PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: IMPLICAÇÕES E PERSPECTIVAS



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Transcrição:

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO: IMPLICAÇÕES E PERSPECTIVAS Autores: 1 Bianca Trindade Messias/UEMA bia-tm@hotmail.com Joana Batista de Souza/UEMA jbflor24@gmail.com Liana Márcia Gonçalves Mafra/IFMA lianamafra@ifma.edu.br Thiago de Jesus Araújo Cruz/UEMA thiagojacruz101@gmail.com 1. PANORAMA HISTÓRICO A primeira manifestação da ideia de plano de educação no Brasil nos foi dada pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, o qual tomava este como um instrumento de racionalidade científica na área da educação. Essa tendência acompanhava uma maior sistematização no campo regulatório educacional, calcada nas transformações vivenciadas pelo Estado brasileiro no período iniciado com a década de 1930. No Manifesto (1984, p.407) encontramos a seguinte afirmação: todos os nossos esforços, sem unidade de plano e sem espírito de continuidade, não lograram ainda criar um sistema de organização escolar à altura das necessidades modernas e das necessidades do país. O Manifesto pretendia expor uma concepção de plano que assumisse um sentido de racionalidade científica para o qual os trabalhos científicos no ramo da educação já nos faziam sentir, em toda a sua força reconstrutora, o axioma de que se pode ser tão científico no estudo e na resolução dos problemas educativos como nos da engenharia e das finanças (MANIFESTO, 1984, p.409) Segundo Saviani (apud DOURADO, 2011, p.18), a concepção dos pioneiros da Educação influenciou a Constituição Brasileira de 1934, que em seu art. 150, dispunha que era competência da União: fixar o Plano Nacional de Educação, compreensivo do 1 Mestrandos do Programa de Pós-Graduação em História, Ensino e Narrativas PPGHEN da Universidade Estadual do Maranhão UEMA. Professores da Educação Básica em Escolas Públicas do Maranhão, IFMA e do Programa Darcy Ribeiro (UEMA). 596

ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar sua execução, em todo o país. Para a elaboração desse Plano seria criado um órgão específico, o Conselho Nacional de Educação, o qual teria a seguinte função, segundo a Constituição de 1934: Art 152 - Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Educação, organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar necessárias para a melhor solução dos problemas educativos, bem como a distribuição adequada dos fundos especiais. A obra do CNE não teve o desfecho previsto, pois o Congresso, a quem competia aprovar o Plano, foi fechado em 1937 e, com ele, uma das instituições da democracia. Segundo Horta (1997, p.147), a tramitação é lenta e o debate será interrompido pelo fechamento do Congresso, em 10 de novembro de 1937. A partir desse momento, o Plano Nacional de Educação preparado pelo Conselho Nacional de Educação será esquecido. No período posterior de abertura política que decorreu entre 1946 e 1964, volta a ser discutida novamente a ideia de Plano de Educação, mas dessa vez envolvendo o embate entre duas concepções, os daqueles que atribuíam ao Estado a tarefa de planejar o desenvolvimento do país, libertando-se da dependência externa, e aqueles que defendiam a iniciativa privada (SAVIANI, 2010, p. 389). Com a aprovação de nossa primeira Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº4.024/61) prevaleceu a segunda visão, reduzindo a ideia de plano de educação a um instrumento de distribuição de recursos para os diferentes níveis de ensino. Com o golpe de 1964, a LDB vai sendo desarticulada e a hegemonia do pensamento tecnocrático afirmada, inclusive no planejamento educacional. Mendes (apud DOURADO, 2011, p.21) afirma que (...) A partir de 1964, quando se consolidou a postura tecnocrática no governo, a LDB foi gradativa e implacavelmente desmontada. (...) em seu lugar estão as reformas, que são leis regulamentares dos pedagogos, e os planos, que são os esquemas econômicos dos tecnocratas. Com a Constituição de 1988, reaparece a iniciativa no sentido de dotar nosso país de um Plano Nacional de Educação e passa-se, segundo Kuenzer (1990, p.61), de uma estratégia de formulação política, planejamento e gestão tecnocrática, concentrada 597

no topo da pirâmide no governo autoritário, para o polo oposto, da fragmentação e do descontrole, justificado pela descentralização, mas imposto e mantido por mecanismos autoritários. Com a Constituição Federal de 1988, ocorre um avanço considerável no campo dos direitos sociais. Em seu artigo 214, por meio da Emenda Constitucional 59/2009, avança nas legislações anteriores ao garantir que: A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a (EC 59/2009): I erradicação do analfabetismo; II universalização do atendimento escolar; III melhoria da qualidade de ensino; IV formação para o trabalho; V promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto. Em 1996, com a LDB Lei 9.394 estabeleceu-se através dos artigos 9º e 87º que a União deveria se responsabilizar por tal Plano, em comum acordo com os Estados, o Distrito Federal e os municípios. O Plano Nacional de Educação (PNE) teve seus objetivos fixados de modo razoavelmente claro. Deveria conseguir: A elevação global do nível de escolaridade da população, a melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis; e a redução das desigualdades sociais e regionais no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública e a democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Depois de tramitar durante dois anos no Congresso Nacional e de envolver uma proposta de PNE do governo e uma proposta de PNE da sociedade, foi aprovada a Lei 10.172 de 09 de janeiro de 2001 que aprovou o PNE para o período de dez anos, sendo majoritariamente as propostas do governo. 598

