A EVOLUÇÃO DO DESEMPENHO DA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NO ENADE

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Transcrição:

A EVOLUÇÃO DO DESEMPENHO DA ENGENHARIA DE PRODUÇÃO NO ENADE Vanderli Fava de Oliveira (UFJF ) vanderli@acessa.com Marcos Vinicius de Oliveira Costa (UFJF ) marcos.vinicius@engenharia.ufjf.bru O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo sobre a evolução do desempenho dos Cursos de Engenharia de Produção no Exame Nacional de Desempenho de Estudante (ENADE) comparado com as demais modalidades de Engenharia, considerando as cattegorias administrativas pública e privada. As fontes principais de dados sobre o ENADE e sobre os cursos são os portais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do Sistema E-MEC (2013). São mostrados os percentuais de número de cursos de Engenharia de Produção que obtiveram os conceitos satisfatórios e insatisfatórios, comparando-se os setores público e privado. Também se compara os resultados no ENADE da Engenharia de Produção com as demais modalidades de Engenharia. Uma das principais conclusões deste estudo é que a expansão quantitativa da Engenharia de Produção não tem sido acompanhada por um crescimento qualitativo, ao contrário, tem-se verificado queda no desempenho da Engenharia de Produção no ENADE. Palavras-chaves: Engenharia de Produção, ENADE, Educação em Engenharia

1. Introdução Este trabalho tem origem numa pesquisa mais ampla sobre a Formação e o Exercício Profissional em Engenharia que vem sendo desenvolvida pelos autores no Observatório da Educação em Engenharia da Faculdade de Engenharia da UFJF e que conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). O objetivo deste artigo é apresentar um estudo sobre a evolução do desempenho dos Cursos de Engenharia de Produção no Exame Nacional de Desempenho de Estudante (ENADE) comparado com as demais modalidades de Engenharia, considerando as categorias administrativas pública e privada. As fontes principais de dados sobre o ENADE e sobre os cursos são os portais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do Sistema E-MEC (2013). O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) avalia o rendimento dos alunos dos cursos de graduação, ingressantes e concluintes, através de uma prova que contempla os conteúdos programáticos dos cursos das áreas nas quais estes estudantes estão matriculados. O exame é obrigatório para estes alunos e condição indispensável para a colação de grau. A primeira aplicação desse exame ocorreu em 2004 e a periodicidade de avaliação de cada área é trienal. A Engenharia foi avaliada em 2005, 2008 e 2011. Houve uma mudança na aplicação dos exames do ENADE em 2011. Em 2005 e 2008 os alunos ingressantes e os concluintes de cada curso faziam a prova, enquanto que no ENADE 2011 a nota dos ingressantes passou a ser calculada em função da nota obtida no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Com isso os cursos cujos ingressantes não fizeram esse exame ficaram sem nota no ENADE 2011. Nesse estudo esses cursos que ficaram sem nota foram agrupados aos que ficaram sem conceito (SC). Outra alteração que houve em 2011 foi a não inscrição de cursos de áreas com pequeno número de cursos no total ou cujo total de egressos foi menor do que mil. 2. Breve Retrospecto sobre a Engenharia de Produção 2

