ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL: UMA HISTÓRIA EM CONSTRUÇÃO 1



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Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL: UMA HISTÓRIA EM CONSTRUÇÃO 1 NATH, Margarete Aparecida 2 ORSO, Paulino José 3 RESUMO: A presente pesquisa intitulada Alfabetização de Jovens e Adultos em Cascavel: Uma história em construção aborda a temática da Educação de Jovens e Adultos no contexto da história da educação no Brasil. Tem como objetivo analisar aspectos históricos e políticos dessa modalidade de ensino, a nível de Brasil e mais especificamente da cidade de Cascavel refletindo sobre as dificuldades em proporcionar um ensino especialmente voltado às necessidades desses alunos, destituídos da oportunidade de escolarização quando crianças. Ainda hoje, no século XXI, a falta de escolarização continua sendo um dos problemas de grande evidência, tanto nas grandes metrópoles, quanto no interior, contribuindo para que a desigualdade se fortaleça ainda mais em toda a sociedade. Ao longo de sua história, a Educação de Jovens e Adultos, como é hoje denominada, realizou-se como prática social através de instituições formais ou não formais. Na história do Brasil como também na trajetória histórica desta modalidade de ensino em Cascavel pode-se perceber as dificuldades encontradas para a realização de um trabalho coerente com as necessidades dessa população. Introdução A sociedade está marcada cada vez mais pelas tecnologias e pelas crescentes influências dos meios de comunicação, de maneira que as formas de aprender e de ensinar sofreram modificações, trazendo consigo implicações relacionadas à inserção do homem neste contexto. A rapidez com que as informações se propagam exige de todos os profissionais, especialmente dos que trabalham na educação, um aperfeiçoamento constante e permanente que ofereça subsídios para a produção de conhecimento. Diante disso fica evidente a necessidade, cada vez mais acentuada, de adquirirmos conhecimentos, ou seja, saberes necessários e essenciais para a atuação na sociedade, saberes esses também em constante transformação. A idade adulta foi e ainda tem sido concebida como um período de estabilidade e ausência de mudanças, daí a escolarização, nesta faixa etária, ser vista como algo secundário, já que o adulto é compreendido apenas como força de trabalho. Entretanto, esse adulto que é a 1 Este artigo se baseia em parte da Monografia de conclusão final do curso de Especialista em Fundamentos da Educação da UNIOESTE Universidade estadual do oeste do Paraná Campus de Cascavel. Turma 2003/2004. 2 Mestranda do Curso de Letras da UNIOESTE e aluna do Curso de Especialização em Fundamentos da Educação, turma 2003 2004. 3 Docente do Curso de Pedagogia da Unioeste. Doutor em História e Filosofia da Educação pela Unicamp.

força produtiva, tem participação efetiva no meio social e nas relações interpessoais, trazendo consigo uma complexa história de experiências, conhecimentos e reflexões sobre o mundo real. Essas experiências contribuem de uma forma diferenciada na socialização do conhecimento sistematizado, na escola, permitindo maior reflexão em relação à sociedade e ao papel do indivíduo enquanto sujeito dessa organização. Paulo Freire observa em relação à importância do regresso do adulto trabalhador à escola: Isto implica a necessidade constante do trabalhador social de ampliar cada vez mais seus conhecimentos, não só do ponto de vista dos seus métodos e técnicas de ação, mas também dos limites objetivos com os quais se enfrenta no seu que fazer (2002, p.56). Aqueles que não tiveram acesso à escola são, hoje, os principais excluídos que, desprovidos da cultura escrita, deparam-se com grandes dificuldades. Isso se agrava, sobretudo, quando existe uma política voltada à produção e que contribui para a desvalorização do ser humano e que não oferece condições de ascensão social a todos, fazendo com que poucos sejam beneficiados, acentuando assim a concorrência, pois exige uma produtividade cada vez maior no