APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO Sueli de Fátima Alexandre 1. Palavras-chave: Aprendizagem. Diferentes perspectivas.



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Transcrição:

51 APRENDIZAGEM E SUAS IMPLICAÇÕES NO PROCESSO EDUCATIVO Sueli de Fátima Alexandre 1 Resumo: A aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais resultantes da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente em que se vive, levando em consideração os conceitos culturais que o grupo social conhece e considera correto, proporcionando ao aprendente novo olhar sobre a realidade empírica. Palavras-chave: Aprendizagem. Diferentes perspectivas. Relevância INTRODUÇÃO Alguns teóricos consideram a aprendizagem como um processo mútuo, em que o aprendiz utiliza-se de inúmeras maneiras e diferentes mecanismos para aprender. Ao aprender algo novo tem seu comportamento modificado em vários aspectos, lhe proporcionado um novo olhar sobre a realidade empírica. A sociedade atual por estar em um contexto que sofre constantes modificações estruturais exige do sistema educacional adaptações capazes de preparar o educando para assumir uma vida profissional satisfatória as exigências do mercado de trabalho, bem como ainda saber lidar com diferentes situações e emoções. Assim, cabe ao educador estar inteirado destas transformações e conduzir o educando a um bom aprendizado. Para auxiliar nessa jornada educacional, existem várias teorias, como o Inatismo, o Empirismo, o Behaviorismo, o Construtivismo, o Intercionismo, entre outras, que ao longo do percurso escolar servem de apoio no processo de aprendizagem. A necessidade da aprendizagem é algo inerente em qualquer indivíduo desde o nascimento, não importando o grau de capacidade ou de dificuldade que apresenta, portanto, essa necessidade deve ser estimulada com precisão e sabedoria, e o ambiente escolar, familiar e social são, sem dúvida, o lugar onde essa aprendizagem ocorre com mais satisfação, pois a criança constrói seu saber diário ao observar as pequenas coisas com as quais convive nesses ambientes. 1 Sueli de Fátima Alexandre, graduada em Letras pela UEG, Bolsista (PBIC/UEG-2007/2008/), pesquisadora da Rede Goiana de Pesquisa em Leitura e Ensino de Poesia (UFG/UEG/UniEvangélica), pesquisadora (PVIC/UEG-2009), aluna especial do Mestrado (UFG - 2010). Rua Francisco Afonso Macedo, 13, Aurilândia GO. Celular: (64) 92538168. suelideftima.sueli.alexandre@gmail.com

52 Assim, tem-se no educador um dos principais responsáveis pelo sucesso ou insucesso do aprendiz, a peça chave, que tem em mãos o poder de trabalhar não apenas o aprendizado de conhecimentos teóricos, mas também a afetividade dos alunos, pois quando a criança aprende a lidar com as diferentes emoções aprenderá a superar as diferentes dificuldades que enfrentará durante o percurso não só escolar, mas também na vida profissional e social (FERNANDÉZ, 2001 e INOUE, 1999). A aprendizagem diz respeito às mudanças permanentes de comportamento provocadas pela experiência, cujo principal objeto é a aquisição de alguma habilidade ou competência. Em si tratando de termos sensoriais, a aprendizagem envolve a diferença de sensações e de percepções, por meio da observação, identificação, discriminação ou reconhecimentos, assim, como a assimilação, a diferenciação, a generalização e a sistematização de programas motores simples, compostos e complexos. Nos dias atuais a aprendizagem continua sendo o principal canal de transmissão de normas e valores, em que por meio de um processo dinâmico e progressivo tem facultado ao indivíduo múltiplas situações de aprendizagem, possibilitando-lhe a construção do conhecimento de maneira bem mais atraente. 1 Conceito de aprendizagem É praticamente impossível uma definição precisa e abrangente de um conceito tão amplo quanto o de aprendizagem, até o momento a ciência e as correntes teóricas levantaram pressupostos sobre esse processo, mas ainda não foram capazes de responder com total certeza sobre o que ocorre no cérebro de uma pessoa quando ela aprende alguma coisa. É suposto que durante o processo de aquisição do conhecimento ocorrem modificações no sistema nervoso, porém essas mudanças ainda não foram precisamente detectadas. Segundo Assunção (2004, p.12), [...] pela impossibilidade de observação direta, a aprendizagem é constatada e estudada de maneira indireta. Ela é estudada através dos efeitos que ela causa no comportamento. Para conceituar aprendizagem, portanto, é preciso analisar as suas consequências sobre a conduta. Dessa maneira, a aprendizagem é vista como um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais resultantes da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente em que se vive, levando em consideração os conceitos culturais que o grupo