A modalidade de Engenharia de Produção é relativamente nova no Brasil. De acordo com que consta do livro Trajetória e Estado da Arte da Formação em Engenharia, Arquitetura e Agronomia Volume VII: Engenharia de Produção (OLIVEIRA & OUTROS, 2009), a formação nessa área inicia-se na Universidade de São Paulo (USP) em 1955 com a criação de disciplinas na pós graduação da Escola Politécnica da USP (Poli/USP) pelo Professor Ruy Leme, exemplo que foi seguido pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1957. Em 1958 foi criada a opção Produção dentro do curso de Engenharia Mecânica da Poli/USP formando a considerada como a primeira turma de Engenheiros de Produção do país em 1960. Somente em 1970 a opção Produção transformouse em um curso autônomo, surgindo assim o primeiro curso de graduação denominado pleno. Em 1990, existiam 19 cursos de graduação em Engenharia de Produção concentrados principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, e ainda em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, refletindo o grau regional de industrialização da época. A partir de 1996, quando iniciou-se uma grande expansão da Educação Superior no país, haviam 35 cursos de Engenharia de Produção (figura 1), sendo que até 2000 este número quase triplicou (89 cursos). A partir da metade da década passada a Engenharia de Produção já era a modalidade com maior numero de cursos e hoje, dentre os 3.050 cursos de Engenharia existentes no país, cerca de 530 são de Engenharia de Produção, de acordo com dados tabulados a partir do Portal E-MEC (2013). Figura 1 Crescimento do número de cursos de Engenharia de Produção 3

Fonte: Organizado pelos autores com base nos dados constantes do portal do E-MEC (2012) 3. A Engenharia de Produção no ENADE O estudo sobre o desempenho da Engenharia de Produção no ENADE tem como base os conceitos atribuídos de 1 a 5 considerando-se ainda os sem conceito (SC). Os cursos que ficaram SC nos ENADEs 2005 e 2008 são aqueles que não tiveram participação de concluintes por ocasião do exame e pode haver também dentre estes cursos, casos de ausência de ingressantes inscritos. Em 2011 os cursos que não inscreveram concluintes não foram contabilizados nos resultados divulgados pelo INEP. Para este estudo foram considerados SC os cursos que não tiveram ingressantes que participaram do ENEM em 2010. A tabela 1 mostra os quantitativos de cursos de Engenharia de Produção, públicos e privados que participaram do ENADE nas suas três edições. Verifica-se que o total de cursos contabilizados em 2011 é menor do que em 2008, visto que, em 2011 não foram contabilizados os cursos sem concluintes inscritos, ou seja, os cursos mais novos que ainda não tinham egressos até 2011. Tabela 1 - Número de cursos de Engenharia de Produção que participaram do ENADE Região 2005 2008 2011 publ priv total publ priv total publ priv total Brasil 43 113 156 55 190 245 58 157 215 Norte 2 4 6 4 7 11 6 6 12 Nordeste 8 10 18 10 21 31 11 15 26 C Oeste 1 3 4 3 7 10 3 5 8 Sudeste 22 75 97 24 126 150 24 102 126 Sul 10 21 31 14 29 43 14 29 43 A figura 2 apresenta a distribuição percentual dos conceitos atribuídos aos cursos de Engenharia de Produção nas três edições do ENADE. Destaca-se o alto percentual de cursos SC. Na 1ª edição em 2005 a maioria dos cursos (60,3%) e em 2008, quase a metade dos inscritos (47,3%) ficou SC. A principal razão para isso é o grande número de cursos criados no início da década passada e que, portanto, não tinham ainda concluintes inscritos. Em 2011 cerca de um quarto dos inscritos (25,1%) ficou SC por não terem ingressantes que tenham participado do ENEM em 2010, ou que teve apenas um concluinte participando do ENADE. 4

Figura 2 Distribuição percentual dos conceitos do ENADE atribuídos aos cursos de Engenharia de Produção no Brasil Analisando-se ainda a figura 2, verifica-se que em 2005 e 2008 os cursos com conceitos 3, 4 e 5 somaram praticamente o dobro dos que ficaram com conceito 1 e 2, enquanto que em 2011 ocorreu praticamente empate nessa correlação. Nos processos avaliativos, os conceitos iguais ou superiores a 3 são os considerados satisfatórios, enquanto que 1 e 2 são considerados insatisfatórios. Isto permite inferir que houve uma queda considerável no desempenho dos cursos de Engenharia de Produção no ENADE 2011 quando comparado às edições anteriores. 4. Comparação entre cursos de IES Públicas e Privadas no ENADE Observa-se que o total de cursos de IES privadas que participaram do ENADE em suas 3 edições, corresponde aproximadamente ao triplo do número de cursos de IES públicas, conforme pode ser observado na tabela 1. Regionalmente esta distribuição não é uniforme, verificando-se na tabela 1 que nas regiões Sul e Sudeste a diferença percentual entre os setores público e privado é significativamente maior do que nas regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste. Nas três edições do ENADE, dentre os cursos que ficaram SC, o maior percentual corresponde às IES privadas (figura 3) o que é consequência do constatado na tabela 1 na qual é mostrado que a quantidade de cursos participantes do ENADE do setor privado é superior à do setor público. 5

