O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS



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Transcrição:

O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Sandra Regina Rezende Garcia Anita Lilian Zuppo Abed Tufi Machado Soares Mozart Neves Ramos Apresentação de José Francisco Soares, do Conselho Nacional de Educação

O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS 2013

O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Sandra Regina Rezende Garcia Anita Lilian Zuppo Abed Tufi Machado Soares Mozart Neves Ramos Apresentação José Francisco Soares, do Conselho Nacional de Educação

Apresentação Garantir às crianças e jovens o domínio das competências necessárias para sua inserção no mundo do trabalho e da cidadania é, hoje, o objetivo da educação básica. Neste sentido, o direito constitucional à educação é agora definido como o direito ao aprendizado. Esta formulação tem grande impacto nas escolhas pedagógicas. Sua aceitação implica que o currículo das escolas de educação básica deve ser construído a partir das necessidades da vida de cada estudante. Ou seja, os conhecimentos a serem construídos devem ser escolhidos não por tradição acadêmica, mas porque permitem a cada estudante fazer algo significativo na sua vida. Visto desta maneira, todo aprendizado pode ser considerado como o aprendizado de uma competência, embora diferentes autores optem por outros termos. Bernardo Toro faz uma escolha equilibrada e sábia, indicando que os estudantes devem construir, em sua educação básica, as competências de: ler e escrever; fazer cálculos e resolver problemas; analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações; compreender e atuar em seu entorno físico e social; receber criticamente os meios de comunicação; localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada; planejar, trabalhar e decidir em grupo. Esta indicação inclui competências cognitivas e não cognitivas. Aliás, a valorização da importância de competências não cognitivas ganhou nos últimos anos grande reconhecimento, mesmo entre grupos que têm uma visão mais instrumental da educação. No entanto, a escola não pode se responsabilizar sozinha por todas as competências necessárias para uma vida plena de seus estudantes. Por exemplo, a família e a religião são forças muito poderosas na formação da visão de mundo e dos valores de cada criança ou jovem. 5

Para que uma competência possa ser inserida no currículo das escolas precisa ser especificada através de habilidades, descritas por uma frase em que o verbo indica a ação a ser realizada e o substantivo indica o conhecimento necessário para essa ação. Ou seja, qualquer competência exige o domínio harmônico de muitas habilidades, aqui tomadas como as unidades curriculares. Definidas as habilidades que compõem o currículo, é preciso enfrentar o problema pedagógico, ou seja, definir as atividades que serão oferecidas aos alunos para desenvolvimento das habilidades. O uso do plural aqui é proposital e essencial. Cada sociedade precisa, considerando a diversidade de sua população, desenvolver diferentes formas de organização do ensino. No entanto, todas devem ser avaliadas principalmente em relação a seu sucesso na garantia do aprendizado das competências. As escolhas pedagógicas, no entanto, precisam ter consistência teórica e serem apoiadas por evidências empíricas de sua efetividade. Infelizmente no Brasil, como grande frequência, os currículos escolares são modificados a partir de ideias pouco escrutinadas teoricamente e sem apresentação de evidências de eficácia. Este texto é uma bem vinda exceção a este estado de coisas. Apresenta uma proposta pedagógica consistente, primeiramente descrevendo os seus princípios teóricos, referenciados a literatura em que o interessado pode verificar os detalhes de cada conceito. Esses princípios são em seguida usados para a construção de um conjunto de jogos educacionais que ajudam no aprendizado das competências a serem desenvolvidas na educação básica. Um ponto muito útil é que as habilidades que cada jogo, inserido como uma atividade didática, permite o desenvolvimento estão claramente apresentadas no apêndice. A característica mais marcante deste o texto, no entanto, é a apresentação de evidências empíricas, cuidadosamente acumuladas, mostrando que a aplicação dos princípios pedagógicos, concretizados nos jogos, produz melhorias no aprendizado dos alunos em linguagem e matemática. Embora esses dois aprendizados não sejam os únicos necessários para os estudantes de educação básica, são essenciais. Portanto, uma pedagogia que não mostre resultados nestas duas competências tem limitações que precisam ser consideradas. A evidência obtida é expressa na escala do SAEB, o que permite a interpretação dos resultados em uma métrica conhecida e validada. Em particular o tamanho da melhoria na medida de aprendizado observado com o uso dos métodos da Metodologia Mind Lab pode ser comparado com o obtido com outras intervenções ou associadas a características sócio-demográficas dos alunos. Essa evidência é produzida com a utilização de um grupo controle, ou seja, um grupo de referência, e com a comparação de resultados obtidos nos diferentes grupos em dois momentos de tempo. Com este planejamento, a evidência produzida fica muito sólida. Outro ponto do texto que merece destaque é a ênfase que os autores fazem da necessidade de clareza nos objetivos para que resultados educacionais sejam obtidos. Em muitas iniciativas pedagógicas falta o que os autores recomendam É necessário que o professor tenha a intenção de ensinar: a clareza do que e a quem pretende atingir que orientam o como de suas ações. (...). Embora a especificação do que ensinar esteja expressamente colocada no artigo 210 da Constituição Federal, isso muitas vezes ainda não ocorre. Com isso, os estudantes ficam dependentes do acaso para terem ou não experiências educacionais que atendam, de fato, suas necessidades. 6

Ou seja, o leitor está diante de um relato pedagógico exemplar em várias dimensões, repleto de recomendações de boas práticas educacionais. Assim fica o meu convite enfático para que cada leitor busque entender a proposta pedagógica da utilização dos jogos pela Metodologia Mind Lab que é inovadora e útil. Mas também que se acostume a pedir aos proponentes de outras metodologias educacionais evidências de efetividade, obtida com o mesmo rigor que as que este texto apresenta. Finalmente, congratulo-me com os autores, conhecidos e importantes participantes do debate educacional brasileiro, por uma contribuição significativa para a melhoria da educação básica brasileira. Prof. José Francisco Soares GAME FAE- UFMG Conselho Nacional de Educação O professor José Francisco Soares tem doutorado em Estatística pela University of Wisconsin - Madison e pósdoutorado em Educação pela University of Michigan Ann Arbor. É professor titular aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais, onde continua suas atividades de pesquisa no GAME Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais. Atualmente é consultor educacional, membro do Conselho Nacional de Educação, do Conselho de Governança do Movimento Todos pela Educação e do conselho cientifico da ABAVE Associação Brasileira de Avaliação Educacional. Sua atuação acadêmica está concentrada em avaliação de sistemas educacionais com ênfase em medidas de resultados educacionais e cálculo e explicação do efeito das escolas de ensino básico brasileiras. 7