mercado de trabalho. Aliado a outros fatores, como por exemplo, a questão econômica, elemento que tem contribuído para distanciar as classes sociais e provocar um desequilíbrio cada vez mais acentuado entre elas, pode-se relacionar o conhecimento e a capacidade de intervenção do homem em seu meio social, exercendo suas faculdades mentais e sabendo como fazer uso de suas possibilidades e habilidades, contribuindo para que os homens possam desfrutar do mesmo espaço social e cultural, sem discriminação. Nesse sentido, Ana Maria Araújo Freire também reconhece que: a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais (1989, p. 28 ). Entretanto, o que preocupa é o fato de não existir uma política educacional preocupada em atender às expectativas e necessidades de toda essa população. É a grande mão-de obra que está voltada para a produção, constituindo-se na classe dos marginalizados, analfabetos ou semi-alfabetizados, que necessitam de uma política educacional que os leve de volta à escola e que proporcione os meios necessários para que haja construção do conhecimento. Uma política que favoreça o desenvolvimento das habilidades dessa população que não concluiu até então, as quatro primeiras séries ou que pelo tempo de conclusão e pela rápida escolarização, constituem-se na grande massa dos analfabetos funcionais. Paulo Freire diz que

a estrutura social é obra dos homens e que, se assim for, a sua transformação será também obra dos homens. Isto significa que a sua tarefa fundamental é a de serem sujeitos e não objetos de transformação, tarefa que lhes exige, durante sua ação sobre a realidade, um aprofundamento da sua tomada de consciência da realidade, objeto de atos contraditórios daqueles que pretendem mantê-la como está e dos que pretendem transformá-la.(2002, p.48) A superação das condições que impedem o acesso à escrita e à leitura é um dos grandes desafios para esse momento histórico, que gera mais pobreza e exclusão social. Mesmo assim, para que uma educação garanta a qualidade, não basta que se aprenda a decodificação ou que se tenha o comprovante de escolarização. É preciso permitir ao ser humano avançar em suas necessidades pessoais e profissionais, possibilitando-lhe interpretar, analisar, conhecer, acrescentar, entender e, por fim, participar, interagindo em seu meio social. De acordo com Marta Kohl de Oliveira os altos índices de evasão e repetência nos programas de educação de jovens e adultos indicam falta de sintonia entre essa escola e os alunos que dela se servem, embora não possamos desconsiderar, a esse respeito, fatores de ordem socioeconômica que acabam por impedir que os alunos se dediquem plenamente a seu projeto pessoal de envolvimento nesse programa.(2002, p.20) Além dos fatores que contribuem para a evasão escolar de alunos jovens e adultos, conforme mencionado acima, pode-se acrescentar ainda a própria linguagem utilizada pela escola, através da qual o professor, assim como toda a equipe escolar, determinam as regras a serem cumpridas. Além disso, aspectos de ordem afetiva também podem contribuir para que esses alunos sejam excluídos mais uma vez. Liana Borges, coordenadora dos Serviços de Educação de Jovens e Adultos de Porto Alegre SEJA fala sobre a importância da construção de projetos de vida que dêem conta de entender e transformar o mundo, já que compreendemos o acesso à aquisição do código alfabético como um caminho de invenção da cidadania (In GADOTTI, 2000, p.97). Todas as lutas e anseios de uma população perpassam o contexto escolar, indo além dele, exigindo que a escola, entidade responsável pela sistematização do conhecimento, possa trabalhar para proporcionar a homens e mulheres condições de melhor interagir e participar nas transformações tão necessárias, pois, a volta e a permanência do adulto à escola é, segundo Paulo Freire, muito mais do que um ato político ou um ato de conhecimento: constitui-se num ato criador que provoca uma reflexão constante a respeito do seu papel

