A formação continuada e sua contribuição para o professor alfabetizador



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Transcrição:

A formação continuada e sua contribuição para o professor alfabetizador Resumo O presente artigo visa discutir a formação do professor alfabetizador e as implicações dessa formação nas práticas de alfabetização e letramento desenvolvidas nos anos iniciais do ensino fundamental. Assim, partiu se do problema: de que maneira a formação continuada contribui para a atuação do professor alfabetizador? E, ainda, qual o papel dessa formação na prática pedagógica do professor, ao trabalhar com alfabetização e letramento? Diante disso são apresentadas discussões no que tange à formação continuada dos professores, bem como a importância da integração dos processos de alfabetização e letramento, tendo como pressuposto a função social da leitura e da escrita. A pesquisa bibliográfica fundamentou, teoricamente, a coleta e análise dos dados empíricos. Esses foram coletados por meio de questionários entregues aos professores de três escolas públicas de um município situado no norte do Paraná, que atuam nos dois primeiros anos do ensino fundamental (1º ao 3 ano). Como referência, foram utilizados um documento curricular oficial do Estado do Paraná: Currículo Básico para a Escola Pública do Paraná, além de autores que discutem a formação continuada, como Nóvoa (1991) e Candau (1996), e o processo de alfabetizar letrando, como Kramer (2010), Soares (2003) e Klein (2008). Roberta Negrão de Araújo Universidade Estadual do Norte do Paraná robertanegrao@uenp.edu.br Sandra Regina dos Reis Universidade Estadual do Norte do Paraná Universidade do Norte do Paraná sandra.rampazzo@gmail.com Palavras chave: Formação de professor. Formação continuada. Alfabetização. Letramento. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1

Introdução Atualmente, no campo educacional, muitas discussões permeiam a temática alfabetização e letramento, principalmente após a promulgação da Lei n. 11.114/05, que alterou o artigo 6 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) n.9394/96, tornando obrigatória a matrícula da criança aos seis anos de idade no ensino fundamental, e a Lei n. 11.274/06, que ampliou a matrícula obrigatória aos seis anos. Neste contexto, que não basta alfabetizar na perspectiva de apropriar se do sistema de escrita alfabético e ortográfico, é necessário também apropriar se de habilidades que possibilitem a leitura e escrita de forma adequada, nas diversas situações em que precisamos ler e escrever diferentes gêneros e tipos de textos, em diversos suportes, com diferentes objetivos e interlocutores. Para tanto, torna se imprescindível que o professor compreenda, inicialmente, a importância e o significado de alfabetizar letrando e, assim, alfabetizar em contextos de letramento. Nesse sentido, torna se imprescindível a formação continuada do professor. Não só aquela proporcionada pelos órgãos responsáveis, mas a formação como iniciativa dele próprio. Essa sempre direcionada para um agir docente cada vez mais pautado em estudos cientificamente estruturados e aliados a sua prática. Hoje, é fato que nossos alunos e o meio sociocultural em que vivem estão sempre em transformação, em processo de inovação, assim como as ferramentas do letramento (gêneros de textos, meios de comunicação) e, nesse sentido, é indispensável que esse processo vivo e dinâmico seja levado para o contexto de ensino aprendizado e, consequentemente, fazer parte da formação do professor. A partir dessas considerações, foi levantado o problema que norteou a pesquisa: de que maneira a formação continuada contribui para a atuação do professor alfabetizador? Qual o papel dessa formação na prática pedagógica do professor ao trabalhar com alfabetização e letramento? Assim, discutimos a formação continuada do professor alfabetizador, bem como, os aspectos teóricos sobre alfabetização e letramento. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2

A principal finalidade deste trabalho é, portanto, analisar em que medida a formação continuada ofertada aos professores de uma rede pública municipal contribui para a prática pedagógica do professor alfabetizador. De forma específica, objetivamos: explicitar a formação continuada e sua contribuição para a prática pedagógica do professor alfabetizador; apresentar os conceitos de alfabetização e letramento relacionando os; e refletir o processo de alfabetização na perspectiva do letramento, por meio de levantamento de dados empíricos. O estudo foi fundamentado em pesquisa bibliográfica, abordando o tema: o papel da formação continuada no processo de alfabetizar e letrar. Contemplou, ainda, a coleta de dados empíricos, bem como a sua análise, tendo como lócus três instituições de um município do norte do Paraná, que ofertam os anos iniciais do ensino fundamental. A formação continuada do professor alfabetizador: superando desafios A atualização é necessária para todo profissional, sobretudo, para os professores, haja vista as constantes mudanças sociais, culturais e tecnológicas da sociedade em que estamos inseridos. Diante disso, observamos a importância da formação continuada na carreira profissional do professor, considerando que a aprendizagem é um processo contínuo e inacabado. Entende se por formação continuada aquela que ocorre após a formação inicial, e destina se a todos os profissionais. Todavia, o presente estudo foi restringido à formação continuada dos professores, especificamente do alfabetizador. De acordo com Rodrigues (2004) que recorre a Marin (1996), Barbieri, Carvalho, Uhle (1995) e Mendes Sobrinho (1998) para tratar da formação do profissional em exercício encontramos termos como: reciclagem, aperfeiçoamento, capacitação e atualização. Marin (1996) organiza tais termos num único bloco, por entender que partem de uma perspectiva teórica que valoriza a pesquisa como fundamental no processo de formação do professor. Constatamos que educação permanente, educação continuada e formação continuada são termos que reforçam a ideia de que a educação é um processo em X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3

