A INDÚSTRIA CULTURAL E SEU DOMINIO SOBRE A CLASSE TRABALHADORA. Aurius Reginaldo de Freitas Gonçalves



Documentos relacionados
A origem latina da palavra trabalho (tripalium, antigo instrumento de tortura) confirma o valor negativo atribuído às atividades laborais.

Gustavo Noronha Silva Higina Madalena da Silva Izabel Cristina Ferreira Nunes. Fichamento: Karl Marx

Para pensar... Existe diferença entre criar, inventar e descobrir? O que tem isso a ver com a ação do ser humano? A Evolução da Técnica

SOCIOLOGIA. Profª Rosana Grespan Facebook: Rosana Pimentel de Castro Grespan

A Alienação (Karl Marx)

Marxismo e Ideologia

A crítica à razão especulativa

Exercícios de Revisão - 1

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Construção, desconstrução e reconstrução do ídolo: discurso, imaginário e mídia

Katia Luciana Sales Ribeiro Keila de Souza Almeida José Nailton Silveira de Pinho. Resenha: Marx (Um Toque de Clássicos)

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

O TIGRE E A DEMOCRACIA: O CONTRATO SOCIAL HISTÓRICO

Colégio Ser! Sorocaba Sociologia Ensino Médio Profª. Marilia Coltri

A introdução da moeda nas transações comerciais foi uma inovação que revolucionou as relações econômicas.

O marxismo heterodoxo de João Bernardo

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Desafio para a família

HEGEL: A NATUREZA DIALÉTICA DA HISTÓRIA E A CONSCIENTIZAÇÃO DA LIBERDADE

PARA ONDE VAMOS? Uma reflexão sobre o destino das Ongs na Região Sul do Brasil

A GLOBALIZAÇÃO UM MUNDO EM MUDANÇA

Nome do Aluno: nº 2013 Turma: 3 série Ensino Médio Data:

O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E OS DESAFIOS PARA UMA PEDAGOGIA CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE

PALAVRAS-CHAVE economia solidária, ensino fundamental, jogos cooperativos, clube de troca. Introdução

EDUCAÇÃO E DOMINAÇÃO EM KARL MARX

DILMA MARIA DE ANDRADE. Título: A Família, seus valores e Counseling

POR QUE SONHAR SE NÃO PARA REALIZAR?

A IMPORTÂNCIA DO PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA OS CURSOS PRÉ-VESTIBULARES

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Karl Marx e a crítica da sociedade capitalista

Filosofia da natureza, Teoria social e Ambiente Ideia de criação na natureza, Percepção de crise do capitalismo e a Ideologia de sociedade de risco.

Título do Case: Diversidades que renovam, transformando novas realidades

LISTA DE EXERCÍCIOS RECUPERAÇÃO FINAL 3 ano

A EDUCAÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO NA CONTEMPORANEIDADE: UM DIÁLOGO NAS VOZES DE ADORNO, KANT E MÉSZÁROS

Unidade 3: A Teoria da Ação Social de Max Weber. Professor Igor Assaf Mendes Sociologia Geral - Psicologia

Uma conceituação estratégica de "Terceiro Setor"

ADMINISTRAÇÃO GERAL MOTIVAÇÃO

Desafiando o preconceito: convivendo com as diferenças. Ana Flávia Crispim Lima Luan Frederico Paiva da Silva

LOGÍSTICA Professor: Dr. Edwin B. Mitacc Meza

I. INTRODUÇÃO. 1. Questões de Defesa e Segurança em Geografia?

A LOUCURA DO TRABALHO

MÓDULO 5 O SENSO COMUM

ELES NÃO QUEREM SÓ COMIDA, ELES QUEREM COMIDA, DIVERSÃO, ARTE E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O BINÔMIO ESTADO - FAMÍLIA EM RELAÇÃO À CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA NOS PROGRAMAS TELEVISIVOS

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

A PRESENÇA DA ARTE NO PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Gestão Aplicada I. Professor: Venicio Paulo Mourão Saldanha / Site:

Revista Filosofia Capital ISSN Vol. 2, Edição 4, Ano EAD E O PROCESSO AVALIATIVO: BREVE ENSAIO SOBRE UMA PEDAGOGIA EM CONSTRUÇÃO

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

Estratificação/ Classes/ Desigualdade Social

UNIDADE I OS PRIMEIROS PASSOS PARA O SURGIMENTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO.

