EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ FEDERAL DA 1ª VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE CRICIÚMA SC Processo nº 2008.72.04.002971-7 Petição nº /2011 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo procurador da República ao final assinado, vem perante Vossa Excelência, nos autos em epígrafe, expor e requerer o que segue: I MINA 5 (0,46 hectare) No dia 25.01.2011, técnicos do MPF e do DNPM realizaram vistoria na área MINA 5, constando que as obras de reabilitação foram concluídas de acordo com os Critérios para recuperação ou reabilitação de áreas degradadas pela mineração de carvão Revisão 03 (Relatório nº 008/2011). Portanto, deve-se agora iniciar o monitoramento ambiental da área. 1
II CORDA BAMBA A3 (0,48 hectare) No dia 25.01.2011, técnicos do MPF e do DNPM realizaram vistoria na área CORDA BAMBA A3, constando que as obras de reabilitação foram concluídas de acordo com os Critérios para recuperação ou reabilitação de áreas degradadas pela mineração de carvão Revisão 03 (Relatório nº 006/2011). Portanto, deve-se agora iniciar o monitoramento ambiental da área. III SANGÃO (8,95 hectares) No dia 25.01.2011, técnicos do MPF e do DNPM realizaram vistoria na área SANGÃO, constando que as obras de reabilitação foram concluídas de acordo com os Critérios para recuperação ou reabilitação de áreas degradadas pela mineração de carvão Revisão 03 (Relatório nº 005/2011). Portanto, deve-se agora iniciar o monitoramento ambiental da área. IV SANTA AUGUSTA (13,12 hectares) Com relação à área SANTA AUGUSTA, o MPF já havia se manifestado anteriormente (fls. 696/703), no sentido de que as obras foram concluídas, mas que havia dúvida quanto à viabilidade da permanência de rejeitos na área de preservação permanente (APP), marginal ao rio Sangão. Em outras palavras, havia dúvida quanto à aplicabilidade, ou não, da exceção prevista no item 3.2 dos Critérios 2
para recuperação ou reabilitação de áreas degradadas pela mineração de carvão: 3. Áreas de preservação permanente (APP) (recuperação) [...] 3.2. Após a caracterização 1, os rejeitos 2 não inertes e/ou estéreis 3 com sulfetos (principalmente pirita) deverão ser completamente removidos, com reposição de material inerte, não contaminante. A manutenção desses rejeitos e/ou estéreis no local, ainda que selados do ponto de vista hídrico, não pode ser permitida devido à sua função ambiental e à restrição legal. Excepcionalmente, quando o PRAD demonstrar a impossibilidade técnica 4 de remoção completa dos rejeitos não inertes e/ou estéreis, poderão ser adotadas outras soluções técnicas, tais como tratamento in situ e impermeabilização, desde que garantam: a) a efetiva e gradual redução da geração de drenagem ácida, tendente à cessação da mesma; b) a implantação de solo construído suficiente para suportar o desenvolvimento de vegetação nativa, sem comprometer a impermeabilização. Nesta hipótese excepcional não será exigida a implantação de Floresta Ombrófila Densa, bastando a implantação de vegetação nativa que não comprometa a impermeabilização. No entanto, deverá haver a compensação ambiental, mediante a implantação ou recuperação de área de preservação permanente de dimensões semelhantes, em outra área, indicada pelo órgão ambiental, na qual será implantada Floresta Ombrófila Densa. Os mesmos Critérios também prevêem uma regra de transição para aquelas áreas que já tivessem sofrido intervenção antes de sua entrada em vigor: 1 No PRAD deverá estar prevista a caracterização do estéril, observando-se a norma NBR 10.004. 2 Os rejeitos não inertes referidos são principalmente originados do beneficiamento do carvão. 3 Estéril - material pétreo que não contém minério em teor econômico, nas condições tecnológicas e mercadológicas atuais. 4 A impossibilidade técnica deve ser demonstrada mediante estudos hidrogeológicos e outros estudos apropriados para a situação concreta. A mera alegação de alto custo para remoção do material contaminante não será aceita como justificativa técnica suficiente. 3
As áreas que já tenham sofrido intervenção, visando à recuperação ou reabilitação, sem observância dos critérios estabelecidos neste documento, deverão ser vistoriadas e monitoradas quanto à eficácia da recuperação/reabilitação. Se as vistorias e o monitoramento demonstrarem a ineficácia da recuperação/reabilitação, o Ministério Público Federal e a FATMA poderão exigir novas intervenções, de acordo com os critérios estabelecidos neste documento. (item 2) Para tentar comprovar a adequação, a empresa apresentou os documentos técnicos que foram juntados no Anexo nº 29. Analisando estes documentos, a equipe técnica do MPF chegou às conclusões que estão expostas no anexo Parecer Técnico nº 006/2011. Em síntese, a equipe técnica do MPF concluiu que não é possível, ainda, com elementos apresentados pela empresa, ter-se uma conclusão definitiva quanto à aceitação da permanência dos rejeitos na faixa de APP, isto é, se é aceitável ou não aplicação da exceção prevista nos Critérios. Do Parecer Técnico nº 006/2011 extrai-se o seguinte excerto: [ ] Para demonstração da existência ou não de contaminação do rio Sangão pela área em comento seria necessário que a conclusão seja baseada, no mínimo, no detalhamento construtivo da obra de recuperação ocorrida, com ensaios de compactação e os parâmetros dele resultantes utilizados para sua execução, as espessuras aplicadas, a caracterização do material utilizado, seção litológica até o substrato dos taludes da bacia de finos sobre a APP do rio com indicação da posição do nível piezométrico pela construção, operação e realização de perfilagem elétrica em sucessivos monitores ao longo de uma linha perpendicular à margem, do substrato do depósito e dique. 4
