UMA PROPOSTA SEMIÓTICA PARA A LEITURA DE LETRA DE MÚSICA : A DEPREENSÃO DE TEMAS E A SEGMENTAÇÃO DE FIGURAS

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Transcrição:

UMA PROPOSTA SEMIÓTICA PARA A LEITURA DE LETRA DE MÚSICA : A DEPREENSÃO DE TEMAS E A SEGMENTAÇÃO DE FIGURAS Sonia MERITH-CLARAS (UNICENTRO) Introdução Tanto os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) quanto as DCE s (Diretrizes Curriculares Nacionais) centram-se numa perspectiva de linguagem, definida por Bakhtin, como sendo um fenômeno dialógico. A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1999, p.23) Partindo da visão bakhtiniana, de que as palavras estão sempre carregadas de fios ideológicos, as DCEs (2008, p. 50) reiteram que o ensino-aprendizagem de língua portuguesa objetiva aprimorar os conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos. Sendo assim, a língua deve ser percebida/compreendida como uma arena em que diversas vozes sociais se defrontam, manifestando diferentes opiniões. Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. (BAKHTIN, 1999, p.113)

Para dar conta de realizar um trabalho centrado na concepção de linguagem enquanto ato dialógico, os documentos, citados anteriormente, sugerem a abordagem dos gêneros do discurso em sala de aula. Para Bakhtin (2003 1, p.261-262): O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção de recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses três elementos o conteúdo temático, o estilo, a construção composicional estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso. Conforme Brait (2000, p. 20), não se pode falar de gêneros sem pensar na esfera de atividades em que eles se constituem e atuam, aí implicadas as condições de produção, de circulação e recepção. Isto é, os gêneros se manifestam nas diferentes esferas de comunicação, por exemplo: os gêneros da esfera jornalística (notícia, reportagem, classificados,...); da esfera digital (chat, e- mail...) entre tantas outras esferas da rotina da comunicação humana, como destacam as Diretrizes. As esferas de uso da linguagem não são uma noção abstrata, mas uma referência direta aos enunciados concretos que se manifestam nos discursos. (MACHADO, 2008, p. 156). Assim, para que o ensino da língua portuguesa atinja seus propósitos, é importante priorizar um trabalho com ênfase nos gêneros discursivos. Neste prisma, nossa discussão centrar-se-á em como abordar o gênero letra de música, da esfera literária, em aulas de leitura no contexto escolar. A escolha por tal gênero justifica-se porque este é apontado 2 como um dos que devem ser abordados pelo professor. Em suma, nosso objetivo é apresentar uma análise, com respaldo da teoria semiótica de linha francesa, da letra da música Pais e Filhos interpretada pelo Legião Urbana, a fim de sugerir uma possibilidade de encaminhamento de atividade de leitura. Por se centrar no nível discursivo, do percurso gerativo do sentido, nossas discussões focalizarão questões em torno da manifestação linguística, ora priorizando as escolhas feitas pelo enunciador, ora focalizando a depreensão de temas, os quais são recobertos pela organização figurativa. 1 Primeira Publicação 1992. 2 A seleção sugerida pelas DCE s pauta-se num quadro elaborado por Jaqueline Peixoto. Trabalhando com os gêneros discursivo: uma perspectiva para o ensino da Língua Portuguesa.)

