Salário-Família: Características e Peculiaridades do Benefício da Previdência Social



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Transcrição:

Assunto Especial - Doutrina Previdenciário e Direito de Família Salário-Família: Características e Peculiaridades do Benefício da Previdência Social OSCAR VALENTE CARDOSO Juiz Federal Substituto do JEF Cível de Lages/SC, Doutorando em Direito (UFRGS), Mestre em Direito e Relações Internacionais pela UFSC, Professor da Escola Superior da Magistratura Federal de Santa Catarina (Esmafesc), Especialista em Direito Público, em Direito Constitucional, em Direito Processual Civil, em Comércio Internacional e em Planejamento e Gestão Estratégica. RESUMO: O artigo analisa o benefício previdenciário de salário-família, especificamente sob as regras do Regime Geral da Previdência Social. Aborda temas básicos e polêmicos relacionados a ele, como o conceito, as suas características, os requisitos, a carência, as condições, os termos inicial e final, o valor mensal, as hipóteses de cumulação com outros benefícios, a baixa renda e a responsabilidade pelo pagamento. PALAVRAS-CHAVE: Previdência Social; salário-família; Lei nº 8.213/1991. SUMÁRIO: Introdução; 1 Requisitos; 2 Carência; 3 Condições; 4 Termo inicial; 5 Valor mensal; 6 Cumulação; 7 Cessação; Conclusões; Referências.

10 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA INTRODUÇÃO Há dois sistemas de Previdência Social no Brasil: um público e outro privado. O sistema público é dividido em: (a) Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), instituídos pelos entes da Administração Pública direta (União, Estados, Distrito Federal, Municípios, autarquias e fundações), com fundamento no art. 40 da Constituição; (b) e o Regime Geral da Previdência Social (RGPS), previsto no art. 201 da Constituição. O sistema privado (de caráter complementar ao público) tem fundamento constitucional no art. 202, e sua existência decorre do fato de que a Previdência básica nem sempre irá dispor de recursos financeiros para a satisfação dos benefícios previdenciários. O RGPS, na atualidade, conta com dez benefícios e dois serviços: aposentadoria por invalidez, aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição, aposentadoria especial, auxílio-doença, salário-família, salário-maternidade, auxílio-acidente, pensão por morte, auxílio-reclusão, e os serviços social e de reabilitação profissional (art. 18 da Lei nº 8.213/1991). Este artigo aborda o benefício de salário-família do RGPS, destacando as suas características, os requisitos, a carência, as condições, os termos inicial e final, o valor mensal e as situações de cumulação (ou de vedação) com outros benefícios previdenciários. Trata-se de benefício pouco discutido na doutrina, que possui determinadas questões controversas (que serão analisadas adiante), tais como a baixa renda, a fixação do termo inicial, a responsabilidade pelo pagamento e as hipóteses de recebimento conjunto. 1 REQUISITOS O benefício previdenciário de salário-família tem caráter temporário e é pago ao segurado empregado e trabalhador avulso (de

baixa renda) em razão do número de filhos ou equiparados (enteado e o menor tutelado) 1 de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. Foi criado pela Lei nº 4.266/1963, que já previa o pagamento pelos empregadores e o custeio mediante compensação com as contribuições por eles devidas (arts. 1º, 3º e 4º). O seu objetivo principal é o de auxiliar o trabalhador de baixa renda no sustento de seus filhos. Tem fundamento constitucional nos arts. 7º, XII (direito dos trabalhadores urbanos e rurais), e 201, IV (benefício previdenciário). Apesar de ser denominado de salário, o salário-família não se trata de parcela salarial, nem de direito trabalhista, mas sim de um benefício da Previdência Social 2. José Jayme de Souza Santoro define-o como "[...] um abono mensal devido ao segurado empregado, exceto ao doméstico, e ao segurado trabalhador avulso, na proporção do respectivo número de filhos não emancipados até 14 anos de idade ou inválidos, inclusive aos equiparados" 3.

