Ciências da Linguagem e da Cognição

Documentos relacionados
MAX LUSCHER PSICO CENTRO DE ESTUDOS E DE DIFUSÃO EM PSICOLOGIA. Rua Luís Pastor de Macedo, Lote Tel:

Artigo Opinião AEP /Novembro 2010 Por: Agostinho Costa

4.1. UML Diagramas de casos de uso

O processo de aquisição da linguagem escrita: estudos de A. R. Lúria e L. S. Vygotsky

ÓTICA COM ÍNDICE DE REFRAÇÃO NEGATIVO

Esta é uma breve análise de uma peça publicitária impressa que trabalha com o

Transição para a parentalidade após um diagnóstico de anomalia congénita no bebé: Resultados do estudo

PALAF programa aprender a ler para aprender a falar

NetEtiqueta. É uma abreviação de Etiqueta na Internet. Aplica-se ao envio de s, conversas de chat e envio de mensagens para Fóruns de discussão.

Apostila de Física 39 Lentes Esféricas

Profa. Ma. Adriana Rosa

Cefaleia em salvas C e faleia em salvas

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS

III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desafios Educacionais

INVENÇÃO EM UMA EXPERIMENTOTECA DE MATEMÁTICA: PROBLEMATIZAÇÕES E PRODUÇÃO MATEMÁTICA

Corte composto. abaixo, por apresentarem seus elementos internos fora de alinhamento, precisam de outra maneira de se imaginar o corte.

Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola

Páginas para pais: Problemas na criança e no adolescente A criança com Autismo e Síndrome de Asperger

Métodos de treino da resistência

Alguns truques do Excel. 1- Títulos com inclinação. 2- Preencha automaticamente células em branco

ARQUITETURA E ORGANIZAÇÃO DE COMPUTADORES SISTEMAS DE NUMERAÇÃO: REPRESENTAÇÃO EM PONTO FLUTUANTE. Prof. Dr. Daniel Caetano

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO DEPARTAMENTO DE EXPRESSÃO GRÁFICA CURSO DE DESIGN

COMPETÊNCIAS. Reconhecer a importância das artes visuais como valor cultural indispensável ao desenvolvimento do ser humano.

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

SISTEMA NERVOSO INTEGRADOR

EXPRESSÃO CORPORAL: UMA REFLEXÃO PEDAGÓGICA

Pizza Móvel. Manual do Utilizador. Seja muito bem-vindo caro utilizador

Motivação. Robert B. Dilts

ORIENTAÇÃO. Para a orientação recorremos a certas referências. A mais utilizada é a dos pontos cardeais: Norte Sul Este Oeste

Composição Gráfica. é a relação entre os diferentes elementos gráficos que fazem parte de um documento;

PrinciPais FUnciOnaLiDaDEs DO robô

OS MITOS À VOLTA DA HIPERTROFIA

DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA DE CONTROLE AUTOMATIZADO DA ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL DE INTERIORES

1. Criar uma nova apresentação

Ciências Físico - Químicas. Planificação de uma Actividade Laboratorial No contexto dos Novos Programas

FUNÇÕES ATRIBUÍDAS AOS LOBOS FRONTAIS. Profª. Jerusa Salles

Como...fazer o pré-teste de materiais de extensão rural com pequenos agricultores

TRABALHO LABORATORIAL NO ENSINO DAS CIÊNCIAS: UM ESTUDO SOBRE AS PRÁTICAS DE FUTUROS PROFESSORES DE BIOLOGIA E GEOLOGIA

Cotagem de dimensões básicas

TÍTULO: AMBIENTE VIRTUAL PARA O ENSINO DE LÓGICA EM PORTADORES DE TDAH

ELECTRICIDADE DOS SISTEMAS BIOLÓGICOS

PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO

A Epistemologia de Humberto Maturana

OS SEIS ERROS MENTAIS QUE MAIS ATRAPALHAM SEU JOGO

Faculdade de Computação

Além do Modelo de Bohr

ORGANIZAÇÃO DE COMPUTADORES MÓDULO 1

Eletromagnetismo: imãs, bobinas e campo magnético

Top Guia In.Fra: Perguntas para fazer ao seu fornecedor de CFTV

1 Introdução. definido como aquele que conhece um conjunto de factos linguísticos.

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

Ferramenta de Apoio ao Jogo 2 (Ensino da Leitura) incluído nos Jogos da Mimocas

FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO!

