O SERVIÇO DE POLINIZADORES E A EFICÁCIA REPRODUTIVA DAS PLANTAS EM FRAGMENTOS VEGETAIS DE CERRADO NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS, GOIÁS



Documentos relacionados
O Estado da Biodiversidade Brasileira: Genes, Espécies e Biomas

MELIPONICULTURA: OPORTUNIDADE DE RENDA COMPLEMENTAR PARA OS QUILOMBOLAS DO MUNICÍPIO DE DIAMANTE PB

JOGO GALÁPAGOS: A EXTINÇÃO E A IRRADIAÇÃO DE ESPÉCIES NA CONSTRUÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA

Efeitos da fragmentação de habitats em populações vegetais SANDRO MUNIZ DO NASCIMENTO

Palavras-chave: campo rupestre, síndromes de dispersão, Serra dos Pireneus.

EDITAL DE APOIO A PESQUISAS REALIZADAS NA RPPN URU, LAPA, PARANÁ

Corte seletivo e fogo fazem Floresta Amazônica perder 54 milhões de toneladas de carbono por ano

ECOLOGIA GERAL ECOLOGIA DE POPULAÇÕES (DINÂMICA POPULACIONAL E DISPERSÃO)

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

DESMATAMENTO DA MATA CILIAR DO RIO SANTO ESTEVÃO EM WANDERLÂNDIA-TO

Considerações sobre redimensionamento de motores elétricos de indução

CADERNO DE EXERCÍCIOS

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E POLINIZAÇÃO DE PLANTAS DO BIOMA CAATINGA: A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS DIFERENCIADAS EM SALA DE AULA.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, RESGATAR A IMPORTÂNCIA DO BIOMA CAATINGA

Mudanças na estrutura diamétrica em uma comunidade no Cerrado de Itirapina, São Paulo

CRIAÇÃO DO CADASTRO REGIONAL DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS DO SUDESTE DE MINAS GERAIS.

Utilização e Formas de Aproveitamento de espécies do Cerrado no Município de Anápolis, Goiás

GENÉTICA DE POPULAÇÕES:

Palavras chaves Diagnóstico, fitofisionomia, uso da terra. Introdução

DIRETORIA COMERCIAL PLANO DE OCUPAÇÃO DA INFRAESTRUTURA DA COELCE

ÁREA TEMÁTICA: Meio Ambiente

Nota técnica nº 001/2010.

PROJETO PARQUE ITINERANTE: UM INCENTIVO AO DESENVOLVIMENTO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

PLANEJANDO A CONSERVAÇÃO DO CERRADO. Conciliando Biodiversidade e Agricultura

Estrutura de um resumo de trabalho científico: título autores filiação texto: introdução material e métodos resultados discussão

A Influência da Crise Econômica Global no Setor Florestal do Brasil

Lista de Exercícios de Recuperação do 3 Bimestre

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

Descrição do processo de priorização para tomada de tempos: Pesquisa ação em uma empresa job shop de usinados aeronáuticos.

O que é biodiversidade?

01. (FUVEST) Dentre os vários aspectos que justificam a diversidade biológica da Mata Atlântica, encontram-se:

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

INTRODUÇÃO DA ATIVIDADE BIOLOGIA ITINERANTE: ARTRÓPODES E SUA IMPORTÂNCIA ECOLÓGICA EM ESCOLAS PÚBLICAS DE FORTALEZA.

DIFUSÃO DO GREENING DOS CITROS NA REGIÃO DE BROTAS.

O Brasil acabou? Evaristo Eduardo de Miranda, Coordenador do GITE EMBRAPA

Nº 27 Março 2012 Análise da Evolução das Características dos Domicílios Cearenses em Termos da Existência de Bens Duráveis na Década de 2000

Análise da qualidade de imagens Landsat-1-MSS entre os anos de 1972 e 1975 para o bioma Cerrado

MANIFESTAÇÃO TÉCNICA - CORTE DE ÁRVORES NATIVAS ISOLADAS

BIOLOGIA FLORAL E POLINIZAÇÃO DE TRÊS ESPÉCIES DE PASSIFLORA L. (PASSIFLORACEAE) EM UBERLÂNDIA, MG, BRASIL.

