O RECONHECIMENTO DA UNIÃO ENTRE HOMOSSEXUAIS COMO UMA NOVA ENTIDADE FAMILIAR

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Transcrição:

1 O RECONHECIMENTO DA UNIÃO ENTRE HOMOSSEXUAIS COMO UMA NOVA ENTIDADE FAMILIAR Shanda Previdi Olandoski 1 RESUMO A homossexualidade se confunde com a origem da sexualidade e consequentemente com a própria história da humanidade. O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a união entre pessoas do mesmo sexo como uma nova entidade familiar. Trata-se de questão polêmica, visto que contraria a moral, ordem e os bons costumes da sociedade, porém não há mais como fechar os olhos diante de tal realidade. São relacionamentos estáveis pautados no afeto que clamam por uma maior proteção jurídica e que não podem sofrer díscrime em função da orientação sexual. Apresentou-se como o tema tem sido tratado em outros países, bem como as ferramentas jurídicas utilizadas no Brasil, fazendo equiparação à sociedade de fato, analogia à união estável, interpretação e aplicação direta dos princípios constitucionais, decisões jurisprudenciais e a possibilidade de aprovação de aporte legislativo. PALAVRAS-CHAVE: união entre homossexuais; afeto; princípios constitucionais; união estável; entidade familiar. INTRODUÇÃO O Direito é uma ciência dinâmica que deve acompanhar as mudanças da sociedade. Ao longo da história, sempre esteve, e ainda está, em constante evolução deparando-se em diversas ocasiões com temas que causam controvérsias, mas que exigem sempre a atenção do legislador, seja por uma maioria da sociedade, ou por grupos minoritários. É o que acontece com o tema ora desenvolvido, pois é polêmico, e na opinião da maioria das pessoas vai contra os princípios morais, ofendendo institutos que são a base da sociedade, como o matrimônio e tantos outros aspectos. 1 Acadêmica do Curso de Direito da Escola de Direito e Relações Internacionais, Faculdades Integradas do Brasil UniBrasil orientada pelo Prof. MS. Samir Namur.

2 Muitas vezes a evolução humana é mais rápida que a evolução do direito, necessitando de respaldo das decisões judiciais para acompanhar este processo, isto porque o direito não pode isolar-se do ambiente em que vigora, deixando de atender as manifestações da vida social e econômica. Neste processo evolutivo, não podemos fechar os olhos diante de uma realidade tão próxima, a homossexualidade, antes tida como doença, hoje é comum em todos os seguimentos e seus grupos organizados e ganham cada vez mais espaço, força política e econômica, necessitando pois, ser observada e amparada pelo Direito. O que se busca é o reconhecimento dessa nova família como célula da sociedade, a qual possui deveres mas requer direitos. Hoje não se nega a existência de tais uniões, o que ainda discute-se é a formação de entidade familiar, seus contornos e efeitos no mundo jurídico. Neste sentido, o Brasil caminha a passos largos, visto que este tema vem sendo tratado no direito brasileiro há pouco mais de dez anos, com o projeto de lei n 1.151/95 apresentado pela então deputada Marta Suplicy, o qual busca disciplinar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, tratando ainda de outras questões. O objetivo deste trabalho é tentar demonstrar a evolução dessa busca de reconhecimento ao longo da história, os seus objetivos, quais são as ferramentas jurídicas que hoje se pode utilizar no Brasil e como se encontra esta situação em outros países do mundo. 1 A QUESTÃO TRATADA NO DIREITO NO DIREITO BRASILEIRO Para o reconhecimento eficaz das uniões entre homossexuais, existem algumas ferramentas jurídicas, tais como: analogia à união estável, sociedade de fato, interpretação e aplicação direta dos princípios constitucionais, bem como a defesa em prol da aprovação de lei específica que reja o tema, garantindo a tutela dos interesses das pessoas envolvidas nessas relações. Face à analogia com a união estável, utilizar-se-á aqui das palavras de Roger Raupp RIOS :

estável. 6 A união estável anteriormente era chamada de concubinato. Tratava-se de 3 Uma vez descartada a compatibilidade das uniões homossexuais à comunidade familiar derivada do casamento - pois nessa espécie de união a distinção dos sexos é pressuposta de forma unânime pessoas pela doutrina e pela jurisprudência-, resta analisar a pertinência das uniões de do mesmo sexo à chamada união estável. 2 Quando se passou a discutir se as denominadas uniões livres eram ou não uma nova entidade familiar e consequentemente, adentrariam no direito de família, várias foram as comparações com o casamento, ainda que muitas vezes de forma implícita. Tais comparações não aboliram o instituto do matrimônio, tampouco houve confusão entre casamento e união estável. 3 Na idéia de Rainer CZAJKOWSKI: Mesmo diante de uma legislação própria e autônoma regulando as uniões livres, a aplicação analógica dos princípios do casamento é preponderante. Tal se dá porque seria de duvidosa equidade normatizar, de forma completamente diferente, relações familiares que, como já se disse, são intrinsecamente iguais em aspectos afetivos e psicológicos. É a evidência definitiva de que as uniões livres passarem a fazer parte do direito de família. 4 Trata-se os estudos comparativos com as relações familiares pré-existentes de uma necessidade para que haja a inserção de novos modelos de entidades familiares (esses já existentes, porém não regulamentados) na esfera legislativa, judiciária e no direito de família. 5 Delimitada hoje pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 226 3º, e nas leis 8971/94 e 9278/96, verifica-se que a questão apresenta um histórico bastante semelhante ao tratamento dispensado às uniões entre pessoas do mesmo sexo e, portanto, pertinente se faz sua analogia. Aqui, comentário de Giselda Maria F. Novaes HIRONAKA: A verdade é que nos custou muito, na época em que vivemos obter o passaporte de aceitabilidade e o alvará de respeitabilidade para estas uniões livres, às quais, na atualidade, tem se convencionado denominar união uma relação extramatrimonial e como tal sofreu preconceitos e discriminações. A organização da sociedade familiar foi pautada no instituto do matrimônio, e face ao concubinato verificava-se a não concessão de certos direitos que eram 2 RIOS, Roger Raupp. RIOS, Roger Raupp. A homossexualidade no direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 121. 3 CZAJKOWSKI, Rainer. União livre: à luz da lei 8971/94 e da lei 9278/96. Curitiba: Juruá, 1999. p.31. 4 Ibidem, p.32. 5 HIRONAKA, Giselda Maria F. Novaes. Direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 27. 6 Idem.