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 11 É devido apenas aos segurados empregado (inclusive em contrato temporário) e trabalhador avulso, ou seja, estão excluídos o empregado doméstico, o contribuinte individual, o segurado especial e o facultativo. Tem a peculiaridade de ser concedido durante o desempenho de atividade laborativa, e não em afastamento e como substitutivo da remuneração. Existem três requisitos para a sua concessão: (a) a qualidade de segurado empregado ou trabalhador avulso; (b) ter filho (ou equiparado) menor de 14 anos de idade ou inválido (independentemente da idade e constatado por meio de perícia médica); (c) ser segurado de baixa renda. Para Miguel Horvath Júnior, a idade de 14 anos foi fixada levando em conta a data a partir da qual o adolescente pode se inserir no mercado de trabalho, e deveria ser ampliada para 16 anos de idade, tendo em vista a atual exigência do art. 7º, XXXIII, da Constituição 4. Acerca do requisito baixa renda, aplica-se raciocínio similar àquele sobre as regras do auxílio-reclusão 5. Relembra-se que o Pleno do STF, no dia 25.03.2009, julgando dois recursos extraordinários interpostos pelo INSS (de nº 486413 e 587365), decidiu por 7 x 3 votos que a renda a ser avaliada é a do segurado. Se a renda do segurado é a considerada para o cálculo do benefício, deve ser igualmente levada em conta para a sua concessão, e não a renda dos dependentes. Ademais, a limitação ao recebimento de outros benefícios pelo segurado (auxílio-doença, aposentadoria, abono de permanência em serviço), ou de salário, também reforça que a renda bruta que importa para a concessão do benefício é a sua, e não os rendimentos dos beneficiários. O art. 201, IV, da Constituição (com a redação modificada pela EC 20/1998), assim condiciona a concessão do benefício: "IV -

salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda". Regulamentando provisoriamente o conceito de baixa renda do dispositivo constitucional, o art. 13 da Emenda Constitucional nº 20/1998 dispõe: Art. 13. Até que a lei discipline o acesso ao salário-família e auxílio-reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes, esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do regime geral de previdência social.

12 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA Em observância à norma constitucional, o art. 81 do Decreto nº 3.048/1999 prevê que o salário-família será devido, mensalmente, ao segurado empregado, exceto o doméstico, e ao trabalhador avulso que tenham salário-de-contribuição inferior ou igual a R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), na proporção do respectivo número de filhos ou equiparados, nos termos do art. 16, observado o disposto no art. 83. Esse valor é atualizado anualmente por meio de portarias e corresponde, no período de 16.12.1998 a 31.12.2011, às seguintes quantias: - R$ 360,00, a partir de 16.12.1998 (art. 13 da Emenda Constitucional nº 20/1998); - R$ 376,60, a partir de 01.06.1999 (arts. 15 e 17 da Portaria MPAS nº 5.188/1999); - R$ 398,48, a partir de 01.06.2000 (arts. 10 e 11 da Portaria MPAS nº 6.211/2000); - R$ 429,00, a partir de 01.06.2001 (arts. 10 e 11 da Portaria MPAS nº 1.987/2001); - R$ 468,47, a partir de 01.06.2002 (arts. 10 e 11 da Portaria MPAS nº 525/2002); - R$ 560,81, a partir de 01.06.2003 (arts. 11 e 12 da Portaria MPS nº 727/2003); - R$ 586,19, a partir de 01.05.2004 (arts. 4º e 5º da Portaria MPS nº 479/2004); - R$ 623,44, a partir de 01.05.2005 (arts. 4º e 5º da Portaria MPS nº 822/2005); - R$ 654,61, a partir de 01.04.2006 (arts. 4º e 5º da Portaria

MPS nº 119/2006); - R$ 676,27, a partir de 01.04.2007 (arts. 4º e 5º da Portaria MPS nº 142/2007); - R$ 710,08, a partir de 01.03.2008 (arts. 4º e 5º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 77/2008); - R$ 752,12, a partir de 01.02.2009 (arts. 4º e 5º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 48/2009);

