1 COMPARAÇÃO DE MÉTODOS PARA DETERMINAR A NECESSIDADE DE CALAGEM EM SOLOS DO MUNICÍPIO DE IPAMERI-GO Diogo da Costa Silva 1,3, Fernando dos Santos Silva 1,3, Marcus Vinícius Vieitas Ramos 2,3 1 Voluntário de Iniciação Científica PVIC/UEG 2 Professor orientador 3 Curso de Agronomia, Unidade de Ipameri, Universidade Estadual de Goiás. (marcus.ramos@ueg.br). RESUMO A acidez excessiva dos solos brasileiros, associada aos elevados teores de alumínio e aos baixos níveis de cálcio e magnésio, são condições desfavoráveis ao aumento da produtividade das culturas. Para incorporação destas áreas ao processo produtivo é necessário que se faça a correção destes solos via calagem. Em função da importância da calagem para os solos de cerrados torna-se, imprescindível estudar e selecionar métodos, em nível regional, que possam determinar, com maior precisão, determinar a quantidade de calcário necessária para correção de acidez desses solos. Com o objetivo de comparar os métodos mais utilizados foi realizado, no município de Ipameri GO a coleta de amostras de dois Latossolos para o estudo. Estes solos foram incubados, com doses crescentes de calcário para determinar a quantidade de calcário necessária para elevar o ph do solo a 5,5 e 6,0. As quantidades de calcário a aplicar determinadas pelo método da incubação foram correlacionadas com as necessidades de calagem calculadas, pelo método do alumínio, cálcio e magnésio e pelo método de saturação por bases. Foram observados, para o Latossolo Vermelho assim também como para o Latossolo Vermelho-Amarelo, diferenças na recomendação de calagem quando comparadas com a metodologia padrão (método de incubação). Quando comparamos a necessidade de calagem determinada pelos métodos de saturação por bases com a determinada pelo método do alumínio, cálcio e magnésio, constatamos que para o Latossolo Vermelho não houve diferenças, já para o Latossolo Vermelho-Amarelo a necessidade de calagem calculada pelo método do alumínio foi um pouco superior à determinada pelo método de saturação por bases. A recomendação pelo método da saturação por bases assim como a pelo método do alumínio trocável e cálcio mais magnésio resultaram em resultados bem próximos um do outro, sendo ambas adequadas para obtenção de boa produtividade pelas culturas. Palavras-chave: Cerrado; Latossolo; Calagem.
2 Introdução A acidez excessiva dos solos brasileiros, notadamente daqueles que ocorrem na região original de cerrado, associada aos elevados teores de alumínio trocável e aos baixos níveis de cálcio e magnésio, são condições desfavoráveis ao aumento da produtividade das culturas (Raij 1991; Lopes 1977; PIPAEMG 1972). Para incorporação destas áreas ao processo produtivo é imprescindível a correção destes solos via calagem. A aplicação de calcário representa uma tecnologia importante para a viabilizar a agricultura comercial. A quantificação desse corretivo deve ser feita com base na análise do solo. O desenvolvimento de métodos para determinar a quantidade de calcário a aplicar em solos tem sido objeto de estudo desde o início do século passado. No Brasil, antes de 1965, os métodos de recomendação de calagem usados na prática eram sempre baseados apenas no ph e no teor de matéria orgânica dos solos, apesar de já existirem métodos publicados como o de Paiva Neto et al. (1947) e Coleman et al. (1958). Após a divulgação do critério do alumínio por Kamprath (1970), a recomendação passou a ser feita por esse método, na maioria dos estados brasileiros, com exceção dos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, (método do SMP), São Paulo e parte do Paraná (método de saturação por bases) e regiões semi-áridas (teor de Ca + Mg para atingir de 2 a 3 cmol c dm -3 ). Atualmente, para a região de cerrado tem se recomendado como metodologia para determinação da necessidade de calagem tanto o método do alumínio trocável e elevação dos teores de Ca e Mg como o método de saturação por bases (Martinhão e Lobato 2002). Na determinação da necessidade de calagem pelo método de saturação por bases a calagem é calculada para elevar os valores de saturação por bases da capacidade de troca de cátions à ph 7,0, a valores desejados, de acordo com a cultura de interesse. Já na determinação da necessidade de calagem pelo método do alumínio trocável e de cálcio e magnésio para determinação do calcário a aplicar toma-se por base os teores de alumínio, cálcio mais magnésio trocáveis, obtidos na análise química do solo. Apesar da existência de diferentes métodos propostos para calcular a necessidade de calagem ainda não existe um consenso de qual o método mais adequado. Em função desta situação torna-se importante estudar e selecionar métodos, em nível regional, que possam determinar, com maior precisão, a quantidade de calcário necessária para correção de acidez
3 desses solos. Este trabalho teve como objetivo comparar os métodos de determinação de necessidade de calagem em Latossolos de Ipameri-GO. Material e Métodos Foram coletadas amostras da camada arável (0-20cm), de dois Latossolos (Latossolo Vermelho e Latossolo-Vermelho-Amarelo) de textura argilosa no município de Ipameri. As amostras de solo foram submetidas às análises de rotina de fertilidade e análise textural, de acordo com EMBRAPA (1997). Porções de 250 g de amostras de solo seco ao ar foram passadas em peneira 2 mm. Posteriormente foram adicionadas doses de carbonato de cálcio equivalentes a 0, 1, 2, 3, 4, 7, 10 t/ha de CaCO 3 (que corresponde à aplicação de um calcário de 100% de PRNT), com 10 repetições. As amostras foram homogeneizadas e colocadas para reagir em recipientes plásticos, com teor de umidade gravimétrica em torno de 80 % da capacidade de campo, por um período de quatro meses. Após a estabilização do ph as amostras foram coletadas e colocadas para secar ao ar e posteriormente foram analisados os teores de Ca, Mg, K, Al e ph em CaCL 2 de acordo com a metodologia da EMBRAPA (1997). Foi determinada a necessidade de calagem pelo método do alumínio (Morh 1960, Cate 1965) e pelo método da saturação por bases para elevar a saturação à 50% (Quaggio 1983). Através de análise de regressão simples determinou-se as relações entre as necessidades de calagem real do solo, determinada pelo método da incubação, para elevar o ph dos solos para uma faixa entre 5,5 e 6,0 com os métodos de determinação de necessidade de calagem calculados. Resultados e Discussão As curvas de incubação para os Latossolos estudados estão apresentadas na Figura 1. A observação das curvas mostra que, para todos os solos, o modelo de equação quadrática foi o que melhor se ajustou.