4 concedidos a quem casado fosse, como explica Guilherme Calmon Nogueira da GAMA: o sentido pejorativo, preconceituoso, atribuído ao concubinato tinha como fonte a predominância do apego a valores tradicionais, rígidos, que somente reconheciam o casamento como instituto gerador da família. Contudo, diante da evolução dos tempos, com a reformulação das próprias relações familiares, com a revolução ocorrida no Direito de Família, o estigma não poderia mais subsistir. No Direito brasileiro, não é demais recordar que na época da elaboração e promulgação do Código Civil as referências feitas ao concubinato sempre tiveram por objetivo restringir ou proibir direitos de tais relações. 7 Encontra-se na doutrina a diferenciação entre concubinagem que seria o relacionamento sexual livre, e o concubinato em sentido estrito, que seria o casamento aparente, cuja relação é duradoura, e presentes se fazem os requisitos para configurar uma entidade familiar. 8 Várias são as terminologias acerca do assunto, concubinato, companheirismo, união livre, união informal, sendo a que foi adotada pela Carta Magna de 1988 foi a união estável, conforme se observa na redação do artigo 226 3º: Para efeito de proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. 9 Diante das definições doutrinárias Patrícia Fontanella ROSA define qual o entendimento acerca da união estável e quais são as suas características: Tais relacionamentos são marcados principalmente por ausência de regras ou formalidades, sendo que a união estável decorre pura e simplesmente da vontade de duas pessoas de se unirem, a fim de construírem suas vidas, assumindo perante todos aspecto de verdadeiro matrimônio, podendo residir separados, independentemente da existência de prole. 10 Importante destacar aqui, que não é qualquer relacionamento sexual, tampouco o que se chama de adultério, deve-se fazer presentes os pressupostos de afetividade (intuito de constituir família), estabilidade, convivência pública e ostensiva, unicidade do vínculo, para caracterizar a união estável e, caracterizado 7 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. O companheirismo: uma espécie de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. p.99. 8 Ibidem, p. 100. 9 CF/88 art.226. 10 ROSA, Patrícia Fontanella. União estável: a eficácia temporal das leis regulamentadoras. Florianópolis: Diploma Legal, 1999. p. 22.

5 como entidade familiar, deverá ser tratada como um instituto do Direito de Família. Porquanto, os companheiros após reconhecimento, passam a se submeter às regras e direitos estabelecidos pela legislação vigente. 11 Observa-se então, que os requisitos exigidos para a configuração da união estável seriam praticamente os mesmos exigíveis para a configuração da união entre pessoas do mesmo sexo, sendo ambas as uniões familiares não formalizadas, havendo inclusive uma corrente que tem o entendimento de que em não havendo legislação específica sobre essas uniões aplicar-se-á analogicamente os textos legislativos que tratam sobre as uniões livres. 12 A principal barreira encontrada é a questão da diversidade de sexos colocadas no texto constitucional, definindo a união estável como entidade familiar formada entre homem e mulher, excluindo, portanto, as uniões homossexuais por falta de pressuposto. 13 À exemplo do tema, Guilherme Calmon Nogueira da GAMA, traz a idéia de vários juristas como Orlando Gomes, Francisco José Cahalli, Leoni Lopes de Oliveira, dentre eles a observação de Marilene GUIMARÃES: Vivemos numa sociedade que estigma e ridiculariza as pessoas que exercem uma orientação sexual diferente. (...) Os fundamentos destas uniões são assemelhados aos do casamento ou da união estável. O vínculo que os une, à semelhança dos demais casais, é o afeto, que gera efeitos jurídicos. Contudo, a mencionada jurista reconhece que, tecnicamente, a união entre homossexuais não está abrangida pela noção da família constituída através do companheirismo, nos termos da Constituição Federal. 14 No sentido oposto, Roger Raupp RIOS contesta: Diante desta dificuldade, têm sido ofertadas basicamente duas ordens de respostas. A primeira inclui as uniões homossexuais dentro do âmbito da união estável, por intermédio de uma interpretação extensiva dos direitos fundamentais (principalmente o direito da igualdade) e mediante o recurso da analogia; a segunda sustenta a inconstitucionalidade da própria norma do artigo 226, 3º, ao restringir o conceito, por violação dos princípios da dignidade humana e da igualdade. 15 11 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Op. cit., p.125. 12 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. União entre pessoas do mesmo sexo: aspectos jurídicos e sociais. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 84. 13 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Op. cit., p.489. 14 GUIMARÃES, Marilene Silveira. Reflexões acerca de questões patrimoniais nas uniões formalizadas, informais e marginais. In: ALVIM, Teresa Arruda (Coord.). Direito de família: aspectos constitucionais, civis e processuais. São Paulo: RT, 1995. p.204. 15 RIOS, Roger Raupp. Op. cit., 121.

6 Desenvolvido o assunto, o autor ainda afirma ser o assunto questão de pertinência ao âmbito do direito de família, tendo presente o atual estágio de compreensão do fenômeno familiar pelo ordenamento jurídico, onde prevalece a proteção da realidade diante do culto à forma. 16 Considerando a união estável como espécie autônoma de comunidade familiar, verifica-se a sua independência. Caso não houvesse previsão constitucional, ou a mesma fosse retirada do ordenamento jurídico, ela continuaria a existir de alguma forma, visto a necessidade de reconhecimento dessas uniões, o desenvolvimento e a pertinência da questão no direito de família. Sua qualificação jurídica familiar independe das demais entidades familiares. 17 No mesmo raciocínio a existência da união entre pessoas do mesmo sexo, face à união estável, uma não depende da existência da outra. Trata-se, mais do que analogia, de comunhão de características típicas do conceito jurídico de família às duas situações. 18 Confirmando a questão, tem-se decisão da 8º Câmara Cível do Tribunal de Justiça, a qual se utilizou da proibição constitucional de discriminação em razão do sexo, esclarecendo que a restrição constitucional disposta no artigo 226 3º não veda o reconhecimento de uma relação homoafetiva como união estável e o fato de não existir na lei, não supre a existência da homossexualidade, havendo omissão legislativa o operador deve socorrer-se da analogia. Tal decisão foi pioneira e de suma importância, visto que abriu portas dando a possibilidade das uniões homossexuais ganharem o status de família, pois definiu as questões relativas à união entre pessoas do mesmo sexo como não sendo mais da Vara Cível e sim da Vara de Família, pelo menos no Estado do Rio Grande do Sul. 19 Certo é que a não possibilidade de dissolução do casamento defendida pela Igreja Católica influenciou e muito a existência do concubinato. Com o tempo foi-se aumentando o número das famílias de fato (estas não protegidas pela ordem 16 Ibidem, p.123. 17 CZAJKOWSKI, Rainer. Op. cit., p.26. 18 RIOS, Roger Raupp. Op. cit., p.124. 19 DIAS, Maria Berenice. União homossexual: o preconceito e a justiça. 2. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001. p. 147.