contínuo desenvolvimento, no qual o professor atualiza se, recicla se, capacita se e aperfeiçoa se. Ele se constrói na sua prática, refletindo criticamente sobre suas ações pedagógicas, numa permanente (re) construção da identidade docente, participando ativamente do mundo que o cerca. Marin (1996 apud RODRIGUES, 2004) afirma que a educação continuada parece uma abordagem mais ampla, por possuir um sentido que incorpora o pessoal, o institucional e o social, abrangendo, assim, os termos mencionados (educação permanente, educação continuada e formação continuada). Candau (1996, apud RODRIGUES, 2004) contribui, distinguindo dois modelos de formação continuada: a clássica, que enfatiza a reciclagem, a atualização, que estabelece a existência de espaços destinados para tal (lócus de produção do conhecimento: a universidade e outros espaços por ela designado), e o novo modelo de formação. Esse modelo toma por base três eixos: a escola como lócus de formação continuada (é no trabalho do dia a dia que o professor aprende e reaprende sua prática e se aprimora, não havendo necessidade de deslocá lo para outros ambientes); a valorização do saber docente (os saberes adquiridos no cotidiano é que sustentam sua reflexão e análise profissional); e o ciclo de vida profissional dos professores (os interesses, as buscas dos professores no início e no final da carreira não são os mesmos, têm diferentes momentos e necessidades). Nesse novo modelo de formação continuada, consideram se esses três aspectos e, subjacente a eles, o professor alfabetizador, que precisa cada vez mais aprimorar sua prática, pensando a coletivamente para o conhecimento de metodologias adequadas para a alfabetização e o letramento e os diversos fenômenos que ocorrem na escola, impedindo que esse processo concretize se. Em razão da nossa sociedade vigente, capitalista, o papel do professor é fundamental, no sentido de buscar a emancipação social, ou seja, a não alienação do sujeito frente à dominação e exploração da maioria da classe (dominada). Essa condição de sujeito só é possível por meio do conhecimento que é ofertado pela escola, ou seja, transmitido pelo professor. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4

Entretanto, para que o professor pratique uma educação emancipadora é necessário que realize ações problematizadoras, visando à formação de sujeitos conscientes, autônomos e críticos. Para tanto, o professor deve avaliar sua prática, e o faz a partir da formação continuada, pois é nesse momento, sob uma perspectiva críticoreflexiva, que o professor irá analisar sua ação docente. Partindo do pressuposto de que somos sujeitos históricos e vivemos em constantes mudanças, a formação do professor é realizada em vários âmbitos, tanto na formação pessoal, teórica, como prática. Assim, a formação continuada é o momento de o professor aprender novos conceitos, discussões atuais referentes à educação e, principalmente, refletir sobre a sua ação docente, (re)significar sua postura profissional, no sentido de aprimorá la, ou sustentar práticas já existentes. Dessa forma, de acordo com Sartori (2011, p. 17), uma prática pedagógica que se desenvolve a favor da emancipação dos sujeitos se constrói pela reflexão da e sobre a prática educativa escolar. Em razão disso, Fávero e Tonieto (2011) refletem sobre três momentos da formação do professor: sua história de vida, formação teórica e prática. O professor tem uma formação pessoal que influencia em sua prática profissional, pois antes de ser professor, esse tem sua identidade formada, suas concepções, valores, crenças e uma história de vida, o que influencia em sua atuação profissional, assim, não deve estar desarticulado com os processos de formação docente. Segundo Fávero e Tonieto (2011, p. 168), [...] os processos formativos pessoais e os processos formativos profissionais constroem se mutuamente, pois a formação profissional é também a formação de um sujeito é a sua inserção em um mundo conceitual e prático, visto que, ao mesmo em tempo que o prepara para exercer um determinado papel como profissional, prepara o para uma nova inserção social, um novo contexto de relações, que lhe exigirá novas adesões, ações, opções e reflexões. Destacamos, também, que a formação teórica do professor, ofertada por espaços institucionais e por órgãos oficiais (governo federal, estadual, e municipal), tem por objetivo a construção do seu conhecimento, dos fundamentos educacionais, discussões, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5