53 social conhece e considera correto. É, então, o resultado das experiências anteriormente adquiridas, visto que cada experiência acrescenta aos indivíduos novos saberes, e são justamente esses saberes que trazem mudanças de comportamento. Se antes de aprender o indivíduo agia de forma incorreta, agora, com a aprendizagem, irá agir de forma diferente, demonstrando que aprendeu. A busca pela aprendizagem é inata no ser humano, desde pequeno sente necessidade de demonstrar o que sabe fazer, ou seja, que é capaz de aprender. Para Alicia Fernandez (2001), todo sujeito tem a sua maneira própria de aprendizagem e os meios de construir o conhecimento, esse processo inicia-se desde o nascimento e constitui-se em molde ou esquema, sendo fruto do inconsciente simbólico. Assim, as mudanças que acontecem no comportamento da pessoa são resultados do vínculo entre as experiências anteriores e os novos conhecimentos adquiridos. Essas mudanças podem ser facilmente observadas em crianças, pois tudo que existe ao seu redor é novo e desperta curiosidades. É por meio dessas experiências que elas aprendem a falar, andar, comer, agradar as pessoas que as cercam. 2 Aprender: diferentes perspectivas Quando se faz uma investigação mais detalhada sobre o tema aprendizagem, algumas reflexões devem ser feitas, deve-se inicialmente questionar com muita ênfase alguns itens como: que tipo de aprendiz é o aluno de hoje? Quais tipos de aprendizagens são necessárias na atualidade? Quais são as diferentes perspectivas de aprendizagem? Quais perspectivas de aprendizagem são mais aceitas hoje em dia? A sociedade atual passa por diversas modificações estruturais, especialmente na forma de ver seu próprio desenvolvimento, hodiernamente o conhecimento tem se tornado primordial para o crescimento de indivíduos e de nações, dentro desta perspectiva o ato de aprender também passa a ser visto sob diferentes nuances. Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma aprendizagem mais dinâmica e voltada para os desejos da sociedade ora intitulada sociedade do conhecimento. Nesse contexto o aluno ideal é aquele capaz de assimilar informações de maneira rápida e de diferentes formas, seria então: um aprendiz auditivo (aprende por meio de ondas sonoras), um aprendiz visual (aprende com os olhos), um aprendiz sinestésico (aprende com o tato). Assim, o aprendiz inserido dentro do contexto atual é aquele que possui as habilidades citadas acima, claro que com preponderância de uma sobre a outra, sabendo utilizá-las dentro dos padrões exigidos. Pensando nesse aprendiz ideal não há mais lugar para o aprendiz passivo, que apenas ouve a mensagem aceitando-a do jeito que lhe é