Sistemas de Informação I

TRABALHO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

Educação Patrimonial Centro de Memória

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NUMA ESCOLA DO CAMPO

EDUCAÇÃO, DIREITOS HUMANOS E MOVIMENTOS SOCIAIS: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE

Interpretação do art. 966 do novo Código Civil

A origem dos filósofos e suas filosofias

APÊNDICE. Planejando a mudança. O kit correto

RELATÓRIO MESA DEVOLVER DESIGN (EXTENSÃO) Falta aplicação teórica (isso pode favorecer o aprendizado já que o aluno não tem a coisa pronta)

Sumário executivo. ActionAid Brasil Rua Morais e Vale, 111 5º andar Rio de Janeiro - RJ Brasil

18º Congresso de Iniciação Científica IMPLEMENTAÇÃO DE UM MODELO DE TESTE DE APLICAÇÕES WEB

TUDO O QUE APRENDEMOS É BOM

OBSERVATORIUM: Revista Eletrônica de Geografia, v.3, n.9, p , abr

PERFIL EMPREENDEDOR DOS APICULTORES DO MUNICIPIO DE PRUDENTÓPOLIS

Profª. Maria Ivone Grilo

A importância da audição e da linguagem

Habilidades e competências no Cuidado à pessoa idosa. Karla Giacomin, MD, PhD

Um forte elemento utilizado para evitar as tendências desagregadoras das sociedades modernas é:

Fundamentos da Ciência Econômica MÓDULO I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ECONOMIA. Ao final do estudo deste módulo, esperamos que você possa:

Elaboração de Projetos

ILANA FINKIELSZTEJN EILBERG

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E ÉTICA. Cipriano Carlos Luckesi 1

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DE PEDAGOGIA DA FESURV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

Educação Ambiental: uma modesta opinião Luiz Eduardo Corrêa Lima

A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM COMO PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO E INCLUSÃO

Computação Móvel para Contribuir à Educação e Sustentabilidade ESTUDO DE CASO

1. O papel da Educação no SUS

Europa no Século XIX FRANÇA RESTAURAÇÃO DA DINASTIA BOURBON LUÍS XVIII CARLOS X LUÍS FELIPE ( )

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

HORTA ESCOLAR RECURSO PARA SE DISCUTIR A EDUCAÇÃO AMBIENTAL. Lizyane Lima Borges 1 Pedro Henrique de Freitas 2 Regisnei A. de Oliveira Silva 3.

Rousseau e educação: fundamentos educacionais infantil.

Redação do Site Inovação Tecnológica - 28/08/2009. Humanos aprimorados versus humanos comuns

OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO RURAL JATAIENSE PARA OS ALUNOS QUE TRABALHAM E ESTUDAM NO CAMPO

Workshop sobre Empreendedorismo

Adolescência Márcio Peter de Souza Leite (Apresentação feita no Simpósio sobre Adolescência- Rave, EBP, abril de 1999, na Faculdade de Educação da

ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE EDITH STEIN. Prof. Helder Salvador

Módulo 2 Custos de Oportunidade e Curva de Possibilidades de Produção

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA


MEDITANDO À LUZ DO PATHWORK. Clarice Nunes

CÓDIGO CRÉDITOS PERÍODO PRÉ-REQUISITO TURMA ANO INTRODUÇÃO

PLANO DE AULA OBJETIVOS: Refletir sobre a filosofia existencialista e dar ênfase aos conceitos do filósofo francês Jean Paul Sartre.

O QUE SIGNIFICA CRIAR UM FILHO

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

Design de superfície e arte: processo de criação em estamparia têxtil como lugar de encontro. Miriam Levinbook

PLANO ESTRATÉGICO (REVISTO) VALORIZAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, ATRAVÉS DE UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL

Transcrição:

A INDÚSTRIA CULTURAL E SEU DOMINIO SOBRE A CLASSE TRABALHADORA Aurius Reginaldo de Freitas Gonçalves Estamos vivendo um período extremamente difícil, onde as relações sociais encontram em plena estagnação. As instituições principalmente as educacionais estão deixando de representar efetivamente os interesses de uma determinada classe social classe trabalhadora mostrando um horizonte que acredito estar desvinculado de qualquer compromisso com a construção humanística da sociedade em geral. Por outro lado, nota-se uma profunda preocupação em manter as mentes ocupadas com um mero reproduzir cultural. A teoria crítica precisa estar presente nesse momento, para melhor fundamentar e auxiliar seu desenvolvimento, e ninguém melhor do que Karl Marx para nos auxiliar nesse trabalho. Pensaremos as relações entre cultura, sociedade e trabalho, partindo da análise crítica à essas esferas de pensamento, propondo um construir investigativo sobre a realidade vigente, pois acreditamos ser impossível teorizar a sociedade, sem uma melhor compreensão das formas e processos pelos quais são constituídos culturalmente. Em todas as culturas, o trabalho é a base da economia, sistema esse que conquiste em instituições que ocasionam a produção e distribuição de bens e serviços. Podemos definir como trabalho a execução de tarefas que demandem esforço mental ou físico, que tem como objetivo a produção de bens e serviços para atender as necessidades humanas, sendo esse, remunerado ou não. Uma ocupação ou um emprego é o trabalho realizado em troca de um salário ou pagamento regular. Habitualmente relacionamos o trabalho como o equivalente a ter um emprego remunerando, mas esse e apenas uma idéia simplista, o trabalho não remunerado é uma parte importante da vida de varias pessoas e tem um papel imprescindível na conservação da sociedade. Um aspecto característico da economia capitalista moderna é o desenvolvimento de uma divisão amplamente complexa da diversa do trabalho. Essa divisão do trabalho significa que a tarefa é dividida em diferentes ocupações que exigem especialização, isso gera interdependência econômica, ou seja, agora todos os indivíduos são dependentes uns dos outros para manter modo de vida moderno. Se tomarmos uma visão global da experiência de trabalho, podemos notar grandes diferenças entre o mundo desenvolvido e os países em desenvolvimento. A fundamental diferença é que a agricultura continua