social, enquanto indivíduo inserido em um contexto social e criador desse contexto. Portanto, nesse processo de alfabetização, o educando é visto como sujeito de sua aprendizagem. Para Ana Maria Araújo Freire Isto significa ser impossível, de um lado, uma educação neutra, que se diga a serviço da humanidade, dos seres humanos em geral; de outro, uma prática política esvaziada de significação educativa (FREIRE, 1989 p. 22). Portanto a Educação de Jovens e Adultos, compreendendo o I Segmento do Ensino Fundamental, deve possibilitar a todos a construção de uma nova história, em igualdade de condições de participação e não simplesmente estar inserido nela. Freire diz que Onde quer que haja mulheres e homens há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender (2000, p. 94). É preciso considerar que vivemos em uma sociedade onde a escrita tem uma forte influência, já que a urbanização cresceu consideravelmente nas últimas décadas, e a base da economia sofreu um deslocamento com o êxodo rural. O sistema econômico, com a industrialização, aumentou seu mercado de trabalho, a tecnologia se expandiu e o ser humano necessita ir muito além da pura e simples decodificação. 1. Histórico sobre Educação de Jovens e Adultos no Brasil O termo Educação de Jovens e Adultos é relativamente novo no contexto da sociedade e da educação. Esta denominação está relacionada aos adultos não escolarizados e abrange adultos analfabetos ou semi-alfabetizados e também os chamados analfabetos funcionais. Jovens, porque a demanda de alunos na faixa dos quatorze aos vinte anos, não escolarizados, é consideravelmente grande. Apesar dessa denominação ser moderna, a preocupação com os adultos não escolarizados já vem de longa data e se reporta ao início da colonização portuguesa no Brasil, quando os índios, os principais habitantes do Brasil até então, eram doutrinados, muito mais para a religião do que educados para outros tipos de conhecimentos: Aparentemente, a obra jesuíta caracterizou -se por uma educação democrática, cristã, universalizadora e brasileira com o objetivo de moldar uma nova sociedade, mediante a ação educativa (SAUNER,2002, p.50). No entanto, a educação proporcionada por eles, além de ter tido um caráter essencialmente religioso, possuía o objetivo de manter as elites e defender os interesses do governo. Neste contexto educacional, o método principal era a fala e a imposição. Para a sociedade dessa época, rural e escravista, não era necessário a educação primária. Maria Araújo Freire(1989, pp 41 à 47) afirma que os jesuítas nos legaram um ensino literário, verbalista, retórico, livresco, memorístico, repetitivo e ainda inauguraram o analfabetismo no Brasil porque excluíram do ambiente escolar o negro, o índio e quase a totalidade das mulheres.

No Período Imperial, essa situação não teve grandes modificações. A educação popular não teve avanços: negros, índios e mulheres, principalmente, continuaram sem escolarização e sem condições de participação na sociedade, apesar de se constituírem na grande massa dos trabalhadores e de geradores de produção. Além disso, eram proibidos de votar, ou seja, constituíam apenas a mão de obra representada pela força física, sem direito de participação, tanto na política quanto na sociedade. O ensino das primeiras letras ao adulto, segundo Primitivo Moacyr está marcado pelos... cursos de Ensino Profissional oferecidos pelo Arsenal de Guerra do Recife, na década d e 1840, ainda no período imperial (In SAUNER, 2002, P. 54). Posteriormente, em 1869, com a finalidade de agilizar o processo de escolarização, atendendo a um maior número possível de analfabetos, foram criadas escolas noturnas e, aos domingos e no período de verão, foram criadas escolas temporárias e ambulantes. Porém, como não atendiam à realidade da maioria dos alunos, o insucesso foi imediato. Os primeiros cursos noturnos de que se têm conhecimento, de acordo com Nelita Ferraz de Mello Sauner (2002, p.55) foram criados pela Reforma Leôncio de Carvalho, a partir do Decreto de Nº 7.247, de 19/04/1878. Esses cursos, de freqüência obrigatória, só seriam oferecidos no