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O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ÍNDICE RESUMO...13 INTRODUÇÃO: UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA...15 JUSTIFICATIVA...19 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: AÇÃO, SENTIDO E SIGNIFICADO...29 O CICLO DE ESTUDOS 2009/2010/2011...43 ESTUDOS 2012...57 IMPACTOS DA METODOLOGIA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA...85 APROFUNDANDO OS ESTUDOS......101 CONSIDERAÇÕES FINAIS...103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...107 ANEXOS...109 9

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O PRAZER DE ENSINAR E DE APRENDER: CONTRIBUIÇÕES DE UMA METODOLOGIA NO APRIMORAMENTO DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS Sandra Regina Rezende Garcia Mestre em Psicologia, Pedagoga, Psicomotricista, Graduada em Taller Internacional de Modificabilidade Cognitiva Estructural Y Enriquecimento Instrumental. Diretora Pedagógica da Mind Lab Brasil. Diretora de Pesquisas Internacionais da Mind Lab Group. Anita Lilian Zuppo Abed Mestre em Psicologia, Psicóloga. Docente em cursos de Pós-Graduação em Psicopedagogia em várias universidades. Psicopedagoga da Mind Lab Brasil. Tufi Machado Soares Doutor em Engenharia Elétrica pela PUC-RJ. Professor Titular da Universidade Federal de Juiz de Fora. Mozart Neves Ramos Doutor pela Unicamp e professor da UFPE. Membro do Conselho Nacional de Educação, do Conselho de Governança do Todos Pela Educação e do Conselho do Instituto Mind Group do Brasil. 11

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Resumo Este artigo apresenta um estudo, realizado em 2012, com o objetivo de aprofundar e ampliar os resultados obtidos em um ciclo de estudos exploratórios realizado no triênio 2009/2010/2011 pela Mind Lab do Brasil, em parceria com o INADE (Instituto de Avaliação e Desenvolvimento Educacional). Esse ciclo de estudos exploratórios foi realizado com alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas, com o objetivo de levantar dados e informações em relação ao impacto da utilização da Metodologia do Programa MenteInovadora, durante três meses no segundo semestre do ano letivo, nos níveis de proficiência dos alunos em diferentes áreas do conhecimento Língua Portuguesa, Matemática e Ciências da Natureza. Os Instrumentos de Avaliação foram elaborados tendo como base o entrelaçamento entre as habilidades da Matriz de Referência do INADE de cada área de conhecimento avaliada e as habilidades priorizadas no módulo Gerenciamento de Recursos, curso do 2º semestre do 5º ano do currículo da Metodologia do Programa MenteInovadora, ministrado durante este período. Os dados indicaram um incremento, para além do esperado, dos níveis de aprendizagem de Matemática, Língua Portuguesa e Ciências da Natureza. Observou-se uma diminuição significativa no número de alunos situados nos níveis Abaixo do Básico e Básico, acompanhada do aumento nos níveis Adequado e Avançado nas três áreas do conhecimento avaliadas (tomando-se como referência a escala Saeb). Os resultados obtidos por meio de questionários respondidos pelos alunos, familiares e educadores demonstraram que os sujeitos envolvidos, em especial os alunos, reconhecem os benefícios da Metodologia no aprimoramento de suas habilidades sociais, emocionais e éticas. A percepção da importância do Programa na prática pedagógica foi relatada pela grande maioria dos 13

professores, ressaltando-se a sua contribuição em relação à ampliação dos recursos internos para lidar com situações de conflito e na sua autoestima como professor e crença na modificabilidade dos alunos. Ainda mais relevante foi a valorização dos professores em relação ao impacto positivo da Metodologia no seu desenvolvimento pessoal. Com o fechamento deste ciclo de estudos exploratórios, novas perspectivas foram lançadas, delineando os objetivos e a metodologia da pesquisa realizada em 2012. Em escolas públicas, com o intuito de avançar o âmbito da pesquisa de estudos exploratórios para o de estudos inferenciais, foi realizada uma pesquisa comparativa das proficiências em Matemática e Língua Portuguesa, mais uma vez no 5º ano do Ensino Fundamental, entre 3 grupos de alunos: A) que não participam do Programa; B) que participaram durante 3 meses e C) que participaram do Programa há um ano ou mais. Tanto no âmbito público como no privado, foi realizada uma pesquisa exploratória no 9º ano do Ensino Fundamental, para alunos, professores, famílias e gestores, buscando-se identificar os benefícios da Metodologia. Para ampliar os dados sobre a percepção dos sujeitos envolvidos (alunos, pais, professores e gestores) em relação ao desenvolvimento de habilidades, foram aplicados questionários mais detalhados em relação às informações sobre os impactos evidenciados nos estudos anteriores. Com o objetivo de detectar o quanto e como a formação inicial e continuada dos professores aplicadores do Programa, condição inerente para a aplicação da Metodologia, contribui no desenvolvimento das habilidades do professor, o questionário para os educadores incluiu também questões sobre a prática pedagógica inspiradas nos critérios de mediação propostos por Reunven Feuerstein. Os dados obtidos sugerem que quanto mais tempo o aluno participa das aulas da Metodologia do Programa MenteInovadora, maior o impacto positivo nos seus níveis de proficiência. Nas duas frentes do Estudo, ficou evidenciada a importância do Programa no desenvolvimento das habilidades não-cognitivas e no aprimoramento da prática pedagógica do professor. O artigo ainda traz alguns dados estatísticos e considerações sobre a situação atual do Brasil e do mundo no que se refere à aprendizagem dos alunos e à motivação e engajamento do professor. 14