atualização, realização de pesquisas, para o aprimoramento da formação docente e a reflexão sobre sua prática. A formação prática do professor acontece também em seu dia a dia, nas suas ações pedagógicas, pois, no cotidiano escolar, ocorrem inúmeras aprendizagens, descobertas do novo, diálogos e trocas com outros profissionais e alunos, o que configura uma forma de aprendizagem do docente em prática. Destarte, o professor não é um sujeito neutro, seus saberes experienciais e científicos devem ser valorizados, sua formação deve ser articulada com sua vida pessoal e a relação teórica e prática. O professor, após a formação inicial, necessita de formação continuada em uma perspectiva de permanência, realizando uma articulação entre a teoria e a prática, uma relação de aprendizagens, desconstrução de conceitos, diálogos e, posteriormente, praticando, unindo a aprendizagem ao trabalho pedagógico, realizando efetivamente a práxis pedagógica. Para Sartori (2011, p. 31), As possibilidades de articulação entre teoria e prática podem facilitar o redimensionamento da ação pedagógica, especialmente no que se refere à busca da superação da fragmentação do fazer pedagógico. Dessa forma, a formação continuada é o caminho para auxiliar o professor em seu trabalho docente, proporcionando a reflexão sobre sua prática pedagógica, o conhecimento de novas metodologias, atualização frente às mudanças no âmbito educacional. Enfim, ela deve proporcionar o embasamento teórico para transformar e, consequentemente, melhorar sua prática em sala. Assim, percebe se que a formação continuada é importante para o professor alfabetizador, pois a partir dela ele irá atualizar se sobre os métodos de alfabetização e refletir sobre seu trabalho em sala de aula, para, assim, realizar uma prática que articule alfabetização e letramento e, a partir disso, passar a entender a leitura e a escrita como função social. A formação continuada tem, entre outros objetivos, propor novas metodologias e colocar os profissionais a par das discussões teóricas atuais, com a intenção de contribuir para as mudanças que se fazem necessárias para a melhoria da ação pedagógica na escola e consequentemente da educação (NÓVOA, 1991, s/p.). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6

Identificamos que os cursos de formação continuada ofertados pelos órgãos oficiais e instituições educacionais são, muitas vezes, descontextualizados da ação docente. Os cursos de formação são realizados fora do lócus do saber elaborado (escola), geralmente à noite ou nos finais de semana. Nesses, muitas vezes, os professores participam de atividades sem articulação com o cotidiano escolar, desvalorizando seus conhecimentos, pois não são considerados os conhecimentos que esses possuem, bem como os saberes adquiridos na prática. Assim, esquece se do lócus do trabalho pedagógico, valorizando somente conhecimentos científicos e dados de pesquisas dos palestrantes dos cursos, não levando o professor a analisar e, consequentemente, repensar sua prática. O caminho para a formação dos professores alfabetizadores, já em serviço, não é o da implementação de pacotes pedagógicas préelaborados por órgãos centrais, nem a proposição de um novo método redentor de alfabetização. Uma via possível seria a promoção na escola da reflexão sistemática dos professores sobre a sua prática a partir da qual conteúdos e atitudes referentes ao processo de construção da alfabetização seriam trabalhados. O desafio se coloca exatamente na concretização dessa alternativa considerando, simultaneamente, as contribuições dos estudos teóricos e a prática concreta, real, dos professores (KRAMER, 2010, p. 70). Dessa forma, a mudança na postura do professor acontecerá a partir de cursos de formação que valorizem o saber docente e que, além de sua prática pedagógica, adquirida em sala de aula, possibilite trocas de saberes, ou seja, elementos que de fato os levem a reflexão, a abrir espaços na escola para o diálogo em torno do ensino e aprendizagem. Tais ações também são uma maneira de formação e contribuição para o trabalho pedagógico do professor, pois, na escola, os docentes irão refletir sobre esse processo, discutir dificuldades, superações, erros e acertos, além de trocar saberes para que, de fato, percebam que a leitura e escrita tem um papel social e cultural na vida da criança. Kramer (2010, p.108 109) comenta que [...] é fundamental abrirmos espaço na escola em que trabalhamos para a discussão coletiva sobre as questões concretas que X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7