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 13 - R$ 810,18, a partir de 01.01.2010 (arts. 4º e 5º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 333/2010, que revogou a Portaria Interministerial MPS/MF nº 350/2009, que estipulava o valor de R$ 798,30, também a partir de 01.01.2010); - R$ 862,60, a partir de 01.01.2011 (arts. 4º e 5º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 407/2011, que revogou a Portaria Interministerial MPS/MF nº 568/2010, que estipulava o valor de R$ 862,11, também a partir de 01.01.2011). Ressalta-se que, nos termos da regulamentação, considera-se apenas o último salário-de-contribuição; logo, o benefício será devido mesmo que a RMI seja superior ao valor máximo permitido, desde que o último salário-de-contribuição seja inferior 6. Incabível no salário-família a discussão existente no auxílio-reclusão sobre qual renda deve ser considerada (do próprio segurado ou do dependente), pois, enquanto o auxílio-reclusão é pago aos dependentes, o salário-família é devido apenas ao segurado. Portanto, deve ser considerada a (baixa) renda do segurado como um requisito para a concessão do salário-família. Em consequência, não se leva em conta nenhum outro valor, de dependentes ou das demais pessoas eventualmente pertencentes ao grupo familiar do segurado. Por exemplo, em decorrência do nascimento de um filho, o pai trabalhador avulso pode não receber o salário-família (por receber salário superior ao limite), mas a mãe empregada sim. Sobre o assunto: "[...] a limitação de renda é individual e não familiar. O pai não pode receber acima do limite constitucional e nem a mãe, ambos considerados individual-mente, não se somando as rendas de ambos para impedir o benefício" 7. Acerca dessa questão, Kerlly Huback Bragança ressalta que, havendo mais de um vínculo para uma mesma pessoa, deve ser somada a renda de todas, e não pago o benefício apenas para o vínculo de renda inferior 8. Levando-se em conta que é exigida a baixa

renda do segurado, é inadmissível o fracionamento de rendas eventualmente recebidas por fontes de pagamento diferentes: considera-se a renda total do segurado no mês.

14 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 2 CARÊNCIA Não é exigida carência mínima de contribuições para a concessão desse benefício (art. 26, I, da Lei nº 8.213/1991). 3 CONDIÇÕES Ainda, o art. 67 da Lei nº 8.213/1991 condiciona o pagamento do salário-família à apresentação da certidão de nascimento do filho, ou da documentação relativa ao equiparado ou ao inválido, e à apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de frequência à escola do filho ou equiparado. A constitucionalidade da obrigação de apresentar o atestado de vacinação obrigatória foi questionada na ADIn 2110. Ao decidir a medida cautelar nesse processo, o Supremo Tribunal Federal manteve a constitucionalidade da norma: DIREITO CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO - PREVIDÊNCIA SOCIAL - CÁLCULO DOS BENEFÍCIOS - FATOR PREVIDENCIÁRIO - SALÁRIO-MATERNIDADE: CARÊNCIA - SALÁRIO-FAMÍLIA - REVOGAÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR POR LEI ORDINÁRIA - AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: A) DOS ARTS. 25, 26, 29 E 67 DA LEI Nº 8.213, DE 24.07.1991, COM A REDAÇÃO QUE LHES FOI DADA PELO ART. 2º DA LEI Nº 9.876, DE 26.11.1999; [...] - 4. Com relação à pretendida suspensão dos arts. 25, 26 e de parte do art. 67 da Lei nº 8.213/1991, em sua redação originária e também na que lhe foi dada pela Lei nº 9.876/1999, bem como do art. 9º desta última, os fundamentos jurídicos da inicial ficaram seriamente abalados com as informações do Congresso Nacional, da Presidência da República e, sobretudo, com o parecer da Consultoria Jurídica do Ministério da Previdência e Assistência Social, não se vislumbrando, por ora, nos dispositivos impugnados, qualquer afronta às normas da Constituição. 5. Medida cautelar indeferida, quanto a todos os dispositivos impugnados. (ADIn 2110-MC/DF,Pleno, Rel. Min. Sydney Sanches, J. 16.03.2000, DJ

05.12.2003, p. 17) O art. 84 do Decreto nº 3.048/1999 acrescenta que: (a) a apresentação anual do atestado de vacinação obrigatória deve ser exigida até que o filho ou equiparado atinja os seis anos de idade; (b) e que a comprovação de frequência à escola deve ser semestral (e não anual) e inicia apenas a partir dos sete anos de idade do filho ou equiparado. Kerlly Huback Bragança questiona a segunda condição e defende que essa demonstração da frequência escolar deve ter início aos seis anos 9, idade prevista como a inicial do ensino fundamental no art. 3º da Lei nº 11.274/2006 10 e no art. 208, IV, da Constituição 11. Porém, o INSS segue a regra do Regulamento da Previdência Social e exige a apresentação de documento de frequência à escola a partir dos sete anos de idade (art. 290, V, da Instrução Normativa INSS/PRES nº 45/2010).