Introdução: um pouco da nossa história Este artigo apresenta os resultados de duas frentes de pesquisa realizadas em 2012, bem como uma breve retrospectiva do ciclo de estudos do triênio 2009/2010/2011, todos com o objetivo geral de aprofundar a compreensão dos impactos da Metodologia do Programa MenteInovadora no desenvolvimento de habilidades, no processo ensino e aprendizagem em alunos e professores, no engajamento da família e na gestão escolar. Patrocinados pela Comunidade Internacional de Cooperação na Educação - Mind Group, elaborados e concretizados pela parceria Mind Lab Brasil / INADE (Instituto de Avaliação e Desenvolvimento Educacional), estes estudos integram o esforço dos educadores na construção de conhecimentos científicos que possam colaborar, com a escola e com a sociedade, no desenvolvimento de práticas pedagógicas eficientes para o desenvolvimento das habilidades necessárias à realidade do século XXI. Today, because knowledge is available on every Internet-connected device, what you know matters far less than what you can do with what you know. The capacity to innovate the ability to solve problems creatively or bring new possibilities to life and skills like critical thinking, communication and collaboration are far more important than academic knowledge. (Tony Wagner, apud Friedman, 2013). 1 1. Hoje, porque o conhecimento está disponível em qualquer equipamento conectado à Internet, o que você sabe importa bem menos do que o que você faz com o que sabe. A capacidade de inovar a habilidade de resolver problemas de forma criativa ou trazer novas possibilidades para a vida e habilidades como pensamento crítico, comunicação e colaboração são mais importantes do que o conhecimento acadêmico. 15

O que é esta Metodologia? 2 Como ela nasceu e como vem se desenvolvendo? Em 1994, na Europa, um grupo de professores de xadrez começou a organizar e sistematizar uma proposta de trabalho para promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais, sociais e éticas na escola. A Metodologia está ancorada em três pilares: a utilização de diferentes jogos de raciocínio como recursos didáticos; a organização de processos mentais e atitudinais por meio de métodos metacognitivos, nomeados por metáforas; as ações mediadoras do professor, que organizam a cena pedagógica de forma significativa, motivadora e intencional para o desenvolvimento de habilidades e a tomada de consciência sobre as implicações das aprendizagens realizadas nas mais diferentes situações do cotidiano. Em quase duas décadas de pesquisas e de intenso trabalho, esta proposta tomou corpo e forma: a Metodologia Mind Lab, um currículo especialmente construído para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, emocionais, sociais e éticas, estruturado em cursos que contemplam as demandas de cada faixa etária, com livros didáticos para o aluno e para o professor, CDs interativos, livros para aprofundamento teórico, que contribuem na formação continuada do professor... Enfim, um conjunto de produções, intelectuais e materiais, que culminaram em um Programa com foco no desenvolvimento das capacidades e habilidades de crianças e jovens, visando também o suporte para o professor e para a equipe gestora das escolas. Em 2006, esta proposta chegou ao conhecimento de um grupo de empresários e educadores brasileiros que estava em busca de formas de colaborar com o sucesso dos jovens ingressantes no mercado de trabalho. Encantados com o potencial da Metodologia, estes profissionais perceberam que a preparação dos indivíduos para o mercado de trabalho pode e deve começar desde bem cedo, na escola, com a inserção de ações educacionais voltadas para o desenvolvimento humano. A partir de 2007, o Programa MenteInovadora começou a se organizar para ser inserido na oferta curricular das instituições de ensino, sendo aplicado inicialmente em escolas da rede particular de São Paulo. Desde então, vem ampliando sua abrangência para escolas da rede pública e para diversas regiões do país, contemplando hoje centenas de instituições de ensino e beneficiando milhares de alunos, familiares e educadores. Para atender à estrutura da escola brasileira, foi necessário realizar modificações e adaptações, entre as quais a seriação do currículo original, com o equacionamento dos tempos didáticos propostos para que cada Módulo fosse ministrado em um semestre letivo, com uma aula semanal de 45 a 50 minutos. Nas orientações curriculares anuais do 4º ao 9º anos, foram destinadas nove aulas, entre o módulo do primeiro semestre e o do segundo, para contemplar a preparação específica para as Olimpíadas de Raciocínio, evento esportivocultural que todos os anos congrega alunos participantes do Programa ao redor do mundo. Foram várias as implicações decorrentes da seriação do currículo, é claro. Entretanto, podemos afirmar que a principal transformação sofrida pelo projeto original diz respeito ao recurso humano : quem aplicaria a Metodologia nas escolas não seriam os profissionais da Mind Lab (modelo utilizado até então), mas sim os próprios professores da instituição escolar. 2. Neste artigo, faremos uma breve síntese para situar o leitor acerca da Metodologia e suas bases teóricas e filosóficas. Uma descrição mais detalhada pode ser encontrada nos artigos dos estudos anteriores. 16