Município da Corte e, mesmo assim, somente para pessoas do sexo masculino e maiores de quatorze anos, que funcionariam no próprio prédio escolar. As aulas seriam ministradas pelos próprios professores da escola, sem nenhuma capacitação específica para esse trabalho, o que também resultou em insucesso. No Período Republicano, a educação, de um modo geral, também não obteve melhorias, continuando estagnada, o que resultou num elevado número de analfabetos. A partir da Reforma de Luís Alves, no início do século XX, também conhecida como Lei Rocha Vaz, são criadas várias escolas noturnas. Assim, a preocupação com o analfabetismo aos poucos despertou o interesse, aparecendo como se fossem plataformas revolucionárias. Nesse momento realizou-se uma grande campanha, contando com vários segmentos da sociedade, cujo lema era: Combater o analfabetismo é de ver de honra a todo brasileiro. Olavo Bilac, em 1916, chegou a fundar a Liga da Defesa, que tinha como um de seus objetivos combater o analfabetismo. Porém, a partir de 1930, a educação de Jovens e Adultos só conquistou maior importância no Brasil, quando a sociedade brasileira passava por grandes transformações associadas, especialmente, ao processo de industrialização e concentração populacional nos centros urbanos. Porém, a educação não era vista, neste período, como resultado da produção, daí o descaso educacional dos dirigentes. A oferta do Ensino Básico e gratuito foi

impulsionada, cada vez mais, pelo governo distribuindo responsabilidades aos Estados e Municípios. Em 1945, ano que marca o fim da ditadura do estado Novo - período de quinze anos consecutivos governados pelo Presidente Getúlio Vargas -, provavelmente com o intuito de aumentar as bases eleitorais para a sustentação do governo central e incrementar a produção, a Educação de Jovens e Adultos ganha destaque. Era urgente integrar os povos visando a paz e a democracia. Nesse período, acontece uma campanha nacional de massa, em prol da Educação de Jovens e Adultos. Em 1947, desencadeia-se a campanha de Educação de Adultos alfabetização em três meses curso primário com dois períodos de sete meses. Após esse momento, se seguiria uma etapa voltada à capacitação profissional. Nesse ano, foram criadas várias escolas de ensino supletivo. O entusiasmo, entretanto, diminui nos anos cinqüenta. O analfabetismo passa a ser compreendido pelas elites políticas dominantes como causa e não como efeito da situação econômica, social e cultural do país. O adulto passa a ser visto, então, como uma criança adulta, incapaz e inadequadamente preparada para a participação social, embora constituemse em homens e mulheres produtivos que, apesar de excluídos, possuem cultura e valores próprios. Ainda na década de cinqüenta, surgiram severas críticas à Campanha de Educação de Jovens e Adultos, devido ao caráter superficial do aprendizado, ao curto período e à inadequação do método para a população adulta, que era aplicado de forma igual nas diferentes regiões do país. E devido à campanha não ter obtido bons resultados em diversas regiões do país, sobretudo na Zona Rural, foi extinta logo em seguida. Após isso surge uma nova referência na educação de Jovens e Adultos: Paulo Freire. Com a pedagogia de Paulo Freire, que nasce nesse clima de mudança no início dos anos sessenta, a Educação Popular é articulada à ação política junto aos grupos populares: intelectuais, estudantes, pessoas ligadas à igreja católica e a CNBB Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Em 1964, foi aprovado o plano Nacional de Alfabetização. O Brasil todo deveria ser atingido e orientado pela proposta de Paulo Freire. Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada de forma autoritária, centrada na compreensão mágica da palavra, palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos geralmente oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito mais do que desvelavam a realidade, agora, pelo contrário, a alfabetização como ato de conhecimento, como ato criador e como ato político (FREIRE, 1989, p. 30).

