COLEÇÃO LER E SER - Parecer Técnico Penildon Silva Filho
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- Marcos Pinhal Lobo
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1 COLEÇÃO LER E SER - Parecer Técnico Penildon Silva Filho Dois assuntos atualmente recebem muita atenção dos educadores e gestores em Educação: o acompanhamento da evolução do Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB) da cidade ou do Estado e o novo Plano Decenal de Educação (PDE). Entretanto, os sistemas de Educação nem sempre se apropriaram teorica e conceitualmente do que é o IDEB, nem estão se preparando atualmente para as mudanças decorrentes do Plano Decenal que será aprovado em 2011 no Congresso Nacional. Vejamos o conceito e as implicações do IDEB e os desafios colocados pelo PDE. O programa Ler e Ser foi avaliado tendo por base essas duas perspectivas, e representa uma grande contribuição para incrementar o IDEB e situar positivamente Estados e municípios com o novo PDE O IDEB é uma fórmula: IDEB ji = N ji Pji ; Onde i = ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar; N ji = média da proficiência em Língua Portuguesa e Matemática, padronizada para um indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada edição do exame realizado ao final da etapa de ensino; Pji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos alunos da unidade j; Continuando: Como o IDEB é resultado do produto entre o desempenho e do rendimento escolar (ou o inverso do tempo médio de conclusão de uma série) então ele pode ser interpretado da seguinte maneira: para uma escola A cuja média padronizada da Prova Brasil, 4a série, é 5,0 e o tempo médio de conclusão de cada série é de 2 anos, a rede/ escola terá o IDEB igual a 5,0 multiplicado por 1/2, ou seja, IDEB = 2,5. Já uma escola B com média padronizada da Prova, com média padronizada da Prova Brasil, 4a série, igual a 5, 0 e tempo médio para conclusão igual a 1 ano, terá IDEB = 5,0. ( Notas Técnicas do MEC) O Ministério da Educação, de forma sábia, estipulou que não adianta somente ter os alunos do ensino fundamental e médio com um bom desempenho nas provas do MEC, pois se houve
2 grande evasão dos alunos ou retenção deles durante o curso, a Educação não está cumprindo o seu dever de promover a aprendizagem. Esse dado fortalece a argumentação em favor das políticas de formação de professores e também a investigação sobre como evitar a evasão e a repetência dos alunos nas escolas. Em 2009, a pesquisa encomendada pelo MEC à Universidade de São Paulo, através da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, intitulada Pesquisa sobre o Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar, de 19 de junho de 2009, identificou que as escolas com notas mais baixas de IDEB eram aquelas que apresentavam maiores indicadores de preconceito racial, de gênero, sexual e de classe social. O IDEB mede as notas da Prova Brasil em Português e Matemática com as taxas de repetência, evasão e aprovação. Logo, se uma escola tem alunos que terminam o ano com boas notas, mas apresenta uma taxa elevada de evasão ou repetência, essa situação acarretará uma queda em seu IDEB, pois o objetivo da Educação é incluir e promover a aprendizagem de todos, sem exclusão de estudantes ao longo do percurso formativo. As escolas que vivenciam preconceitos de diferentes características acabam provocando a saída de muitos alunos discriminados ou o baixo rendimento deles. A preparação dos profissionais da Educação para o respeito e a convivência com a diversidade é essencial para que a escola seja bem-sucedida na sua tarefa. Da mesma maneira, deve haver um projeto pedagógico que compreenda a necessidade de ter a Educação como promotora da cidadania, da capacidade do aluno se situar no mundo de forma crítica e contextualizada, de forma a superar preconceitos, viver em comunidade, valorizar sua identidade, respeitar o meio ambiente e fortalecer uma cultura da paz. Não basta a preparação técnica para o enfrentamento das avaliações da Prova Brasil. O MEC acaba por induzir, com o forma atual de avaliação do IDEB, a preocupação com uma Educação Integral, no conceito de Anísio Teixeira: Esse termo ou essa concepção aqui serão tomados, a partir das idéias deste educador, como significando àquela educação que deva preparar integralmente o sujeito, no sentido de lhe oferecer as condições completas para a vida. Nesse sentido, a função da escola extrapola o ensino e a transmissão de conteúdos que garantam o aprender a ler, escrever e contar. A função da escola avança para o campo da educação total do sujeito, no momento em que prioriza no seu currículo, não apenas os conteúdos clássicos científicos: da leitura, da escrita e das ciências exatas; todavia, quando trata e oportuniza em seu trabalho