Interessante destacar, ainda, que nossa análise incidirá sobre a letra da música Pais e Filhos já que o foco está no plano do conteúdo, e não sobre a canção, quando o foco deve recair, também, sobre o plano da expressão 3. Conforme Monteiro (2005), a canção envolve a melodia, o ritmo, a harmonia, o uso dos o uso dos instrumentos, a voz do cantor, a letra da música, a sonoridade das palavras. Daí a diferença entre os gêneros canção e letra de música. Em suma, o professor, enquanto mediador do processo de ensino-aprendizagem, precisa adotar diferentes estratégias de leitura para dar conta do gênero estudado. Assim, aliamos ao gênero letra de música, a teoria semiótica descrita, sucintamente, na sequência. 1. Semiótica greimasiana: apontamentos teóricos A semiótica, teoria desenvolvida por Algirdas Julien Greimas, tem na obra, Semântica Estrutural, seu marco inaugural. No Brasil, muitos autores vêm publicando trabalhos visando divulgar o projeto semiótico, dentre esses, destacam-se Diana Barros e José L. Fiorin. Dos autores, convém ressaltar as obras: Teoria do discurso: fundamentos semióticos e Teoria semiótica do texto de Diana Barros e Elementos da análise do discurso e As astúcias da enunciação: categorias de pessoa, espaço e tempo de José Luiz Fiorin, que visam a explicar o arcabouço teórico da semiótica. A semiótica insere-se entre as teorias que concebem o texto, e não mais a frase, como unidade de sentido. Conforme Barros (2005, p.7), importa para a semiótica descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz. O texto, no viés semiótico, deve ser entendido como objeto de significação e de comunicação entre sujeitos. A primeira concepção de texto, entendido como objeto de significação, faz que seu estudo se confunda com o exame dos procedimentos e mecanismos que o estruturam, que o tecem como um todo de sentido. A concepção do texto, como objeto de comunicação entre dois sujeitos, refere-se ao fato de o texto encontrar seu lugar entre os objetos culturais, inserido numa sociedade (de classes) e determinado por formações ideológicas específicas. Portanto, o texto deve ser compreendido tanto como objeto de significação quanto objeto de comunicação. A fim de explicar os sentidos dos textos, no que diz respeito ao plano do conteúdo, a semiótica faz uso do percurso gerativo do sentido. Esse percurso é compreendido como uma 3 Cabe salientar que Luiz Tatit propõe um arcabouço teórico a fim de dar conta da análise de diferentes canções. A esse respeito ver a obra: Semiótica da Canção: melodia e letra. São Paulo: Escuta, 1994.

sucessão de patamares, cada um dos quais suscetível de receber uma descrição adequada, que mostra como se produz e se interpreta o sentido (Fiorin, 2006, p.20), num processo que vai do mais simples e abstrato, ao mais complexo e concreto. Barros (2005, p.9), ainda no que diz respeito ao percurso gerativo do sentido, sintetiza-o da seguinte forma: a) o percurso gerativo do sentido vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto; b) são estabelecidas três etapas no percurso, podendo cada uma delas ser descrita e explicada por uma gramática autônoma, muito embora o sentido do texto dependa da relação entre os níveis; c) a primeira etapa do percurso, a mais simples e abstrata, recebe o nome de nível fundamental ou das estruturas fundamentais e nele surge a significação como uma oposição semântica mínima; d) no segundo patamar, denominado nível narrativo ou das estruturas narrativas, organiza-se a narrativa, do ponto de vista de um sujeito; e) o terceiro nível é o do discurso ou das estruturas discursivas em que a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação. Em suma, a semiótica utiliza-se do percurso gerativo para descrever os sentidos do texto, para tanto, trabalha com um nível fundamental, um nível narrativo e um nível discursivo. Esses níveis dão conta de explicar o sentido sendo que cada um desses níveis possui uma sintaxe e uma semântica. Ao perpassar por esses níveis, busca-se o quê, mas por vias do como, não o sentido verdadeiro, mas, antes, o parecer verdadeiro, o simulacro; não a fragmentação do sentido, mas a totalidade, depreendida da unidade textual (Cortina; Marchezan, 2004, p. 394). Em relação à semântica do nível fundamental, o mais simples e abstrato, essa abriga as categorias semânticas que estão na base da construção de um texto, sendo que uma categoria semântica se fundamenta numa diferença, numa oposição. No entanto, para que dois termos possam ser apreendidos conjuntamente, é preciso que tenham algo em comum e é sobre esse traço comum que se estabelece uma diferença. Não opomos, por exemplo, /sensibilidade/ a /horizontalidade/, pois esses elementos não têm nada em comum. Contrapomos, no entanto, /masculinidade/ a /feminilidade/, pois ambos se situam no domínio da /sexualidade/ (Fiorin, 2006, p.22). A sintaxe, do nível fundamental, abrange duas operações, a negação e a asserção. Isso significa que, dada uma categoria tal que a versus b, podem aparecer as seguintes relações: a)