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 15 4 TERMO INICIAL Seu termo inicial não incide sobre o nascimento do filho, o dia da adoção ou da tutela, mas sim a data de apresentação da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa ao equiparado (arts. 67 da Lei nº 8.213/1991 e 84 do RPS) 12. Com base nessa regra, mas ignorando a falta de interesse processual, há precedentes de Tribunais Regionais Federais reconhecendo o direito ao salário-família a partir da citação do INSS no processo judicial, quando o segurado não tiver formulado o requerimento administrativo 13. 5 VALOR MENSAL O salário-família é pago em valores fixos, ou seja, não é calculado sobre o salário-de-contribuição. Atualmente, é pago em dois valores diferentes, de acordo com a faixa de renda em que se enquadrar o segurado. Historicamente, foram observados os seguintes valores após a entrada em vigor da Emenda Constitucional nº 20/1998: - a partir de 01.01.1999: R$ 8,65 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 360,00 (art. 8º da Portaria MPAS nº 4.883/1998);

16 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA - a partir de 01.06.1999: R$ 9,05 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 376,60 (art. 15 da Portaria MPAS nº 5.188/1999); - a partir de 01.06.2000: R$ 9,58 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 398,48 (art. 10 da Portaria MPAS nº 6.211/2000); - a partir de 01.06.2001: R$ 10,31 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 429,00 (art. 10 da Portaria MPAS nº 1.987/2001); - a partir de 01.06.2002: R$ 11,26 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 468,47 (art. 10 da Portaria MPAS nº 525/2002); - a partir de 01.06.2003: R$ 13,48 para o segurado com remuneração mensal igual ou inferior a R$ 560,81 (art. 11 da Portaria MPS nº 727/2003); - a partir de 01.05.2004: (a) R$ 20,00 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 390,00; (b) e R$ 14,09 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 390,00 e igual ou inferior a R$ 586,19 (art. 4º da Portaria MPS nº 479/2004); - a partir de 01.05.2005: (a) R$ 21,27 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 414,78; (b) e R$ 14,99 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 414,78 e igual ou inferior a R$ 623,44 (art. 4º da Portaria MPS nº 822/2005); - a partir de 01.04.2006: (a) R$ 22,33 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 435,52; (b) e R$ 15,74 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 435,52 e igual ou inferior a R$ 654,61 (art. 4º da Portaria MPS nº 119/2006); - a partir de 01.04.2007: (a) R$ 23,08 para o segurado com

remuneração mensal não superior a R$ 449,93; (b) e R$ 16,26 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 449,93 e igual ou inferior a R$ 676,27 (art. 4º da Portaria MPS nº 142/2007); - a partir de 01.03.2008: (a) R$ 24,23 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 472,43; (b) e R$ 17,07 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 472,43 e igual ou inferior a R$ 710,08 (art. 4º da Portaria Interministerial MPS/MF nº 77/2008); - a partir de 01.02.2009: (a) R$ 25,66 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 500,40; (b) e R$ 18,08 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 500,40 e igual ou inferior a R$ 752,12 (art. 4º da Portaria Interministerial MPS/MFnº 48/2009);

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 17 - a partir de 01.01.2010: (a) R$ 27,64 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 539,03; (b) e R$ 19,48 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 539,03 e igual ou inferior a R$ 810,18 (art. 4º da Portaria Interministerial MPS/MFnº 333/2010, que revogou a Portaria Interministerial MPS/MF nº 350/2009, que estipulava os valores respectivos de R$ 27,24 e R$ 19,19, também a partir de 01.01.2010); - a partir de 01.01.2011: (a) R$ 29,43 para o segurado com remuneração mensal não superior a R$ 573,91; (b) e R$ 20,74 para o segurado com remuneração mensal superior a R$ 573,91 e igual ou inferior a R$ 862,60 (art. 4º da Portaria Interministerial MPS/MFnº 407/2011, que revogou a Portaria Interministerial MPS/MF nº 568/2010, que estipulava os valores respectivos de R$ 29,41 e R$ 20,73, também a partir de 01.01.2011). Por não substituir a remuneração, o salário-família pode ter valor inferior ao salário-mínimo. O trabalhador avulso tem direito à cota mensal mesmo que tenha trabalhado apenas um dia no mês 14. Porém, por não ser uma parcela salarial, o salário-família não se incorpora ao salário ou ao benefício previdenciário do segurado empregado ou trabalhador avulso (arts. 70 da Lei nº 8.213/1991 e 92 do Decreto nº 3.048/1999), ou seja, sobre ele não incide contribuição previdenciária ou para o FGTS e não integra o salário-de-contribuição 15. O INSS não é o único responsável pelo pagamento do salário-família: (a) em regra, incumbe ao empregador pagar o benefício ao segurado empregado, juntamente com o salário, podendo reembolsar 16 esse valor referente ao salário-família no recolhimento de suas contribuições (art. 68 da Lei nº 8.213/1991 e art. 82, I, do Decreto nº 3.048/1999) 17; (b) normalmente é o INSS que efetua o pagamento do salário-família ao trabalhador avulso, mas pode,