enfrentamos na sala de aula e para a atuação coletiva que irá fortalecendo a equipe da escola. Assim, para a proposta discutida no decorrer do nosso trabalho, sobre a importância da articulação entre alfabetização e letramento, acreditamos que a formação continuada do professor alfabetizador seja de suma importância para seu trabalho pedagógico em sala de aula. Em seguida, trataremos da discussão entre o processo simultâneo de alfabetização e letramento. Alfabetização e letramento: discutindo os processos A instituição responsável pela transmissão dos conhecimentos científicos historicamente elaborados pelos homens é a escola. Nesse sentido, tem o relevante papel de formar sujeitos alfabetizados e letrados. Nos dias atuais, muito se discute sobre os modos de alfabetização e letramento. No intuito de demonstrar os resultados desses processos, ou de apresentar novos métodos para sua realização, estudiosos da área preocupam se com os caminhos que a ação educativa percorre, como se dá a alfabetização e o letramento na escola, seus resultados e, ainda, como essa vivência que a criança já tem antes de chegar à instituição escolar influencia esse processo. Essas e outras indagações influenciam, muito ou pouco, a prática em sala de aula. Ao discutir alfabetização e letramento, é importante registrar que o homem constrói suas relações sociais por meio do trabalho, (re) significando se historicamente. Logo, a linguagem humana, que foi construída histórica e coletivamente pelos homens, é uma estrutura viva e, portanto, passível de transformações. Utilizamo nos dela para nos comunicarmos, bem como acumular e transmitir conhecimentos, portanto, é por meio dela que o homem constrói sua consciência humana. O sistema de escrita alfabética e as convenções para seu uso constituem uma tecnologia necessária para a inserção no mundo da escrita, no mundo letrado. Tecnologia que foi inventada e aperfeiçoada ao longo de milênios pela humanidade, a qual percebeu X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8

que, por meio de sinais gráficos, os sons podiam ser representados. Com esse processo, convenções foram se estabelecendo sobre esse sistema de escrita alfabética e seu uso. Entretanto, a alfabetização não é a única responsável por essa entrada no mundo da escrita, faz se necessário que o aluno aprenda a fazer uso social dessa tecnologia, que entenda para que aprende a ler e escrever e como fará uso social desses conhecimentos por meio do letramento. Isso consiste em articular os textos na sala de aula, realizar o trabalho com diversos gêneros textuais que circulam em nosso meio, pois, dessa forma, o professor estará trabalhando a função da escrita, para que servem os textos que produzimos e sua função na nossa sociedade. Podemos destacar que há pouco mais de dez anos a palavra letramento, assim como o seu significado, tem sido discutida com mais ênfase. Apesar de ser uma palavra antiga, emergiu atualmente em novos contextos. Percebemos que não basta saber ler e escrever, é preciso saber fazer uso competente dessas habilidades. Segundo Soares (2003), foram feitas várias buscas e investigações, a fim de conceituar a palavra letramento utilizada no Brasil. De acordo com a autora a palavra foi importada do inglês, pois não é dicionarizada na língua portuguesa. A palavra letramento é uma tradução da palavra inglesa literacy (condição de ser letrado), que é um processo contínuo e permanente. Diante disso, a criança necessita de dois requisitos para a entrada no mundo da escrita: a aquisição da tecnologia do sistema de escrita alfabético e ortográfico (alfabetização), e o desenvolvimento de competências para o uso dessa tecnologia em práticas sociais que envolvam a língua escrita (letramento). Desse modo, alfabetizar não se resume apenas à aquisição das habilidades mecânicas (codificação e decodificação), mas na capacidade de interpretar, compreender, argumentar, (re)significar e produzir conhecimentos, utilizando se dessas técnicas. Nesse sentido, a alfabetização tomada como processo de apropriação da língua escrita, assume, na escolarização, um papel fundamental: ao instrumentalizar o aluno para a inserção na cultura letrada, cria as X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9