afirmação de a, negação de a, afirmação de b; b) afirmação de b, negação de b, afirmação de a. (Fiorin, 2006, p. 23). Em relação ao nível narrativo, este diz respeito à narratividade que todo texto possui. A sintaxe narrativa simula o fazer do homem que transforma o mundo. Nesse nível há os enunciados de estado, os que estabelecem uma relação de junção (disjunção ou conjunção) entre um sujeito e um objeto, e enunciados de fazer, os que mostram as transformações, os que correspondem à passagem de um enunciado de estado a outro. As narrativas compreendem, ainda, quatro fases: a manipulação, a competência, a performance e a sanção. Na manipulação temos um sujeito que age sobre outro a fim de levá-lo a querer e/ou dever fazer algo. Já na fase da competência, o sujeito que vai realizar a transformação da narrativa é dotado de um saber e/ou poder fazer. Caso contrário, não poderia completar a performance, que é a fase em que se dá a transformação, ou seja, a mudança de um estado a outro. Após a performance, há a sanção, nessa fase constata-se que a performance foi realizada e há, então, o reconhecimento do sujeito que operou a transformação. Esse reconhecimento pode ser prêmio ou castigo. A semântica, do nível narrativo, diz respeito aos valores inscritos nos objetos. Numa narrativa há sempre dois tipos de objetos: os objetos modais (o querer, o dever, o saber e o poder fazer) elementos cuja aquisição é necessária para realizar a performance principal; e os objetos de valor, com os quais se entra em conjunção ou disjunção na performance principal. No nível discursivo, mais precisamente na sintaxe discursiva, opera-se sobre os mesmos elementos da narrativa, observando, no entanto, fatores que foram dispensados na análise da narrativa, como as projeções da enunciação no enunciado, os recursos de persuasão utilizados pelo enunciador para manipular o enunciatário ou, ainda, a cobertura figurativa dos conteúdos narrativos abstratos. Cabe à sintaxe do discurso explicar as relações do sujeito da enunciação com o discurso-enunciado e, também, as relações que se estabelecem entre enunciador e enunciatário. O discurso define-se, ao mesmo tempo, como objeto produzido pelo sujeito da enunciação e como objeto de comunicação entre um destinador e um destinatário. (Barros, 2005, p. 54). Na semântica discursiva, há a tematização e figurativização do discurso. É a semântica discursiva que reveste e, por isso, concretiza as mudanças de estado do nível narrativo. Assim, tematização e figurativização são dois níveis de concretização do sentido. Conforme Fiorin (2006,

p.41), todos os textos tematizam o nível narrativo e, depois, esse nível temático poderá ou não ser figurativizado. Em suma, o percurso gerativo do sentido compreende três etapas, o fundamental, o narrativo e o discursivo. Cada um desses níveis discute aspectos relacionados a uma sintaxe e a uma semântica. Na análise seguinte, focalizaremos aspectos relacionados ao nível discursivo, antes, porém, apresentamos uma metodologia de leitura denominada Campos Lexicais, a qual utilizamos para favorecer a depreensão de temas e figuras. 2. Os Campos Lexicais: uma Estratégia de Segmentação Os campos lexicais, proposta metodológica desenvolvida por Maurand (1992), divulgada no Brasil por Limoli (1997, 2001, 2005), consistem no agrupamento de um conjunto de lexemas de um texto, desde que nesse grupo haja pelo menos um traço, um sema comum. Esse mesmo traço mínimo de significação, ou sema, deve servir de denominação ou hiperônimo para o conjunto, cujos elementos serão chamados de hipônimos (LIMOLI, 1997, p.25). De acordo com Limoli (1997, 2005), na montagem dos campos lexicais, além da hiperonímia, há outra relação de sentido que contribui para a complementaridade da significação global do texto, a polissemia. Isso quer dizer que uma mesma palavra pode figurar em dois campos lexicais diferentes, em função do caráter, das características polissêmicas que as palavras possuem. A segmentação, a montagem do campo lexical pode ser iniciada, em qualquer texto, com hiperônimos mais recorrentes, como: a) tempo, espaço, atores; b) categoria sensorial: gustativo, visual, auditivo, tátil; c) vida versus morte; d) alegria versus tristeza. Apesar de alguns agrupamentos serem mais prováveis nos textos, como os citados acima, é o texto que vai direcionar os campos lexicais possíveis. Conforme Limoli (1997, p.36), a decomposição do texto-objeto em campos lexicais é o primeiro passo para a exploração dos componentes do texto. A montagem dos campos lexicais é um instrumento auxiliar de análise, cujo objetivo não se situa no léxico, mas nas relações semânticas entre os diferentes sememas presentes no discurso. Ao percorrer o texto, a fim de montar os campos lexicais, o analista executa uma varredura nesse texto, o que propicia uma prática de releitura. Esse contato com a organização discursiva do texto, ou melhor, essa prática metodológica de reconstruir a figurativização de um objeto de análise, leva, encaminha o analista para dentro desse texto. Isso faz com que se trabalhe com a

