Evolução histórica da organização do trabalho e sua influência sobre o emprego dos jovens no Brasil



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Evolução histórica da organização do trabalho e sua influência sobre o emprego dos jovens no Brasil Balbina Raquel de Brito Correia (URCA) raquelbabi@bol.com.br Cézar Carlos Baltazar (URCA) ccbaltazar@bol.com.br Samuell Aquino Holanda (URCA) samuell182@gmail.com Resumo As inúmeras transformações no mundo do trabalho ao longo dos últimos séculos afetaram a oferta de emprego dos jovens no Brasil, entre 16 e 24 anos, que, propícios a ingressar no mercado de trabalho, são dependentes de fatores sociais, econômicos, políticos e educacionais. Esta discussão mostrou a intensa influência dos modelos de organização do trabalho, em relação a inserção e permanência dos jovens no mercado de trabalho. Nos núcleos familiares de menor poder aquisitivo, a taxa de desemprego entre a classe jovem mostrou-se mais elevada. Observou-se, com este estudo, uma ineficiência nas políticas governamentais de emprego, cujos motivos são gastos sociais mal direcionados e respostas negativas do setor privado aos estímulos do Governo. Palavras-chave: Mercado de trabalho; Jovens; Organização do trabalho. 1. Introdução A questão do emprego e sua qualidade têm preocupado todas as nações mundiais, pois se trata de um grave problema social que vêm afetando economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Grande parte da população brasileira sofre com falta de emprego e com o temor da perda do emprego, entretanto, os jovens trabalhadores constituem a categoria de pessoas que mais são prejudicadas. O índice de desemprego cresceu muito entre os jovens brasileiros. Um estudo realizado em 2002, por pesquisadores de Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (CEDEPLAR/UFMG), indicou uma taxa de desemprego mais elevada entre os jovens, quase 50% dos desempregados eram jovens (PED, 2005). O ideário neoliberal, característica marcante da globalização no campo político e econômico, cria excluídos no mundo do trabalho, que compartilham empregos temporários, subcontratação, contratos por tempo determinado, trabalho em domicílios, como tendência na sociedade do trabalho da era globalizada. A organização do trabalho, vigente na chamada era pós-industrial por alguns teóricos, determina a situação trabalhista dentro do capitalismo, pois a organização e gestão do trabalho influenciam o planejamento, a execução e a avaliação, permeando todas as etapas do processo produtivo com conseqüência visível da sociedade do trabalho, no mundo globalizado. O estudo em tela procura contextualizar a situação dos jovens no mercado de trabalho brasileiro, objetivando discutir os motivos do desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos, através de uma visão panorâmica da questão, levando em consideração o quadro histórico no 1

contexto da gestão e organização do trabalho. As características sociais e econômicas da juventude brasileira que ingressa e/ou estão aptos a ingressar no mercado de trabalho é fator relevante para este estudo, assim como as soluções do problema do aumento do desemprego da classe jovem apresentadas pelo governo como políticas do primeiro emprego, bem como programas de incentivo que buscam facilitar a entrada desta no mercado de trabalho. 2. Organização do trabalho e a influência sobre o emprego dos jovens brasileiros: uma visão histórica O trabalho em si constitui a ferramenta central do ser humano, dentro da dinâmica social, para formação de uma identidade distinta. O trabalho não se limita somente na criação de valores de troca, como cita Marx, com trabalho abstrato onde há a interação dos meios de produção com a atividade (Manual e/ou intelectual) que decorre do trabalho humano. O trabalho implica um estilo de vida, uma posição na sociedade através do exercício de uma profissão como afirma Gorz (ANTUNES, 1995). A sociedade produtora de mercadorias (sociedade do trabalho) é dependente de uma série de fatores históricos, os quais influenciam os métodos e relações de trabalho, ferramentas de produção, o aumento e diminuição da classe trabalhadora, a