mediante convênio, transferir essa responsabilidade ao respectivo sindicato ou órgão gestor de mão de obra (art. 69 da Lei nº 8.213/1991 e art. 82, I, do Decreto nº 3.048/1999); (c) e o INSS paga o salário-família aos segurados empregados e trabalhadores avulsos 18 aposentados por invalidez ou afastados para recebimento de auxílio-doença, juntamente com o pagamento do benefício, bem como a esses segurados (urbanos ou rurais) aposentados por idade, e aos beneficiários de outra modalidade de aposentadoria (por tempo de contribuição ou especial) que tenham pelo menos 60 (mulheres) ou 65 (homens) anos de idade (art. 82, II a IV, do Decreto nº 3.048/1999).

18 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA A redação do art. 82, IV, do Decreto nº 3.048/1999 é confusa e obscura em sua abrangência: "Aos demais empregados e trabalhadores avulsos aposentados aos sessenta e cinco anos de idade, se do sexo masculino, ou sessenta anos, se do sexo feminino, pelo Instituto Nacional do Seguro Social, juntamente com a aposentadoria". Pode-se afirmar que se refere apenas à aposentadoria por idade, ou às demais? Prevalece na doutrina o segundo entendimento, de que abrange qualquer modalidade de aposentadoria, desde que observada a idade mínima 19. Tendo em vista que o benefício varia conforme o número de filhos (art. 65 da Lei nº 8.213/1991), pode ser pago para o pai e a mãe empregados ou trabalhadores avulsos de um mesmo filho, ou seja, ambos têm direito ao salário-família (desde que, como visto, cada um tenha renda inferior ao limite).

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 19 6 CUMULAÇÃO Em princípio, o salário-família pode ser cumulado apenas com a aposentadoria, diante do que preveem os arts. 18, 2º, e 65, parágrafo único, ambos da Lei nº 8.213/1991: Art. 18. [...] [...] 2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social - RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional, quando empregado. Art. 65. O salário-família será devido, mensalmente, ao segurado empregado, exceto ao doméstico, e ao segurado trabalhador avulso, na proporção do respectivo número de filhos ou equiparados nos termos do 2º do art. 16 desta lei, observado o disposto no art. 66. Parágrafo único. O aposentado por invalidez ou por idade e os demais aposentados com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais de idade, se do sexo masculino, ou 60 (sessenta) anos ou mais, se do feminino, terão direito ao salário-família, pago juntamente com a aposentadoria. Relembra-se que o aposentado que permanece ou volta à atividade não tem direito a qualquer benefício ou serviço da Previdência Social, com exceção do salário-maternidade, do salário-família e da reabilitação profissional, quando empregado (art. 103 do Decreto nº 3.048/1999 e art. 18, 2º, da Lei nº 8.213/1991). Mesmo assim, deve recolher contribuições, em virtude do caráter contributivo e do princípio da filiação obrigatória, apesar dessa limitação 20.