materialidade, a concretude textual, percebendo que os sentidos se constroem a partir dessa figurativização. 3. Análise Semiótica e os Campos Lexicais: a organização figurativa e a depreensão de temas A música Pais e Filhos, de autoria de Dado Villa Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá, interpretada pelo Legião Urbana, foi divulgada no álbum As quatro Estações, no ano de 1989. A letra, analisada na sequência, encontra-se em anexo. A construção textual, da letra em pauta, organiza-se por meio de debreagens enunciativas. Considerando as diferentes estrofes, na primeira delas há uma debreagem enunciativa, no tempo do agora, no espaço do aqui, na pessoa do eu. Isso pode ser confirmado no verso: Nada é fácil de entender. Os versos anteriores, Estátuas e cofres e paredes pintadas / Ninguém sabe o que aconteceu. / Ela se jogou da janela do quinto andar dizem respeito ao momento anterior ao momento de referência presente, conforme o esquema proposto por Fiorin (1999): MR presente concomitância não concomitância presente anterioridade pretérito perfeito1 posterioridade futuro do presente Os verbos aconteceu, se jogou confirmam que há uma debreagem enunciativa, haja vista que as ações expressas por tais verbos são anteriores ao momento de referência presente. As questões, referente à sintaxe discursiva, acerca da escolha do enunciador pela debreagem enunciativa, criam o efeito de subjetividade frente aos fatos, situações narradas. É um exmplo de enunciação enunciada, conforme Fiorin (1999). Todavia, essa linearidade, de um narrador que narra os fatos em primeira pessoa, não se confirma em toda a organização discursiva do texto. Isto porque, o enunciador projeta um narrador que fala/assume diferentes papéis no desenrolar do texto, ou seja, ora o discurso pode ser identificado como sendo do narrador, que fala para um narratário, ora esta fala do narrador confunde-se com a de alguém que assume os papéis de pais e filhos. Ou seja, é um narrador,