Programação em papel quadriculado

Organização. Trabalho realizado por: André Palma nº Daniel Jesus nº Fábio Bota nº Stephane Fernandes nº 28591

Controlo de iluminação local multifuncional

Implementadas por Computador

Modem e rede local. Manual do utilizador

Language descriptors in Portuguese Portuguese listening - Descritores para a Compreensão do Oral em História e Matemática

Visão Artificial Para a Indústria. Manual do Utilizador

Sistema de Recuperação

Psicologia Social. É a área da Psicologia que procura estudar a interação social.

1 Um guia para este livro

Psicologia Cognitiva Imagem Mental Ergonomia 1º Ano

3 Estratégia para o enriquecimento de informações

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

FICHA DOUTRINÁRIA. Processo:

"MULTRIBUIÇÃO": COLABORAÇÃO NA INTERNET Nilton Bahlis dos Santos Alberto de Francisco. Introdução:

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE FÍSICA

O que é coleta de dados?

COMO LIGAR E CONFIGURAR

Marxismo e Ideologia

Capítulo 5: Aplicações da Derivada

LABORATÓRIO 11. Diodos e LEDs. Objetivos: Identificar o comportamento de um diodo e de um LED em um circuito simples; calcular a resistência. do LED.

Nascemos a ver ou aprendemos a ver?

A organização dos meios humanos na empresa

Jan/2009. Cartografia Humana Claudio C. Conti

Data 23/01/2008. Guia do Professor. Introdução

BASES PSICOLÓGICAS DO PACTO SOCIAL

Invenções Implementadas por Computador (IIC) Patentes

REPRESENTAÇÃO DE DADOS EM SISTEMAS DE COMPUTAÇÃO AULA 03 Arquitetura de Computadores Gil Eduardo de Andrade

Arquitecturas de Software Licenciatura em Engenharia Informática e de Computadores

Especificação Operacional.

yuiopasdfghjklçzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklçzxcvbnm

Gestão do Risco e da Qualidade no Desenvolvimento de Software

Tomada de decisão. O que é necessário para ser bom? Algumas dicas práticas: Por que ser bom? Como tomamos boas decisões?

Alfabetização e letramento. Professora : Jackeline Miranda de Barros

Licenciatura em Comunicação Empresarial

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO, ACTUALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ÁRBITROS ASSISTENTES DE 2.ª CATEGORIA Futebol de 11 TESTE ESCRITO PERGUNTAS

Objetivos. Introdução. Letras Português/Espanhol Prof.: Daniel A. Costa O. da Cruz. Libras: A primeira língua dos surdos brasileiros

3.1 Definições Uma classe é a descrição de um tipo de objeto.

A CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS PERTINENTES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

< Maria Inês; nº 17; 9ºB > < Ricardo Santos; nº18; 9ºB >

10 MAUS HÁBITOS DE ORADORES. Ficha # maus hábitos a evitar. 10 conselhos práticos para se tornar num orador de sucesso


Facturação Guia do Utilizador

Modelos de Desenho Curricular

O Treino no BTT. COALA Clube Orientação Aventura Litoral Alentejano

Transcrição:

Ciências da Linguagem e da Cognição Atenção Multimodal. Automatismos. Efeito de Stroop. As apresentações power-point resultam de contribuições de:! António Branco! Helder Coelho! Luis Antunes! João Balsa 1

Atenção multi-modal: afunilamento central " Atenção...!... numa modalidade sensorial: afunilamento serial!... e em várias modalidades: afunilamento? " Experiência: Karlin e Kestenbaum, 1968! duas tarefas " T1/Visual: identificar de imediato a ocorrência do dígito 1 (premir com mindinho esquerdo) ou 2 (anelar esquerdo) " T2/Auditiva: identificar um som grave (premir com médio direito) ou agudo (indicador direito)! varia-se assincronia do início dos estímulos (AIO): 1150 ms a 90 ms 2