produtividade e desenvolvimento de uma sociedade [nação]. O fator determinante a todas estas variantes e que, principalmente, delimita a situação das forças produtivas dentro do mercado de trabalho é a organização do trabalho. Motivo de constantes mudanças nos moldes desta organização são as várias faces do capitalismo - modo de produção vigente - que vêem controlar as forças de trabalho de acordo com as suas momentâneas imposições. Assim, as condições históricas de cada época, o esgotamento dos modelos de gestão e organização do trabalho, por exemplo, torna possível ao modo capitalista definir e consolidar a predominância de organizações trabalhistas, que se afirma como paradigma no mundo produtivo. No capitalismo (comercial), ainda em seus primeiros passos, a organização do trabalho se intensifica como amarra das forças produtivas, impõe sua influência no mundo do trabalho, pois este muda de face constantemente. Em relação aos jovens, a priori, a juventude consegue vantagens como o aprendizado de uma profissão e o emprego garantido, porém, no geral, há uma exploração de sua força de trabalho, que funciona como mercadoria. É simples observar a forma de organização do trabalho agindo em benefício do modo de produção e isso influi na primeira etapa da formação profissional do indivíduo O capitalismo é apontado como modo de produção predominante, a partir do acúmulo de riqueza. Segundo Gomes (1991) o capitalismo entra em cena na história pelo fato de terem sido criadas todas as condições favoráveis a seu surgimento como modo de produção principal. Entre elas está a alienação total do trabalho, em que o trabalhador vende sua força de trabalho, e propicia o crescimento do capital comercial. É indispensável tocar no fato de que dentro do capitalismo podem ser encontrados vários tipos de organização do trabalho, adequada a cada situação econômica e produtiva imposta por este modo de produção. Com este enfoque percebem-se as organizações do trabalho distintas, em cada fase do capitalismo, de maneira simplória. O fato reflete-se no mundo do trabalhador e, em especial, aqueles que começam a inserir-se no mercado de trabalho. O capitalismo se amplia cada vez mais e com a modernização no âmbito das fábricas, com a industrialização forte, há a difusão de um novo modelo de gestão e organização do trabalho em oposição à administração tradicional, esta pautada no sistema de iniciativa e incentivo. A organização científica do trabalho de Taylor, o taylorismo, foi resultado da 2

necessidade de um novo padrão tecnológico que levasse a concentração técnica e financeira, durante a segunda revolução industrial (HELOANI, 1994). A utilização da razão no taylorismo, com a gerência científica, estabelece um conjunto de mecanismos de poder, pois se apropria do saber operário e impõe sua hegemonia nas relações de trabalho, com mecanismos disciplinadores da subjetividade do trabalhador. Esta organização objetiva maximizar a produção, reduzir custos e tempos mortos [improdutivos], através dos estudos de tempos e movimentos (HELOANI, 1994). Segundo Druck (1999) este é o tempo em que os homens que vivem do trabalho precisam ser transformados cientificamente, a fim de que possam cumprir um papel - chave na base técnica e mecânica na produção industrial. No taylorismo, os trabalhadores são avaliados e controlados, no desempenho de cada tarefa, que agora é fragmentada. Com a especialização, trabalho parcial dos trabalhadores, Taylor garante a eficiência da produção. O fordismo surge, no campo histórico, como amplificação do taylorismo, sua difusão e consolidação. O fordismo, de acordo com Heloani (1994), reformula o projeto de administrar individualmente as particularidades de cada trabalhador no exercício dos tempos e movimentos. O abastecimento das peças e componentes é através de esteiras sem precisar de movimentos do trabalhador. A produção em massa requer um grande número de trabalhadores, independente do sexo, idade e profissionalização, que em pouco tempo aprende a função que vai exercer (um trabalho específico, simples e especializado ), para atender um mercado consumidor de massa. Na sua organização