Esta significativa mudança reverbera em vários aspectos do Programa, ampliando-o e aprimorando-o sobremaneira. Para começar, faz-se necessário estruturar um Plano de Formação, inicial e continuada, para oferecer o suporte necessário ao professor. Para tanto, os profissionais da Mind Lab precisam ser amplamente capacitados para exercer o papel de mediador na formação dos professores, ou seja, foi necessário instituir uma prática de formação interna da equipe, com estudos de aprofundamentos e reflexões constantes. Além disso, os materiais escritos, disponibilizados para o professor e para a própria equipe, precisariam conter várias informações importantes, dentre elas, por exemplo, a explicitação das habilidades priorizadas em cada aula e várias sugestões de mediação nos diferentes momentos da aula, para que o professor pudesse ter maior clareza da intencionalidade de cada ação proposta. Para solidificar os subsídios teórico-metodológicos, uma coleção de livros teóricos foi produzida (e vem sendo ampliada), oferecendo aos educadores ferramentas de estudos e reflexões sobre suas próprias práticas. Eventos científicos, Simpósios e Congressos, vêm sendo organizados para promover trocas de experiências e saberes... Enfim, a proposta original evoluiu na direção de um amplo Programa de formação e desenvolvimento global que pretende atingir toda a Família Mind Lab alunos, familiares, professores, gestores, toda a comunidade que, direta e indiretamente, é beneficiada pela sua aplicação. Finalmente, do ponto de vista científico era preciso compreender e validar este novo modelo de aplicação da Metodologia (intracurricular, com aulas ministradas pelo professor da escola). Assim, os primeiros estudos foram delineados com vistas a buscar dados e informações acerca destas inquietações: nesta nova modalidade, a utilização da Metodologia teria o mesmo impacto verificado em pesquisas anteriores (Gendelman, 1999 e Green, 2004, apud Garcia e Abed, 2009) na proficiência dos alunos em Linguagem e Matemática? O Programa aplicado em escolas com uma aula semanal ministrada pelo próprio professor da série, sob a supervisão da equipe pedagógica da Mind Lab, promoveria o desenvolvimento das habilidades dos alunos, como se propõe a fazer? Qual seria a percepção dos sujeitos envolvidos (alunos, pais, professores) em relação aos benefícios da Metodologia no desenvolvimento de habilidades cognitivas e não-cognitivas? O ciclo de estudos 2009/2010/2011 reproduziu, em parte, o modelo da pesquisa realizada por Donald Green (2004, apud Garcia e Abed, 2009) na Universidade de Yale: comparação dos níveis de proficiência em Linguagem e Matemática antes e depois de três meses de aulas do Programa MenteInovadora. Entretanto, optou-se pela modalidade de estudo exploratório (e não inferencial), com a aplicação de Instrumentos de Avaliação elaborados com base na TRI (Teoria de Resposta ao Item) e questionários com perguntas que pudessem trazer informações sobre a percepção dos sujeitos envolvidos acerca dos impactos da Metodologia. Para viabilizar uma análise que tomasse como parâmetro um sistema de avaliação praticado no país, optou-se por realizar a pesquisa nos 5º anos do Ensino Fundamental, quando é aplicada a Prova Brasil e utilizada a escala SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico). Em linhas gerais, os alunos foram submetidos, em agosto, a uma avaliação em Língua Portuguesa e Matemática (e em Ciências da Natureza, em 2010 e 2011). Após três meses explorando o Módulo Gerenciamento de Recursos, os alunos foram avaliados novamente nas três áreas do conhecimento. A diferença entre os resultados das duas avaliações foi comparada com o esperado para o período letivo segundo a escala Saeb. Além disso, alunos, pais e professores responderam a questionários elaborados para a coleta de dados sobre a sua percepção de valor em relação à Metodologia, no que se refere às habilidades sociais, emocionais e éticas. 17

Durante os três anos deste ciclo de estudos 3, a pesquisa exploratória foi repetida e ampliada, tanto em aspectos quantitativos (número de sujeitos) como qualitativos (por exemplo, questionários mais detalhados para coleta de dados mais precisos e a inserção da avaliação em Ciências da Natureza). Os resultados confirmaram o incremento da proficiência dos alunos, para além do esperado para o período, nas áreas do conhecimento avaliadas. Além disso, observou-se uma significativa valorização dos benefícios da Metodologia, principalmente por parte dos alunos. Considerando que os resultados obtidos têm consistência e abrangência suficientes para responder às questões a que se propunha, o ciclo de estudos foi encerrado. Entretanto, a inquieta alma humana continua em busca da produção de novos conhecimentos e mais evidências sobre os benefícios do Programa. Sendo assim, a Comunidade Internacional de Cooperação na Educação - Mind Group mais uma vez colaborou para a concretização de uma nova modalidade de pesquisa levada a cabo pela parceria Mind Lab do Brasil e INADE, que ora iremos relatar. Em 2012, o Estudo foi realizado simultaneamente em duas frentes: No 5º ano do Ensino Fundamental, em escolas da rede pública municipal, foram comparados três grupos: alunos que não frequentaram as aulas do Programa; alunos que frequentaram apenas três meses de aula; alunos que frequentaram as aulas do Programa durante um ano ou mais. Foi ampliado o universo de sujeitos envolvidos (quantitativamente e qualitativamente, com a inserção dos gestores). Optou-se por utilizar um grupo de controle que não usaria a Metodologia para servir de parâmetro para comparações que permitissem realizar paralelos com os outros dois grupos com 3 meses e com 1 ano ou mais de utilização da Metodologia. Este procedimento metodológico possibilita ir além dos dados comparativos entre primeira e segunda aplicação, ou seja, do aluno consigo mesmo. No 9º ano do Ensino Fundamental, em escolas da rede pública estadual e em escolas da rede privada, realizou-se estudo exploratório similar ao ciclo relatado anteriormente para verificar os impactos da Metodologia em alunos de faixa etária diferente, mais crítica em relação a aceitação de novas práticas, e em professores com outro perfil. As escolas da rede pública utilizaram a Metodologia por um ano, enquanto as da rede privada a usaram por apenas 3 meses, o que permite realizar uma análise comparativa. O objetivo de levantamento de dados em relação à percepção dos sujeitos envolvidos continuou a nortear este novo estudo, com uma ampliação significativa no que diz respeito à prática pedagógica, em que foram incluídas questões com base nos critérios de mediação propostos por Reuven Feuerstein (Garcia, 2007). Além disso, os gestores das unidades escolares pesquisadas também foram ouvidos. 3. Artigos completos disponíveis no site: www.mindlab.com.br 18