Atenção multi-modal: afunilamento central " Experiência: Karlin e Kestenbaum, 1968 " Resultados:! AIO > 600 ms: T1: 383 ms; T2: 284 ms! AIO = 90 ms: T1:383; T2: 514 ms " Conclusões:! algum afunilamento serial: T2: 514 ms > 284 ms! algum paralelismo é mantido: 514 < (383-90) + 284 = 577: sobreposição de processamento de cerca de 60 ms 3

Automatismo " Rationale! coordenação de modalidades convoca o componente da cognição central! afunilamento ocorre devido ao recurso a esse componente " Prática / Automatismo! O efeito da prática é a eliminação/redução da intervenção desse componente central 4

Automatismo " Experiência: Spelke, Hirst e Neisser, 1976! Sujeitos têm que desempenhar duas tarefas em simultâneo: " Ler um texto em silêncio de modo a compreendê-lo " escrever palavras que vão sendo ditadas;! Inicialmente o ritmo de leitura é muito lento! Ao fim de seis meses de treino, os sujeitos liam ao ritmo normal!! Participantes perdem a consciência da actividade automatizada 5

Automatismo " Impossível de evitar? " Para além de não requererem componente central pode ser difícil evitar os automatismos " Conseguem olhar para uma palavra comum e não a ler? " Efeito de Stroop 6

Efeito de Stroop " Experiência, Stroop, 1935! Sujeitos veem sequência de nomes de cores coloridos " Condição 1: leem a palavra " Condição 2: relatam a cor da palavra! Controle: ler palavra "sem cor"! Congruente: ler nome de cor nessa cor! Conflito: ler nome de cor noutra cor 7

8

Efeito de Stroop " Experiência, Stroop, 1935! Resultados: " ler palavras mais rápido que relatar cores " leitura de palavras não é afectada " relato de cores: melhora com condição congruente; piora com condição de conflito! Conclusões: " leitura de palavras é tarefa mais automatizada que relatar cores " tarefas automatizadas são difíceis de deter 9

Alguns vídeos " Apresentação de Daniel Simons (TED talk)! http://www.youtube.com/v/ eb4tm19dydy&rel=0&hl=en_us&feature=player_embedded&version=3 " Invisible Gorilla (selective attention)! V1 - http://www.youtube.com/v/ vjg698u2mvo&rel=0&hl=en_us&feature=player_embedded&version=3! V2 - http://www.youtube.com/v/ IGQmdoK_ZfY&rel=0&hl=en_US&feature=player_embedded&version=3 " Porta (change blindeness)! http://www.youtube.com/v/ FWSxSQsspiQ&rel=0&hl=en_US&feature=player_embedded&version=3 10

Neurónios sincronizados focam atenção " Investigadores do MIT (2006) descobriram que a sincronização dos neurónios acelera a Atenção. " A cor na fig. ao lado indica o grau da actividade sincronizada na área V4 do córtex visual de macacos. " Quanto mais os neurónios disparam em síncronia (vermelho) mais depressa o macaco nota uma mudança de cor numa imagem esperada: 348 em vez de 498 mseg. (in MIT Tech Talk de March 1, 2006). 11

Modelo da atenção " Deco e Rolls (2002) propuseram um modelo neurodinâmico capaz de integrar o reconhecimento visual de objectos e a atenção numa arquitectura hierárquica, com quatro módulos, ao longo do córtex visual (V1, V2, V4) e do córtex parietal inferior (IT). " Esta cadeia é capaz de manter um mapa espacial da localização de um objecto e/ou a relação espacial das partes de um objecto, e também o movimento da alocação espacial da atenção. 12