que por meio de uma debreagem enunciativa, escolhe falar por meio de diferentes papéis. Considerando que a projeção de um eu institui um tu, quando o eu refere-se aos papel de pais, o tu diz respeito aos filhos, e vice-versa, isto é, o eu que fala, no papel de filhos direciona o seu discurso para um tu, neste caso para os pais. Sendo assim, há diferentes instâncias enunciativas, a do narrador que fala para um narratário e a dos interlocutores, pais e filhos, que falam aos interlocutários filhos e pais. Mesmo essa delegação de voz não acontecer de maneira explícita, quando narrador delega voz aos personagens, a fim de criar um simulacro da realidade, ela é possível de ser recuperada, uma vez que os atores que recebem a fala do narrador estão inscritos no título do texto Pais e filhos. A fim de melhor contextualizar tal questão, recorreremos às estrofes da música para exemplificar/demonstrar onde acontecem as delegações de vozes. Como já discutido, na primeira estrofe é possível identificar um narrador, que fala para um tu, o narratário, enquanto na segunda estrofe o discurso do narrador deve ser compreendido como um eu que fala do papel actancial de pai, para um tu, no papel actancial de filho: Dorme agora, / é só o vento lá fora. Ao contrário do que ocorre na segunda estrofe, na terceira há uma sequência de falas que só fazem sentido se entendidas como discursos de filhos para seus pais: Quero colo! Vou fugir de casa! / Posso dormir aqui com vocês? / Estou com medo, tive um pesadelo / Só vou voltar depois das três. Nos versos anteriores, o narrador assume o papel de filho, de diferentes idades: filhos pequenos, que pedem colo, que têm pesadelo; adolescentes que ameaçam, num ato de rebeldia, fugir de casa; jovens, que já saem à noite e apenas informam a hora que voltarão para casa. Discursos socialmente reconhecidos nos relacionamentos familiares, garantidos pela isotopia temática impressa no título Pais e Filhos. Há, então, três instâncias enunciativas, a do narrador e a dos interlocutores, pais e filhos. Em cada uma dessas instâncias é possível reconhecer o tu a que tais discursos se dirigem, ou seja, o narratário e os interlocutários, filhos e pais. Na quarta estrofe o narrador assume, novamente, o papel actancial de pais: Meu filho vai ter nome de santo / quero o nome mais bonito. São versos que apontam para o lado sonhador dos pais, desejosos do melhor para o futuro de seus filhos, inclusive um nome de santo. Uma relação fantasista de aproximar os filhos a certa santidade, o que resulta em querer o nome de santo para o filho. Todavia, na estrofe seguinte, é possível reconhecer a fala do próprio narrador, o mesmo que fala no início da música: É preciso amar as pessoas / Como se não houvesse amanhã / Porque se você parar pra pensar / Na verdade não há.

Na sexta estrofe, o narrador assume, pelo discurso, ora o papel de filho, me diz, por que que o céu é azul? / Explica a grande fúria do mundo, ora o papel de pais, agora, provavelmente idosos ou doentes: São meus filhos / Que tomam conta de mim. Até então, a música aborda questões acerca dos relacionamentos familiares, discursos que apontam para conflitos, ou ainda, para as diferentes fases relacionadas à idade dos filhos, desde a gestação, quando da escolha do nome do filho, até o momento em que os pais precisam dos cuidados dos filhos, são meus filhos/ que temam conta de mim. Entretanto, na sétima e oitava estrofes, a música aborda diferentes modelos de família, ou seja, assumindo o papel actancial de filho, o narrador descreve família com pais separados, filhos que moram na rua, em casas alheias e, por último, filhos que moram com seus pais: Eu moro com a minha mãe / Mas meu pai vem me visitar/ Eu moro na rua, não tenho ninguém / Eu moro em qualquer lugar. // Já morei em tanta casa / Que nem me lembro mais / Eu moro com meus pais. Na nona estrofe ocorre a repetição do refrão, quando o narrador assume o discurso. Na sequência, duas últimas estrofes, é possível depreender outra instância narrativa, é o narrador assumindo o discurso, mas não para um narratário geral, como o fez até então, mas ao tu filhos, destacando o quão pequenos somos: sou uma gota d água, / sou um grão de areia. Além disso, destaca-se a necessidade de compreensão na relação familiar: Você diz que seus pais não te entendem, / Mas você não entende seus pais. Essa ideia é reiterada até o término da música: Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo / São crianças como você / O que você vai ser, / Quando você crescer? Todas as escolhas do enunciador, por meio da delegação de voz, projetando diferentes instâncias enunciativas, têm o propósito de chamar a atenção do enunciatário para questões acerca das relações, conflitos e modelos familiares. Esses desdobramentos, analisados até então, fazem parte da sintaxe discursiva, todavia, há por trás dessas organizações discursivas temas que podem ser depreendidos. Uma forma de chegar a tais temas é recuperar, agrupar figuras que podem apontar para os temas, os sentidos imanentes do texto. Como visto, todo o texto aborda questões que giram em torno de pais e filhos. O título, neste caso, é o desencadeador de isotopia que assegura que as temáticas, subjacentes à letra de música, relacionam-se ao universo familiar. A primeira temática depreendida no texto gira em torno do suicídio. A ideia de morte é recuperada pela figura se jogou. Não é apenas uma questão isolada de morte, mas sim, de suicídio;