Relatório de atividades Arte e cidadania caminhando juntas Pampa Exportações Ltda.

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS ATRAVÉS DE HERBICIDAS EM CONDIÇÕES DE SAFRINHA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MEIO AMBIENTE: CONCEPÇÕES DE PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO 1

Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 3, pág. 2451

NOTA TÉCNICA DE PESQUISA

Fuvest 2014 Geografia 2ª Fase (Segundo Dia) A região metropolitana do litoral sul paulista é constituída pelos municípios representados no mapa:

EXTINÇÃO DA FAUNA BRASILEIRA. Djenicer Alves Guilherme 1, Douglas Luiz 2

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

Projeto de lei no. 440/2011 Audiência Pública. Mercedes Bustamante Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento

5 Considerações finais

ENSINO DE CIÊNCIAS NO ENSINO FUNDAMENTAL EM DIFERENTES ESPAÇOS EDUCATIVOS USANDO O TEMA DA CONSERVAÇÃO DA FAUNA AMAZÔNICA.

VULNERABILIDADE À EXTINÇÃO. Algumas espécies são mais vulneráveis à extinção e se enquadram em uma ou mais das seguintes categorias:

MACROFAUNA EDÁFICA DO SOLO E LÍQUENS COMO INDICADORES DE DEGRADAÇÃO EM REMANESCENTES FLORESTAIS URBANOS

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO: ÁREA TEMÁTICA INTRODUÇÃO

Código Florestal Regras Brasileiras, Regras Européias

Programa de Desenvolvimento Rural do Continente para

PROJETO SEMEANDO SUSTENTABILIDADE EDITAL DE SELEÇÃO PARA O II CURSO ECOLOGIA DA FLORESTA. Porto Velho e Itapuã do Oeste/RO 27 a 30 de novembro de 2013

Manejo Sustentável da Floresta

GRUPO X 3 o BIMESTRE PROVA A

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

ENSAIO PRELIMINAR UTILIZANDO CULTURAS DE DAPHNIA SIMILIS, PARA A DETERMINAÇÃO DA CONSTANTE DE REPRODUÇÃO, SEGUNDO A EQUAÇÃO DE MALTHUS

A fauna na recuperação das áreas degradadas

Caracterização da coleta seletiva de resíduos sólidos no Brasil: avanços e dificuldades

ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO DO BIOMA CAATINGA NAS IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE SANTA CECÍLIA PB

Manual de Recursos Humanos

MONITORAMENTO DA TEMPERATURA DE SUPERFÍCIE EM ÁREAS URBANAS UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR DA INDÚSTRIA - SESI/SC

7 Considerações finais

Disciplina: Biologia Série: 2ª série EM - 1º TRIM Professora: Ivone Azevedo da Fonseca Assunto: Genética de Populações

SIMULADO DO TESTE DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

3.1. O processo de seleção será regido por este edital e executado pela Coordenação do Programa de Mestrado Profissional em Ciências do Ambiente.

TÍTULO: PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS

ICMS estarão reduzidas as fontes de expansão da arrecadação?