Justificativa Uma vez que a grande maioria das escolas pesquisadas foi de instituições de ensino da rede pública de ensino (municipais e estaduais), cabem algumas considerações acerca das políticas públicas para a Educação no Brasil nas últimas décadas, antes de voltarmos nossa atenção para a apresentação da Metodologia do Programa MenteInovadora em si. A) As políticas públicas para a Educação no Brasil O debate em torno de uma Educação de qualidade vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade brasileira. Para aproveitar momentos favoráveis na economia, o país precisa mais do que nunca assumir o caráter de urgência da Educação. Nos últimos quinze anos, como veremos a seguir, o Brasil progrediu no campo educacional, mas em uma velocidade ainda lenta. O país ainda não conseguiu promover, na larga maioria dos municípios e estados brasileiros, os necessários saltos de aprendizagem. Sem dúvida, um avanço muito importante deu-se com relação ao mecanismo de financiamento, da creche ao Ensino Médio, com o advento, no governo Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Foi um belo exemplo de continuidade de política pública, já que o FUNDEB foi concebido a partir do Fundo de 19

Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), implantado no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Entretanto, o desenho do FUNDEB, no que se refere à sua formulação, teve um contorno de participação bem distinto daquele do FUNDEF, mediante a efetiva participação de entidades e fóruns federativos vinculados à área educacional, como o CONSED (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e a UNDIME (União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação). Além do maior envolvimento das entidades e instituições, como também a amplitude de alcance para toda a Educação Básica, o FUNDEB trouxe mais um ponto importante em seu artigo 7º, ao fixar o percentual de 10% como parcela da complementação da União para ser distribuída para os fundos por meio de programas direcionados para a melhoria da qualidade da Educação Básica. Outro importante exemplo de continuidade das políticas educacionais deu-se a partir do Sistema de Avaliação da Educação (Saeb) com a implantação do Prova Brasil. Isso permitiu que a avaliação passasse de um processo amostral para universal, e assim ela pôde chegar até a Escola. Hoje, os pais estão cientes da qualidade da escola de seus filhos. Para aferir essa qualidade, o Ministério da Educação criou, em 2007, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Assim, cada escola, cada rede e cada município e estado, e o próprio país, tem agora a sua meta a ser alcançada a cada dois anos, devendo, no caso do Ensino Fundamental/séries iniciais, chegar, em 2022, ao IDEB 6,0, que é equivalente àquele dos países da comunidade europeia, tomando como referência o PISA (Programme for International Student Assessment), da OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) de 2005. Na Tabela 1, mostramos os IDEBs a serem alcançados pelo Brasil, em cada uma das etapas da Educação Básica, até 2021. IDEB 2011 2013 2015 2017 2019 2021 Anos Iniciais Ensino Fundamental Anos Finais Ensino Fundamental 4,6 4,9 5,2 5,5 5,7 6,0 3,9 4,4 4,7 5,0 5,2 5,5 Ensino Médio 3,7 3,9 4,3 4,7 5,0 5,2 Tabela 1. Metas do IDEB que o Brasil deve alcançar até 2021 em cada uma das etapas da Educação Básica. Outro avanço importante, no que concerne o fortalecimento do regime de colaboração entre os entes federados, veio mediante a implantação do Plano de Ações Articuladas (PAR). Os PAR possui uma interessante vantagem, em relação aos convênios tradicionais, uma vez que os planos são elaborados a partir da utilização do instrumento de avaliação de campo, com a participação de especialistas externos, gestores e educadores locais, conferindo-lhe assim uma maior participação e comprometimento para o alcance de metas educacionais. O PAR 20

é elaborado a partir de quatro dimensões: (a) gestão educacional, (b) formação de professores e dos profissionais de serviço e apoio escolar, (c) práticas pedagógicas e avaliação, e (d) infraestrutura física e recursos pedagógicos. A promulgação da Emenda Constitucional 59/2009 foi outra medida importante, que tornou obrigatório o ensino dos 4 aos 17 anos, com universalização prevista para ocorrer até 2016. Para o seu alcance, os recursos para a Educação Básica foram ampliados a partir do fim da incidência da Desvinculação de Receitas da União (DRU) na Educação. Por exemplo, em 2009, o MEC transferiu cerca de 9 bilhões para este fundo. Em 2012, a DRU foi de R$ 62,4 bilhões, referentes à arrecadação de contribuições sociais. O governo utiliza a DRU como mecanismo de ajuste fiscal, deslocando recursos dentro do Orçamento e garantindo o superávit primário. Em relação aos professores, a Lei do Piso Salarial para a categoria foi outro avanço importante. Trata-se de imprescindível passo para a valorização do magistério, mas que praticamente ainda não saiu do papel na larga maioria dos estados e municípios. No nosso entendimento, resgatar a valorização do professor passa a ser o maior desafio para os futuros governantes, ou seja, o desafio a ser vencido, caso o país queira aproveitar momentos favoráveis na economia. A carreira do magistério precisa se tornar (ou voltar a ser) objeto de desejo da nossa juventude. No Brasil, pesquisas mostram que um professor ganha, em média, 40% menos do que a média de outros profissionais com a mesma escolaridade, como podemos verificar na Tabela 2. Nessa tabela mostramos os números do Brasil e do Distrito Federal (quem melhor paga), segundo estudo da pesquisadora Fabiana de Felício. Os salários dos docentes brasileiros foram calculados, com base nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional Amostra de Domicílios) 2010 pela Metas - Avaliação e Proposição de Políticas Sociais a pedido da UOL. Unidade da Federação Professor Demais ocupações Brasil R$ 1.745 R$ 2.799 Distrito Federal R$ 3.472 R$ 4.771 Tabela 2. O salário médio de um professor da educação básica é 40% menor que a remuneração, também média, de um trabalhador com o mesmo nível de escolaridade. O combate ao analfabetismo, na faixa etária de 15 anos ou mais, andou de forma muito lenta, obrigando o então presidente Lula, em 2010, a chamar os governadores do Norte e Nordeste (regiões com maiores índices de analfabetismo) para intensificar ações efetivas neste sentido. Em 2011, já no Governo da presidente Dilma Rousseff, o Ministério da Educação (MEC) lançou o Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa, que tem como grande objetivo alfabetizar todas as crianças brasileiras pelo menos até os 8 anos de idade, fechando a torneira do analfabetismo no Brasil. 21