Figura 3 - Distribuição percentual dos cursos de Engenharia de Produção que ficaram sem conceito (SC) no ENADE A figura 4 mostra que o percentual de cursos com conceitos abaixo de 3 das IES privadas é superior ao das IES públicas, sendo que em 2005 e 2008 as IES privadas perfaziam mais que o dobro, sendo que em 2011 essa diferença passou a ser o triplo. Isso significa que o desempenho dos cursos das IES privadas no ENADE vem diminuindo, quando comparado com o desempenho do setor público. Isto pode ser confirmado pela figura 5 que mostra o setor público superando percentualmente os cursos do setor privado nos conceitos 3, 4 e 5, atingindo em 2011 cerca de 67% contra aproximadamente 24% do setor privado. Figura 4 - Distribuição percentual dos cursos de Engenharia de Produção que obtiveram conceitos 1 e 2 no ENADE 6

Figura 5 - Distribuição percentual dos cursos de Engenharia de Produção que obtiveram conceitos 3, 4 e 5 no ENADE 5. Comparação da Engenharia de Produção com as demais modalidades de Engenharia O INEP organizou as diversas modalidades de Engenharia em Grupos para a elaboração das provas aplicadas aos alunos participantes do ENADE (tabela 2). A figura 6 mostra a distribuição das médias dos conceitos obtidos no ENADE pelos oito grupos em cada edição do ENADE. Cada Grupo faz uma prova distinta e não há como garantir que essas oito provas tenham o mesmo grau de dificuldade. Com isso, alerta-se que tal deve ser levado em consideração na análise e nas conclusões sobre a comparação destas médias. Tabela 2 Distribuição das Modalidades de Engenharia em Grupos para participação no ENADE Grupo I II III MODALIDADES Engenharia Cartográfica, Engenharia Civil, Engenharia de Agrimensura, Engenharia de Construção, Engenharia de Recursos Hídricos, Engenharia Geológica e Engenharia Sanitária Engenharia da Computação, Engenharia de Comunicações, Engenharia de Controle e Automação, Engenharia de Redes de Comunicação, Engenharia de Telecomunicações, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica, Engenharia Eletrotécnica, Engenharia Industrial Elétrica e Engenharia Mecatrônica Engenharia Aeroespacial, Engenharia Aeronáutica, Engenharia Automotiva, Engenharia Industrial Mecânica, Engenharia Mecânica e Engenharia Naval 7

IV V VI VII VIII Engenharia Biomédica, Engenharia Bioquímica, Engenharia de Alimentos, Engenharia de Biotecnologia, Engenharia Industrial Química, Engenharia Industrial Têxtil, Engenharia Química e Engenharia Têxtil Engenharia de Materiais e suas ênfases e/ou habilitações, Engenharia Física, Engenharia Metalúrgica e Engenharia de Fundição Engenharia de Produção e suas ênfases Engenharia, Engenharia Ambiental, Engenharia de Minas, Engenharia de Petróleo e Engenharia Industrial Engenharia Agrícola, Engenharia Florestal e Engenharia de Pesca Fonte: OLIVEIRA & OUTROS, 2009 O desempenho dos cursos de Engenharia de Produção (grupo VI) ficou próximo da média geral, conforme mostrado na figura 6, sendo que na última edição de 2011, ficou abaixo dessa média. Nesta figura a média geral das engenharias ficou abaixo de 3 nas três versões do ENADE, o que significa um desempenho médio dos estudantes no ENADE abaixo do mínimo que é o conceito 3. A média da Engenharia de Produção vem diminuindo e teve uma queda significativa em 2011, quando ficou com a menor média de todos os grupos (tabela 3). Figura 6 Média dos conceitos dos Grupos de Engenharia no ENADE Fonte: Organizado pelos autores com base nos dados constantes dos portais do INEP e do E-MEC (2013) A maior média dentre os Grupos em 2005 e 2011 é a do Grupo V que tem a Engenharia de Materiais como a principal. Este Grupo é o que tem menos cursos e o maior percentual de 8