20 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA Também é admitido o recebimento conjunto com o auxílio-doença, diante do previsto no art. 82, IV, do Decreto nº 3.048/1999 e na falta de proibição expressa pelo art. 124 da Lei nº 8.213/1991 21. Com base na possibilidade de cumulação com o auxílio-doença, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região já decidiu que, caso o segurado empregado temporariamente desempregado (e que já recebia o salário-família durante o período de emprego) comprove, posteriormente, que estava incapacitado nesse período e receba o benefício de auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez, também terá direito retroativo ao salário-família 22. Salienta-se ainda que o art. 82, II a IV, do Decreto nº 3.048/1999 atribui ao INSS a incumbência de pagar o salário-família juntamente com os benefícios de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e aposentadoria por idade. Para Eros Piceli, é admitida a cumulação do salário-família com os benefícios previdenciários de auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e aposentadoria por idade 23. José Jayme de Souza Santoro faz menção apenas às aposentadorias por invalidez e por idade 24. Portanto, com base nas normas existentes na Lei nº 8.213/1991 e no Decreto nº 3.048/1999 acerca na possibilidade de cumulação e em suas vedações, conclui-se que o salário-família é passível de cumulação com: (a) qualquer modalidade de aposentadoria, desde que o aposentado estivesse exercendo atividade na condição de empregado ou trabalhador avulso, ou volte a desempenhar trabalho remunerado em alguma dessas duas categorias de segurado 25; (b) o auxílio-doença, observadas as situações anteriores sobre as categorias de segurado.

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 21 7 CESSAÇÃO O salário-família cessa em cinco oportunidades diferentes: (a) término do vínculo do segurado empregado ou trabalhador avulso (art. 88, IV, do Decreto nº 3.048/1999), encerrando o pagamento no dia seguinte à dispensa; (b) óbito do segurado empregado ou trabalhador avulso, cessando no mês seguinte ao do fato; (c) cumprimento da idade limite de 14 anos do filho ou equiparado, a menos que seja inválido (art. 88, II, do RPS), terminando no mês seguinte ao do aniversário; (d) aquisição de capacidade pelo filho ou equiparado maior de 14 anos (art. 88, III, do RPS), encerrando no mês seguinte ao do término da incapacidade; (e) falecimento do filho ou equiparado (art. 88, I, do RPS), cessando no mês seguinte ao do fato. A falta de observância da apresentação anual de atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de frequência à escola do filho ou equiparado apenas suspende o benefício, que volta a ser pago mediante a exibição do(s) documento(s) (art. 84, 2º, do Decreto nº 3.048/1999). O pagamento - ou não - das cotas devidas durante o período de suspensão, após a sua regularização, gera controvérsia: para Ivan Kertzman e Miguel Horvath Júnior, o benefício deve ser pago a partir da suspensão, mesmo que se comprove que a regularização do fato tenha ocorrido após essa data 26. Em posição intermediária, Fábio Zambitte Ibrahim afirma que a vacinação fora do prazo permite que reinicie o pagamento a partir da suspensão, mas a frequência escolar só autoriza a retroação caso se demonstre que tenha se mantido durante a suspensão 27. De outro lado, Marcos André Ramos Vieira e Sergio Pinto Martins afirmam que o pagamento só retroage se o beneficiário demonstrar (ainda que posteriormente) que o fato ocorreu antes da suspensão (seja a vacinação, seja a manutenção da frequência escolar); caso contrário, o salário-família deve voltar a ser pago a partir do dia da regularização 28.

O art. 290, 3º, da Instrução Normativa INSS/PRES nº 45/2010 assim regulamenta a questão: Art. 290. [...] [...] 3º A empresa, o órgão gestor de mão-de-obra ou o sindicato de trabalhadores avulsos ou o INSS suspenderá o pagamento do salário-família se o segurado não apresentar o atestado de vacinação obrigatória e a comprovação de frequência escolar do filho ou equiparado, nas datas definidas no 2º deste artigo até que a documentação seja apresentada, observando que:

22 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA I - não é devido o salário-família no período entre a suspensão da cota motivada pela falta de comprovação da frequência escolar e sua reativação, salvo se provada a frequência escolar no período; e II - se após a suspensão do pagamento do salário-família, o segurado comprovar a vacinação do filho, ainda que fora de prazo, caberá o pagamento das cotas relativas ao período suspenso. Trata-se da solução mais adequada, levando-se em conta que o pagamento retroativo ao período de suspensão do benefício depende de prova, pelo segurado, de que tinha direito ao salário-família durante o tempo em que esteve suspenso. Logo, para receber o salário-família no intervalo de suspensão o segurado deve comprovar (mesmo que posteriormente) que, nesse período, o seu filho manteve a sua frequência escolar e/ou recebeu as vacinas obrigatórias. Ainda, caso o beneficiário deixe de informar a ocorrência de algum dos fatos causadores da cessação do salário-família, ou receba o benefício mediante fraude, o INSS, a empresa, o sindicato ou o órgão gestor de mão de obra pode descontar esse valor indevido dos pagamentos de cotas devidas com relação a outros filhos, ou do próprio salário do segurado ou da renda mensal do seu benefício, sem prejuízo das sanções penais cabíveis (art. 90 do RPS). Destaca-se, por fim, uma situação na qual o benefício pago aos pais pode cessar para um deles: ocorrendo divórcio, separação judicial ou de fato, ou em caso de abandono legalmente caracterizado ou perda do pátrio poder, o salário-família passa a ser pago apenas àquele a cujo cargo ficar o sustento do menor, ou a outra pessoa, se houver determinação judicial nesse sentido (art. 87 do Decreto nº 3.048/1999). CONCLUSÕES Como visto, o salário-família é um benefício previdenciário de