3 pedagógico a transmissão de valores éticos e morais, do ensino das artes e da cultura, de hábitos de higiene e disciplina e de preparação para um oficio. Essa foi a concepção de educação que permeou os escritos e a obra de Anísio Teixeira e que aqui será tratada. Para ele, a educação e no caso, uma educação integral, constituiria o caminho fundamental, o instrumento necessário para as mudanças pelas quais o Brasil deveria passar para adentrar a modernidade.( TENÓRIO, SCHELBAUER; 2011). A aprendizagem deve também respeitar a realidade de cada aluno, e deve ser focada nele, pois é ele que constrói seu conhecimento, a partir da reelaboração de um conhecimento prévio, segundo a concepção de Emília Ferreiro. Ferreiro deu seguimento aos estudos de Piaget e compreendeu com maior profundidade o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem, da leitura e da escrita, indicando que os caminhos para o desenvolvimento da leitura e da escrita passam necessariamente pelo desenvolvimento cognitivo na relação com o mundo, nas relações sociais, na reinterpretação da realidade, e que devemos estimular o uso de textos sobre o mundo, principalmente que abordem os temas transversais e que sigam os Parâmetros Curriculares nacionais (PCN). A obra inaugural de Ferreiro no Brasil, Psicogênese da Língua Escrita, foi muito adotada e serviu de referência para várias políticas públicas, e seus defensores desaconselhavam o uso de cartilhas adestradoras e que repetiam símbolos e códigos sem um diálogo com o mundo e sem uma atitude reflexiva, construtora do próprio conhecimento. A proposta pedagógica do programa Ler e Ser, que envolve formação de professores, suporte e acompanhamento das atividades pedagógicas e avaliação, e cujo material didático serve de instrumento para essa concepção de Educação Integral e de visão sóciointeracionista e construtivista de Emília Ferreiro e Ana Teberosky, é uma contribuição para o esforço de alfabetização e letramento de nossos alunos. Deve haver um rompimento com uma visão ultrapassada de aquisição da habilidade de leitura e escrita e de uma prática adestradora para treino dos estudantes para os testes de avaliação. O programa Ler e Ser é um suporte para a edificação de uma nova formação e Educação. A proposta de parceria entre o Programa da Humanidades e as secretarias estaduais e municipais de Educação, com um planejamento durante todo o ano, envolve a formação do professores, a supervisão das atividades pela Humanidades, a monitoria das atividades realizadas nas escolas e a inserção de uma concepção de coautoria dos livros
4 paradidáticos com os alunos, o que rendeu o reconhecimento do Ministério da Educação e a efetivação de uma diretriz das resoluções governamentais, e que hoje é exemplo de sucesso apresentado a governos que tem responsabilidade com a Educação de qualidade. Por essa adequação aos pressupostos elencados acima e pela inovação em operacionalizar conceitos importantes que muitas vezes não conseguem ser implantados nas escolas, o programa Ler e Ser é hoje uma iniciativa única, e no nosso entendimento muito acertada. Por outro lado, o Plano Decenal de Educação (PDE) é um elemento novo para a Educação brasileira. Após o resultado das eleições presidenciais, foi enviado ao Congresso Nacional o novo PDE, resultado de duas conferências nacionais da Educação, em 2008 e 2010, e que indicam princípios, metas e objetivos a serem perseguidos. Nos próximos dez anos a Educação brasileira terá que avançar bastante. A compreensão da necessidade da Educação Básica é ampliada. Enquanto na década de 1990 havia a compreensão de que apenas o ensino fundamental era prioritário, expresso no financiamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (FUNDEF), agora se estabelece que deve haver garantia de creches para as crianças, com a meta de ter 50% delas com idade de 0 a 3 anos em instituições públicas, e a universalização da Educação Infantil dos 4 aos 5 anos. O Ensino Médio tem prioridade, com o estabelecimento de diretrizes curriculares ao mesmo tempo em que se estimula a diversificação e a inovação curricular. O financiamento do Fundo Nacional de Manutenção da Educação Básica e Valorização do Magistério (FUNDEB) garante financiamento para todos os níveis e para as modalidades de Educação de Jovens e Adultos, da Educação Profissional e da Educação Especial. Hoje há o princípio do direito ao acesso a todos os níveis. Em todas as metas do Plano é afirmado que a Educação precisa valorizar seus professores, seus planos de carreira, investir na realização de concursos públicos e na formação inicial e continuada. O PDE indica a Educação Integral como meta a ser alcançada, estabelece como diretriz a integração entre as políticas de Educação e Cultura, indica que a formação dos estudantes deve se dar em várias dimensões da vida, em diferentes espaços de formação e com uso de novas tecnologias.