tayloristas/fordista de trabalho, há uma grande oferta de emprego e inclusive os jovens conseguem trabalho fixo com facilidade, efetivado dentro da empresa. Pode-se observar a organização do trabalho agindo em prol da garantia do emprego da juventude. O fato, no Brasil, possui características particulares, dadas especificidades da formação social brasileira, seus costumes, sua história, sua economia, etc. Mas, como um todo, percebe-se esta interferência da gestão e organização do trabalho brasileiro. Gramsci apud Druck (1999) ressalta que (...) a organização fordista do processo de trabalho transcende o chão de fábrica, constituindo um modo de vida marcado pela racionalidade através da capacidade de comando do capital, da imposição de sua disciplina sobre o trabalho e sobre os trabalhadores. O Estado-Previdência completa o modelo fordista como um instrumento que alargaria e garantiria a continuidade do consumo sobre várias formas: seguro-desemprego, assistência médica, educação, melhorias urbanas e etc. (HELOANI, 1994). Durante a hegemonia do fordismo no cenário da organização do trabalho, a oferta de emprego era elevada, pois pelo caráter de produção em massa e consumo de massa, a própria organização do trabalho precisaria oferecer trabalho e renda para o mercado consumir cada vez mais e, parafraseando Heloani, abriria novas frentes de acumulação para o capitalismo. Assim, a forma de organizar e controlar o trabalho transcende ao campo social, político e cultural. Para a sociedade é oferecida a oportunidade de educação industrial, através de instituições ligadas ao Estado, como o SENAI, SESI e SENAC, cursos profissionalizantes que trabalham a aprendizagem dos jovens para servir ao trabalho e, esta por sua vez, subserviente do capitalismo. A sociedade vira uma expansão das fábricas, intervindo no lazer/saúde/cultura dos trabalhadores. Esta é a maneira que o capital usou para modelar e manipular as forças produtivas. A ideologia camuflada ajudou na manipulação de massas, com teorias e a própria ciência é 3

utilizada para abrir espaço à organização do trabalho taylorista/fordista no controle da classe trabalhadora, através de universidades, instituições de ensino, programa o melhor método. Na década de 60, a fuga do trabalho contribuiu para o esgotamento da organização do trabalho, pois reduziam a produtividade e causava desordem no âmbito das empresas. O elevado ritmo de produção, os baixos salários, as novas tecnologias, que como elucida Heloani (1994), o nível educacional exigido pelas novas tecnologias se chocava com as exigências idiotizantes da organização do trabalho, levaram o descontentamento dos trabalhadores, causando altas taxas de absenteísmo, evasão do trabalhador. O fordismo chegava a seu limite e já não satisfazia as necessidades do capital. A organização do trabalho se modifica e o toyotismo, (just in time) ou modelo japonês, impõe as regras da produtividade. O modelo rígido não interessa mais ao capitalismo, o negócio agora passa a ser flexível, terceirizado. A exploração da força de trabalho passa a ser, de certa forma, inconsciente e as taxas de desemprego começam a aumentar. O Toyotismo emerge como uma resposta à crise do fordismo nos anos 70, adapta-se melhor às mudanças tecnológicas que permitem maior flexibilidade e integração dos sistemas de produção. A nova organização do trabalho, organização flexível, traz inúmeras modificações ao setor produtivo, ao mercado de trabalho e à sociedade. No Brasil, o toyotismo se mostra nos programas de qualidade total e a terceirização, que depende de qualificação profissional dos trabalhadores para ser alcançado. O trabalhador precisa ser polivalente e se autoqualificar, além de mostrar serviço e dedicação para garantir a permanência na empresa. O fato causa um enxugamento dos empregos e a concorrência se intensifica entre a classe trabalhadora (Druck, 1999). Esta nova organização do trabalho, o toyotismo, atinge os jovens que estão ingressando no mercado de trabalho. Pois, de acordo com Silva (1991) a estrutura de empregos no Brasil têm apontado para um aumento da demanda de maiores níveis educacionais mais altos e maior tempo