cursos de IES públicos. Não foi detectada a razão do último lugar na classificação do Grupo V no ENADE 2008. Ao se comparar os setores, verifica-se que o desempenho dos cursos do setor público é significativamente superior ao do setor privado. Em 2005 e 2008 o Grupo da Engenharia de Produção foi o que obetve a melhor média e em 2011 foi superada pelos Grupos V (Materiais) e Grupo VII (Ambiental, Minas e Petróleo e Industrial). Tabela 3 Classificação dos Grupos de Modalidades de Engenharia a partir das médias dos conceitos ENADE (figura 6) Grupos 2005 2008 2011 Publ Priv Geral Publ Priv Geral Publ Priv Geral I 5º 6º 7º 4º 5º 5º 8º 3º 5º II 4º 7º 8º 3º 8º 8º 7º 6º 7º III 8º 2º 5º 5º 3º 3º 5º 2º 4º IV 2º 1º 2º 7º 1º 2º 4º 4º 2º V 3º 8º 1º 8º 6º 7º 1º 1º 1º VI 1º 5º 4º 1º 2º 4º 3º 7º 8º VII 7º 4º 6º 6 4º 6º 2º 5º 6º VIII 6º 3º 3º 2º 7º 1º 6º 8º 3º De todos os cursos que participaram no ENADE, apenas 15 conquistaram o conceito máximo em pelo menos uma das três edições do ENADE. Destes, apenas três conseguiram a nota máxima nestas três edições, quais sejam: Federal de Juiz de Fora, Federal do Rio de Janeiro e Federal do Rio Grande do Sul. Tabela 4 Listagem dos cursos de Engenharia de Produção que conquistaram conceito 5 no ENADE UF Pub Prv Cursos - IES 2005 2008 2011 BA ES MG RJ UNIFACS - UNIVERSIDADE SALVADOR UFES - UNIV FED DO ESPÍRITO SANTO UNIFEI - UNIV FED DE ITAJUBÁ UFJF - UNIV FED DE JUIZ DE FORA UFMG - UNIV FED DE MINAS GERAIS UFV - UNIV FED DE VIÇOSA UFRJ - UNIV FED DO RIO DE JANEIRO 9

SP SC RS UFF - UNIV FED FLUMINENSE FACAMP - FACULDADE DE CAMPINAS UNESP - UNIV EST PAUL J MESQUITA FILHO UFSCAR - UNIV FED DE SÃO CARLOS UFABC - UNIV FED DO ABC UFSC - UNIV FED DE SANTA CATARINA UDESC - UNIV DO ESTADO DE STA CATARINA UFRGS - UNIV FED DO RIO GRANDE DO SUL 6. Considerações Finais A Engenharia de Produção é a modalidade com o maior número de cursos na atualidade. Isso pode ser explicado em parte por ser o Brasil um importante produtor de commodities, como minérios, petróleo e grãos, entre outros. Nisso a Engenharia de Produção tem contribuído no desenvolvimento de melhores processos e sistemas logísticos que permitem a produção eficiente de produtos primários em ambientes distintos (OLIVEIRA, ALMEIDA E CARMO, 2012). Dentro deste contexto deve-se ter especial atenção na abertura de cursos sem perder de vista a qualidade destes e do perfil do egresso. Ao par disso, um importante aferidor da qualidade, principalmente dos egressos, tem sido o resultado das edições do ENADE. Os estudos apresentados neste trabalho mostram que na última edição do ENADE (2011), quando comparada às edições de 2005 e 2008, houve uma queda do percentual de cursos de Engenharia de Produção com conceitos 4 e 5 principalmente, e um aumento significativo do percentual de cursos com conceitos 1 e 2. Ao se comparar os setores público e privado verifica-se que os resultados obtidos pelo setor público têm sido melhores, principalmente no que se refere aos cursos com conceitos superiores a 3. Estes resultados podem significar que a expansão quantitativa dos cursos não tem sido acompanhada qualitativamente, ao contrário, isso permite inferir que a qualidade dos cursos, de uma maneira geral vem diminuindo. Isto exige que sejam tomadas providências no sentido de que a expansão quantitativa não ocorra sem a garantia de um padrão mínimo de qualidade e que devem ser desenvolvidas ações no sentido de melhoria da qualidade dos cursos existentes. 10