condições de possibilidades de operação mental, capaz da apreensão dos conceitos mais elaborados e complexos que vem resultando do desenvolvimento das formas sociais de produção (PARANÁ, 1990, p. 33). Assim, alfabetizar é ensinar os códigos silábicos, decodificação das letras, o uso adequado dos instrumentos, sua manipulação, convenções para o uso correto, como a direção da escrita, ou seja, transmitir todas as tecnologias para o uso do sistema alfabético e ortográfico. Nesse sentido, letrar é apresentar ao estudante como utilizar essas técnicas de leitura e escrita em seu dia a dia, ou seja, dar possibilidades ao estudante para adquirir habilidades tanto para decodificar o alfabeto, como para saber utilizá lo em sua vida social, lendo e interpretando diferentes gêneros textuais que circulam socialmente. O sujeito letrado, ao adquirir a habilidade de leitura e escrita (alfabetizado), fará uso dessa condição em suas práticas sociais, portanto, letramento é uma função social, que aumenta o controle e a capacidade das pessoas de refletirem e tomarem decisões. Assim, a partir de sua formação, o indivíduo pode utilizar se dessa prática como dimensão individual, saber ler e escrever para si, mas não saber interpretar os diversos gêneros textuais presentes em seu cotidiano, contribuindo, dessa forma, para manter as condições como estão, ou seja, a manutenção da divisão social entre as classes que ainda vivenciamos (dominante e dominada). Por outro lado, o sujeito pode fazer da sua condição de letrado uma dimensão social, praticando as habilidades de leitura e escrita socialmente em seu cotidiano, agindo criticamente e transformando sua realidade. Justamente por ser mais difícil de ser definido porque esse processo também envolve diferentes indivíduos, em diferentes contextos sociais e econômicos, que estão em constantes transformações o letramento tem sido tema de muitas indagações e estudos, fonte de preocupação dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Existem conceitos de letramento, que variam segundo as necessidades e condições sociais específicas de determinado momento histórico. As pessoas ocupam lugares sociais diferentes, têm situações cotidianas, atividades e estilos de vida diferentes umas das outras. Dessa forma, cada contexto exige uma demanda diferenciada de letramento. Segundo Soares (2003 apud BHOLA, 1979, p.77), este é X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10

[...] não apenas o processo de aprendizagem de habilidades de leitura, escrita e cálculo, mas uma contribuição para a liberação do homem e para o seu pleno desenvolvimento. Assim concebido, o letramento cria condições para a aquisição de uma consciência crítica das contradições da sociedade em que os homens vivem e dos seus objetivos; ele também estimula a iniciativa e a participação do homem na criação de projetos capazes de atuar sobre o mundo, de transformá lo e de definir os objetivos de um autêntico desenvolvimento humano. É necessário, portanto, ampliar o conceito de alfabetização, pois a aprendizagem da escrita de um modo restrito e fragmentado não transforma a realidade do indivíduo, diferentemente da condição do letrado, pois, ao ser alfabetizado de forma mecânica, o sujeito saberá apenas utilizar a leitura e escrita nos âmbitos escolares, não fazendo uso dessa fora da escola, em suas práticas sociais, com uma leitura de mundo mais crítica. [...] o aprender a ler e escrever alfabetizar se, deixar de ser analfabeto, tornar se alfabetizado, adquirir a tecnologia do ler e escrever e envolver se nas práticas sociais de leitura e de escrita tem conseqüências sobre o indivíduo, e altera seu estado ou condição em aspectos sociais, psíquicos, culturais, políticos, cognitivos, linguísticos e até mesmo econômicos; do ponto de vista social (SOARES, 2003, p. 17 18). Nessa perspectiva, a alfabetização e o letramento, enquanto processos simultâneos e indissociáveis, devem ser realizados de maneira analítica, partindo do todo para as partes. Trabalha se uma preposição metodológica que faça com que a criança tenha uma compreensão do geral para as partes, que utilize a linguagem enquanto função social, em seu dia a dia, logo, que entenda o contexto das palavras e seu significado para, assim, trabalhar o sistema gráfico, as relações grafema/fonema, as convenções da escrita, dentro de uma estrutura textual que tenha sentido para ela. Assim, ler e escrever em uma perspectiva integral fará o estudante pensar e agir criticamente. A partir dessas aquisições terá condições de refletir sobre a sociedade, de participar ativamente em situações em que são exigidas as práticas de leitura e escrita, portando se frente aos diversos gêneros existentes, atuando como cidadão crítico e transformador. Inserir a criança no universo da leitura e da escrita, para mostrar seus usos e sua importância, é a primeira ação acertada de quem tem a responsabilidade do letramento, X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11

pois a função da escola é formar praticantes da leitura que saibam utilizá la em suas práticas sociais, que vão além da decodificação de códigos, ou da leitura de pequenas frases e textos. Nesse sentido, a escola deve formar sujeitos capazes de ler os mais variados textos que circulam socialmente. Desse modo, a escrita deve ter sentido para o estudante, é isso deve ser responsabilidade da escola, que deve assegurar a todos a oportunidade de apropriarem se da leitura e escrita como função social. Dados empíricos coletados: apresentação e análise Com o objetivo de coletar os dados empíricos, selecionamos três, dentre quinze, escolas públicas que ofertam os anos iniciais do ensino fundamental em município no norte do Paraná. Nessas, tivemos o envolvimento de professores que atuam nos anos de alfabetização (1 ao 3 ano). As escolas lócus foram: uma escola central, que denominamos E 1, e duas periféricas, que são identificadas na pesquisa por E 2 e E 3. Foram distribuídos onze questionários. O instrumento foi estruturado em seis questões, sendo duas dissertativas e quatro objetivas, além de dados do professor. Num primeiro momento, as pesquisadoras explicaram para as professoras os objetivos da pesquisa e solicitaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Também foi solicitada a autorização das diretoras para a pesquisa realizada na escola. Em um segundo momento, os questionários foram entregues aos professores na primeira quinzena de setembro, sendo que esses deveriam respondê lo por escrito e individualmente. Os professores tiveram duas semanas para responder aos questionários. Dos onze questionários entregues, apenas um não teve retorno, os demais foram todos preenchidos e devolvidos. Apresentamos um breve relato das escolas que tiveram professores, dos primeiros anos do ensino fundamental, envolvidos na pesquisa de campo e que responderam ao questionário de coleta de dados empíricos. As três escolas são públicas e têm, como mantenedor, a Prefeitura Municipal. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12

