Registro: 2011.0000333443 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 0169577-21.2010.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante ASSOCIAÇÃO DE BENEFICÊNCIA E FILANTROPIA SÃO CRISTÓVÃO sendo apelados FLAVIA SCHLOENBACH LOPES (JUSTIÇA GRATUITA) e MARCIA APARECIDA SAPIA. ACORDAM, em 21ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ITAMAR GAINO (Presidente) e VIRGILIO DE OLIVEIRA JUNIOR. São Paulo, 14 de dezembro de 2011. Silveira Paulilo RELATOR Assinatura Eletrônica
VOTO Nº: 29655 APELAÇÃO Nº 0169577-21.2010.8.26.0100 COMARCA: SÃO PAULO APELANTE: ASSOCIAÇÃO DE BENEFICÊNCIA E FILANTROPIA SÃO CRISTÓVÃO APELADOS: FLAVIA SCHLOENBACH LOPES E MARCIA APARECIDA SAPIA COBRANÇA - Plano de saúde Plano de referência - Parto por cesariana de emergência Período de carência Dever de arcar com os custos - Internação do recém-nascido Artigo 10 e 12 da Lei 9.656/96 Caráter de urgência Custas pela internação deverão ser pagas pelo plano médico - Recurso não provido. Cuida-se de apelação interposta com intuito de ver reformada a r.sentença de parcial procedência, da lavra do MM. Juiz Alexandre Augusto P. M. Marcondes, proferida nos autos da ação de cobrança de prestação de serviços hospitalares. Afirma a autora, em apertada síntese, ser dever das rés arcar com os custos da internação do filho recém-nascido da co-ré Flávia, eis que realizados em caráter particular, ou seja, não cobertos pelo plano de saúde. As rés apresentaram contrarrazões por meio das quais pugnam pela manutenção da r.sentença. É o relatório. Celebraram as partes contrato de prestação de serviços hospitalares, no qual a co-ré Márcia Aparecida figurou como responsável pela internação da outra co-ré, Flávia. A co-ré Flávia havia contratado plano de saúde São Cristóvão em 29.09.09 (cf. fls. 149), cujo prazo de carência para internação hospitalar obstétrica era de 300 (trezentos) dias. O contrato de prestação de serviços hospitalares foi firmado em 08.04.10 (cf. fls. 30/2), quando a co-ré entrou no nosocômio para realização de parto por cesariana de emergência. Diante das complicações apresentadas com seu filho, foi necessário interná-lo na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A internação perdurou de 09.04.2010 2/6
a 07.05.10 (cf. fls. 47/95). Poder Judiciário No presente caso, é flagrante a situação de urgência para internação do recém-nascido. Nenhum dispositivo de lei ou contratual pode impedir, limitar ou criar obstáculo para o atendimento de urgência. Daí decorre a utilidade da dissertação a respeito da responsabilização dos médicos diante dos casos de urgência. Nenhum deles se exonerará da responsabilidade alegando limitação de cobertura ou disposição legal limitativa do atendimento necessário ao caso, e com todos os meios disponíveis. 1 A Lei 9.656/96 (Lei dos Planos e Seguros de Saúde) em seu artigo 10, parágrafo 2º, assim reza : Art. 10. É instituído o planoreferência de assistência à saúde, com cobertura assistencial médicoambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos, realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de enfermaria, centro de terapia intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças listadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as exigências mínimas estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto: (...) 2º - As pessoas jurídicas que comercializam produtos de que tratam o inciso I e o 1o do art. 1o desta Lei oferecerão, obrigatoriamente, a partir de 3 de dezembro de 1999, o plano-referência de que trata este artigo a todos os seus atuais e futuros consumidores O artigo 12 da Lei determina que São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos de que tratam o inciso I e o 1o do art. 1º desta Lei, nas segmentações previstas nos incisos I a IV deste artigo, respeitadas as respectivas amplitudes de cobertura definidas no plano-referência de que trata o art. 10, segundo as seguintes exigências mínimas: III - quando incluir atendimento obstétrico: a) cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu dependente, durante os primeiros trinta dias após o parto; b) inscrição assegurada ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, como dependente, isento do cumprimento dos períodos de carência, desde que a inscrição ocorra no prazo máximo de 1 MAURO ÂNGELO BOTTESINI e MAURO CONTI MACHADO. Lei dos Planos e Seguros de Saúde comentada artigo por artigo. 2ª edição. Editora RT. pág. 124 3/6