[ ] Conclusivamente, cabe destacar que embora tenham sido apresentados os relatórios de monitoramento solicitados, tais relatórios demonstram a redução gradual ao longo do tempo para cada ponto, mas não atestam a eficiência das ações de recuperação empreendidas na área no sentido de não haver contribuição negativa das águas subterrâneas contaminadas para o Rio Sangão. Pelo fato de existir uma APP já implantada, com vegetação nativa relativamente exuberante, e também pelo fato dos relatórios demonstrarem a redução gradual da contaminação em cada ponto, o MPF considera prematuro e insensato exigir, ao menos neste momento, a remoção dos rejeitos da APP. Contudo, há a inequívoca necessidade de complementar o monitoramento, com dados mais precisos, conforme sugerido no Parecer Técnico nº 006/2011. V BOA VISTA (35,00 hectares) Na petição de fl. 1312, a INDÚSTRIA CARBONÍFERA RIO DESERTO LTDA. manifestou interesse em alterar o uso futuro de uma parte da área BOA VISTA, alienando-a à empresa TRANSPORTES NATAL LTDA., que ali implantaria um pátio para estacionamento de seus caminhões. Alegou que o uso futuro proposto é compatível com os Critérios e que não haverá qualquer prejuízo ambiental às obras de recuperação realizadas. Além disto, a presença de uma empresa na área ajudaria a evitar os atos de vandalismo que vêm comprometendo a plena recuperação ambiental da área. A equipe técnica do MPF se manifestou sobre a questão (Parecer 5
Técnico nº 004/2011), chegando à seguinte conclusão: Concluímos não haver óbice quanto à alteração do uso de parte da área Boa Vista desde que o projeto de implantação de estacionamento não comprometa os trabalhos de recuperação e que seja implantada a área de Preservação Permanente APP, na margem esquerda do rio Sangão, ao longo da área do empreendimento. Ocorre que, na vistoria que subsidiou o referido parecer técnico, realizada em 01.02.2011, a equipe técnica detectou um fato relevante, que não havia sido percebido antes: a RIO DESERTO não removeu os rejeitos da APP do rio Sangão, incidentes na área BOA VISTA, contrariando o disposto nos Critérios. Com efeito, foram feitos quatro furos de trado que comprovam a permanência dos rejeitos na APP. Além disto, a planta apresentada mais recentemente pela empresa, com o georreferenciamento das células de rejeito (fl. 1148, demonstra que, de fato, há rejeitos na APP. Ao contrário da área SANTA AUGUSTA, na área BOA VISTA não há, ainda, uma vegetação exuberante na APP. Tampouco as obras foram concluídas antes da definição dos Critérios. Logo, em princípio, não é aplicável a exceção que permite a permanência dos rejeitos em APP. Sangão (0,28 hectare) VI Área próxima a SANTA AUGUSTA complemento APP rio Concluída a produção de prova oral, o Juízo determinou a intimação da 6
INDÚSTRIA CARBONÍFERA RIO DESERTO LTDA., da UNIÃO e do MPF, nesta ordem, para apresentarem razões finais (fl. 1293). No entanto, a Secretaria intimou primeiramente o MPF, deixando de observar a ordem acima referida. VII Requerimentos Pelo exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer: a) a juntada dos documentos anexos; b) que sejam consideradas concluídas as obras de reabilitação devidas pela empresa nas áreas MINA 5, CORDA BAMBA A3 e SANGÃO; c) que a INDÚSTRIA CARBONÍFERA RIO DESERTO LTDA. seja intimada para, no prazo de 30 (trinta) dias: c.1) comprovar o requerimento junto à FATMA de Licença Ambiental de Operação (LAO) para monitoramento ambiental das áreas MINA 5, CORDA BAMBA A3 e SANGÃO; c.2) em relação à recuperação da APP do rio Sangão na área SANTA AUGUSTA, apresentar detalhamento construtivo da obra de recuperação ocorrida, com ensaios de compactação e os parâmetros dele resultantes utilizados para sua execução, as espessuras aplicadas, a caracterização do material utilizado, seção litológica até o substrato dos taludes da bacia de finos sobre a APP do rio com 7
indicação da posição do nível piezométrico pela construção, operação e realização de perfilagem elétrica em sucessivos monitores ao longo de uma linha perpendicular à margem, do substrato do depósito e dique; c.3) apresentar proposta de cronograma para complementação da recuperação da área BOA VISTA, com a completa retirada dos rejeitos que estão depositados na APP do rio Sangão, recompondo-se a APP, conforme previsto nos Critérios técnicos para recuperação ou reabilitação das áreas degradadas pela mineração de carvão; d) que a Secretaria intime a INDÚSTRIA CARBONÍFERA RIO DESERTO LTDA. e, posteriormente, a UNIÃO, para apresentarem razões finais, conforme determinado na fl. 1293. Criciúma, 28 de fevereiro de 2010. DARLAN AIRTON DIAS Procurador da República 8