A escola 1 (E1) localiza se na zona urbana, área periférica da cidade, a leste da área central. Oferta a educação infantil e ensino fundamental, do 1º ao 5º ano e funciona no período vespertino. Atende alunos dos bairros populares que são próximos. A comunidade escolar é formada, portanto, por crianças desses bairros que compõem o entorno da escola. Na sua maioria, as famílias são assalariadas e com estruturas bem diferenciadas. Nessa escola, três professoras responderam o questionário e são tratados aqui como P1, P2 e P3. A escola 2 (E2) localiza se na zona urbana e central da cidade. Oferta, nos três turnos: a educação infantil, o ensino fundamental 1º ao 5º ano, além das modalidades educação especial, por meio da classe especial, nos períodos matutino e vespertino, e Educação de Jovens e Adultos (EJA), no período noturno. A comunidade provém de todos os bairros da cidade, e é bem heterogênea nos aspectos econômico, social e cultural. Quatro professoras responderam o questionário e são tratadas, aqui, como P4, P5, P6, P7 e P8. Já a escola 3 (E3) localiza se na zona urbana e periférica da cidade, no lado oposto a escola 1. Oferta a educação infantil e o ensino fundamental 1º ao 5º ano em tempo integral. Compartilha espaço, no período noturno, com uma escola estadual. Atende alunos dos conjuntos que a circundam, além de provenientes da zona rural e alguns de cidade vizinha. A escola pertence a uma comunidade na qual os pais trabalham na lavoura (cana de açúcar e café), na reciclagem de lixo e outras funções. Alunos de famílias alternativas, com papéis mal resolvidos, sem o sentimento de pertencimento à comunidade, o que gera nas crianças falta de equilíbrio emocional, sendo muitos intolerantes e violentos, pois convivem com a violência, com as drogas e outras situações estressantes. Também enfrentam problemas de moradia precária, desemprego, subempregos e outros. Foram três as depoentes, que são tratadas como: P9, P10 e P11. Os dados que se referem às informações quanto à atuação profissional foram organizados na tabela 1 (em anexo). Todas as envolvidas são do sexo feminino e, em média, possuem quinze anos de atuação no ensino fundamental, sendo 10 anos nos anos iniciais. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13

A primeira questão solicitava a caracterização de alfabetização e letramento. Na E1, os professores registraram que os processos não se restringem à decodificação, mas que o aluno aprende, também, a função social da escrita. Não distinguiram os processos. Alfabetização significa orientar a criança ao domínio da leitura e da escrita. Letramento é levar a criança ao exercício de práticas sociais de leitura e escrita. O aluno utiliza a linguagem como instrumento de socialização e transformação social inicialmente no meio em que vive (E1, P3). Na E2, as quatro professoras caracterizaram os processos, diferenciando os. Apontaram, também, a relação que existe entre ambos, como destaca a P4 Alfabetização: a criança aprende a ler e escrever e compreende o código de transcrição gráfica. No letramento: a criança compreende o que lê e escreve e exerce nas práticas sociais. Alfabetizar letrando: é ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais e da escrita. Na E3, duas das três depoentes citaram o PACTO 1 para caracterizar os processos. Mas as três apontaram a relevância das práticas sociais. Na questão dois, perguntamos os critérios que são levados em consideração para avaliar uma criança como alfabetizada e letrada. Na E1, as três professoras registram que o critério é que a criança saiba ler e escrever, além de compreender o que leu. Na E2, a P7 registrou que o critério consiste em compreender o que a criança escreve. Já a P6 apontou a leitura e a compreensão do que o aluno lê e escreve. De forma curiosa, as respostas da P4 e P5 foram idênticas Considerando a leitura da criança com compreensão e a escrita com sentido para o que ela quer transmitir. Na E3, duas das três depoentes registraram que a criança deve ser capaz de ler e escrever, bem como utilizar a leitura e escrita na sociedade em que vivem. Criança alfabetizada deve ser capaz de ler com uma certa fluência e escrever o mais próximo do convencional possível e a letrada além de ler 1 O PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA é uma ação inédita do Ministério da Educação que conta com a participação articulada do governo federal e dos governos estaduais e municipais, dispostos a mobilizar o melhor dos seus esforços e recursos, valorizando e apoiando professores e escolas, proporcionando materiais didáticos de alta qualidade para todas as crianças e implementando sistemas adequados de avaliação, gestão e monitoramento. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.14