Mangifera indica L. - originaria da Ásia Fruteira amplamente cultivada Brasil

A IMPORTÂNCIA DA CONECTIVIDADE DAS ÁREAS NATURAIS NA CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM FLORESTAS PLANTADAS. Dr. Vlamir José Rocha Biólogo

12 DE JUNHO, DIA DE COMBATE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA NO PIBID DE GEOGRAFIA

EMENDA AO PLDO/ PL Nº 009/2002-CN ANEXO DE METAS E PRIORIDADES

182 MACHADO & SOARES: COMUNIDADE MUSCOIDEA

O IX Encontro Nacional da ECOECO será constituído por:

CONHECENDO O CADASTRO AMBIENTAL RURAL

Q U E S T Ã O 4 0 Q U E S T Ã O 4 1 PROVA DE BIOLOGIA II

HOTSPOTS. As Regiões Biologicamente mais Ricas e Ameaçadas do Planeta

MANUAL DE OPERAÇÕES DA RODA DE DÓLAR PRONTO

Prof. Pedro Brancalion

Eixo Temático ET Meio Ambiente e Recursos Naturais

Biodiversidade em Minas Gerais

Utilização de jato de água e ar no controle de cochonilhas farinhentas em videira

INTERVENÇÕES ESPECÍFICAS DE MATEMÁTICA PARA ALUNOS DO PROEJA: DESCOBRINDO E SE REDESCOBRINDO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Unidade 8. Ciclos Biogeoquímicos e Interferências Humanas

9º ENTEC Encontro de Tecnologia: 23 a 28 de novembro de 2015

SISTEMAS DE PRODUÇÃO VEGETAL AGROECOLÓGICA

JORNALZINHO DA SAÚDE

A empresa fica na feira de Sapatilha?

Avaliação agronômica de variedades de cana-de-açúcar, cultivadas na região de Bambuí em Minas Gerais

ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS EM TRECHOS DO ARROIO CANDÓI, LARANJEIRAS DO SUL, REGIÃO CENTRAL DO ESTADO DO PARANÁ

CLIMATOBOTÂNICA O QUE É CLIMATOBOTÂNICA QUADRO CLIMATOBOTÂNICO

C.P.A COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO

Abundância de Biodiversidade

RELATÓRIO MENSAL DE ACOMPANHAMENTO DE MERCADO Setembro de 2014 ÓLEO DIESEL

Ituiutaba MG. Córrego da Piriquita AMVAP Estrada Municipal 030. Lázaro Silva. O Proprietário. Córrego

Transcrição:

O SERVIÇO DE POLINIZADORES E A EFICÁCIA REPRODUTIVA DAS PLANTAS EM FRAGMENTOS VEGETAIS DE CERRADO NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS, GOIÁS Giselle Lopes Moreira 1,2, Juliana Cristina de Sousa 1,3 e Mirley Luciene dos Santos 4 1 Acadêmicas de iniciação científica da Universidade Estadual de Goiás 2 Bolsista do PIBIC/CNPq/UEG 3 Acadêmica PVIC/UEG 4 Professora Doutora da UEG, UnUCET, Coordenadora do Projeto e Orientadora IC RESUMO Estudos de biologia reprodutiva em áreas do Cerrado indicam que a variabilidade genética fornecida pela polinização cruzada é de extrema importância, como nas comunidades florestais. O objetivo do trabalho foi caracterizar aspectos relativos aos sistemas reprodutivos de plantas, sua diversidade e eficiência em dois fragmentos de Cerrado com distintos graus de antropização, buscando comparações para apontar a necessidade de práticas de conservação e manejo dessas áreas. O estudo foi realizado em remanescentes de cerrado stricto sensu na Base Aérea de Anápolis e no Campus da UEG UnUCET. As espécies estudadas foram: Ouratea hexasperma (St. Hil.) Baill., Qualea grandiflora Mart. e Caryocar brasiliense Camb. As espécies C. brasiliense e Q. grandiflora, na Base Aérea de Anápolis, apresentaram índices para eficácia reprodutiva de 0,75 e 1,79 e para autoincompatibilidade de 0,42 e 0,26, respectivamente. Quanto à viabilidade polínica, as três espécies estudadas apresentaram percentual de pólen viável superior a 70%. Os resultados obtidos indicam a necessidade de mais estudos sobre o serviço de polinizadores e eficácia reprodutiva das plantas em fragmentos de Cerrado, bem como a importância da criação de unidades de conservação para o bioma Cerrado, e/ou a adoção de práticas preservacionistas, visando um manejo sustentável das espécies. Palavras chave: Cerrado, fragmentação de habitats, biologia reprodutiva. 1. Introdução Uma das principais ameaças ao bioma Cerrado é a fragmentação dos habitats, o que está diretamente relacionado à dinâmica de uso da terra, em áreas urbanas e rurais. Essa situação tem levado a grandes perdas de biodiversidade, locais e regionais, seja diretamente pela substituição de espécies nativas por outras de interesse econômico (pastagens e culturas), seja pelo pequeno tamanho dos fragmentos remanescentes, ou ainda, pelo seu isolamento, sendo incapazes de manter fluxos de matéria e energia com outros fragmentos semelhantes (PIVELLO, 2005). O tamanho do fragmento está diretamente relacionado com os efeitos externos sobre essas áreas. Em fragmentos pequenos, a dinâmica do ecossistema 1