de casa também figuram nas novas políticas de emprego. Como a maioria dos jovens que precisam de trabalho, para adquirir renda, não possui oportunidades de melhor qualificação profissional, formação, conseguem empregos de baixo nível, temporário sem contratação e incerto, a juventude brasileira acaba sendo excluída do mercado de trabalho. Está explícito a organização do trabalho como agente interventor e determinante do quadro de emprego e/ou desemprego dos jovens brasileiros. Os elementos presentes na história demonstram a influência da gestão e organização do trabalho na sociedade, ideologicamente agindo no setor produtivo e, com isso, também no mercado de trabalho. 3. Perfil socioeconômico dos jovens brasileiros que compõem a população economicamente ativa - pea No Brasil, as profundas transformações pelas quais vem passando a economia mostram-se, em geral, desfavoráveis à evolução do emprego da força de trabalho, atingindo particularmente os jovens. Nesse contexto, os jovens em idade legal de trabalhar tornam-se um dos segmentos mais frágeis na disputa por um posto de trabalho em meio ao elevado excedente de mão-de-obra e a perda de oportunidades ocupacionais em empregos regulares. O problema do desemprego é, no entanto, mais grave para jovens com atributos pessoais específicos, sendo que no Brasil, o problema do desemprego entre os jovens pode ser analisado detalhadamente utilizando-se os dados da PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego, realizada pelo convênio entre o DIEESE e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE), governos locais e Ministério do Trabalho e Emprego/FAT, pois 4

essa pesquisa contém dados sobre os padrões social e econômico dos indivíduos e permitem o estudo do desenvolvimento sócio econômico do país. Com base nestes dados, fatos importantes sobre o desemprego dos jovens no Brasil foram constatados em seis importantes regiões brasileiras (Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal), o acesso dos jovens às oportunidades de ingresso no mercado de trabalho tem suas limitações, quando é verificado padrões de inserção diferenciados em função da realidade social e econômica bem como a região de domicílio. Assim, as diretrizes e os programas para a inserção ocupacional e formação profissional dos jovens devem levar em consideração as desigualdades de oportunidades segundo atributos pessoais e socioeconômicos deste segmento da população. O baixo crescimento da atividade econômica brasileira nos últimos anos tem efeito importante ao limitar o ritmo de geração de emprego, penalizando todos os trabalhadores. Para os jovens as dificuldades são ainda maiores, pois diante desse quadro de escassez de oportunidades de emprego, essa parcela da população sente-se em desvantagem na disputa por um posto de trabalho, pela menor experiência que apresenta, como também, leis, decretos e outros dispositivos legais, inicialmente elaborados com o objetivo de proteger o cidadão, terminam por prejudicá-lo. Esse é precisamente o caso das normas que garantem aos incorporados do serviço militar obrigatório o retorno ao emprego que tinham ao tempo da convocação, além disso, as empresas são obrigadas a recolher o FGTS desse jovem, mesmo que esteja prestando o serviço militar. Em 2004, nas seis regiões metropolitanas em que a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) foi realizada, a população jovem, de 16 a 24 anos, somava 6,5 milhões de pessoas, correspondendo a cerca de 24,4% da população acima de 16 anos residente nestas áreas, deste contingente juvenil, grande parte - 4,7 milhões - estava engajada na força de trabalho local, quer na condição de ocupados, quer na de desempregados. Tais informações mostram que é expressiva a presença deste segmento na População Economicamente Ativa (PEA) com mais de 16 anos, representando mais de um quarto dos trabalhadores (25,7%). Entre os ocupados com mais de 16 anos (14,7 milhões), os jovens representam uma proporção menor, de 20,8%, totalizando 3,1 milhões de pessoas. Quando se consideram os desempregados, a proporção de jovens é bem maior e entre os 3,5 milhões de desempregados nas regiões