5 O PDE também estabelece que a partir dele a avaliação da Educação nacional será ampliada, pois se levará em consideração o sistema internacional de avaliação PISA, que procura indicar a aprendizagem em Ciências, ampliando a avaliação realizada hoje pelo IDEB. O programa Ler e Ser promove uma atenção especial para a Educação Infantil, pois muitos de seus livros paradidáticos, assim como a formação de professores e o acompanhamento das atividades de formação dos alunos são formulados para os grupos 4 e 5, nesse nível de ensino. Trata-se de uma fase essencial para o desenvolvimento cognitivo dos alunos, anterior ao Ensino Fundamental, e para a qual há previsão de investimentos públicos e obrigatoriedade de atendimento pelos municípios. Entretanto, os mesmos precisarão de apoio do Estado para cumprir essa meta, e o programa ler e Ser pode contribuir nesse apoio e assessoria. A alfabetização e o letramento dos alunos no Ensino Fundamental dependem muito da Educação Infantil, ao lado de uma vida saudável e do atendimento das creches. O atendimento de Educação Infantil no Brasil é historicamente um privilégio das classes mais ricas, que podem pagar pelas escolas privadas. A promoção desse nível de ensino de forma universal é uma garantia de direito humano fundamental, e essa implantação, para ser efetiva e de qualidade, precisará de um apoio e uma ação coordenada entre as diferentes esferas de governo. Nesse sentido a Humanidades faz a proposta para ser parceira do Estado para o oferecimento de sua assessoria técnica através do programa Ler e Ser aos municípios, tanto em nível de Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental. A elevação dos investimentos em Educação, observada desde 2007 com a aprovação do FUNDEB, com a criação do piso salarial nacional, com a obrigatoriedade de haver um plano de carreira para os profissionais da Educação terá o desdobramento no PDE com maiores aportes financeiros e maiores responsabilidades, especialmente para os Estados e municípios. A Humanidades se propõe a contribuir nessa nova fase da Educação, compartilhando sua experiência de dez anos, já implantada na prefeitura de Salvador e registrada pelo MEC como experiência exitosa para servir de inspiração para as gestões no Brasil em Educação. A temática dos livros paradidáticos do Ler e Ser, como pode ser observado em seu material, garante o aprendizado de conhecimentos voltados para os PCN, ligados diretamente às ciências,
6 como Meio Ambiente, Divesidade, raciocínio abstrato e criatividade, o que está em sintonia com a preocupação do PDE em avaliar a partir da sua aprovação a aprendizagens em ciências. O nosso parecer no campo de conhecimento da Educação conclui que se trata de um programa com resultados muito relevantes, pelo exposto anteriormente, que merece ser replicado em outros estados e municípios. Essa aplicação em outros contextos terá a garantia de sua pertinência devido à metodologia de elaboração de um plano conjunto de atuação entre a Humanidades e a secretaria da Educação local, assim como um suporte permanente que identifica problemas e de forma conjunta indicará aperfeiçoamentos na metodologia. Penildon Silva Filho Mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia Professor Adjunto I da UFBA Referências: TENÓRIO, Aleir Ferraz; SCHELBAUER, Analete Regina; A Defesa pela Educação Integral na obra de Anísio Teixeira. Biblioteca virtual de Anísio Teixeira. Universidade Estadual de Maringá. Acesso em: 16 abr Disponível em: ttp:// fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_gt1%20 PDF/A%20DEFESA%20PELA%20EDUCA%C7%C3O%20INTE- GRAL%20NA%20OBRA%20DE%20AN%CDSIO.pdf
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