provavelmente é determinada por forças externas e não internas (RAMBALDI & OLIVEIRA, 2003). Estudos de biologia reprodutiva em áreas do Cerrado indicam que a variabilidade genética fornecida pela polinização cruzada é de extrema importância, como nas comunidades florestais. Espécies do Cerrado parecem ser relativamente generalistas no seu sistema de polinização. Estes, contam com uma diversidade de visitantes que devem ser relativamente resistentes às perturbações ambientais. A fim de testar tal hipótese, fazem-se necessários estudos em áreas que sofreram fragmentação para verificar o sucesso reprodutivo das espécies que compõem esses fragmentos (OLIVEIRA & GIBBS, 2000). O objetivo foi caracterizar aspectos relativos aos sistemas reprodutivos de plantas, sua diversidade e eficiência em dois fragmentos de Cerrado com distintos graus de antropização, buscando comparações para apontar a necessidade de práticas de conservação e manejo dessas áreas. 2. Materiais e Métodos 2.1. Áreas de Estudo Os dois fragmentos estudados encontram-se no município de Anápolis, GO, a Universidade Estadual de Goiás (UEG) e a Base Aérea de Anápolis (BAAN). O estudo foi realizado no período compreendido entre agosto de 2008 a junho de 2009. 2.2. Espécies Estudadas As espécies estudadas foram: Ouratea hexasperma (St. Hil.) Baill., Qualea grandiflora Mart. e Caryocar brasiliense Camb., sendo que essa última foi trabalhada somente na Base Aérea de Anápolis por não apresentar número de indivíduos suficientes na área do Campus da UEG. 2.3. Sistemas Reprodutivos e de Incompatibilidade Os tratamentos foram marcados no pedúnculo da flor com fios coloridos de lã, obedecendo à seguinte padronização: fio azul (autopolinização espontânea), fio vermelho (polinização cruzada) e fio branco (controle), contendo etiquetas com data e tipo de tratamento realizado. Para as polinizações controladas, botões em pré-antese foram ensacados com sacos de organza e após a antese (abertura da flor) foram realizados os seguintes tratamentos segundo 2