7 jurídica à época) e consequentemente conflitos foram aparecendo clamando por soluções jurídicas. 20 O Poder Judiciário confrontou-se com uma realidade não positivada e que necessitava de uma solução jurídica social e justa. Visando o não acometimento de injustiças, aos poucos os Tribunais passaram a dar algum direito às companheiras, que possuíam família, mas fora dos laços do matrimônio. Deslocaram então a matéria para a esfera do direito obrigacional e em maio de 1964 o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 380, consolidando a esparsa jurisprudência acerca do assunto 21, com base na sociedade de fato: Comprovada a existência da sociedade de fato entre os concubinos é cabível a sua dissolução judicial com partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum. 22 Ocorre que se não conseguisse comprovar a efetiva e direta participação, a companheira estava fadada a somente pleitear por serviços domésticos, por não ter colaborado com qualquer aporte econômico à sociedade. Este aporte poderia ser feito mediante participação de capital, de trabalho ou mista. A idéia era não gerar enriquecimento injustificado. Havia de se provar o esforço comum na aquisição do patrimônio, sendo verificado a percentagem da participação e consequentemente proporcional à participação no recebimento dos bens. Não se falava em direitos sucessórios ou alimentos. 23 Essa não possibilidade de pleitear alimentos e face às mulheres que eram dedicadas exclusivamente ao lar e aos filhos, ou que não tiveram participação no acréscimo patrimonial, fez com que os magistrados passassem a determinar uma indenização por serviços prestados, algo como um recebimento pelos serviços prestados aos membros de sua sociedade de fato ou um recebimento pelo trabalho doméstico prestado. 24 A jurisprudência acerca do assunto foi evoluindo e alguns direitos foram adquiridos em algumas leis esparsas, tais como o reconhecimento do filho fora do casamento ante a separação legal, morte ou anulação do casamento, posteriormente com a Lei do Divórcio/77 o possível reconhecimento do filho 20 CZAJKOWSKI, Rainer. Op. cit., p. 111-112. 21 Idem. 22 Súmula 380 do STF. 23 CZAJKOWSKI, Rainer. Op. cit., p.112. 24 ROSA, Patrícia Fontanella. Op. cit., p.34-35.

8 adulterino na constância do casamento, a possibilidade de adoção do sobrenome do companheiro, a admissão da companheira como beneficiária do segurado e de grande importância a edição da Súmula 382, que tornou dispensável a coabitação comum para a caracterização de um relacionamento estável. 25 Com o advento da Constituição Federal de 1988 houve a transformação da chamada sociedade de fato em entidade familiar. Verificando-se as mudanças do Direito de Família no sentido da repersonalização ou despatrimonialização. Aqui se verifica uma incongruência de idéias do autor Guilherme Calmon Nogueira da GAMA, o qual defende que, devem ser consideradas como sociedades de fato as uniões entre pessoas do mesmo sexo enquanto não houver legislação específica que trate do tema, quando: A Constituição, como visto, não equiparou o companheirismo ao casamento, mas sem dúvida iniciou nova etapa do instituto, divorciada dos valores patrimoniais e obsoletos, bem como de ranços retrógrados e conservadores que somente reconheciam a família originada no casamento...enquanto houver afeição, carinho, compreensão, respeito, auxílio, deve ser reconhecida a presença de uniões dignas e merecedoras de proteção do Estado. O apago ao patrimônio deve ser desestimulado, para fim de tornar mais límpidas as relações humanas, fundadas naquilo que o homem tem de melhor: seu sentimento. 26 Com o propósito de regulamentar a nova questão trazida pela Carta Magna, foram editadas, as Leis 8971/94 e 9278/96 as quais vieram estabelecer condições, tempo de duração, efeitos do novo instituto, bem como reconhecer o direito aos alimentos, à sucessão e à meação de bens. A discussão que há sobre o assunto versa sobre o artigo 2º da Lei de Introdução do Código Civil, porém o melhor entendimento é que se utilizem as duas leis de forma complementar, visto que houve lacunas e entendimentos diferentes tratados na lei posterior. 27 Cabe aqui dizer que sociedade de fato não se confunde com regime de bens, como explica Rainer CZAJKOWSKI: Sociedade de fato não se confunde com regime de bens. Regime de bens regula para o futuro, com o casamento; sociedade de fato se constata ou porque existe ou já existiu, entre quaisquer pessoas. Interessa, aqui, a existente entre parceiros de uma união livre estável. Sociedade de fato não pressupõe relacionamento prolongado, não pressupõe estabilidade; pode existir entre os parceiros antes de se falar em entidade familiar, e 25 Ibidem, p. 34-37. 26 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Op. cit., p.252. 27 ROSA, Patrícia Fontanella. Op. cit., p.44.