Porém, em 1964, essas idéias foram derrubadas pelo golpe militar e esse modelo de educação foi rapidamente reprimido, pois ameaçava a ordem. Em substituição a ele foram criados programas assistencialistas e conservadores. Um exemplo disso foi o Movimento Brasileiro de Alfabetização MOBRAL - criado pela Lei Nº 5379, de 15/12/1967, mas que se inicia somente no dia 08 de setembro de 1970 Dia Internacional da Alfabetização. Atendia à população dos 15 aos 35 anos de idade, e tinha como objetivo não só a erradicação do analfabetismo, como também tratava-se de um projeto de educação continuada, tendo em vista a grave situação do analfabetismo no país. A orientação e a supervisão pedagógica proposta era centralizada. Os materiais didáticos e as orientações deveriam ser esvaziados de todo sentido crítico e problematizador. Em 1969, foi lançada mais uma massiva campanha de alfabetização. Era a resposta do regime militar à grave situação de analfabetismo no Brasil. Propunha-se a alfabetização a partir de palavras-chave, imitando o método Paulo Freire, porém, totalmente destituídas de significado político e social. Na década de setenta, o MOBRAL expandiu-se em todo território nacional, embora ainda existissem pequenos grupos dedicados à educação popular, que continuaram a realizar pequenas e isoladas experiências de alfabetização de adultos com propostas mais críticas, conforme previa o Método Paulo Freire. O MOBRAL, entretanto, foi o programa mais representativo do governo militar, que apresentava uma concepção de educação de adultos de acordo com o conceito de educação funcional enunciado pela UNESCO durante o Congresso Mundial de Ministros da Educação, realizado em 1958. A partir de 1980, essas experiências, ligadas a movimentos populares organizados em oposição à ditadura, vão-se ampliando e surgem novos projetos de alfabetização. Os municípios ganham mais autonomia e os educadores passam a avançar mais no trabalho. Com isso, o MOBRAL foi perdendo suas características de conservadorismo e de assistencialismo, até ser extinto em 1985, sem erradicar o analfabetismo. Ao contrário, conseguiu somar mais de dois milhões de analfabetos na sociedade brasileira. Uma das causas do fracasso do MOBRAL no seu trabalho de alfabetização do jovem e do adulto brasileiros está relacionada aos recursos humanos: o despreparo dos monitores a quem era entregue a tarefa de alfabetizar. Tratava-se de pessoas não capacitadas para o trabalho em educação, que recebiam um cursinho de treinamento de como aplicar o material didático fornecido pelo MOBRAL e

ensinavam apenas a mecânica da escrita e da leitura, portanto, não alfabetizaram. (SAUNER, 2002, p.59). Assim, os objetivos propostos pelo MOBRAL foram reformulados. Posteriormente, através do Decreto Nº 91.980/85, é criada a Fundação Educar Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos que passa apenas a apoiar financeiramente as iniciativas do governo apoiando todos os programas de combate ao analfabetismo. A Fundação Educar foi criada em 1985 e extinta em 1990. De acordo com Sylvia Bueno Terzi Na década de 1990, vimos surgir uma preocupação maior com a educação de jovens e adultos. Apesar da inexistência de uma política governamental para a área, várias instituições públicas e privadas, organizações não-governamentais (ONGs), sindicatos, igrejas, associações, etc., puseram-se a campo implementando projetos de alfabetização. Essa ampliação de trabalhos na área trouxe, pelas suas próprias características, a necessidade de se repensar esse ensino com o intuito de melhor adequá-lo às novas circunstâncias. ( 2002, p.154) Assim, até a promulgação da lei Nº 9394/96, a Educação de Jovens e Adultos era tratada como ensino supletivo e tinha como principal objetivo a recuperação de estudos. A partir desta lei ganha a dimensão de Educação de Jovens e Adultos. Em 1997, foi criado o Programa de Alfabetização Solidária, com o objetivo de ofertar o ensino público para jovens e adultos, reduzindo assim o índice de pessoas analfabetas. Conseguiu-se, segundo estatísticas, até dezembro de 2001, atender a 2,4 milhões de jovens e adultos sem escolarização. A constituição de 1998 havia firmado como dever do estado a promoção e a oferta de ensino gratuito para os segmentos da população em situação de analfabetismo e de baixa escolaridade. Essa prioridade vinculava à educação de jovens e adultos às tomadas de decisões da política educacional, merecendo atenção especial ao Plano Nacional de Educação. (Revista Política de Resultados,1995 2002, Brasília dez. 2002). Em 1999, foi criado o Projeto Grandes Centros Urbanos, que até dezembro de 2001 atendeu aproximadamente 138.718 alunos nos Estados em que foi implantado. A partir de 2001, foi implantado o Projeto de Escolarização de Jovens e Adultos, cuja responsabilidade foi repassada aos municípios, havendo possibilidade de se receber recursos do FNDE Fundo