metropolitanas analisadas, 1,6 milhões de pessoas estão na faixa etária entre 16 e 24 anos de idade, o que significa 46,4% do total de desempregados acima de 16 anos é formado por jovens. A proporção de jovens na população total acima de 16 anos, em cada uma das regiões pesquisadas pela PED não varia de forma substancial. A distribuição espacial deste segmento da população indica que a parcela referente aos jovens, em relação ao conjunto da população com idade superior a 16 anos, variou entre 22,9%, na Região Metropolitana de Porto Alegre, e 27,4% na Grande Salvador. Em 2004, entre os jovens inseridos na força de trabalho, em torno de 30% encontrava-se em situação de desemprego nas Regiões Metropolitanas de Porto Alegre (29,3%), Belo Horizonte (30,3%), São Paulo (32,6%) e Distrito Federal (36,7%). A condição dos jovens era ainda pior em Salvador e Recife, com taxas superiores a 40%. Este indicador evidencia as maiores dificuldades enfrentadas pelos jovens nordestinos na busca de uma oportunidade ocupacional. A inserção do jovem no mercado de trabalho dá-se de forma distinta segundo a condição socioeconômica da sua família. Para as camadas com menor rendimento, o percentual de jovens que efetivamente participam da PEA, seja como ocupados ou desempregados, é 5

sempre inferior ao registrado para os jovens pertencentes às famílias com maior poder aquisitivo. Esta elevada proporção de inativos entre os jovens mais pobres está vinculada às crescentes dificuldades de entrada no mercado de trabalho, marcadas pelo crescimento do desemprego. Quando são consideradas as informações por faixa de renda esta situação pode ser observada, por exemplo, na Região Metropolitana de São Paulo, onde 79,2% dos jovens pertencentes a 25% das famílias de maior poder aquisitivo, estão no mercado de trabalho como ocupados ou desempregados, enquanto este percentual reduz-se para 68,0%, entre os jovens mais pobres. A limitada incorporação dos jovens no mercado de trabalho acaba por redefinir o padrão de inserção desta camada da população, em que parte dos jovens se dirige para a inatividade (muitas vezes fora da escola), e parte insiste na procura de emprego sem sucesso (desempregados). Esta situação é especialmente dramática para os segmentos mais vulneráveis da PEA juvenil, em especial aqueles com baixa escolaridade e/ou pertencentes a famílias de baixa renda (DIEESE/SEADE, 2004). 4. Ações governamentais para minimizar o desemprego de jovens no Brasil Diante da pressão da sociedade, que ocupavam grandes espaços na mídia relatando casos de violência e exibindo elevados índices de desemprego juvenil, o governo resolveu reagir atribuindo a uma assessoria direta a responsabilidade pela formulação de proposta que equacionasse as dificuldades enfrentadas por jovens em sua entrada no mercado de trabalho. Foi lançado o Programa Primeiro Emprego que visa inserir no mercado de trabalho, jovens de 16 a 21 anos, sem experiência prévia no mercado de trabalho formal, que possuem renda familiar per capita de até meio salário mínimo, que estejam cursando ou tenham completado o ensino fundamental ou médio, com destaque para focos de discriminação social. Tendo em vista que seria importante gerar estímulos para as empresas empregarem mais trabalhadores jovens, o Governo federal concede incentivo financeiro de R$ 1.500 por ano a cada vaga oferecida por empresas a jovens que formam o público alvo do Primeiro Emprego. Apesar da intenção do governo em atuar na resolução do problema, muitos foram os equívocos cometidos na formulação do PNPE, como o de acreditar que a causa dos altos níveis de desemprego decorre, principalmente, da falta de experiência dos jovens. Sendo que os índices de desemprego representam a falta de capacidade da economia de um país em oferecer todo o trabalho produtivo que sua população necessita. Afetando principalmente a mão-de-obra jovem. Outro engano cometido foi superestimar a responsabilidade social do empresariado, o setor privado respondeu muito mal aos estímulos do Governo. Concluindo-se que o setor privado ainda não despertou para a idéia de solidariedade e ação voluntária, fundamental para o desenvolvimento