9 independentemente dela. Sem família, a sociedade de fato é questão de direito obrigacional. 28 Tendo-se em vista os vários pontos comuns entre união estável e a união entre pessoas do mesmo sexo, não há como não falar da sociedade de fato presente na construção jurisprudencial em se tratando de uniões homoafetivas. 29 Muito citada é a decisão da 28º Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro, na ação promovida contra o espólio de um pintor e iniciada em 17 de maio de 1988. Nesse processo, reconheceu-se direito de companheiro sobrevivo, em razão do falecimento do outro, após 17 anos de convivência, à metade do patrimônio por eles amealhado. Patenteou-se, então, a existência de sociedade de fato entre os conviventes e de um patrimônio criado por seu esforço comum. E se conclui nesse mesmo decisório que, por maior que tenha sido a contribuição do apelado à obra do pintor, não se pode conceber que tenha sido equivalente à que deu o próprio criador de quadros. E, não tendo sido iguais as cotas de contribuição, não podem ser iguais, como pretende o recorrido, os quinhões na partilha. A participação na divisão deve ser proporcional à contribuição para criação ou aquisição dos bens. 30 Na idéia de Álvaro Villaça AZEVEDO: Provada a sociedade de fato entre os conviventes do mesmo sexo, com aquisição de bens pelo esforço comum dos sócios, está presente o contrato de sociedade, reconhecido pelo art. 1363, do Código Civil, independentemente de casamento ou de união estável. Sim, porque celebram contrato de sociedade as pessoas que obrigam, mutuamente, a combinar seus esforços pessoais e/ou recursos materiais para a obtenção de fins comuns. 31 Nesse sentido, caminham vários autores, tais como Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Rainer Czajkowski, entre outros que manifestam o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo, somente em face da sociedade de fato. Nas palavras de Débora GOZZO: No que diz respeito à união de fato ou união livre, deve-se antes de mais nada deixar claro que a vida em comum de pessoas do mesmo sexo não encontra guarida no atual sistema jurídico brasileiro, pelo menos, no quesito norma jurídica. Dever-se-ia, pois, aplicar aos casais homossexuais a Súmula 380 do STF. 32 Complementando com as palavras de Fernanda de Almeida BRITO: 28 CZAJKOWSKI, Rainer. Op. cit., p.110. 29 DIAS, Maria Berenice. Op. cit. p. 93. 30 AZEVEDO, Álvaro Villaça. União entre pessoas do mesmo sexo. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Anais do II congresso brasileiro de direito de família: a família no terceiro milênio. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p.147. 31 Ibidem, p. 149. 32 GOZZO, Débora. Regime de bens e união estável. In: COLTRO, Antônio Carlos Mathias (Org.). O direito de família: após a Constituição Federal de 1988. São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 2000. p.242.

10 a união afetiva entre homossexuais, por mais estável que seja, não se caracteriza como uma entidade familiar. Porém, é perfeitamente admissível o reconhecimento de uma sociedade de fato entre parceiros homossexuais, se o patrimônio adquirido em nome de um deles resultou da cooperação comprovada de ambos. 33 Porém como já se verificou, outro lado da doutrina e jurisprudência caminha em sentido oposto. Sem dúvida, importante foi a noção de sociedade de fato, pois a união entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecida de alguma forma, entendendose como um importante passo nessa árdua caminhada. 34 Encara-se tal comparação como de ordem positiva, visto que dessa forma protege-se o parceiro de um possível enriquecimento injustificado do outro que não tem como comprovar o seu esforço na construção daquele patrimônio, todavia, o mesmo argumento pode ser utilizado de forma contrária, acreditando ser de ordem negativa, quando se tem um patrimônio e se encontra diante de uma dificuldade em demonstrar o esforço comum. 35 Face à indenização por serviços prestados, parece inadequado, visto que um dos principais argumentos na defesa das uniões homossexuais é a existência do afeto, como tratado anteriormente, sendo tal posicionamento dissonante frente à questão. Na explicação de Ana Carla H. MATOS: Os trabalhos desempenhados em favor do outro companheiro são uma dedicação baseada na affectio, em que a comunhão de vida é o fato gerador de tais atividades. Os parceiros se unem por motivos de diversa ordem, onde a linha mestra é a questão amorosa, afetiva, espiritual, e, dentro desse contexto- num momento de dissolução-, fundamentar um direito, decorrente de sua união, nos serviços prestados dissona do cerne da relação envolvida. 36 Fato é que não existe legislação expressa acerca do assunto, mas a falta de normatização não pode engessar o Poder Judiciário diante de tal realidade e conflitos. Deve-se fazer presente a analogia com as demais normas legais que regram as relações heterossexuais, quais sejam a união estável e o casamento, por serem as uniões homossexuais não sociedades de fato e sim, sociedades de afeto, 33 BRITO, Fernanda de Almeida. União afetiva entre homossexuais e seus aspectos jurídicos. São Paulo: LTr, 2000. p.66-67. 34 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p. 78. 35 Ibidem, p. 79. 36 Ibidem, p.79-80.

11 que mediante a idéia de união estável, tem-se, portanto, ser de competência das Varas de Família. 37 Se superada a idéia do positivismo estrito, e aberta às mudanças que estão ocorrendo no Direito de Família, observar-se-á uma aproximação do reconhecimento jurídico das uniões homoafetivas. 38 Utilizando as palavras do deputado Ricardo FIÚZA, relator do projeto de Código Civil, em resposta às perguntas de Maria Berenice Dias, em audiência pública, acerca do código civil de 2002, realizada em 13 de setembro de 2000: No que tange à chamada união civil de pessoas do mesmo sexo, é coerente que o projeto não trate do assunto nesta oportunidade já que essa união não é contemplada na Constituição como entidade familiar. É preciso, todavia, que se afastem as posturas farisaicas ou simplesmente ortodoxas e que se atente para o fato de que em todo o capítulo relativo à família o novo Código dá ênfase às relações afetivas. Neste caso, deveríamos reconhecer que a busca da felicidade entre duas pessoas extrapolou a rigidez do engessamento do Direito Positivo. 39 A importância do reconhecimento está nos efeitos que dele geram, como por exemplo, a possibilidade de usar o nome do outro, ser dependente para fins de imposto de renda, ser beneficiário da previdência, entre outros. Lides comuns quando se faz referência à laços afetivos. Trata-se de dimensão personalística, diversa dos demais ramos do direito, portanto por certo ser julgada por um operador do direito especializado no ramo do Direito de família. 40 Quanto ao Projeto de Lei nº 1.151/95, para a configuração da união estável, o legislador constituinte colocou no artigo 226 3º a exigência da diversidade de sexos, inibindo de certa forma a possibilidade de enquadrar como entidade familiar a união entre pessoas do mesmo sexo. Tal conduta afronta o princípio da igualdade e vai de encontro à proibição de discriminação, esta tida como norma fundamental pela própria constituição. 41 Com a alegação da falta normativa acerca do assunto, a jurisprudência majoritária se protege para a solução dos conflitos que se originam dessas relações, 37 Ibidem, p.86. 38 Idem. 39 Ibidem, p.82. 40 Ibidem, p. 87. 41 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.137.