Lugar da Atenção 13

Consciência Visual " A consciência visual é sub-entendida por um processo cerebral particular, implicando três zonas do nosso cérebro: os córtex frontal, parietal e cingular anterior, já envolvidos nas tarefas da linguagem, da atenção, ou ainda da escolha dos comportamentos a adoptar. " Uma rede que, embora quando não está activa, não nos impede de reagir aos estímulos visuais, mas impede-nos de nos tornarmos conscientes. " A razão é simples:! como o cérebro não acabou de realizar conscientemente uma tarefa, não consegue começar a realizar a próxima. É impossível fazer duas tarefas ao mesmo tempo de modo consciente. 14

Rede " Será que a rede cerebral (fronto-pariétal-cingular), descoberta por detrás da consciência visual, estará implicada no conjunto das operações cognitivas ligadas à consciência em geral (como, por exemplo, decidir fazer um gesto, planificar uma série de tarefas a efectuar ao longo do dia)? " A resposta actual é positiva, mas é preciso mais evidências para ter a certeza absoluta. 15

Intuição " A intuição de Crick e Koch, de que por detrás dos mecanismos da visão se poderia atingir uma melhor compreensão da consciência, parece ser verdadeira. " As investigações mais recentes realizadas em Orsay levam à seguinte conclusão:! ao explorarmos os mecanismos que presidem à nossa faculdade de perceber conscientemente os objectos situados no nosso campo visual aproximamo-nos das bases cerebrais da consciência. 16

Consciência " Podemos ver a consciência como uma cena de teatro que começa por estar obscura e onde os objectos vão por sua vez tornando-se conscientes, um a um, quando o feixe da atenção os ilumina. 17

Science et Vie, Mars 2006 " Quando um estímulo invade o espaço consciente, torna-se consciente. Stanislas Dehaene, professor de Psicologia Cognitiva no Collège de France. " Será possível conceber um modelo teórico que descreva o funcionamento da consciência? " Quando podemos dizer que um indivíduo está consciente? 18

Ser consciente " Um indivíduo diz-se consciente dum estímulo dado quando é capaz de comunicar, pela palavra ou pelo gesto, que tem conhecimento dele. " Tese de Bernard Baars (1988): existe um espaço de trabalho global consciente ligado à multitude de processos sensoriais não conscientes. " Tese da Modularidade do Espírito de Jerry Fodor (1983): a maior parte das competências cognitivas (linguagem, audição, visão) estão ligadas a módulos, isto é a pequenos sistemas cerebrais com funções muito especializadas e funcionando de forma autónoma. 19

Modelo teórico da consciência de Dehaene " O modelo de Dehaene foi construído sobre a via e as ideias de Baars, e recorreu aos dados neurológicos mais recentes, o que não era possível em 1988. Como se fosse só agora possível aprofundar o pensamento de Baars. Modelo Teórico = Espaço Neuronal do Trabalho Consciente 20

Modelo teórico da consciência de Dehaene " Existem dois grande espaços de representação no cérebro: " 1) processos cerebrais autónomos, os grupos de neurónios (gigantes?) que tratam em paralelo os diferentes estímulos recebidos, de forma não consciente; " 2) espaço de trabalho consciente, uma espécie de grande rede global, que liga entre eles uma grande parte dos processadores autónomos. 21

Modelo teórico da consciência de Dehaene " Estes dois conjuntos no cérebro (o espaço neuronal de trabalho consciente e os processadores autónomos que tratam os sinais não conscientes) interagem segundo 4 modos distintos: 1) O sinal activa os processadores não ligados ao espaço consciente: resposta não consciente. 2) A atenção pré-activada amplifica o sinal: resposta consciente. 3) O sinal é demasiado fraco: resposta não consciente. 4) O sinal é forte e inesperado: resposta consciente. 22

Princípio do Modelo " Da interacção entre os dois espaços emerge o princípio do modelo: um estímulo torna-se consciente quando consegue invadir o espaço de trabalho consciente todo inteiro. " Pelo contrário, se o seu tratamento permanece confinado a um ou a alguns processadores especializados isso não chega para o tornar consciente. 23

Modelo da Consciência " A consciência aparece a partir da colaboração, ou da interacção entre os circuitos diferentes da percepção e da integração. 24