54 transmitido, pois tanto individual quanto na coletividade, enquanto sujeito ensinante e aprendente, o homem constrói a própria vida fundamentado na eterna arte de aprender. Esse processo de aquisição de conhecimento pode ser agradável ou doloroso, depende, em fim, de como é adquirido. Em primeira instância é um processo cognitivo, e como processo, está inter-relacionado há inúmeros fatores que envolvem o homem em sua totalidade: emocional, físico e intelectualmente. É sempre um processo subjetivo e individual, inerente a cada pessoa, uma vez que ele envolve aspectos da personalidade de cada um e está ligado às expectativas, experiências, anseios e receios, envolvendo, desta forma, toda a história pessoal. Assim, nem todas as pessoas aprendem as mesmas coisas da mesma maneira e com a mesma profundidade, cada indivíduo aprende coisas novas atribuindo-lhes significados ou valores diferentes de acordo com sua história pessoal e a história de seu grupo social, pois a aprendizagem está vinculada aos estímulos que se recebe do meio onde se vive. A busca pelo entendimento ao processo de aprendizagem é instigante e sempre despertou a curiosidade de correntes teóricas que buscam explicações relacionadas à natureza do ato de aprender (BEAUCLAIR, 2008), dentre elas destacamos: (1) Inatismo: uma corrente fundamentada na filosofia racionalista e idealista que considera os eventos pós-nascimento inessenciais para o desenvolvimento do ser humano. (2) Empirismo: contrariamente aos inatistas, os empiristas afirmam que a razão, a verdade e os princípios racionais são adquiridos por meio da experiência, antes dela a razão é equiparada a uma folha em branco, onde nada foi escrito, uma tábula rasa, onde nada foi gravado, uma cera informe e sem nada impresso, até que a experiência escreva na folha, grave na tábula, dando forma à cera. Aqui os conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, em que as sensações, os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentimos sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc. (CHAUÍ, 2000; KARL POPPER apud DAMÁZIO, 2000). (3) Construtivismo: criado por Jean Piaget objetiva investigar a forma como ocorre a estruturação do conhecimento e como este se efetiva por meio da ação do sujeito sobre o meio (CHAUÍ, 2000). Aqui o processo de aquisição do conhecimento é construtivo, porque ocorre uma construção/estruturação contínua do saber que leva a passagem de estados de menor conhecimento para estado de conhecimentos maiores, uma construção que ocorre por meio de um processo de desenvolvimento de estruturas cognitivas e linguísticas que a criança "possui naturalmente", sem depender de intervenções de ensino e de condições socioculturais. O conhecimento é construído a partir do momento em que a criança elabora a sua própria ideia a respeito do objeto do conhecimento, devendo haver uma relação de reciprocidade entre o sujeito e esse

55 objeto. Dessa forma, o desenvolvimento ocorre de maneira gradual e crescente por meio da interação entre sujeito e objeto. (4) Intercionismo: defendido por Vigotski, o intercionismo acredita na ação mútua, tanto do sujeito quanto do ambiente, em que o conhecimento acontece de forma dialética, a partir das interações com o meio onde se vive. Nesse sentido, o conhecimento não é determinado nem pelo meio nem no interior do próprio sujeito, mas na interação entre sujeito e meio. Aprender, dentro dessa concepção é, portanto, construir uma linguagem interna a partir da interação dialética com o meio sócio-histórico-cultural em que o indivíduo vive, sendo que o desenvolvimento é mediado por outros indivíduos, especialmente por meio da linguagem. 3 O processo de aprendizagem O vocábulo aprendizagem deriva da raiz latina apreender, que significa aproximar-se para tomar posse de algo, ou ainda, apropriar-se de algo. Assim, aprender é a necessidade mais imperativa na vida da criança em sua fase inicial, na maioria das vezes elas aprendem brincando, de forma espontânea e alegre com outras crianças de sua faixa etária ou até mesmo com idade superior a sua. Para elas, o importante é adquirir conhecimento em tudo o que fazem. Alicia Fernandéz (2001) conta a história de uma garotinha chamada Silvinha, que queria muito aprender a andar de bicicleta, porém, tinha muito medo de se machucar. O medo de Silvinha foi gradualmente vencido quando o pai se dispôs a ensiná-la a andar na tão sonhada bicicleta. Outro fator extremamente importante para que a aprendizagem de Silvinha ocorresse foi a confiança que ela depositou na pessoa do ensinante, que no caso, era o pai. De acordo com Fonseca (2008), o processo de aprendizagem ou estágios de desenvolvimento das operações intelectuais da criança é gradativo, em que as estruturas formam-se passo -a- passo por meio de degraus de equilíbrio, ou seja: as estruturas intelectuais da criança sucedem-se segundo integrações múltiplas, obedecendo à ordem de sucessão das aquisições, em que uma experiência anterior se junta à seguinte proporcionando um equilíbrio final. Para Pain (1985, p. 45): O vazio de saber é o espaço para buscar o conhecimento e aprender. A consciência de ser ignorante permite indagar e comunicar-se com os outros. Ninguém pergunta o que sabe. Sem ignorância não haveria progresso. A ignorância é o que permite aprender.