trinta dias do nascimento ou da adoção; Quando da internação do filho recém-nascido da apelada, era evidente a situação de urgência, de maneira que necessária a internação em unidade de terapia intensiva do recém-nascido. Os custos, portanto, deverão ser custeados pelo plano de saúde da co-ré Flávia. Sendo assim, não podem as rés serem responsabilizadas pelo pagamento da internação. Neste sentido : 9133346-16.2008.8.26.0000 Apelação Relator(a): Teixeira Leite Comarca: São Paulo Órgão julgador: 4ª Câmara de Direito Privado Data do julgamento: 04/08/2011 Data de registro: 11/08/2011 Outros números: 6023854000 Ementa: PLANO DE SAÚDE. Recusa de cobertura pela seguradora em dar cobertura ao parto pré-termo e à internação na UTI neonatal para a menor recém-nascida, sob a alegação de que a segurada tinha que aguardar o período de carência. Abusividade. Urgência médica. Carência de 24 horas. Aplicabilidade do artigo 12, V, c e 35-C, II da Lei 9656/98. Recurso desprovido. 9159604-63.2008.8.26.0000 Apelação Com Revisão Relator(a): Caetano Lagrasta Comarca: Itatiba Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Privado Data do julgamento: 03/06/2009 Data de registro: 17/06/2009 Outros números: 5780474000 Ementa: Plano de saúde. Recusa em custear a transferência da recém nascida à hospital que disponha de unidade de terapia intensiva. Negativa em cobrir a internação por prazo superior a 30 dias. Período de Carência. Necessidade ante a urgência e o estado de saúde da recém-nascida. Cláusula Abusiva. Nulidade. Afronta ao disposto no artigo 35, "c", I, da Lei 9.656/98, e ao CDC. Sentença Mantida. Recurso improvido. 4/6
0063756-86.2000.8.26.0000 Agravo de Instrumento / PLANO DE SAÚDE Relator(a): Ruy Camilo Órgão julgador: 10ª Câmara de Direito Privado Data de registro: 23/02/2001 Outros números: 176.194-4/9-00, 994.00.063756-0 Ementa: PROCESSO CIVIL - ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - assistência médico- hospitalar - internação da agravante dentro de prazo de carência contratual por emergência relacionada à gestação, em decorrência de que houve antecipação do parto - pretendida antecipação para que a requerida seja compelida a arcar com as despesas hospitalares da gestante e do recémnascido - recurso provido em parte, reconhecendo-se o direito do nascituro à assistência e o da gestante no período de emergência contratualmente previsto - recurso parcialmente provido. Quando ao parto, andou bem o douto Magistrado a quo ao determinar : No caso concreto, a despesa hospitalar total foi de R$ 31.150,59. Deste montante, R$ 25.874,34 se refere a despesas com internação e tratamento da recém-nascida, conforme comprovam os documentos de fls. 38/44 e 52/95, quantia coberta pelo plano de saúde. Com o parto em si as despesas foram de apenas R$ 5.276,25, sendo que já houve pagamento de R$ 3.625,00, conforme admitido na petição inicial. Sendo assim, as rés devem pagar somente R$1.651,22, com acréscimo de correção monetária calculada a partir de 11/05/2010, data do fechamento da conta hospitalar, e de juros moratórios de 1% ao mês, calculados a partir da citação, já que se trata de obrigação contratual. (cf. fl. 248). Ao ser internada a co-ré Flávia ainda estava no prazo de carência, ou seja, não coberta pelo plano de saúde para esse serviço médico (parto). Desta forma, há que se reconhecer o valor devido pelo parto realizado, diante do seu não pagamento integral. No entanto, afastase a responsabilização das rés pelo pagamento da internação do recémnascido, filho da co-ré Flávia. É de rigor, portanto, a manutenção da r.sentença. 5/6
Pelo exposto, nega-se provimento ao recurso. SILVEIRA PAULILO Relator Assinatura Eletrônica 6/6