ensino-aprendizagem em que os alunos e os professores encontram-se em momentos e espaços físicos distintos, em que o aprendizado ocorre de forma planejada e intencional 70
por parte dos agentes envolvidos e que faz uso de tecnologias para a transmissão de informações e interação entre aluno e professor (MOURA; SILVA, 2008). UM BREVE HISTÓRICO DA EAD Educação a distância não é uma modalidade recente. Na América, em 1881, a Universidade de Chicago possuía um curso por correspondência, já na Europa, em 1890, a Alemanha ministrava um curso à distância. No Brasil, essa modalidade de educação teve seu início em 1937, marcado por um serviço de radiodifusão educativo do Ministério da Educação, com aulas via rádio e material impresso. Em 1939 aparece no cenário brasileiro o Instituto Monitor, a primeira empresa particular com serviço de ensino a distância. Em seguida, 1941, o Instituto Universal Brasileiro inicia suas atividades em EaD. Com o advento da televisão, surge a TV educativa pelo poder público em 1965. Após a criação da Fundação Roberto Marinho em 1977, vai ao ar o curso Telecurso 1º e 2º Graus em 1980, que em 1995 passa a ser conhecido como Telecurso 2000, com ensino fundamental e médio, que além do recurso televisivo contava com material impresso. Desde o início das atividades em EaD no Brasil mais de 13 milhões de brasileiros foram atendidos por essa modalidade da educação no ensino fundamental, médio e técnico. No Brasil a EaD ganha espaço, um exemplo é sua expansão no ensino superior com o Sistema Universidade Aberta do Brasil UAB, que é o resultado da parceria de instituições de ensino superior com municípios e estados, nos termos do artigo 81 da Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 e do decreto Nº 5622, de 19 de dezembro de 2005, que tem como algumas metas a democratização, expansão e interiorização da oferta do ensino superior público gratuito e regulamentação da modalidade EaD no país. A NECESSIDADE DA EAD A EaD é uma opção para o público que não dispõe de tempo para os cursos tradicionais, por possibilitar uma flexibilidade no gerenciamento do tempo de estudo. Com relação à distância o aluno não fica impedido de estudar por habitar regiões de difícil acesso ou em regiões que a possibilidade de estudo mais aprofundado não ocorre por falta de estrutura física para a educação tradicional. Segundo Neder apud MOURA; SILVA (2008), a EaD permite maior respeito aos ritmos pessoais, à medida 71
que, suplantando um modelo de fluxo linear, possibilita uma dimensão cíclica com um ir-e-vir, um retomar, um rever, um refazer, abertos aos acontecimentos produzidos por sujeitos culturais, nas particularidades de seus temposespaços próprios e, portanto, diversos. A escolha dessa modalidade se junta com os eixos curriculares historicidade, construção e diversidade e, juntamente com todos os elementos curriculares, contribui para um programa de formação de profissionais que se inclui num projeto de busca do aperfeiçoamento educacional e social. Mesmo com o número de excluídos ainda maior que o dos incluídos, o Brasil é um dos países que mais tem crescido no acesso aos produtos de informática e internet. Com relação as novas Tecnologias de Informação e Comunicação, o Brasil é o 4º mercado mundial de computadores. O ATUAL CENÁRIO DA EDUCAÇÃO No atual contexto em que nossa sociedade se encontra, com um notável desenvolvimento de tecnologias de conhecimento e informações, se apresenta como imprescindível e urgente uma discussão sobre novas demandas educacionais e pedagógicas. Essa necessidade já vem sendo detectada antes mesmo do assunto surgir em voga pelos sujeitos que convivem com a realidade da educação de maneira presencial e direta (sendo professores, diretores, coordenadores, inspetores e alunos), uns através da sensação de impotência e até mesmo frustração e pela ineficácia do processo de aprendizagem - com o atual material e método pedagógico e didático - e outros, no caso os alunos, com uma avassaladora resposta de insatisfação detectada como indisciplina e descaso com o conteúdo ensinado e com a instituição em um todo. Diante da demanda por uma superação das atuais posições teóricometodológicas e da práxis na educação, o ensino à distância se mostra não só com potencial de transformação, mas também como um possível