56 Portanto, pode-se perceber que o processo de aprendizagem é extremamente complexo, pois envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. Tal processo é desencadeado a partir da motivação que ocorre no interior do indivíduo. A motivação de Silvinha foi determinante para que a aprendizagem acontecesse, mas a confiança no sujeito que estava mediando o processo de ensinar-aprender também foi fundamental para que houvesse sucesso. Dessa forma constata-se que ensinar e aprender andam juntos, são fatores interligados e interdependentes. Nesse sentido, não há como entender o processo de aprendizagem em sua totalidade, principalmente em sala de aula, pois cada educando possui uma forma pessoal de aprender (isso ocorre devido às situações e características psicológicas, genéticas e culturais) pode-se afirmar que todos conhecem o mundo por meio do convívio, da adaptação com o meio social, portanto, o indivíduo inicialmente aprende pela convivência, fator primordial para que a criança demonstre toda sua espontaneidade. Dentro do processo de aprendizagem deve-se considerar a construção do conhecimento e a construção de si próprio como ser pensante e criativo. Assim, a criança no ato de aprendizagem além de aprender coisas novas, constrói sua própria imagem, suas características básicas. 4 Relevância da aprendizagem A aprendizagem é fator decisivo para a vida e sobrevivência do indivíduo, é por meio dela que o homem se afirma como ser racional, constitui sua personalidade e se prepara para cumprir o papel que lhe é reservado na sociedade a qual pertence (PAIN, 1985). Portan to, aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o erro, com as dificuldades, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e buscar na pesquisa as alternativas para resolver os problemas que surgem, são tarefas que farão parte do cotidiano das pessoas. Assim, o ambiente onde a criança vive é fundamental para seu desenvolvimento enquanto cidadão, pois influencia em seu aprendizado, na interação com outras pessoas, especialmente com outras crianças, pois estão em fase de mudanças intensas, além, ainda, da apropriação dos costumes, tradições e valores que seu grupo social conhece e julga como necessários para sua vida em sociedade. Nesse sentido, quando se trata de aprendizagem escolar precisa-se considerar tudo que influencia na aprendizagem do educando, para que ele adquira efetivamente uma aprendizagem sólida e duradoura.