é a morte de alguém que quis morrer, no ambiente da própria casa. As figuras estátuas, cofres, paredes pintadas indicam que o espaço do suicídio é um ambiente familiar, porém, não é qualquer ambiente, mas de certo poder aquisitivo, a contar pelas figuras elencadas. Ou seja, uma morte inexplicável, haja vista que o narrador reitera: nada é fácil de entender. Os conflitos que cercam o universo familiar, elencados na sintaxe discursiva, podem ser as razões para o suicídio. Interessante destacar que a temática da morte, do suicídio, é desencadeada por apenas uma figura: se jogou. VIDA MORTE - Se jogou 4 Tabela 01 - Agrupamento 01 Além da temática envolvendo a morte, mais precisamente a questão do suicídio, outros temas emergem da organização figurativa. Dentre estes está o divórcio, que institui uma nova relação, um modelo diferente de relacionamento entre os pais e os filhos, ou seja, filhos que moram com a mãe e recebem a visita do pai. Na música discute-se, ainda, a questão do abandono, crianças que vivem na rua, em qualquer lugar, conforme reiterado nas figuras do campo lexical seguinte: ESPAÇO Paredes pintadas / Quinto andar Lá fora / Aqui / Na rua Com meus pais / Com minha mãe Tanta casa / Qualquer lugar TAbela 02 - Agrupamento 02 Outra temática, presente na música, refere-se à necessidade do amor entre as pessoas, especialmente entre pais e filhos. Essa discussão se sustenta em figuras, como as elencadas no próximo agrupamento: SENTIMENTOS Eufóricos (inocência) Disfóricos 4 Apesar de a letra da música ter sido segmentada em diferentes campos lexicais, recorreremos apenas àqueles pertinentes para a discussão dos temas subjacentes à organização figurativa.

Colo / Amar (2x) Medo / Pesadelo Nome de santo / Bonito Fúria / Culpa Tabela 03 - Agrupamento 03 Ou seja, a música trata, justamente, dos sentimentos que envolvem pais e filhos, destacando a fragilidade dos filhos, que querem colo, que têm pesadelos. Trata da velhice dos pais, que são cuidados/amparados pelos filhos. Em meio a tais questões, a necessidade de se amar as pessoas vem destacada. É o amor sendo requisitado como essencial nas relações familiares. Relacionada à temática do amor, da afetividade, está a urgência de se viver intensamente cada dia; viver o presente, uma vez que o futuro não existe, conforme destacado no agrupamento abaixo: INTENSIDADE Nada / Só (2x) / Mais / Não houvesse (2x) Não (há) / Grande fúria Tabela 04 - Agrupamento 04 Em suma, os temas relacionam-se às questões que envolvem sentimentos, as relações familiares: amor, afetividade, inocência, o divórcio, o abandono e, até mesmo, a morte. Assuntos, temáticas que envolvem pais e filhos, conforme sugere título. Por fim, uma questão importante precisa ser posta, é a linearidade temporal que é traçada no desenvolvimento da letra da música, que vai desde o nascimento, quando pais escolhem o nome dos filhos, querendo um nome de santo, perpassando pela infância, quando crianças têm medo de tudo, à fase da adolescência, da juventude até a velhice, quando os filhos cuidam dos pais. É um percurso que vai do início ao fim da vida. Este percurso, traçado acerca da vida, é um percurso cíclico. Isso fica evidente quando o narrador, nas últimas estrofes, questiona o narratário filhos, numa tentativa dele perceber que será como os pais no futuro: o que você vai ser quando você crescer? Em suma, os filhos de hoje serão os pais de amanhã e, provavelmente, agirão de maneira semelhante aos pais de hoje. Considerações Finais