sendo a principal fonte de emprego do mundo em desenvolvimento, ao passo que apenas uma proporção mínima de pessoas trabalha na agricultura nos países industrializados. Da mesma forma que podemos notar que os padrões de empregos também são bem diferentes ao redor do mundo, nos países desenvolvidos a economia informal, ou mercado paralelo é relativamente pequena se comparada com o setor de emprego remunerado formal, ainda que existam muitos migrantes trabalhadores recentes que ganham a vida nela. Já nos países em desenvolvimento a maioria da experiência ocupacional das pessoas é no setor informal. Um dos aspectos mais característicos do sistema econômico da sociedade moderna é a existência de uma divisão de trabalho: o trabalho é dividido num número formidável de ocupações distintas, nas quais os indivíduos se especializam. A sociedade moderna assistiu uma alteração no local do trabalho, antes os principais trabalhos eram feitos em casa e após a industrialização com progresso da tecnologia industrial as fabricas privadas assumiram a produção em massa deixando o trabalho artesanal de pequena escala feito no lar em segundo plano. Karl Marx foi um dos primeiros autores a escrever sobre o desenvolvimento da indústria moderna e as consequências dos potenciais da divisão do trabalho; segundo Marx, a divisão de trabalho aliena os indivíduos de sua ocupação. Para o sociólogo, a alienação conceito chave para entender a teoria Marxista se refere a sentimento de hostilidade ou indiferença não apenas em relação ao trabalho, mas igualmente à estrutura geral de produção industrial dentro do modelo capitalista. Vejamos uma definição interessante do conceito de trabalho: Processo de intercâmbio e mediação entre o ser humano e a natureza, inserido nas relações sociais. Quando é livre, Marx o concebe como uma atividade vital humana orientada a produzir bens segundo as leis da beleza. Porém, na sociedade capitalista, não é livre, é forçado, está alienado e estranhado. Converte-se em uma tortura e numa obrigação imposta pela dominação capitalista. O capitalismo de nossos dias obriga uma parte dos trabalhadores a desgastar sua vida trabalhando o dobro, e condena o restante ao desemprego, em lugar de repartir o trabalho entre todos, o que possibilitaria reduzir o trabalho necessário à reprodução da vida e aumentar o tempo livre para o ócio e o prazer. (Kohan, N. 2000, p.15) As principais transformações ocorridas no mundo do trabalho decorrentes da globalização e do neoliberalismo manifestaram-se, no campo econômico, sob a forma da reestruturação produtiva, e no campo social, por meio da flexibilização,

desregulamentação e relativização dos direitos dos trabalhadores, tendo como consequência, a precarização das condições e relações de trabalho. Tais medidas compõem um novo regime do capital, readaptado ao mundo globalizado e neoliberal, denominado de acumulação flexível e marcam a passagem do paradigma da sociedade do trabalho para a sociedade neoliberal. Passadas algumas décadas, já é possível concluir que esse conjunto de transformações inviabilizou a manutenção do emprego, consolidou o desemprego crônico ou estrutural e obrigou o trabalhador a se sujeitar às regras impostas pelo mercado, sendo ideologicamente induzido a acreditar que tal reestruturação produtiva era necessária e inevitável como forma de se manter no mercado de trabalho. Tais mudanças acentuaram, ainda, a existência de uma segunda categoria de trabalhadores, denominados como informais, indivíduos que ficaram inteiramente alijados do mercado de trabalho formal e da proteção da tutela do Estado. A indústria cultural pegou carona nessa ideologia dominante, transformando trabalho em mercadoria. Não é a toa que chamamos hoje de mercado de trabalho as novas formas de se relacionar com as mais diversas atividades de subsistência. A alienação é justamente isso: perda de vínculo do homem com aquilo que produz. Se antes havia uma relação entre o homem e o mundo das coisas e, portanto, da natureza, hoje essa relação é intermediada pelo imediatismo e pelo consumismo de bens e produtos. Essa cultura é dominante porque parte de uma ideologia dominante, Os pensamentos da classe dominante, são também, em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja, a classe que tem o poder material numa dada sociedade, é também a potencia dominante do pensamento. (MARX, K. ENGELS, F. 1998, p. 55) Podemos observar que, a forma de produção capitalista também produz valores não somente pela exploração dos trabalhadores, mas principalmente pela construção e manutenção de valores culturais. Os produtos consumidos de hoje, como por exemplo, música, divertimentos, entretenimento, roupas, sapatos, comida, todos eles revelam valores culturais específicos, que refletem anseios e desejos de uma sociedade aburguesada. A indústria cultural afeta diretamente as relações de trabalho da sociedade capitalista, produzindo produtos voltados para o desejo imediato, rápido e comprometido apenas com as necessidades oriundas de um consumo diletante e sem vínculos mais profundos com realidade humana. Nossos desejos são orientados pelas