12 como se tal comportamento fosse coibir a existência da homossexualidade ou as conseqüências jurídicas que decorrem de tais laços. 42 Após a Constituição de 1988, verifica-se uma tendência à decodificação em relação ao Código Civil. Houve uma proliferação de leis, principalmente na legislação específica, para atender a demanda e a complexidade das mudanças nas relações existentes na sociedade. Podendo muitas vezes dar enfoque a um problema de forma especializada, sem que ocorra a verticalização da matéria enfocada, tendo como exemplo, o projeto de lei nº 1.151, apresentado pela exdeputada Marta Suplicy em outubro de 1995, visando disciplinar a união entre pessoas do mesmo sexo e dar outras providências. 43 Em junho de 1996, instaurou-se na Câmara dos Deputados uma Comissão Especial, presidida pela Deputada Federal Maria Elvira, tendo como relator o Deputado Roberto Jefferson com a finalidade de apreciação do projeto de lei. O trabalho dessa comissão teve como resultado um Substitutivo ao Projeto de lei que se fez referência, datando de 10 de dezembro de 1996, tendo como alterações sugestões de parlamentares integrantes da Comissão e de expositores ouvidos em audiência pública, com o intuito do aprimoramento do projeto. Dentre eles, Luiz Edson FACHIN, o qual sugeriu a substituição do termo união por parceria, seguindo forte tendência internacional, passando então o Substitutivo do Projeto de lei a disciplinar a parceria civil registrada e dar outras providências. 44 Álvaro Villaça AZEVEDO, traz a conclusão do artigo do jurista supra-citado: Humanismo e solidariedade constituem, quando menos, duas ferramentas para compreender esse desafio que bate às portas do terceiro milênio com mais intensidade. Reaprender o significado de projeto de vida em comum é uma tarefa que incumbe a todos, num processo sacudido pelos fatos e pela velocidade das transformações. Em momento algum pode o Direito fechar-se feito fortaleza para repudiar ou discriminar. O medievo jurídico deve sucumbir à visão mais abrangente da realidade, examinando e debatendo os diversos aspectos jurídicos que emergem das parcerias de convívio e de afeto. Esse é um ponto de partida para desatar alguns nós que ignoram os fatos e desconhecem o sentido de refúgio qualificado prioritariamente pelo compromisso sócio-afetivo. 45 O projeto tem um resumo explicativo de suas propostas, o qual tem por objetivo esclarecer as pessoas em relação ao assunto abordado, como por exemplo, 42 Idem. 43 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p. 128. 44 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Op.cit., p.151. 45 Idem.

13 a não configuração do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Na redação do encarte: Trata-se de um projeto que procura reconhecer e assegurar um legítimo direito de cidadania, dignidade e respeito aos direitos humanos de milhares de pessoas que, por sua orientação sexual, não podem ter seus direitos negados. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. 46 Mesmo assim, verifica-se que a consagração do projeto esbarra não somente em argumentos de ordem técnica, mas principalmente nas questões de cunho discriminatório. Os argumentos da oposição incidem na proteção à família, aos valores da nação, aos valores religiosos, à natureza humana entre outros. 47 Aos que defendem a aprovação do amparo legal para a parceria homossexual, utilizam como fundamentação a garantia dos Direitos Humanos e cidadania. Presente se faz nesse caso, afora do princípio da dignidade humana, o direito à diversidade da orientação sexual, ou seja, das relações homossexuais, na tentativa de esclarecer que não se busca igualar tais relações ao casamento, bem como combater o preconceito e a discriminação acerca dessas pessoas. 48 Trata-se o projeto de lei de forma híbrida, no sentido de apresentar soluções às questões jurídicas decorrentes das relações entre pessoas do mesmo sexo, na esfera pessoal e patrimonial, independente da opção sexual ou vínculo afetivo entre elas. 49 A proposta aqui é apresentar o projeto de forma geral. Para que não haja no futuro deturpação do conteúdo deste, Fernanda de Almeida BRITO apresenta três tópicos que se encontram no resumo: 1. O que o projeto propõe: Direito à herança; sucessão; benefícios previdenciários; segurosaúde; declaração conjunta de imposto de renda; direito à nacionalidade no caso de estrangeiros que tenham como parceiro cidadã ou cidadão brasileiro; renda conjunta para compra de imóvel; 2. O que o projeto não propõe: Dar status de casamento ao contrato de parceria civil registrada; usar o nome do outro; mudar o estado civil durante a vigência do contrato; constituir família; adoção; tutela ou guarda de crianças ou adolescentes em conjunto, mesmo que sejam filhos de um dos parceiros; 3. Como vai funcionar: Pessoas do mesmo sexo solteiras, viúvas ou divorciadas registram um contrato de parceria civil em cartório; o contrato deve tratar sobre o patrimônio, deveres, impedimentos e obrigações mútuas; o contrato se desfaz por desistência das partes ou por morte de um dos contratantes ou mediante decretação judicial; o contrato não pode ser 46 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p. 56. 47 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p. 130. 48 Ibidem, p. 131. 49 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p. 139.

14 assinado com mais de uma pessoa e os contratantes não podem casar durante a vigência do mesmo. 50 Grande crítica que se faz ao projeto, diz respeito à necessidade de registro das parcerias no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais para que estas sejam reconhecidas e produzam seus efeitos. Dessa forma, tem-se que não se trata de novo instituto jurídico e sim de apenas mais uma forma de salvaguarda de alguns direitos. Tratando-se portanto de excesso de formalismo. 51 Porém há que se atentar para a eventual preocupação do legislador ao tentar coibir dessa forma a existência de uma parceria concomitante ou relações como matrimônio e união estável préexistentes. 52 Fazendo uma análise sucinta dos artigos do substitutivo, observa-se a tentativa de inserção no Direito de Obrigação ao reiterar as afirmações de que se trata de um contrato, camuflando a existência de uma relação com caráter familiar, é possível fazer um paralelismo entre parceria civil, casamento e união estável. 53 Ao restringir o contrato somente para pessoas solteiras, viúvas ou divorciadas (art. 1º, 1º, inciso I) e a vedação de alteração do estado civil durante a vigência, verifica-se além do assentamento no casamento e nascimento, características de feição familiar. 54 Outro exemplo de característica encontrada no projeto é a possibilidade dos benefícios previdenciários, bem como conceder a curatela ao parceiro, a inclusão do parceiro na ordem de vocação hereditária, o direito ao usufruto legal, prevalecendo dessa forma aos herdeiros necessários, a tutela do imóvel próprio o estabelecendo como bem de família. 55 Por vezes, o contrato de parceria parece ser mais vantajoso do que o casamento ou a união estável. Sendo o acordo de vontades possível por meio de contrato, verifica-se uma liberdade maior no que tange as questões patrimoniais. Não se encontra somente a liberdade de deliberar acerca do regime de bens (possibilidade esta encontrada no pacto antenupcial), tampouco a restrição de 50 BRITO, Fernanda de Almeida. Op.cit., p.57. 51 BRANDÃO, Débora Vanessa Caús. Críticas ao projeto de lei n 1.151/95 que institui a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em:<http://www.mundojuridico.adv.br.> Acesso em 18 abr. 2009. 52 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Op. cit., p. 152-154. 53 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.140. 54 Ibidem, p. 141. 55 Ibidem, p. 140.