Nacional do Desenvolvimento da Educação - uma vez que o número de alunos de EJA regularmente matriculados passou a constar no Censo Escolar. Depois de termos passado pela história da alfabetização no Brasil, apresentaremos um breve histórico sobre a Educação de Jovens e Adultos no Município de Cascavel, desde o ano de 1971, quando o município passa a oferecer essa modalidade de ensino através do MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetização, pois, no período anterior não foi possível coletar dados a respeito da Educação de Jovens e Adultos. 3.1 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL O município de Cascavel oferece alfabetização de Jovens e Adultos desde 1971, data em que o Governo Federal implantou o Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRALque perdurou por quatorze anos, até ser extinto em 1986, quando foi criada a Fundação Nacional para a Educação de Jovens e Adultos FUNDAÇÃO EDUCAR que através do Programa de Educação Básica PEB atendia às pessoas que necessitavam dessa modalidade de ensino, durando até 1990. A partir de 1991, num acordo com o Estado, a Prefeitura de Cascavel passou a desenvolver o Projeto de Descentralização, em parceria com o Centro de Estudos Supletivos de Cascavel CESVEL Profª Joaquina Mattos Branco, projeto esse da Secretaria Estadual de Educação, do departamento de Ensino Supletivo DESU. Em 1998, a proposta pedagógica para a Educação de Jovens e Adultos, no município de Cascavel, passou a ser desenvolvida com base na Proposta Curricular 1º Segmento do Ensino Fundamental para a Educação de Jovens e Adultos. A mesma foi elaborada pela Ação Educativa (organização não governamental que atua na área de educação e juventude), juntamente com educadores experientes nessa modalidade de ensino. O planejamento das aulas é feito semestralmente pelo grupo de professores que atuam nas turmas de EJA, com base na Proposta Curricular, bem como na coleção Viver, Aprender, com o cuidado da adequação dos conteúdos à realidade do aluno. Tal planejamento ocorre em dois momentos. O primeiro, no grupo de estudos, com todos os professores e a coordenação pedagógica, que ocorre quinzenalmente e/ ou mensalmente, conforme a necessidade. O segundo, nos grupos formados por escolas da mesma região, sendo geralmente de duas a cinco escolas, variando a freqüência destes. Também na carga horária do professor está contemplada uma hora diária para organizar o seu plano de aula. No que se refere aos programas de capacitação, os professores da EJA participam de cursos proporcionados pela Secretaria Municipal de Educação, havendo também os que são

articulados com outras instituições que atuam em parceria com a Educação, como é o caso do SESI e da Fundação Banco do Brasil. Em média é trabalhado um curso mensal, contemplando as áreas do conhecimento, com vistas à especificidade desta modalidade de ensino. Uma pesquisa de campo sobre a oferta de Alfabetização de Jovens e Adultos foi realizada em ONGs e outras instituições como: Igreja Católicas, Evangélica, Protestante, sociedades espíritas, num total de 55 instituições e outras organizações como Rotary, CEEBJA, SESI, empresas, Universidade Estadual e faculdades privadas, que estão estabelecidas em nosso município. Nas igrejas, constatou-se que não há oferta de programas. Dentre as sociedades espíritas, apenas o SEFA (Sociedade Espírita São Francisco de Assis) desenvolve o trabalho desde o ano de 2001. Em 2004, iniciou atendendo 18 alunos, e atualmente atende dez. As atividades são desenvolvidas às quartas-feiras e aos sábados, no horário das 18:00 às 22:00 horas, por professora voluntária, uma formada em pedagogia, e outra com formação em Letras. A orientação ao trabalho é feita pela professora formada em pedagogia e por uma Assistente Social. Os recursos utilizados são provenientes