Essa necessidade de melhoria nos cursos é reforçada quando se compara os resultados obtidos pelo Grupo da Engenharia de Produção no ENADE com os resultados obtidos pelos demais Grupos de modalidades de Engenharia. Os resultados do Grupo da Engenharia de Produção ficaram próximos da média geral das Engenharias, sendo que em 2011, foram inferiores à essa média no geral. Nessa última edição a Engenharia de Produção, ficou com a média mais baixa de todos os Grupos. Observe-se que, quando se analisa os setores público e privado, a média dos cursos de IES públicas destaca-se, visto que, foi a maior média de todos os Grupos nas edições de 2005 e 2008 e foi a terceira na última edição. Outra questão a se destacar é o baixo número de cursos, apenas 15, que conquistaram o conceito máximo no ENADE. Quando se verifica o número de cursos que conseguiu esse conceito máximo mais de uma vez, encontra-se apenas 7 cursos, sendo que somente 3 conquistaram o conceito máximo nas três edições. Por fim é importante ressaltar que, embora o ENADE não avalie todos os indicadores que caracterizam a qualidade de um curso, é inegável que deve ser considerado como um elemento pelo menos de alerta. Nessa direção, os resultados mostram e é possível perceber pela constante troca de informações que hoje subsiste na educação superior, que a expansão quantitativa não está ocorrendo com qualidade e isso exige providências para que o país não forme somente MAIS Engenheiros, mas que forme também MELHORES Engenheiros. REFERÊNCIAS BRASIL, Portal do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira portal.inep.gov.br acessado de maio de 2012 a janeiro de 2013. BRASIL, Portal do E-MEC Instituições de Educação Superior e Cursos Cadastrados emec.mec.gov.br - acessado de maio de 2012 a janeiro de 2013. OLIVEIRA, Vanderli Fava; ALMEIDA, Nival Nunes; CARMO, Luiz C. Scavarda. Estudo comparativo da formação em Engenharia: Brasil, BRICS e principais países da OCDE. In: CBENGE 2012 - XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia, 2012, Belém - PA. O Engenheiro Professor e o Desafio de Educar. Brasilia - DF: ABENGE, 2012. v. 1. 11

OLIVEIRA, Vanderli Fava; VIEIRA JÚNIOR, Milton; CUNHA, Gilberto Dias. Trajetória e estado da arte da formação em Engenharia, Arquitetura e Agronomia volume VII: Engenharia de Produção. Brasilia: INEP/MEC, 2010. v. 1. 158p. MACEDO, Graciele M A; OLIVEIRA, Vanderli Fava. Comparação entre a evolução dos índices que representam os cursos de engenharia de produção e a engenharia em geral. In: EMEPRO 2009 - Encontro Mineiro de Engenharia de Produção, 2009, Viçosa - MG. EMEPRO 2009. Juiz de Fora - MG: FMEPRO, 2009. 12