do Brasil hoje, no sentido de colaborar para a transição do jovem no mercado de trabalho. Portanto, qualquer política social que se faça hoje, no Brasil, deve ter ciência que o problema não tem sido tanto a falta de recursos aplicados na área social, mas sim os gastos sociais mal direcionados, que tendem a se concentrar entre os 30% e 40% menos pobres da população. Além disso, é importante destacar que falta de experiência não significa uma simples passagem por uma situação de trabalho remunerado, mas sim o amadurecimento no desempenho de uma tarefa. Na verdade, todo o problema do desemprego juvenil está em abreviar esta rotatividade, na qual as políticas para jovens com níveis de escolaridade acima do ensino médio deveriam atuar. 5. Considerações finais 6

Com esta discussão fica explícito a organização do trabalho como agente interventor e determinante do quadro de emprego e/ou desemprego dos jovens brasileiros. Os elementos presentes na História demonstram a influência da gestão e organização do trabalho na sociedade, ideologicamente agindo no setor produtivo e, com isso, também no mercado de trabalho. Este fato invoca uma reflexão por parte dos profissionais que estão diretamente vinculados às organizações produtivas brasileiras, ou seja, profissionais que trabalham no chão de fábrica e/ou no campo de pesquisas, como os engenheiros de produção, professores de Engenharia de Produção e futuros engenheiros estudantes de graduação, estes com maior ênfase, pois serão novos egressos no mercado de trabalho brasileiro. Ambos conhecem de perto, (estudam, planejam, implementam), os tipos de organização do trabalho e devem avaliar, também, suas influências no mundo do trabalhador brasileiro, questionando as atitudes das empresas em relação ao tema, considerando uma Responsabilidade Social perante a população brasileira e através destes conceitos buscar soluções adequadas para o engajamento e permanência dos jovens brasileiros no mundo do trabalho. Como a gestão e organização do trabalho mostraram-se influente nesta questão, é importante uma concreta análise sobre a mesma em cada ambiente de trabalho específico, por atuantes da área de produção. Qual é a influência da pressão exercida pelos jovens no mercado de trabalho brasileiro? De acordo com os dados analisados da PED, quando se considera a taxa de participação dos jovens expressa na parcela da população de 16 a 24 anos efetivamente presente no mercado de trabalho, verifica-se que as áreas do país que apresentam um mercado de trabalho mais dinâmico tendem a uma incorporação mais expressiva dessa parcela da população, visto que quando se tem uma grande oferta de emprego essa demanda vai influenciar numa maior absorção e consequentemente mais jovens poderão ser empregados. Embora não haja consenso sobre as medidas governamentais para promover o emprego de jovens e as avaliações sejam ainda muito deficientes, elas, em geral, coincidem com o fato de que os resultados não são satisfatórios, nem para os jovens, nem para os mais desfavorecidos. Referências ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?: Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 3 ed. São Paulo. Cortez, 1995. DIEESE. Estudos e pesquisas. Juventude: Diversidades e desafios no mercado de trabalho metropolitano. N.º, setembro de 2005. < www.mp.rs.gov.br/areas/infancia/ arquivos/estpesq11jovens.pdf> Acessado em 03 de dezembro de 2005. DRUCK, M.G. Terceirização: (des)fordizando a fábrica (um estudo do processo petroquímico). Bahia. Boitempo Editoral, 1999. GOMES, H. A produção do espaço geográfico no capitalismo. 2.º ed. São Paulo, 1991. HELOANI, J. R. Organização do Trabalho e Administração: Uma visão multidisciplinar. São Paulo. Cortez, 1994. MADEIRA, F. R. A improvisação na concepção de programas sociais muitas convicções, poucas constatações o caso do primeiro emprego. < www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/a09v18n2.pdf <http://www.scielo.br/pdf/spp/v18n2/a09v18n2.pdf>> Acessado em 05 de dezembro de 2005. SILVA, E. B. Refazendo a fábrica fordista. São Paulo. Editora Hucitec, 1991. 7

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