15 titularidade patrimonial encontrada nos regimes do casamento. Respeita-se os desejos dos parceiros. Porém, encontra-se entendimento de que em não havendo convenção entre as partes acerca da titularidade dos bens, estar-se-á diante de um regime de comunhão parcial de bens (art. 3º 1º c/c art. 13 inciso IV). 56 Na parceria, á mais ampla a liberdade para estabelecer obrigações e gerar impedimentos de caráter pessoal. 57 Fato é que num contrato geral como esse sugerido, deve-se levar em consideração qual a relação jurídica específica que está sendo tratada. Nesse caso, apresentam-se as exigências com menor intensidade do que no casamento por exemplo. 58 Face à possibilidade de ruptura existente a formalidade. Excluindo a possibilidade de extinção em virtude da morte de um dos parceiros, as outras exigem a participação do Poder Judiciário. Por isso exige-se no requerimento da extinção da parceria registrada, a demonstração da causa da ruptura. 59 Aos deveres estabelecidos no contrato e infringidos dá-se a possibilidade de pedido de separação ou divórcio. Quanto à sucessão, confere o projeto a possibilidade dos parceiros se tornarem herdeiros necessários, encontrando-se depois dos descendentes, ascendentes, porém, antes dos colaterais. A questão que se levanta refere-se à uma concessão maior de direitos aos parceiros se comparado ao casamento e união estável. Se analisarmos os artigos 1611 do Código Civil e o artigo 3º da Lei nº 8971/94, observaremos que o Projeto, ora analisado, concederia mais direitos ao unido do que tem o cônjuge ou concubino, eis que lhe dá direito real de habitação e usufruto independentemente do regime de bens. 60 Tem-se como sugestão para solução da causa, que o façam via testamento, o que não parece razoável, visto que no Brasil não é costumeiro a realização de testamentos. 61 Grande crítica que se faz concerne à questão dos alimentos. Não foi feita uma previsão quanto ao direito a alimentos na parceria civil, talvez por presunção de que nessa relação haja um equilíbrio nas atividades exercidas dentro e fora de casa, 56 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.134. 57 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.142. 58 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.135. 59 Ibidem, p.136. 60 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p.61. 61 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.137.

16 visto que geralmente os parceiros trabalham de forma remunerada. Ana Carla H. MATOS, explica: Os alimentos decorrem do dever de assistência entre os cônjuges ou companheiros, estendendo-se para depois do fim da comunhão da vida. 62 E, Maria Berenice DIAS questiona: Ainda que não vedada a possibilidade de ser estabelecida obrigação alimentar entre as cláusulas do pacto, nada justifica a falta de previsão quanto ao direito de alimentos. Se assegurado o amparo por morte, inclusive com a concessão do usufruto vidual- instituto de clara finalidade protetiva e com característica alimentar-, surpreendente a ausência de qualquer proteção de caráter assistencial na hipótese de fim de relacionamento. 63 Também se verifica o tratamento distinto em relação às uniões estáveis no que tange o direito de alterar o patronímico. 64 Outra controvérsia existente, e como dito anteriormente, diz respeito à exigência de registro para a constituição da parceria, não protegendo aqueles que somente de fato e de modo estável, convivam. Ainda que o projeto preveja a possibilidade de forma expressa conferir efeitos retroativos quando se verificar a participação na formação do patrimônio comum, protegendo assim as parcerias existentes há um certo tempo. 65 Ainda, o projeto prevê a possibilidade de composição de rendas para a aquisição de casa própria, que ficará garantida como bem de família, podendo ser interpretado de forma extensiva aos planos de saúde e seguros de grupo em benefício do outro. E a possibilidade de inscrição do parceiro como beneficiário da previdência. 66 A polêmica se encontra no que diz respeito ao direito de filiação, porém, acredita-se que, vencida a etapa de reconhecimento dos efeitos jurídicos para a união entre pessoas do mesmo sexo, o próximo passo será o de se estenderem os efeitos para as questões de filiação. 67 Independentemente das lacunas, controvérsias e problemas de ordem técnica há de se reconhecer a importância do projeto. Trata-se de importante ferramenta no preenchimento da lacuna jurídica existente a fim de proteger e incluir 62 Ibidem, p.140. 63 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.141. 64 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.140. 65 Ibidem, p.133. 66 Ibidem, p.141. 67 Ibidem, p.144.

17 no seio social aqueles que fazem parte de uma minoria e respeitar os Direitos Humanos existentes. 68 Nos dias atuais, questão como essa não deve ser analisada baseada no sentido estrito de uma única lei. Há de se ponderar a realidade, os valores e princípios. 69 Nas palavras do Relator do projeto, Deputado Roberto JEFFERSON, trazidas por Maria Berenice DIAS e aqui interpretadas, resta claro que a homossexualidade pertence à humanidade e sempre existiu, cabe à sociedade refletir sobre isso e respeitá-la. 70 Sabe-se que a última tentativa de votar o projeto foi em janeiro de 1999, sem sucesso, visto a pressão da oposição. Aguarda-se designação de nova data. Ocorre que com a promulgação do novo código de 2002, muitos institutos receberam tratamento diferenciado e outros desapareceram, de modo que é conveniente que o Projeto 1151/95 seja recolhido e submetido às necessárias adequações, a fim de não comprometer o ordenamento jurídico com mais uma lei eivada de incongruências. 71 2 A QUESTÃO TRATADA NO DIREITO ESTRANGEIRO Insta-se buscar com a verificação dos países que já legislaram sobre o presente tema um suporte para as soluções dos conflitos que surgem a partir das relações homoafetivas. Apesar do assunto em comum, diversos são os caminhos encontrados, mostrando que há um leque de possibilidades e que é necessário uma ampliação do ordenamento jurídico. 72 Muitos países na evolução da questão já chegam a admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Alguns países europeus como Dinamarca, Noruega e Suécia, já têm em seu ordenamento leis que versam sobre as uniões homossexuais aprovadas que praticamente se igualam ao casamento, observando- 68 DIAS, Maria Berenice. Op. cit., p.142. 69 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p. 145. 70 Idem. 71 BORGES, Camila Oliveira. Os direitos da parceria civil homossexual. In: MELLO, Cleyson de Moraes; FRAGA, Thelma Araújo Esteves (Org.). Temas polêmicos de direito de família. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2003. p.110. 72 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p. 65.