socializador de culturas (subentendendo cultura como produção humana objetiva e simbólica) e atende às exigências atuais de uma sociedade que é engolida por mudanças aceleradas e pela falta de tempo e disponibilidade para freqüentar espaços formais de educação.portanto, seria muito simplista, galgar ao ensino à distância as soluções de todos os problemas educacionais - como um elixir mágico - sem denotar as limitações e as dificuldades para uma efetiva e qualitativa implantação do mesmo. A começar pela dificuldade de apropriação das tecnologias por parte dos brasileiros, como o acesso à internet, que alcança apenas 15% da população, deixando notáveis 85% por fora (que provavelmente também estão à margem em vários outros aspectos determinantes da vida).considerando 72
também que a grande maioria das instituições pública de ensino - superior, médio e fundamental - oferece o mínimo de infra-estrutura tecnológica de apoio a alunos e professores. Ao se tratar do profissional exigido para a implantação do EaD, nos defrontamos com uma dicotomia. De um lado, temos a exigência de um profissional que necessita ter o mínimo de conhecimento das tecnologias existentes (que se atualizem muito rapidamente e constantemente), que precisa ser maduro, flexível e inovador (para poder transformar o espaço escolar e modificar o processo de ensino e aprendizagem) e ainda tem que possibilitar autonomia na construção do conhecimento do aluno e ser suficientemente atrativo para o mesmo. Por outro lado, temos um profissional que é fruto desse mesmo modelo tradicional que consideramos totalmente ultrapassado e que estamos levando à discussão justamente a necessidade de sua reformulação devido sua ineficácia. Diante dessa dicotomia, posicionar os professores como algozes nesse processo de reestruturação da educação seria no mínimo uma grande injustiça. Corremos o risco também de utilizar as tecnologias como mantenedoras do atual processo de ensino e aprendizagem, repetindo no ensino à distância os mais ineficazes métodos de instrução por nós já conhecidos. Encontra-se incutido na implantação desse processo de ensino e aprendizagem, a necessidade de uma preocupação em estabelecer o equilíbrio entre o contato físico e o virtual, entre as atividades intelectuais (predominantemente lógicas) e as sócioafetivas, entre o contato presencial e o contato virtual. Além da preocupação com a maneira pela qual vai se dar a apropriação da grande e veloz diversidade de informações disponíveis aos alunos e professores. A informação recebida sem se ter o tempo para reflexão e assimilação e sem ser permeada pelo senso crítico, além de reproduzir o atual modelo educacional não proporcionará que o sujeito se aproprie do conhecimento transmitido (MORAN, 2005). Considerando-se que um dos maiores desafios atuais da educação seja tornar o processo de aprendizagem interessante aos alunos para que ele possa se identificar com o conteúdo transmitido e assim se apropriar dele, pode se considerar um desafio também, prover ao aluno a apropriação das tecnologias. Diante disso é melhor encarar as limitações como um desafio a ser superado. O ensino a distância possibilita reflexões sobre o ensino presencial e sobre a possibilidade de integrar ensino presencial com ensino à distância, tornando possível também a reordenação de conceitos-chave na área educacional. Com relação ao ensino 73
superior, o EaD atende as exigências da sociedade contemporânea que faz com que os indivíduos se lancem a uma busca por formação contínua devido às constantes transformações sociais e ao avanço das tecnologias (MORAN; SALES, 2005, 2007). Devido às diversas possibilidades de interconexões e articulação entre pessoas e saberes produzidos e disponibilizados, o ensino à distância vem ganhando corpo e cada vez mais credibilidade no Brasil. Em um mundo onde as exigências por qualificação aumentam dia após dia, o EaD se mostra como uma atraente alternativa para atingir um maior número de indivíduos em todos os níveis educacionais e como uma possibilidade de democratizar o acesso ao ensino superior. De acordo com algumas tendências, o EaD proporciona uma abordagem problematizadora, investigativa e reflexiva, proporcionando um aluno mais autônomo e interativo, criando uma relação afetiva com o conhecimento, tendo o professor