e escrever, deve ser capaz de utilizar seu conhecimento da leitura e escrita na sociedade em que vive. Para o letrado, é importante reconhecer o exercício da leitura e escrita no seu cotidiano, sendo um cidadão que participe de sua comunidade (P10). Contudo, a P9 caracterizou os termos alfabetização e letramento, mudando o objetivo da questão Alfabetização é quando a criança adquire o domínio do código escrito, e letramento é o domínio que o aluno adquire de ler e escrever para atingir diferentes objetivos. A terceira questão foi assim apresentada. Quantos cursos de capacitação você participou sobre alfabetização e letramento nos últimos cinco anos? Evidenciamos que todos os professores participaram de, pelo menos, um curso de capacitação que abordou o tema da presente pesquisa. A P1 (E1), entretanto, fez uma observação, destacando que, no único curso que participou houve uma pequena abordagem sobre o assunto, mas não um aprofundamento. Na quarta questão, foi questionado: caso tenha participado de algum curso abordando tal temática, de que forma você avalia a formação recebida? Dos dez depoentes, oito afirmaram que o(s) curso(s) foi(foram) ótimo(s), contribuindo para a prática pedagógica; já duas afirmaram que o(s) curso(s) foi(foram) bom(s), mas pouco contribui(ram) para a prática pedagógica, nenhum professor concordou com o terceiro item que: o(s) curso(s) foi(foram) regular(es) e nada contribui(ram) para a prática pedagógica. Na quinta questão, foi perguntado se a formação continuada contribui para a prática pedagógica do professor. Das dez depoentes, todas concordam que a formação continuada contribui de alguma maneira para sua prática pedagógica, a formação continuada é fundamental para uma ressignificação da nossa prática pedagógica (E1, P6). A P7 da E2 justificou que fornece ao professor alfabetizador instrumentos e mais capacitação para conduzir o trabalho pedagógico. Na última questão, as envolvidas deveriam responder às outras formas de capacitação (se é que buscam). Dentre as outras formas citaram: a P1 da E1 realiza leitura de livros, busca novidades na internet e a prática efetiva em sala de aula com as X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.15

diversidades, a P2 não citou nenhuma outra forma de estudo (capacitação), já a P3 citou a capacitação oferecida por outras instituições. Na E2, das quatro depoentes, somente a P6 citou que busca outras formas de estudos (capacitação), como: leituras e pesquisas na WEB. Na E3: a P9 citou as pesquisas e leituras, a P10 realiza cursos oferecidos por instituição privada e pela Internet, sempre relacionados às dúvidas e dificuldades apresentadas no momento, como Psicomotricidade relacional, comportamento individual e em grupo, produção de textos, inclusão, entre outros. Já a P11 citou os cursos oferecidos em Educação a Distância, e também que realiza formações oferecidas em Educação a Distância. Analisando os dados coletados, foi evidenciado que os professores são unânimes em relatar que a formação continuada é importante na carreira docente. No entanto, alguns não participam de outras, além das ofertadas pelo município nos últimos cinco anos. Observa se também que quando realizam outras formas de capacitação, o fazem por meio de leituras de livros (não especificado), internet e cursos oferecidos por outras instituições. Em relação a outras formações, que não se referem ao tema alfabetização e letramento, os professores investigados fizeram, no período estipulado na pesquisa (5 anos), em média, pelo menos, entre um a três cursos. Considerações finais O presente estudo possibilitou nos afirmar que a formação continuada, em geral, contribui para a atuação do professor, pois oferece suporte, respaldo ou mesmo ressalva para o desenvolvimento de sua ação docente. A partir dessa formação o professor pode tentar suprir as dificuldades encontradas em sala de aula, bem como aprofundar seus conhecimentos teóricos nessa área, realizando um trabalho articulado com a alfabetização e o letramento. Dessa forma, confirmamos a importância da formação continuada para a carreira do professor alfabetizador e caracterizamos alfabetização e letramento de forma separada. Porém, acreditamos que esses sejam processos simultâneos e interdependentes, e, dessa forma, uma prática pedagógica que contribua para a X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.16