18 se algumas restrições, como por exemplo, a vedação da adoção por casais homossexuais. 73 Na Dinamarca, desde 1984, encontra-se a discussão acerca do tema, sendo que em 1986, foram concedidos alguns direitos patrimoniais às uniões entre pessoas do mesmo sexo. A lei nº 372 de 1º de junho de 1989, que passou a ter vigência em 1º de outubro de 1989, de iniciativa do parlamento dinamarquês, foi o marco que colocou a Dinamarca como primeiro país a legislar sobre a questão. Na referida lei, encontra-se a possibilidade de duas pessoas do mesmo sexo ter sua parceria registrada, sendo ainda que, no item 2 cuida do registro, devendo a Lei sobre Formação e Dissolução do Casamento ser aplicada no caso de registro de parceiros, contanto que um ou ambos tiverem residência permanente na Dinamarca e nacionalidade dinamarquesa. 74 Face ao procedimento de registro, Álvaro Villaça AZEVEDO traz a informação de que encontra-se na mesma lei, em seu item 2, deixou o procedimento de registro a ser regulamentado pelo Ministério da Justiça, o que parece, não ocorreu até o presente. 75 Quanto aos efeitos legais desse registro, estes devem ser os mesmos do contrato de casamento, devendo ser aplicadas aos parceiros, as mesmas disposições que se aplicam aos esposos, com exceção da Lei de adoção que não se aplica aos parceiros. 76 A exceção também vale para a procriação assistida. Previu-se ainda a possibilidade de dissolução dessa parceria aplicando-se a Lei de sobre Formação e Dissolução do Casamento, juntamente com a Lei de Herança, com o Código Penal e a Lei de Tributos. 77 Em 1997, houve a conquista do direito de realizar um rito religioso para celebrar a união. E em julho de 1999, estendeu-se a possibilidade de registro também para os parceiros de nacionalidade diversa, desde que residentes na Dinamarca nos dois anos precedentes ao pedido. Neste mesmo ano, houve modificação na disciplina referente à adoção para admiti-la, conjuntamente, no que se refere ao filho natural de um dos parceiros havido antes da união registrada. 78 73 O casamento entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10266> Acesso em: 18 abr.2009. 74 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p. 62. 75 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Op.cit., p.144. 76 Ibidem, p.145. 77 Idem. 78 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.93.

19 Lado a lado caminha a Noruega, que em 1993 regulamentou o Registro de Parceria de Casais Homossexuais, trazendo que a estas uniões se aplicam as mesmas regulamentações aplicadas ao casamento, também com exceção à adoção. Disserta sobre direitos e deveres dos parceiros. Difere da lei dinamarquesa no que tange aos direitos e deveres entre pais e filhos, a lei norueguesa permite a partilha da autoridade parental. Nos mesmos moldes da Noruega, ocorre na Islândia que adotou projeto do governo em 1996. 79 Na Suécia, o que se verifica é que desde 1988 já eram encontrados alguns sinais de vantagens àqueles parceiros que conviviam há mais de seis meses, porém não se cogitou à época a possibilidade de herança entre os parceiros. Em 1994, o país adotou o sistema de registro da Dinamarca, trazendo como inovação a possibilidade do juiz intervir de modo facultativo no registro da união, sendo obrigatório somente nos casos dissolução da união. 80. No último dia primeiro de abril, deste ano, o parlamento da Suécia aprovou mediante 261 votos a 22, a lei que permitirá o casamento entre homossexuais e terá vigência à partir de maio. 81 Em 1994, a Groenlândia mediante requisito, trouxe ao seu ordenamento a lei dinamarquesa e em 1997, o projeto de lei que versava sobre o assunto, foi rejeitado na Finlândia, porém em setembro de 2001 entrou em vigor a possibilidade de registro das parcerias. Ana Carla H. MATOS traz uma particularidade acerca desse país, desde 1992 uma associação chamada Hofa (união de famílias Gays e Lésbicas), fundada em Helsinki, possibilita aos parceiros uma forma de casamento, com certificado de matrimônio. A referida organização empenha-se pela monogamia e deseja, ao mesmo tempo, ser uma escola de pensamento filosófico. 82 Na Holanda, verifica-se que as primeiras tentativas de reconhecimento das uniões datam de 1987 e esbarraram na questão da necessidade de procriação entre os casais. Os primeiros direitos adquiridos versam sobre a hereditariedade, taxas e impostos. Em 1991 alguns municípios possibilitaram o registro das parcerias homossexuais, sendo que em 1996 foi elaborado projeto que disciplinava estas uniões, tendo 70% de aprovação da opinião pública. Aqui, não apresenta qualquer 79 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p. 63. 80 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.94. 81 Casamento entre gays é legalizado na Suécia. Disponível em: <http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a2461699.xml&template= 4187.dwt&edition=12027&section=889> Acesso em: 18 abr. 2009. 82 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.98.