Radford et al. (1974), Dafni (1992) e Kearns & Inouye (1993): polinização aberta (controle), autopolinização espontânea e polinização cruzada. A Polinização cruzada foi realizada nas espécies C. brasiliense e Q. grandiflora. A razão entre a porcentagem de frutos resultantes de autopolinização e polinização cruzada foi utilizada para definir o índice de auto-incompatibilidade (ISI sensu BULLOCK 1985). E a eficácia reprodutiva (RUIZ & ARROYO, 1978; SILVA, 1995) foi determinada comparandose a porcentagem de frutos sob polinização cruzada manual com a porcentagem de frutos formados em polinização sob condições naturais (controle). 2.4. Viabilidade Polínica A viabilidade dos grãos de pólen das espécies encontradas em floração foi testada a partir da fixação (FAA 70%) de botões florais em pré-antese. Cinco botões foram coletados de cinco indivíduos para cada uma das espécies levantadas. Posteriormente, em laboratório, as anteras foram retiradas dos botões, coradas com carmin-acético e montadas em lâminas para observação ao microscópio óptico, utilizando lente objetiva de 10X. Para cada lâmina contouse 100 grãos (SANTOS, 2003). 3 Resultados e Discussão 3.1 - Sistemas Reprodutivos e de Incompatibilidade Três espécies tiveram seu sistema reprodutivo estudadas: Caryocar brasiliense, Ouratea hexasperma e Qualea grandiflora. Os resultados dos experimentos são apresentados na Tabela 1. Tabela 1 - Resultados das polinizações manuais realizadas em três espécies nas duas áreas de estudo, BAAN e UEG entre 2008 e 2009 (% de frutos formados com o número total de flores utilizadas entre parênteses) em Anápolis, GO. ni = número de indivíduos; AC = autocompatível; ISI = índice de autoincompatibilidade; * = tratamento não realizado. Espécies Área de estudo ni Polinização cruzada Polinizações manuais Autopolinização espontânea Controle Sistema reprodutivo ISI Eficácia reprodutiva C. brasiliense BAAN 19 25,93 (54) 11,15 (148) 34,84 (306) AC 0,43 0,75 O. hexasperma BAAN 10 * 1,00 (1000) 33,35 (1036) AC * * 3

UEG 10 * 2,80 (1295) 16,68 (1649) * * Q. grandiflora BAAN 10 14,00 (36) 3,68 (299) 7,83 (396) AC 0,26 1,79 UEG 7 * 0,64 (156) 1,56 (128) * * De acordo com a Tabela 1, a espécie C. brasiliense teve maior formação de frutos no controle, porém também apresentou uma alta taxa de formação de frutos na polinização cruzada, tendo menor frutificação na autopolinização espontânea. O índice de autoincopatibilidade indica que essa planta possui o sistema reprodutivo misto, tendo maior formação de frutos por polinização cruzada, sendo fortemente xenogâmica e fracamente autogâmica. Gribel (1986), em estudo realizado sobre o sistema reprodutivo de C. brasiliense na região do Distrito Federal, obteve que a proporção de frutos formados por xenogamia (polinização cruzada) foi significativamente maior que a proporção formada na autopolinização e geitogamia (polinização cruzada entre flores do mesmo indivíduo) (x² = 16,96, LG. 1, p < 0,005). Esse estudo também afirma que C. brasiliense é uma espécie quiropterófila, ou seja, polinizada por morcegos. Barbosa (1983), em estudo realizado numa área de cerrado stricto sensu em Brasília- DF, verificou que o sucesso reprodutivo, em relação à porcentagem de frutos formados e o número de botões produzidos foi muito baixo, sendo que o de Q. grandiflora foi de 0,3%. Este baixo sucesso foi atribuído à deficiência de polinizadores. Entre os sete tratamentos a que as flores foram submetidas, houve formação de frutos maduros apenas no tratamento de polinização aberta (controle). Esse resultado diverge do encontrado no presente estudo (Tabela 1), no qual houve formação de fruto por autopolinização espontânea ainda que em baixa porcentagem, quando comparado com a porcentagem de frutos formados por polinização cruzada na BAAN. O ISI encontrado de 0,26 para a BAAN caracteriza um sistema reprodutivo no limite da autoincompatibilidade, já que os valores esperados para plantas com sistema reprodutivo compatível seriam superiores a 0,25 (BULLOCK, 1985). A espécie O. hexasperma teve maior frutificação no controle em relação a autopolinização espontânea, nas duas áreas de estudo. Na autopolinização espontânea a formação de fruto foi baixa, com 1% na BAAN e 2,80% na UEG (Tabela 1). A formação de frutos por polinização espontânea, indica uma espécie autogâmica. No entanto, a baixa porcentagem de frutos nesse tratamento quando comparado com o controle 4