cunho temporário, devido ao segurado empregado e ao trabalhador avulso (de baixa renda), com base no número de filhos ou equiparados (enteado e menor tutelado) de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade. A despeito de sua designação, o salário-família não é salário ou outro direito trabalhista, mas sim um benefício da Previdência Social.

RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA 23 São exigidos três requisitos para a sua concessão: (a) a qualidade de segurado empregado ou trabalhador avulso; (b) ter filho (ou equiparado) menor de 14 anos de idade ou inválido (independentemente da idade e verificada a invalidez por meio de perícia médica); (c) e ser segurado de baixa renda. Também existem duas condições: (a) a apresentação da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa ao equiparado ou ao inválido; (b) e a exibição anual de atestado de vacinação obrigatória, até que o filho ou equiparado atinja os 6 anos de idade, ou de comprovação semestral de frequência à escola do filho ou equiparado, a partir dos 7 anos de idade. Não há carência mínima de contribuições para a concessão do salário-família. O salário-família é pago em valores fixos (ou seja, não se baseia no salário-de-contribuição) e, por não substituir a remuneração, o seu valor é inferior ao salário-mínimo. Ainda, não integra o salário-de-contribuição, não é incorporado ao salário ou ao benefício previdenciário, e sobre o salário-família não incide contribuição para a Previdência Social ou para o FGTS. O pagamento não é feito apenas pelo INSS: a regra geral é a de que cabe ao empregador conceder o salário-família ao seu empregado, podendo reembolsar o valor referente ao salário-família no recolhimento de suas contribuições. Por outro lado, em regra, o INSS paga o benefício ao trabalhador avulso, incumbindo excepcionalmente ao sindicato ou ao órgão gestor de mão de obra (quando houver convênio). Também cabe ao INSS pagar o salário-família aos beneficiários de auxílio-doença ou aposentadoria. Por fim, viu-se que o salário-família pode ser recebido juntamente com: (a) qualquer espécie de aposentadoria, desde que o aposentado estivesse exercendo atividade na condição de empregado ou trabalhador avulso, ou volte a desempenhar trabalho remunerado em alguma dessas duas categorias de segurado; (b) e o

auxílio-doença, nas mesmas situações do item anterior. REFERÊNCIAS BRAGANÇA, Kerlly Huback. Direito previdenciário. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. CARDOSO, Oscar Valente. Auxílio-reclusão e a apreciação do requisito renda pelo STF. Revista IOB Trabalhista e Previdenciária, São Paulo, n. 241, p. 19-35, jul. 2009.

24 RDF Nº 72 - Jun-Jul/2012 - ASSUNTO ESPECIAL - DOUTRINA CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. 11. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009. DUARTE, Marina Vasques. Direito previdenciário. 4. ed. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2005. EDUARDO, Ítalo Romano; EDUARDO, Jeane Tavares Aragão; TEIXEIRA, Amauri Santos. Curso de direito previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário. 7. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de direito previdenciário. 14. ed. Niterói: Impetus, 2009. KERTZMAN, Ivan. Curso prático de direito previdenciário. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2006. MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2000. PICELI, Eros. Direito previdenciário e infortunística. São Paulo: CPC, 2002. SANTORO, José Jayme de Souza. Manual de direito previdenciário. 3. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004. SANTOS, Marisa Ferreira dos. Direito previdenciário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. TAVARES, Marcelo Leonardo. Direito previdenciário. 9. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. VIEIRA, Marcos André Ramos. Manual de direito previdenciário. 2. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2002.