20 registro obrigatório quanto à nacionalidade dos parceiros. 83 Em 2001, a Holanda veio a autorizar o casamento entre homossexuais, sendo o primeiro país a permitir tal instituto. O same sex marriage tem direitos e obrigações iguais aos de um casamento heterossexual, sendo permitido inclusive a adoção de crianças de nacionalidade holandesa. Neste país, há a possibilidade de se converter as parcerias civis anteriormente registradas e os contratos de coabitação existentes em casamento. 84 Na Hungria as decisões que tinham reconheciam as uniões entre pessoas do mesmo sexo, como uniões de fato, mas não na esfera da família, e sim como questão de ordem econômica e afetiva. Em 1995, discutia-se acerca da aprovação de lei sobre o assunto ou alteração do Código Civil no que versa sobre convivência. Sendo posteriormente estendido às uniões entre pessoas do mesmo sexo, o common Law marriage, se inserindo aqui o direito a herança e pensão, porém não concedendo a adoção. 85 No mesmo sentido encontra-se a Bélgica e Alemanha, nesta, desde 2001 observa-se a lei que reconhece as uniões entre pessoas do mesmo sexo, inclusive com a possibilidade de adoção do nome. Naquela desde 1º de junho de 2003, autoriza-se o matrimônio entre homossexuais, sendo que em fevereiro de 2004 estendeu tal instituto aos estrangeiros, basta um dos dois parceiros ser belga ou residir neste país. 86 Na França, tenta-se derrubar o preconceito através de encontro promovido pela Comunidade Mundial Homossexual, na tentativa de reconhecimento da união social que confere aos casais homossexuais os mesmos direitos dos casais heterossexuais. Há a distribuição por parte de mais ou menos 300 municípios, de um certificado de vida em comum, mas o mesmo não tem valor jurídico. Aqui importante destacar os pactos de solidariedade, os denominados PAC S, aprovados em 1999, os quais geram efeitos semelhantes aos das famílias reconhecidas por esta sociedade, não existindo distinção por orientação sexual, porém com seus direitos e deveres particulares. 87 Segundo definição trazida por Ana Carla H. 83 BRITO, Fernanda de Almeida. Op. cit., p.63. 84 BRITO, Viviane. Casamento entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senado/unilegis/pdf/ul_tf_dl_2005_viviane_brito.pdf>acesso em: 18 abr.2009. 85 Idem. 86 Idem. 87 MATOS, Ana Carla Harmatiuk. Op. cit., p.105-110.

21 MATOS: o pacto civil de solidariedade é o contrato concluído por duas pessoas maiores, de sexo diverso ou igual, a fim de organizarem a própria vida em comum. 88 Em Portugal, a lei n.7/2001 veio a equiparar de forma jurídica as uniões homo e heterossexuais formadas de fato há mais de dois anos, ao casamento propriamente dito, salvaguardando alguns efeitos e no que diz respeito à adoção, esta tida como direito exclusivo dos heterossexuais. 89 Entre 27 de fevereiro e 01 de março de 2009, foi levado pelo secretário-geral do OS, José Sócrates, proposta ao Congresso para a discussão acerca da celebração de casamento entre pessoas do mesmo sexo, pautada esta no plano jurídico e civil e invocando valores como a liberdade, igualdade, dignidade humana e tolerância. 90 Na Espanha desde junho de 2005, vigora a permissão para o casamento entre homossexuais, bem como a possibilidade de adoção seja esta de forma conjunta, ou ainda, a co-adoção de um dos componentes do casal do filho existente do outro parceiro. Tal iniciativa foi do próprio presidente José Luis Rodriguez Zapatero. 91 No Reino Unido, mais precisamente na Inglaterra, em 2001 ocorreu o primeiro registro civil. Sendo que 05 de dezembro de 2005 passou a vigorar a lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo concedendo direitos semelhantes às uniões heterossexuais inclusive no que concerne a sucessão. 92 Diante do exposto, observa-se que em muitos dos países do continente europeu, a questão se encontra bastante avançada, porém observa-se que em países como Grécia, Irlanda e países muçulmanos, tal questão caracteriza ilícito penal, verificando-se o grau de intolerância nestes lugares, não admitindo por certo a possibilidade de qualquer discussão acerca do tema. 93 88 Ibidem, p.106. 89 Ibidem, p. 103-105. 90 Portugueses discutem casamento entre homossexuais e eutanásia. Disponível em: <http://www.mundolusiada.com.br/acontece/acon567_fev09.htm> Acesso em: 18 abr. 2009. 91 Espanha aprova casamento entre homossexuais. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/epoca/0,6993,ept987760-1663,00.html> Acesso em: 18 abr. 2009. 92 Casamento entre homossexuais permitido a partir de hoje no Reino Unido. Disponível em: <http://igualdadenocasamento.blogspot.com/2005/12/casamento-entre-homossexuaispermitido.html> Acesso em: 18 abr.2009. 93 BRITO, Viviane. Casamento entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senado/unilegis/pdf/ul_tf_dl_2005_viviane_brito.pdf> Acesso em: 18 abr.2009.

22 Face à questão nas Américas, tem-se que nos EUA, algumas cidades como Nova Iorque e São Francisco reconhecem alguns direitos aos casais homossexuais no que tange direitos relativos à bens e seguro saúde. O casamento entre pessoas do mesmo sexo por via judicial é permitido em quatro estados norte-americanos: Massachusets, Connecticut, Iowa e Vermont. No Havaí, a Suprema Côrte reconheceu o direito de casamento à casais homossexuais, invocando o princípio da igualdade em processo que se arrastava desde 1991. E na Califórnia perdurou por alguns meses o casamento entre pessoas do mesmo sexo, até ser reprovado em referendo datado de 04 de novembro de 2008. Em 16 de abril de 2009, o governador do estado de Nova Iorque, David Patterson, declarou que vai apresentar nova proposta à Câmara para legalizar as uniões homossexuais. Hoje, 43 estados norteamericanos vedam o casamento entre pessoas do mesmo sexo e 29 possuem em seu ordenamento jurídico, emendas constitucionais que definem o casamento como instituto exclusivamente heterossexual. 94 No Canadá em junho de 2005, a Câmara dos Comuns aprovou projeto de lei que regulamenta o casamento entre pessoas do mesmo sexo, garantindo dessa forma os mesmos direitos legais que eram concedidos aos casais heterossexuais, inclusive a possibilidade de adoção. 95 Na Cidade do México, desde 2007 tem a Lei de Convivência que autorizou a união civil entre homossexuais, o que veio a trazer os mesmos direitos que as uniões heterossexuais possuíam, porém não reconhece como união matrimonializada e portanto não é válida perante a constituição. Em janeiro de 2009, o deputado federal David Sanchez, apresentava-se disposto a apresentar no mês seguinte proposta de reforma ao Código Civil do México para tornar legal o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. 96 Em Buenos Aires, Argentina, encontra-se a lei nº1004/02, que versa sobre as uniões civis considerando a possibilidade de registro público, e independente da sua orientação sexual, ou seja, admite a união entre pessoas do mesmo sexo. Para 94 Nova Iorque vai votar legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Disponível em: <http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id+1374771&idcanal=11> Acesso em: 18 abr. 2009. 95 Canadá aprova lei que permite casamento entre homossexuais. Disponível em: <http:// www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u85208.shtml> Acesso em: 18 abr.2009. 96 Deputado quer legalizar casamento entre gays no México. Disponível em: <http:// www.acapa.com.br/site/noticia.asp?codigo=6971> Acesso em: 18 abr. 2009.