regras dessa sociedade capitalista, criando seres mentalmente educados para o consumo de massa. Em Eros e Civilização (1975) o teórico frankfurtiano Herbert Marcuse denuncia o domínio nefasto que a sociedade de consumo impõe ao homem e a sociedade em que ele vive. [...] o progresso intensificado parece estar vinculado a uma igualmente intensificada ausência de liberdade. Por todo mundo da civilização industrial, o domínio do homem pelo homem cresce em âmbito e eficiência. [...] E a mais eficaz subjugação e destruição do homem pelo homem tem lugar no apogeu da civilização, quando as realizações materiais e intelectuais da humanidade parecem permitir a criação de um mundo verdadeiramente livre. (MARCUSE, 1975, pp. 27,28) O pensamento de Herbert Marcuse deriva dos conceitos freudianos a respeito da psicanálise 1, de suas observações frente à dinâmica social moderna (p.104) e dos mecanismos mentais dos indivíduos. Com isso, o autor aproxima sua teoria da negação radical dessa sociedade de consumo, como um esforço de mantermos ainda de pé diante do domínio racional objetivado pelo sistema capitalista. Vale lembrar que, para Marcuse, a perda da negatividade e de um momento que faz oposição, é a contrapartida ideológica do próprio desenvolvimento material da sociedade industrial avançada: o impacto do progresso transforma a razão em submissão aos fatos da vida e à capacidade dinâmica de produzir mais e maiores fatos do mesmo tipo de vida (1982, p. 31). A falsa ideia de que somos então sujeitos da historia já não encontra respaldo nessa sociedade, pois tudo fora absorvido pelo desejo e pela posse do que era particular. A subjetividade agora dera espaço para a construção de um indivíduo, com as mesmas características de um produto, universalizando os desejos, não como desejos individuais mais como algo comum a todos: para as mesmas pessoas, os mesmos desejos. Esse seria o supra - sumus de nossa sociedade atual. Essa sociedade solipsista reforça a teoria de uma sociedade culturalmente repressiva onde o domínio da natureza deva ser amparado pela Razão Instrumental. Marcuse aponta que liberado da pressão dos propósitos e desempenhos penosos, a que a carência necessariamente nos obriga, o homem recuperará a liberdade de ser (1975, p. 168). O Eros (imaginação/impulso lúdico) a que Marcuse se refere, seria a proposta 1 Cf. Marcuse (1975, p. 105). Segundo Freud, a civilização começa com a inibição metódica dos instintos primários. Podem-se distinguir de dois modos principais de organização instintiva: a) a inibição da sexualidade, resultando em duradouras e crescentes relações grupais; e b) a inibição dos instintos destrutivos, conduzindo ao domínio do homem e da natureza, à moralidade individual e social.

de saída para os conflitos que o homem encontra na sua singularidade. A violência que antes estava somente no interior do homem agora é exteriorizada na forma de consumo de produtos prontos e acabados. Suprimido da sociedade a força subversiva, ficamos então a mercê de uma civilização acomodada e cética, principalmente em relação ao meio em que vive. Portanto, a sociedade vive agora o predomínio da Razão em detrimento da Natureza; onde a ideia de dominação da natureza pelo homem condiciona a sociedade a pensar numa potencialização das ações humanas racionalizadas através de ações e práticas condicionadas. Nesse sentido, a classe trabalhadora precisa antecipar sua consciência e lutar para que essa realidade possa mudar o mais rápido possível, ou estaremos a todo o vapor rumo ao colapso social. REFERÊNCIAS MARCUSE, H. Contra-revolução e revolta. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.. A Ideologia da Sociedade Industrial: o homem unidimensional. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.. Cultura e Sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, vols. I e II, 1997. MARX, K. E ENGELS, F. A Ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Livro 3. O processo global de produção capitalista. Tradução de Reginaldo Sant`Anna. Rio de Janeiro: Bertrand, 1981.