A aula de leitura, no contexto escolar, deve ser um momento em que se oportunize aos alunos a ampliação de seus conhecimentos por meio da construção de sentidos. Muitos são os fatores que contribuem para o sucesso nesse propósito, dentre estes: a mediação do professor, algo fundamental para que o aluno possa perceber os sentidos que se encontram por trás da organização figurativa, haja vista que muitos não conseguem enxergar muito além do que apenas decodificam do texto lido; a seleção do gênero abordado, pois a escolha de gêneros que se aproximam da realidade dos alunos, como a letra de música, pode favorecer o interesse pela leitura. A análise, realizada em torno da música, visou elencar os temas que subjazem às figuras textuais. Além disso, procuramos destacar como os temas podem ser percebidos, a fim de que o professor possa encaminhar uma aula de leitura com seus alunos. Procuramos utilizar, em meio a análise, a estratégia da montagem dos campos lexicais, que auxiliam bastante na análise de textos temáticos. 5 Referências BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. de Michel Lahud e Yara Frateschi. 9.ed. São Paulo: Hucitec, 1999.. Estética da criação verbal. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BARROS, Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. 4.ed. São Paulo: Ática, 2005. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRAIT, Beth. PCNs, Gêneros e ensino de língua: faces discursivas da textualidade. In: ROJO, Roxane. (Org.). A prática da linguagem em sala de aula: praticando dos PCNs. São Paulo: Mercado de Letras, 2000. p.15-25. CORTINA, Arnaldo; MARCHEZAN, Renata Coelho. Teoria semiótica: a questão do sentido. In: MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (Orgs.). Introdução à lingüística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004. vol.3. p.393-438. 5 A esse respeito ver: MERITH-CLARAS, Sonia. Sala de Aula e Semiótica: uma experiência de leitura com crianças. Estudos Semióticos. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dl/semiotica/es). Editores Responsáveis: Fancisco E. S. Merçon e Mariana Luz P. De Barros. Volume 5, número 1. Sâo Paulo, junho de 2009, p. 84-91. Acesso em 17 de abril de 2012.

FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 2.ed. São Paulo: Ática, 1999.. Elementos de análise do discurso. 14.ed. São Paulo: Contexto, 2006. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA IDEB. Resultados e Metas. Disponível em: <http://ideb.inep.gov.br>. Acesso em: 08 jan. 2009. INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA - INEP. Programa Internacional de Avaliação de Alunos PISA. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/internacional/pisa/>. Acesso em: 14 jan. 2009. LIMOLI, Loredana. Leitura semiolingüística do conto O Búfalo de Clarice Lispector. UNESP/ASSIS: Tese de doutorado, 1997. ; GIACHINI NETO, Emílio. Semiolingüística e leitura do texto literário. Boletim do Centro de Letras e Ciências Humanas. UEL, p. 151-166, jul-dez 2001. et. al. Leitura do texto poético: uma abordagem semiótica. Mosaicos. UEMS, ano 1, n.1, p. 75-86, 2005. MONTEIRO, Ricardo de Castro. As muitas vozes da canção: uma análise de Yesterday. In: LOPES, Ivã Carlos; HERNANDES, Nilton. (Orgs.) Semiótica: objetos e práticas. São Paulo: Contexto, 2005. P. 43-59. MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In: BRAIT, Beth. (Org.). Bakhtin: conceitos-chave. 4.ed. São Paulo: Contexto, 2008. p.151-166. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação básica: língua portuguesa. Curitiba, 2008. ANEXO Pais e Filhos Legião Urbana Estátuas e cofres e paredes pintadas Ninguém sabe o que aconteceu. Ela se jogou da janela do quinto andar Nada é fácil de entender. Dorme agora, é só o vento lá fora.

Quero colo! Vou fugir de casa! Posso dormir aqui com vocês? Estou com medo, tive um pesadelo Só vou voltar depois das três. Meu filho vai ter nome de santo Quero o nome mais bonito. É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade não há. Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do mundo São meus filhos Que tomam conta de mim. Eu moro com a minha mãe Mas meu pai vem me visitar Eu moro na rua, não tenho ninguém Eu moro em qualquer lugar. Já morei em tanta casa Que nem me lembro mais Eu moro com os meus pais. É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade não há. Sou uma gota d'água, sou um grão de areia Você me diz que seus pais não te entendem, Mas você não entende seus pais. Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo São crianças como você O que você vai ser, Quando você crescer? 6 6 In: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/22488/