Certamente, o maior desafio na área da educação para os governantes está no campo da aprendizagem escolar. Como se pode notar na Tabela 3, dos alunos que chegam ao final da Educação Básica, apenas 11% aprenderam o conteúdo de Matemática que seria esperado para essa etapa. Em Língua Portuguesa, o percentual de aprendizagem adequada também não é nada alentador: apenas 29% dos concluintes dominam o conteúdo esperado nesta disciplina, segundo o Relatório de Metas 2010 do Todos Pela Educação. Isso sem contar o fato de que um percentual importante de estudantes abandona os estudos ao longo do caminho. Etapa da Educação Básica Língua Portuguesa Matemática 5º ano do Ensino Fundamental 34,2% 32,5% 9º ano do Ensino Fundamental 26,3% 14,7% 3º ano do Ensino Médio 28,9% 11,0% Tabela 3. Porcentagem de alunos que aprenderam o que seria esperado ao final de cada etapa da Educação Básica em 2009 (Fonte: Relatório de Monitoramento das Metas do Todos Pela Educação, 2010) A Tabela 4 indica o percentual de alunos que aprenderam o que seria esperado em Matemática em cada etapa da Educação Básica nos últimos anos segundo dados do Relatório de Monitoramento de Metas do Todos pela Educação. Podemos perceber que nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio, estamos, na verdade, estagnados. Enquanto se observam avanços importantes nas séries iniciais do Ensino Fundamental, o mesmo não ocorre nas duas etapas seguintes da Educação Básica. Assim, enquanto nas séries iniciais, de 2003 para 2011, o percentual de alunos com aprendizado adequado em Matemática passou de 15,1% para 36,3% (mais do que o dobro), nas séries finais praticamente nada mudou, ou seja, em 2003 o percentual era de 14,7%, enquanto em 2011 esse percentual passou para 16,9%! No Ensino Médio o país teve uma leve queda para 10,3%; ou seja, o Brasil está estagnado em termos de aprendizagem escolar nas séries finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. E estagnação, em Educação, significa retrocesso. Etapa da Educação 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 Básica 5º ano do EF 14,4% 14,9% 15,1% 18,7% 23,7% 32,5% 36,3% 9º ano do EF 13,2% 13,4% 14,7% 13,0% 14,3% 14,7% 16,9% 3º ano do EM 11,9% 11,6% 12,8% 10,9% 9,8% 11,0% 10,3% Tabela 4. Percentual de alunos que aprenderam o que seria esperado em Matemática ao final de cada de cada Etapa da Educação Básica (Fonte: Relatórios de Monitoramento das Metas do Todos Pela Educação de 2010 e de 2012) 22

O enfrentamento desses desafios, relativos à aprendizagem escolar, passa necessariamente pela valorização da carreira docente. Nos países que alcançaram uma educação de qualidade, os melhores alunos do Ensino Médio desejam se tornar professores. Uma coisa nos parece clara: sem um Pacto Nacional pela Valorização do Magistério que resgate a autoestima do professor, o Brasil não será competitivo e continuará distante dos países que estão hoje no topo da Educação mundial, como podemos notar na Tabela 5. Essa tabela compara alguns resultados do PISA, programa internacional que avalia o desempenho escolar de alunos de 15 anos de diferentes países. Chama a atenção o fato de que o Brasil encontra-se atrás de alguns países vizinhos, como o Uruguai, Chile e México. País Matemática Leitura China (Taiwan) 549 (1º) 496 (16º) Finlândia 548 (2º) 547 (2º) Hong Kong 547 (3º) 536 (3º) Coréia do Sul 547 (4º) 556 (1º) Uruguai 427 (42º) 412 (42º) Chile 411 (47º) 442 (38º) México 406 (48º) 410 (43º) Argentina 381 (52º) 378 (53º) Brasil 369 (54º) 393 (49º) Tabela 5. Desempenho em Matemática e Leitura, em 2006, do Brasil e outros países no PISA (entre parênteses, a posição no ranking) Nos últimos anos, a Mind Lab vem implementando de forma exitosa, em diversos municípios e estados brasileiros, o Programa MenteInovadora. As pesquisas científicas e os relatos dos educadores, alunos e familiares vêm confirmando os benefícios dessa metodologia na promoção dos tão necessários saltos de aprendizagem e na formação continuada e em serviço dos educadores para a melhoria da Educação, no Brasil e no mundo. B) O percurso do conhecimento A busca incessante pelo conhecimento é uma marca da raça humana. Cada vez mais, na sociedade atual, somos seres do conhecimento: sua produção, divulgação, circulação e transformação em bens (sejam eles físicos ou não) são reguladores e termômetros das relações humanas em variados âmbitos, desde o microcosmo do dia a dia das pessoas até o macrocosmo da economia mundial. 23