aprendizagem significativa e transformadora, necessita de um trabalho nessa perspectiva. Pela análise dos dados evidenciamos que os professores das escolas que participaram da pesquisa, ainda que façam parte de uma amostragem, afirmam que a formação continuada é importante para sua ação docente. Entretanto, o que percebemos é que ela não é devidamente valorizada pelos professores pesquisados, pois, alguns ainda não buscam outras formas de capacitação, além daquelas proporcionadas pela mantenedora. Por isso, ao apresentarmos a importância da formação continuada para a carreira docente, acreditamos que essa deve ser valorizada e praticada, enquanto conhecimentos sistematizados, como: pesquisas, grupos de estudos, leituras, especializações, mestrados e doutorados; pensando que, enquanto profissionais da educação, devemos estar em busca permanente de conhecimento e capacitação. Vale ressaltar que os professores acreditam na importância de alfabetizar letrando, ou seja, que o estudante deve tanto aprender as diversas técnicas de leitura e escrita, decodificação das palavras, suas convenções, regras para seu uso, como também, ao mesmo tempo, aprender a utilizar a leitura e escrita em seu dia a dia, ao preencher uma ficha, escrever uma carta, ler e interpretar um jornal, artigo, charge, enfim, que tenha habilidades para ler e escrever e utilizar se dessas práticas em suas ações sociais, a fim de transformar as relações existentes. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.17

Referências BRASIL. Lei nº 11.114, de 16/05/2005. Altera os artigos 6º, 30, 32 e 87 da Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental aos seis anos de idade. BRASIL. Lei nº 11.274, de 06/02/2006. Altera a redação dos artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação 17nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: currículo na alfabetização: concepções e princípios: ano 1 : unidade 1/ Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional Brasília: MEC, SEB, 2012. CANDAU, Vera Maria. Formação continuada de professores/as: questões e buscas atuais (1996). Disponível em: <http://www.novamerica.org.br/revista_digital/l0122/rev_emrede02.asp>acesso em: 10. ago. 2013. KLEIN, Lígia Regina. Alfabetização: quem tem medo de ensinar? 5. ed. São Paulo: Cortez; Campo Grande: Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2008. KRAMER, Sonia. Alfabetização, leitura e escrita: formação de professores em curso. São Paulo: Ática. 2010. NÓVOA, António. Formação de Professores e profissão docente. Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/4758/1/fppd_a_novoa.pdf>acesso em: 10. Ago. 2013. PARANÁ. E1. Projeto Político Pedagógico. Município investigado, 2011. PARANÁ. E2. Projeto Político Pedagógico. Município investigado, 2011. PARANÁ. E3. Projeto Político Pedagógico. Município investigado, 2011. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná. Curitiba: SEED, 1990. RODRIGUES, Disnah Barroso. Educação Continuada: Analisando sentidos a partir de terminologias e concepções. In: ANPED/GT02 Formação de Professores. Anais 2004. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.18

SARTORI, Jerônimo. Formação do Professor em Serviço: Prática Pedagógica Ressignificada. In: LOPES, Anemari Roesler Luersen Vieira; TREVISOL, Maria Teresa Ceron; PEREIRA, Patrícia Sandalo (orgs). Formação de Professores em diferentes espaços e contextos. Campo Grande, MS: Ed. Ufms, 2011. SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Trabalho apresentado no GT Alfabetização, Leitura e Escrita, durante a 26ª Reunião Anual da ANPEd, realizada em Poços de Caldas, MG, de 5 a 8 de outubro de 2003. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n25/n25a01.pdf/> Acesso em 06 ago. 2013. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2.ed., 6 reimpr. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.19

Tabela 1: Dados referentes à formação e atuação ESCOLA PROFESSOR GRADUAÇÃO FORMAÇÃO PÓS GRADUAÇÃO 1 1 Letras Gestão e Organização Escolar 1 2 Pedagogia Gestão e Organização 1 3 Pedagogia/Let ras Escolar Cultura, Tecnologia e Ensino de Línguas 2 1 Pedagogia Educação Especial 2 2 Letras Didática de Ensino de 2º grau 2 3 Pedagogia Educação Especial 2 4 Pedagogia Psicopedagogi a 3 1 Pedagogia Psicopedagogi a e Educação Especial 3 2 Letras Anglo Portuguesa Metodologia e prática do ensino superior 3 3 Matemática Matemática e Gestão Escolar Fonte: elaborado pelas autoras (2013). ANOS DE ATUAÇÃO ANOS DE ATUAÇÃO: ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL 15 2 1 1 20 20 27 27 10 10 10 2 14 9 15 10 21 12 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.20