como um parceiro no processo de construção da aprendizagem. Os alunos para se apropriarem dos conteúdos devem ser autores de seus saberes para que se modifiquem enquanto sujeitos e os professores precisam deixar de lado o papel de simples transmissor do conhecimento e deve passar a ser criadores de possibilidades para sua produção e construção (TAVARES, 2007). Em relação à formação dos professores, o EaD pode ser identificado como uma possibilidade de transformação de paradigma, já que favorece a interação entre os sujeitos e aperfeiçoa o diálogo, a troca e a construção coletiva dos professores entre si com os alunos e com os diversos saberes produzidos (MORAN; RECH, 2005, 2007). Freitas (2007), cita que de acordo com a legislação brasileira, o ensino a distância, tem por objetivo em sua implantação: a democratização do acesso a informação, ao conhecimento e a educação; o incentivo à pesquisa e inovação de tecnologias educacionais (propiciando a relação de TCIs com os processos didáticos pedagógicos); a produção e disseminação de programas, ferramentas para formação inicial e continuada à distância; a difusão dos TCIs no ensino público e a potencialização da qualidade da educação; a possibilidade de uma educação voltada para o progresso científico e tecnológico; de prover a inclusão digital e a valorização dos profissionais da educação, só vem somar à reestruturação e otimização do processo educacional no Brasil. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para o sucesso do EaD, não se deve perder de vista que a superação 74
dos desafios antes mencionados não se dará de forma simples e rápida, e de que não será nenhum decreto que propiciará sua superação e sim um árduo trabalho para desconstrução de conceitos cristalizados em nossa sociedade e em nossas instituições de ensino, visando à construção de um processo de ensinoaprendizagem que concretize o processo de humanização dos sujeitos. As críticas levantadas ao uso das tecnologias de informação e comunicação no ensino são facilmente justificáveis à medida que os microcomputadores estão cada vez mais complexos e o uso deles cada vez mais complicados. A inclusão digital e a apropriação dessa nova habilidade passam a ser então uma questão extremamente relevante e integrante do processo de humanização. Com a situação da educação tradicional em interface com o uso de tecnologias e a apropriação do ensino superior à distância, é inegável que estamos prestes a vivenciar um momento histórico de novas possibilidades de acesso à educação pública e à formação continuada. Se forem devidamente superadas as limitações à implantação do ensino à distância, teremos conquistado um novo patamar no que diz respeito à socialização da cultura. Sendo a apropriação da cultura uma condição fundamental para que se concretize o processo de humanização dos indivíduos, a educação teria enfim encontrado uma nova possibilidade em nome da formação concreta de um considerável número de sujeitos até então excluídos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Presidência da República, Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br.sesu/arquivos/ pdf/lei9394.pdf>. Acesso: 10/09/2008.. Presidência da República, Casa Civil. Decreto 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Disponível em: http://www.uab.mec.gov.br. Acesso em: 10/09/2008.. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br>. Acesso em: 09/09/2008. FREITAS, K.S. Evasão de estudantes e educação à distância. In: ARAÚJO, B.; FREITAS, K. S. (Org.). Educação a distância no contexto brasileiro: experiências em formação inicial e formação continuada. Salvador: ISP/UFBA, 2007. p.93-100. MORAN, J.M. As múltiplas formas do aprender. Atividades & Experiências, sine loco, jul. 2005. Seção Entrevista.Disponível em: <http://www.educacional.com.br/revista/0305/pdf/entrev ista.pdf>. Acesso em: 22/08/2008. MOURA, M.Z.S.; SILVA, S.M. Apostila on line do curso de capacitação de tutores.in: NEAD/UFSJ. Plataforma moodle. 2008. Disponível em:<http://www.nead.ufsj.edu.br/moodle/>. Acesso em: 12 agosto 2008. RECH, R.A.C. EAD e formação de professores. SEEDNET: Revista Eletrônica de Educação a Distância. sine loco, maio 2007. Seção Artigos. Disponível em: <http://www.seednet.mec.gov.br/ 75
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