A Escola surgiu e firmou-se como a instituição responsável pela transmissão intergeracional dos conhecimentos que a sociedade considera como válidos. Diante da velocidade alucinante das transformações mundiais que presenciamos nas últimas décadas, cabe à Escola buscar formas de cumprir um novo papel na construção do futuro da humanidade: a tradicional função de transmitir o conhecimento não é suficiente para preparar nossas crianças e jovens para uma sociedade dinâmica, complexa, acelerada... Diante da facilidade do acesso à informação, uma coisa é certa: transmitir informações não é mais a principal função da Escola, como era no passado. A informação agora é pública, não mais regalia de poucos eleitos. Entretanto, o bombardeio de informações que o advento da internet provocou criou outra demanda, que cabe à Escola responder: é necessário ensinar as próximas gerações a selecionar, avaliar, gerenciar, construir conhecimento. Formar cidadãos críticos deixou de ser uma meta filosófica para tornar-se uma realidade concreta, premente, imprescindível (Garcia et al., 2011:16). Assistimos a várias iniciativas, tanto teóricas como práticas, que a cada momento contribuem mais e mais para a transformação das instituições escolares em direção ao e à sua adequação às demandas das novas conjunturas, criadas e recriadas em velocidade espantosa. Diversos aspectos da relação com o conhecimento são estudados, aprofundados, questionados, gerando inúmeros projetos e propostas de ações... Afinal, qual é a função social desta instituição tão vital, tão fundamental em nossa cultura? Como a escola deve inserir-se na nova conjuntura global, que clama por mudanças, por novas e modernas formas de preparar nossas crianças e jovens para um futuro que é tão incerto? Como instituição responsável pelo bem maior da humanidade o conhecimento -, como complementar e integrar, a um só tempo, a perpetuação dos saberes já construídos com a formação de uma geração capaz de ampliar exponencialmente o conhecimento humano? (Garcia et al., 2011:15) Mais do que nunca, é preciso investir em estudos que possam sustentar possíveis respostas, que por sua vez trarão novas inquietações, novas perguntas... Nos estudos anteriores, nos debruçamos sobre o sentido e a importância da Escola oferecer uma proposta de ação, estruturada e organizada, para o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades cognitivas e não-cognitivas no espaço pedagógico formal das instituições de ensino. Focamos o impacto da Metodologia MenteInovadora, uma possível resposta a esta necessidade, que repercute na aprendizagem e no desenvolvimento global dos alunos e na prática do professor. Os resultados do ciclo de estudos 2009/2010/2011 indicaram o impacto positivo da Metodologia no incremento da proficiência nas áreas do conhecimento e a percepção, por parte dos sujeitos envolvidos, dos benefícios da Metodologia no desenvolvimento de habilidades. Os dados obtidos sugerem uma interrelação entre a percepção do benefício da Metodologia, por parte do professor, para o desenvolvimento de sua prática pedagógica e o salto de aprendizagem, indicado pelo nível de proficiência, do seu grupo de alunos. Assim, o Estudo realizado em 2012 teve como objetivo geral avançar na produção de conhecimento científico sobre a aplicação do Programa MenteInovadora nas escolas, enquanto um componente intracurricular, com aulas ministradas pelos professores das escolas, supervisionados pelos profissionais da Mind Lab. 24

C) A Metododologia do Programa MenteInovadora: ludicidade, prazer e motivação na Educação A Metodologia do Programa MenteInovadora é uma proposta curricular-pedagógica para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, sociais, emocionais e éticas por meio de jogos de raciocínio, com ênfase na aprendizagem com significado e no papel do professor-mediador. Tem como objetivo estruturar um conjunto de ações pedagógicas que organizam um espaço-tempo, no currículo das escolas, com foco específico no desenvolvimento de habilidades que contribuem, de forma significativa, na formação integral do aluno e repercutem em suas relações com o conhecimento, com o outro e consigo mesmo. Está fundamentada em três pilares: os Métodos Metacognitivos, os Jogos de Raciocínio e o Professor-mediador. Os Métodos - recursos metacognitivos organizadores do pensamento e da ação estão no coração da Metodologia. São ferramentas internas, construídas inicialmente por meio das experiências vividas na situação de jogo, que ajudam a lidar com mais consciência e de modo mais eficaz com as situações do cotidiano, que são simuladas pela estrutura e exploração dos jogos utilizados. Cada método é intencionalmente nomeado por uma metáfora, recurso linguístico que facilita a polissemia, a atribuição de sentidos e a transposição para além do aqui e agora (Abed, 2002; 2004). Por exemplo, o Método do Semáforo nos remete ao objeto semáforo, cuja função é organizar o trânsito de veículos e pedestres, estabelecendo-se os momentos para parar, ficar atento e andar. Da mesma forma, o Método do Semáforo ajuda as pessoas a se organizarem internamente diante das situações, de modo a não se prejudicar por respostas impulsivas ou a não ficar paralisado diante da necessidade de uma resposta ponderada e refletida (Garcia et al.i, 2011:29-30). Os Jogos de Raciocínio são os recursos didáticos em torno dos quais as sequências didáticas são estruturadas, com objetivos claros em relação ao desenvolvimento das habilidades cognitivas, emocionais, sociais e éticas e à construção de estratégias e métodos, conhecimentos e reflexões que extrapolam a situação de jogo para outros contextos da vida. Ao dar destaque ao papel do professor enquanto mediador do processo de aprendizagem do aluno, esta Metodologia inovadora implica um intenso e contínuo processo de aprimoramento da prática pedagógica - não só nas aulas de MenteInovadora, mas de forma geral, pois toca e transforma o professor enquanto profissional e enquanto pessoa. (...) os estudos sobre a formação do professor ainda persistem numa dissociação entre a formação e a prática cotidiana, não enfatizando a questão dos saberes que são mobilizados na prática, ou seja, os saberes da experiência. Esses saberes são transformados e passam a integrar a identidade do professor, constituindo-se em elemento fundamental nas práticas e decisões pedagógicas, sendo, assim, caracterizados como um saber original. Essa pluralidade de saberes que envolve os saberes da experiência é tida como central na competência profissional e é oriunda do cotidiano e do meio vivenciado pelo professor (Nunes, 2011: 31). Assim, é aspecto constitutivo do Programa não só o conteúdo das aulas propostas, mas também a estruturação de um processo de formação inicial e continuada com o corpo docente da escola, com a apresentação e exploração de recursos com vistas à construção de práticas pedagógicas mediadoras da construção do conhecimento e da constituição dos sujeitos da Educação (gestores, professores e alunos). 25