da própria instituição. Das seis instituições de Ensino Superior existentes no município, três já informaram que não desenvolvem, até o momento, qualquer atividade relacionada à Alfabetização de Jovens e Adultos. A UNIPAN União Panamericana de Ensino iniciou o projeto de Alfabetização de Jovens e Adultos, no ano de 2001. Atualmente atende 58 alunos em salas de aula da própria Universidade, aos sábados, nos períodos da manhã e da tarde. O trabalho é desenvolvido pelas estagiárias do 3º ano do curso de Pedagogia. Os materiais básicos utilizados, os vales-transporte e a alimentação, são provenientes de doações da própria universidade, do Rotary Clube Cascavel Integração e do comércio. O material didáticopedagógico utilizado é baseado na Proposta Curricular para o I Segmento do Ensino Fundamental. O assessoramento pedagógico é realizado pela coordenadora pedagógica do projeto. A etapa de conclusão se dá através do Exame de Equivalência, no qual os alunos são inscritos e certificados pelo CEEBJA. O Rotary Clube Cascavel Integração, já definiu o atendimento a uma turma, a partir de 2005, tendo 25 alunos matriculados, com local, professor e horário para início das atividades num bairro da Região Leste da cidade. O SESI Serviço Social da Indústria desenvolve um trabalho de alfabetização em todo o Estado do Paraná há 05 anos. Atualmente, em Cascavel, atende a 29 alunos em duas empresas. Esse trabalho é desenvolvido por professores, geralmente graduados na área de Educação, contatados pelo SESI e/ou por empresas. O espaço utilizado é uma sala de aula

adaptada na própria empresa, a qual, juntamente com o SESI, fornece os materiais básicos para o desenvolvimento das aulas. Os recursos financeiros são da empresa e os materiais didático-pedagógicos são provenientes do CEEBJA-SESI. O assessoramento pedagógico é feito pela coordenadora pedagógica do SESI, sendo este realizado quinzenalmente. Atualmente não há mais programas permanentes de escolarização junto às empresas, visto que já supriram a sua demanda, uma vez que todos concluíram o I Segmento do Ensino Fundamental, até mesmo como condição para permanecer na vaga ocupada. Para fazer parte do quadro funcional, torna-se necessária a conclusão da primeira etapa, com o compromisso de o funcionário, no prazo estipulado pela empresa, ingressar no II Segmento e prosseguir a sua formação. As empresas pesquisadas foram consultadas através dos Termos de Cooperação Técnica, parceria mantida com o CEEBJA, visto que o cadastro para o Exame de Equivalência é feito através deste. Os educadores atuantes na Educação de Jovens e Adultos do Município de Cascavel participam de grupos de estudos, em que são discutidas questões referentes à escolarização dos alunos, suas especificidades e dificuldades, bem como seu contexto social. Portanto, nesses encontros, através da troca de experiência entre os professores, são planejados os conteúdos. A qualidade do material utilizado é, no geral, boa, pois oportuniza a preparação de aulas adequadas às necessidades dos alunos, tanto no que se refere aos livros, quanto aos demais materiais utilizados para se desenvolver o trabalho. Atualmente há 52 professores atuando na Educação de Jovens e Adultos no município de Cascavel. Em relação à distribuição de vagas para os professores que têm interesse em assumir uma turma de EJA, há uma portaria municipal, priorizando os que são efetivos, atuando com carga horária de 8h diárias e cursando a graduação no período diurno. Os alunos iniciantes em processo de alfabetização tinham grande dificuldade em relação aos materiais didáticos que contemplassem as necessidades específicas da alfabetização, visto que a maior parte do que as escolas dispõem e o próprio módulo que contempla os blocos de conteúdos, não favorece o desenvolvimento de um bom trabalho de alfabetização. A partir do segundo semestre de 2003, os alunos receberam um Livro de Alfabetização que foi elaborado na própria rede municipal de ensino com base nas necessidades do aluno adulto em relação à apresentação, letra e conteúdos abordados. Em 2003-2004 foram traçadas as metas para esta modalidade de ensino para os próximos dez anos, entre elas fica assegurado o fornecimento de material didático-pedagógico aos alunos e professores, de acordo com suas especificidades, a formação continuada dos educadores atuantes na educação de jovens e adultos, a elaboração de um currículo próprio considerando