57 CONSIDERAÇÕES FINAIS A aprendizagem é um processo cognitivo, mas também um processo bastante complexo que envolve o ser humano na sua totalidade, emocionalmente, intelectualmente e fisicamente, sendo sempre um processo individual e subjetivo inerente a cada indivíduo, uma vez que envolve a personalidade de cada um, as suas expectativas e experiências pessoais, envolvendo, por isso, toda a sua história pessoal e a sua componente psíquica e mental. Por isso nem todas as pessoas aprendem as mesmas coisas a partir da interação com o meio físico, social e cultural que nos rodeia e nem todas as pessoas conseguem aprender as mesmas coisas da mesma maneira. Cada um aprende novas coisas apropriando essas aprendizagens à sua mente, à sua personalidade, ao seu próprio EU físico e psíquico, criando significados diferentes para essas mesmas aprendizagens. É efetuada uma síntese entre aquilo que somos e que já sabemos e aquilo que aprendemos de novo. O processo de aprendizagem ocorre tanto de maneira planejada, como de maneira natural, espontânea, mas, ele é um processo constante e inacabado, pois acompanha o homem desde seu nascimento até o fim dos seus dias. É importante compreender que a aprendizagem anda junto com o crescimento, é o adquirimento gradativo da independência pessoal. Nesse processo educativo a criança aprende a transferir os afetos para o grupo familiar e a busca identificação em colegas e professores. Assim, o principal desafio dos pais e professores é ajudar a criança a adquirir confiança em si mesma, a acreditar na própria capacidade. É importante saber que as pessoas aprendem de diferentes maneiras e que sua energia pode ser encaminhada para encontrar estratégias adequadas para a aprendizagem, ao invés de procurar maneiras de esconder suas dificuldades. Por isso os educadores têm grande responsabilidade em detectar tais dificuldades e procurar saná-las. As crianças precisam de um ambiente estimulador, seguro, onde sejam motivadas a enfrentarem suas limitações. Segundo Navarro (s/d, p. 29-30): Quando a criança sente que aprender é uma experiência excitante da qual se pode desfrutar, então isso se transformará em algo que nunca termina, durando toda a vida. As crianças aprendem a esconder suas dificuldades com comportamentos como ser o palhaço da classe, manter-se calada, adoecer, fugir das responsabilidades, demonstrar desinteresse ou, muitas vezes, através do mau comportamento. Com frequência fica isolada, esconde-se ou evita fazer as coisas porque assim ninguém poderá lhe causar dano. Estas máscaras protetoras utilizadas para não serem tachadas de burras, lentas ou intratáveis isolam-nas socialmente.

58 Essas crianças precisam conhecer seus pontos fortes, precisam receber incentivos e elogios quando produzem algo, pois aprendem pela imagem de si mesmas que recebem do outro. Assim, pais e professores são os principais responsáveis por instigar na criança o conhecimento de suas capacidades e dificuldades. Acredita-se que nos espaços e tempos das instituições de ensino, desejosas de um novo cotidiano permeado pelos pressupostos das organizações aprendentes, a meta maior seja a vivência da amorosidade, compreendida como estratégia subjetiva que amplia os valores humanos da paz, do amor, da verdade, da ação correta e da não-violência. Será em contextos permeados e atravessados por novas relações afetivas que poderemos avançar e, com isso, construir uma cotidianidade de mansidão e afabilidade, movimentos existenciais profundos que ampliem perspectivas de crescimento pessoal para ensinantes e aprendentes focados em suas vocações e profissionalidades. O desafio de humanizar o humano, sempre presente em nossa evolução histórica, deve ser enfrentado com a coletiva construção de estratégias significativas à sensibilização de corações e mentes para o outro, respeitando as diferenças e percebendo que nenhum humano possui todas as competências, capacidades e habilidades presentes em nossa espécie: cada um, com sua constituição, colabora para a formação do belo mosaico da vida humana. As habilidades e competências dos sujeitos aprendentes são múltiplas, e todos, sem exceção, desde que bem mediados, podem aprender e ensinar. REFERÊNCIAS ADAMS, Marilyn Jager; FOORMAN, Barbara R.; LUNDBERG, Ingvar; BEELER, Terri.Consciência fonológica em crianças pequenas. São Paulo: Artmed, 2006. ALVES, Gledes Maria Machado; CARVALHO, Míriam Lúcia M.. Transtornos mentais. Centro Municipal de Apoio à Inclusão Maria Thomé Neto. Goiânia, 2009. ALVES, Maria Dolores Fortes. De professor a educador - contribuições da Psicopedagogia: ressignificar os valores e despertar a autoria. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2006. BEAUCLAIR, João. Ensinar é acreditar. Coleção Ensinantes do Presente, volume I. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2008.. Educação & Psicopedagogia: aprender e ensinar nos movimentos de autoria. Pulso Editorial, São José dos Campos, São Paulo, 2007..Incluir, um verbo/ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos. Pulso Editorial, São José dos Campos, São Paulo, 2007.

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