Mais do que estar envolvido no processo, acreditamos que é fundamental que o professor crie vínculos com a proposta, ou seja, perceba o valor do projeto educacional como ferramenta, como instrumento de mediação, que dá força e abre possibilidades para que ele ocupe um lugar que é dele: o de professor-mediador (Garcia e Abed, 2010: 12). Todo o processo é cuidado e organizado de modo a estruturar ambientes de aprendizagem carregados de significado, tanto para os alunos como para os professores. As contextualizações que introduzem os temas, os jogos de raciocínio utilizados como recursos pedagógicos, as estratégias e métodos ensinados e aplicados pelos alunos tanto nos jogos como em outras situações, os debates e reflexões sobre as aprendizagens vividas, enfim, todos os elementos que compõem as aulas revestem estes momentos com significados profundos e abrangentes que, tal qual uma pedra lançada ao lago, provoca ondas de impactos em múltiplas direções... As habilidades específicas priorizadas em cada etapa da proposta curricular estão harmonizadas com as teorias de desenvolvimento propostas por autores interacionistas, como Piaget, Vygotsky e Feuerstein 4, entre outros, e coadunadas com as necessidades específicas para a apropriação de conceitos e conteúdos que compõem os quadros curriculares das escolas, orientados pelos Parâmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais. Ao incentivar intencionalmente os processos reflexivos e a tomada de consciência dos processos vividos (metacognição), a utilização da Metodologia desenvolve, nos alunos e nos professores, a capacidade de aprender a aprender em níveis de complexidade cada vez maiores, ampliando as condições internas para estabelecer conexões entre os diferentes conteúdos explorados no currículo da escola e entre estes e os desafios da realidade extramuros da escola. Assim, os significados atribuídos aos conhecimentos podem ser aprofundados, ampliados e recriados dia a dia, o que favorece o desenvolvimento do pensamento autônomo e do posicionamento crítico e responsável. Como afirma Freire (2001: 78), é fundamental que o educador veja a sua missão como... [...] uma tarefa libertadora. Não é para encorajar os objetivos do educador e as aspirações e os sonhos a serem reproduzidos nos educandos, os alunos, mas para originar a possibilidade de que os estudantes se tornem donos de sua própria história. É assim que eu entendo a necessidade que os professores têm de transcender sua tarefa meramente instrutiva e assumir a postura ética de um educador que acredita verdadeiramente na autonomia total, liberdade e desenvolvimento daqueles que ele ou ela educa. As ferramentas construídas com os alunos por meio dos jogos de raciocínio (estratégias e métodos metacognitivos) configuram-se como recursos internos fundamentais para instrumentá-los para lidar com as mais diferentes situações e desafios não apenas nos jogos, mas principalmente da vida - presente e futura. Para tanto, exploram-se com os alunos, desde a mais tenra idade, reflexões sobre as implicações e aplicabilidades em diversas áreas do conhecimento e do cotidiano. As aprendizagens construídas durante as aulas são exploradas pelo professor-mediador, de forma intencional, para que os alunos estabeleçam possíveis transcendências, ou seja, ampliações da aprendizagem para além da experiência imediata. Por fim, há uma ênfase nos exercícios e registros, realizados no Livro do Aluno, para consolidar, sistematizar e favorecer a autoria em relação aos conteúdos estudados (Garcia e Abed, 2010: 20) 4. Considerações importantes destas bases teóricas podem ser encontradas no artigo: GARCIA, Sandra (org), ABED, Anita, SOARES, Tufi & DONNINI, Silvia. Saltos de Aprendizagem: o percurso de uma Metodologia inovadora em Educação. São Paulo: Mind Lab Brasil & INADE, 2011. Disponível em: www.mindlab.com.br. 26

Do ponto de vista ético, o Programa propõe ações pedagógicas intencionais com o objetivo de colaborar na formação de atitudes e valores essenciais para a vida em sociedade e a cultura da paz, valorizando a diversidade humana e promovendo o autoconhecimento, a autoestima e o respeito ao próximo. Neste sentido, o uso de jogos é uma ferramenta altamente privilegiada, pois aspectos sociais e éticos são inerentes às relações humanas permeadas pela situação de jogo. Além das demandas cognitivas, sociais e éticas, o jogo organiza experiências concretas e intensas, o que permite fortalecer o processo de amadurecimento emocional em cada fase do desenvolvimento da criança e do adolescente, colaborando para o enfrentamento e a superação das dores do crescimento. Retomamos a metáfora proposta por Gail Sheehy (1988), que compara o desenvolvimento humano com o crescimento de um crustáceo: crescemos largando e formando cascas protetoras. As mudanças trazem vulnerabilidade e dores, ao mesmo tempo em que ficamos fervescentes e embrionários, em plena criação e aquisição de novos estágios de consciência. Cada momento de estabilidade pode ser visto como um estágio de fortalecimento interno que nos prepara para os novos desafios, que por sua vez irão desencadear novos desequilíbrios. Segundo a autora, alguma dor é inerente, pois o processo de amadurecimento envolve perdas e lutos: Seria surpreendente que não experimentássemos alguma dor (...) mas a disposição de atravessar cada uma das passagens equivale à disposição de viver abundantemente. Se não mudamos, não crescemos. Se não crescemos, não estamos realmente vivendo (Sheehy, 1988: 482). A Metodologia do Programa MenteInovadora propõe-se a aprimorar a preparação dos alunos para lidar com o processo de amadurecimento pessoal e com os acontecimentos do dia a dia por meio do desenvolvimento de um amplo leque de habilidades fundamentais, como por exemplo: autoconhecimento e tomada de decisões, resolução de problemas, trabalho em equipe, trato com as informações, gerenciamento de recursos, planejamento, entre outras. Para viabilizar e melhorar continuamente a qualidade da aplicação da Metodologia nas instituições de ensino, vários aspectos operacionais e pedagógicos merecem atenção especial e procuram ser garantidos por meio dos recursos oferecidos (físicos, humanos e virtuais) e pelo aprimoramento constante da infraestrutura da empresa. Em síntese, podemos dizer que a Metodologia MenteInovadora engloba um amplo programa de tecnologia educacional e inovação em práticas pedagógicas para o desenvolvimento de habilidades, sustentado em três pilares métodos metacognitivos, jogos de raciocínio e mediação do professor. O Programa está ancorado teoricamente em autores da abordagem educacional interacionista e viabilizado por uma estrutura empresarial sólida, que busca constantemente ampliar sua eficiência para concretizar os objetivos propostos. 27