a realidade e a metodologia condizente com esta modalidade de ensino, a ampliação de cursos junto ao Estado, equivalentes ao II segmento do Ensino Fundamental para que esses alunos tenham continuidade nos estudos, o atendimento aos alunos surdos através de turmas mistas (surdos - ouvintes), assegurando professores com formação adequada e material didáticopedagógico compatível, parcerias com instituições de ensino profissional públicas e privadas para que esses alunos tenham acesso aos cursos profissionalizantes oferecidos, ofertar cursos de informática educacional a esses alunos, assegurar atendimento especializado na Educação de Jovens e Adultos para alunos com necessidades especiais, incluindo material didáticopedagógico e formação continuada e adequada ao professor, entre outras 4. Conclusão Faz-se necessário uma política, nos âmbitos Federal, Estadual e Municipal, que viabilize recursos para que seja realizado um trabalho de melhor qualidade. O estudo, a pesquisa e a produção de material didático-pedagógico são importantes para a realização desse trabalho. Porém, para que isso se efetive é necessário não só o apoio governamental, mas também recursos financeiros. Melhorar a qualidade implica num trabalho contínuo, com carga horária suficiente para atender às dificuldades individualizadas dos educandos. Superar todo esse contexto no qual se construiu a Educação de Jovens e de Adultos que se apresenta hoje não é fácil. É preciso, antes de tudo, entender a escolarização desses alunos como de fundamental importância, pois eles são os pais, as mães, os trabalhadores, aqueles que constroem, com seu trabalho, os meios necessários à sobrevivência e que na história deixam a sua contribuição. Em função disso, no mínimo, mereceriam ter direito ao acesso aos conhecimentos historicamente acumulados. Bibliografia ACÃO EDUCATIVA. Viver, Aprender. Educação de jovens e adultos. Volume 1. São Paulo: Editora Global, 2002.. Viver, Aprender. Educação de jovens e adultos. Volume 2. São Paulo: Editora Global, 2002. 4 As metas para a Educação de Jovens e Adultos para os próximos dez anos se encontram no Plano Municipal de Educação de Cascavel. Cascavel: Editora e gráfica Assoeste. 2004.. (p. 75 a 83).

. Viver, Aprender. Educação de jovens e adultos. Volume 3. São Paulo: Editora Global, 2002. BRASIL-MEC. Educação de jovens e adultos Proposta Curricular para o I segmento do Ensino Fundamental. Ação Educativa. São Paulo/ Brasília, 1997. DEMO, Pedro. Iniciação à competência reconstrutiva do professor básico. São Paulo: Editora Papirus, 2000. FREIRE, Ana Maria Araújo. Analfabetismo no Brasil. São Paulo: Editora Cortez, 1989. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 26º ed.; Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2002.. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. GADOTTI, Moacir. Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta. São Paulo: Editora Cortez, 2000. GARCIA, Pedro. Uma experiência de formação de leitores, com camadas populares, através de rodas de leitura. In RIBEIRO, V. M. Educação de Jovens e Adultos novos leitores, novas leituras. São Paulo: Editora Mercado de Letras, 2002. IMBERNÓN, Francisco. Formação docente e profissional. São Paulo: Editora Cortez, 2002. KLEIMAN, Ângela B. A formação do professor. São Paulo: Editora Mercado de Letras, 2001. KLEIMAN A B. ; SIGNORINI, I. O Ensino e a Formação do professor: alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001. NISKIER, Arnaldo. A Educação na virada do século. São Paulo: Editora Expressão e Cultura, 2001. NÓVOA, Antonio. Formação de professores e profissão docente. Lisboa: Editora Dom Quixote, 1992.. Formação de professores e trabalho pedagógico. Lisboa: Editora Educa, 2002. OLIVEIRA, M. K. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. In RIBEIRO, V. M. Educação de Jovens e Adultos novos leitores, novas leituras. São Paulo: Editora Mercado de Letras, 2002. de. Jovens e Adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista brasileira de educação. São Paulo, Nº 12, 1999.. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. In RIBEIRO, Vera Masagão. Educação de Jovens e adultos Novos leitores, novas leituras. São Paulo: Editora Mercado de Letras, 2002. ( organização )

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