4 8 y = -0,0236x 2 + 0,5283x + 4,6239 R 2 = 0,9923 2 7 ph CaCl 6 5 y = -0,0124x 2 + 0,4418x + 4,1696 R 2 = 0,9917 Latossolo Vermelho-Amarelo Latossolo Vermelho 4 0 2 4 6 8 1 0 Doses de calcário t/ha Os cálculos para determinação da necessidade de calagem pelo método da incubação foram feitos visando elevar o ph do solo para 5,5. Utilizando as equações de regressão obtidas para cada solo fixou-se o ph (y= 5,5) e determinou-se as doses de calcário ( x ) em t.ha -1 na Tabela 1. Tabela 1. Recomendação de calagem para Latossolo Vermelho e Latossolo Vermelho- Amarelo, em função de diferentes métodos. Métodos de Recomendação Necessidade de Calcário t.ha -1 LV LVA Curva de incubação 1,8 3,3 Saturação por bases 1,6 2,5 Alumínio Trocável 1,6 2,8 LV Latossolo Vermelho; LVA Latossolo Vermelho-Amarelo De acordo com os dados da Tabela 1. os solos estudados apresentam quantidades razoáveis de calcário. Realizando comparações entre os métodos para recomendação da necessidade de calcário, em relação à curva de calibração (método padrão) estabelecendo para este o índice 100, podemos avaliar a variação dos diferentes métodos em relação ao padrão (Tabela 2)
5 Tabela 2. Valores relativos de necessidade de calagem, para os diferentes métodos de determinação, com relação à curva de incubação Métodos de Recomendação % LV LVA Curva de incubação 100 100 Saturação por bases 89 76 Alumínio trocável, cálcio e magnésio 89 85 Os métodos da recomendação pela saturação por bases e pelo alumínio trocável, no Latossolo Vermelho, atingiram o mesmo patamar, indicando que neste solo não ocorreu variações quanto à necessidade de calagem pelos dois métodos. Apesar disto todos os dois métodos, quando comparados com o padrão, subestimaram a dosagem recomendada. No Latossolo Amarelo método de recomendação do Alumínio Trocável e fornecimento de cálcio e magnésio foi o que mais se aproximou da dosagem de calcário recomendada pela metodologia padrão. Conclusões A recomendação de calcário, no Latossolo Vermelho, por qualquer um dos métodos comparados no presente trabalho levará o solo a condições de ph e saturação adequada. Para o Latossolo Vermelho-Amarelo estudado o método de determinação que mais se aproximou do padrão foi o do Alumínio trocável e fornecimento de cálcio e magnésio. Referências Bibliográficas CATE JR., R. B. Sugestões para adubação na base de análise de solo. Primeira aproximação. North Carolina State University, International Soil Testing Project. Recife, 1965. 16p. COLEMAN, N. T.; KAMPRATH, E. J.; WEED, S. D. Liming advances in Agronomy. 10: 475-522. 1958. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação dos Solos. Levantamento de reconhecimento dos solos da Região Geoeconômica de Brasília. Rio de Janeiro, 1981. 455 p. (Boletim de pesquisa, 53). EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação dos Solos. Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro, 1997. KAMPRATH, E. J.; Exchange Aluminium as a criterion for liming leached mineral soils. Soil Sci. Soc. Amer. Proc. 34: 252-254. 1970.
6 LOPES, A. S.; COX, F. R. A survey of the fertility status of surface soils under cerrado vegetations in Brazil. Soil Sci. Amer. J. 41: 742-747. 1977. MARTINHÃO, G. de S.; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. Planaltina, DF: EMBRAPA Cerrados, 2002. 416p. MORH, W. A influência da acidez sobre a fertilidade de solos. In: CONGRESSO NACIONAL DE CONSERVAÇÃO DO SOLO, 1., Campinas, 1960. Anais. Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1960. PIPAEMG. Recomendações de uso de fertilizantes para o estado de Minas Gerais Segunda tentativa. Governo do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte. 1972. 88 p. PAIVA NETO, J. E.; CATANI, ER. A.; QUEIROZ, M. S.; KUPPER, A. Contribuição ao estudo dos métodos analíticos e de extração para caracterização química dos solos do estado de São Paulo. In: Anais Primeira reunião brasileira de Ciência do Solo. Rio de Janeiro, 1947. p 79-108. PEARSON, R. W. Soil acidity and liming in the humid tropics. Ithaca: Cornell University, 1975. 66 p. QUAGGIO, J. A. Métodos de laboratório para determinação de calagem em solo. In: RAIJ, B. van; BATAGLIA, O. C.; SILVA, N. M. da, coord. Acidez e calagem no Brasil. Simpósio, Campinas, Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 1983. p. 33-48. RAIJ, B. van. Fertilidade do Solo e adubação. Piracicaba, Ceres Potafos, 1991. 343 p.