indica que há dependência de vetores externos (polinizadores) para que haja uma efetiva formação de frutos. Esse fato, aliado às características da morfologia floral indicam uma espécie melitófila. 3.2 - Viabilidade Polínica As três espécies estudadas apresentam percentual elevado de pólen viável, superior a 70%, o que exclui a apomixia como sistema reprodutivo, já que segundo Richards (1986) a viabilidade polínica pode estar relacionada com o tipo de sistema reprodutivo das plantas. Assim, o alto percentual de pólen viável corrobora com o sistema de reprodução sexuado, encontrado nas espécies estudadas. 4. Considerações Finais Apesar de não poder traçar comparações sobre a interferência do grau de antropização entre as áreas estudadas, observou-se que houve uma alta formação de frutos no controle, superando o valor encontrado para polinização cruzada para C. brasiliense na BAAN, inferindo a provável eficiência de polinizadores nesta área. Sendo este um fragmento preservado por ser uma área militar. Os resultados obtidos indicam a necessidade de mais estudos sobre o serviço de polinizadores e eficácia reprodutiva das plantas em fragmentos de Cerrado, bem como a importância da criação de unidades de conservação para o bioma Cerrado, ou mesmo, a adoção de práticas preservacionistas, visando um manejo sustentável das espécies. 7. Referências Bibliográficas BARBOSA, A. A. Aspectos da ecologia reprodutiva de três espécies de Qualea (Vochysiaceae) num Cerrado de Brasília DF. 1983. Dissertação (Mestrado em Ecologia), Universidade de Brasília, Brasília, DF. BULLOCK, S. H. Breeding systems in the flora of a tropical deciduous Forest. Biotropica, v. 17. p. 287-301. 1985. DAFNI, A. Pollination ecology: a practical approach. Oxford: IRL Press at Oxford University Press. 1992. 5

GRIBEL, R. Ecologia da polinização e da dispersão de Caryocar brasiliense Camb. (Caryocaraceae) na região do Distrito Federal. 1986. Dissertação (Mestrado em Ecologia), Universidade de Brasília, Brasília, DF. KEARNS, C. A.; INOUYE, D. W. Techniques for pollination biologists. Colorado: University Press of Colorado. 1993. OLIVEIRA, P. E.; GIBBS, P. E. Reproductive biology of wood plants in a cerrado community of Central Brazil, v. 195, 2000, p. 311-329. PIVELLO, V. R. Manejo de fragmentos de Cerrado: princípios para a conservação da biodiversidade. In: FELTILI, J.M.; SCARLOT, A.; SILVA, J.C.S. (eds). Cerrado: Ecologia, biodiversidade e conservação, Ministério do Meio Ambiente, 2005, p. 402 413. RADFORD, A. E.; DICKSON, W. C.; MASSEY, J. R.; BELL, C. R. Vascular plant systematics. New York: Harper & Row Publishers. 1974. RAMBALDI, D.M.; OLIVEIRA, D.A.S. Fragmentação de ecossistemas: causa, efeitos sobre a biodiversidade e recomendações de políticas públicas. Brasília: MMA/SBF, 2003, 510p. RICHARDS, A.J. Plant breeding systems. Unwin & Allem. London,1986. RUIZ, T.; ARROYO, M. K. Plant reproductive ecology of a secondary deciduous tropical forest em Venezuela. Biotropica. v. 10, p. 221-230. 1978. SANTOS, M. L. Florística e biologia reprodutiva de espécies de Melastomataceae no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas e Parque Estadual da Serra dos Pireneus, Goiás. 159f. 2003. Tese (Doutorado em Ecologia), Universidade de Brasília, Brasília. 2003. SILVA, A. P. Biologia reprodutiva e polinização de Palicourea rigida H.B.K. (Rubiaceae). 1995. Dissertação (Mestrado em Botânica), Universidade de Brasília, Brasília, DF. 1995. 6