2. PNE S EM DISPUTA: dois projetos de Brasil Como mencionado, as disposições legais contidas no artigo 214 da Constituição Federal de 1988 e as disposições transitórias da Lei de Diretrizes e Bases da Educação LDB, em seu artigo 87 expõem que no prazo de um ano a União deveria encaminhar ao Congresso Nacional proposta de PNE, assinalando diretrizes e metas para os dez anos seguintes década da Educação, constituindo-se em mais um mandamento legal tendente a auxiliar a solução do direito à educação no Brasil. E, certamente, outra não foi à intencionalidade dos Planos precedentes desde 1934. (CURY, 1998, 163) O PNE 2001-2010 (Lei 10.172/2001), em seu processo de implantação, teve tramitação peculiar, com embate entre dois projetos: a proposta da sociedade brasileira 2 e a proposta encaminhada pelo Executivo Federal. Para Luiz Fernandes Dourado (2011, p.25) as duas propostas apresentavam concepções e prioridades educacionais distintas, sobretudo na abrangência das políticas, em seu financiamento e gestão, bem como no diagnóstico, nas prioridades, nas diretrizes e nas metas. A proposta que primeiro deu entrada no Congresso, atende pelo nome legal: Proposta da sociedade brasileira, que surgiu da pressão social e expressava um conjunto princípios que não foram incorporados pelo Plano aprovado conhecido como Proposta do Executivo ao Congresso Nacional 3 como: instituição do Sistema Nacional de Educação e do Fórum Nacional de Educação, a redefinição do Conselho Nacional de Educação e a garantia de ampliação do investimento em educação pública de 10% do PIB. (DOURADO, 2011, p.26) Como se observa nas reflexões dos autores que acompanharam todo o processo de disputa e aprovação do PNE (2001-2010), o plano não fazia parte das prioridades do governo de Fernando Henrique Cardoso, o que explica que o protocolo inicial não tenha 2 Protocolada em 10 de fevereiro de 1998. 3 Também chamada de PNE dos empresários. 599

sido feito por proposta do Executivo Federal, mas sim pelo Legislativo, a partir daquela formulada pela sociedade civil, por meio das CONAE s 4. Diante da inesperada pressão e ação da sociedade, o Governo viu-se forçado a desengavetar a sua proposta e encaminhá-la à Câmara dos Deputados, onde tramitaria como anexo ao PNE da sociedade. Desse modo, o Brasil estava diante de dois projetos conflitantes. A proposta do Governo Federal expressava a política do capital financeiro internacional e a ideologia da classe dominante, devidamente refletida nas diretrizes e metas do governo. As duas propostas de PNE materializavam mais do que a existência de dois projetos de escola, ou duas perspectivas opostas de política educacional. Elas traduziam dois projetos conflitantes de país. De um lado, tínhamos o projeto democrático e popular, expresso na proposta da sociedade. De outro lado, enfrentávamos um plano que expressava a política do capital financeiro internacional e a ideologia das classes dominantes, devidamente refletido nas diretrizes e metas do governo. (VALENTE e ROMANO, 2002, p.98) Assim, o Plano aprovado atendeu os interesses imediatos de grupos empresariais e do Governo, maioria no Congresso, desfigurando o projeto originário da sociedade, reduzindo-o a uma carta de intenções. O PNE governo insistia na permanência da atual política educacional e nos seus dois pilares fundamentais: máxima centralização, particularmente na esfera federal, da formulação e da gestão política educacional, com o progressivo abandono, pelo Estado, das tarefas de manter e desenvolver o ensino, transferindo-as, sempre que possível, para a sociedade. (VALENTE e ROMANO, 2002, p.98) O texto que substituiu o PNE da sociedade ficou com cara de Frankstein 5, simulando um diálogo com as teses de mobilização social, mas adotando a política do governo nos objetivos e metas. Segundo Cury (1998) o que se viu foi reordenamento mais específico das ações e recursos já existentes sem adição de novas entradas. Cury, em 1998, quando analisava as duas propostas, expunha que a Proposta da sociedade operava com convicções de mudança política que acompanharia uma mudança legal. A mudança política possibilitaria, simultaneamente, a desoficialização da atual proposta do executivo e a oficialização de uma proposta que ainda não é oficial. A mudança política suposta contém dentro de si a substituição das autoridades hoje existentes e hegemônicas por outras 4 proposta inicial foi elaborada por educadores, profissionais da educação, estudantes, pais de alunos, nos CONAE s - CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO. 5 Criado de última hora, fragmentado. 600

de cujas ações resultarão alterações maiores nas esferas do sistema social e jurídico. Dessas ações gerar-se-iam resultados mais benéficos, mais valiosos e mais progressistas para todos do que os existentes, apoiados que estão no atual bloco de poder. (CURY, 1998, p.178) O texto do PNE votado no parlamento contemplou algumas medidas, graças à pressão social produzida, sobretudo, pelos profissionais da educação. Contudo, em 09 de janeiro de 2011 o presidente Fernando Henrique Cardoso, sancionou, vetando nove metas que se relacionavam diretamente com o financiamento da educação, em especial a elevação dos gastos com educação, gerando uma contradição entre as metas propostas e a ausência de recursos financeiros para sua concretização. O PNE (2001-2010) tornouse foco de desconfiança entre os agentes governamentais em vista da ausência de recursos definidos para a execução de suas metas, sendo considerada apenas uma carta de intenções. Para Valente e Romano (2002) há uma enorme distância entre o texto legal aprovado e o aquele protocolado pela sociedade. Para uma verificação dos pontos destoantes, abaixo apresentamos um quadro comparativo, retirado (resumidamente) de Valente e Romano (2002, p.102-103) Quadro 1. Comparação entre a proposta da sociedade brasileira e o PNE aprovado. PROPOSTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA PNE APROVADO Assegurar os recursos públicos necessários à Redução das desigualdades sociais e regionais superação do atraso educacional e ao pagamento da dívida social, bem como à manutenção e ao no tocante ao acesso e à permanência, com sucesso, na educação pública. desenvolvimento da educação escolar em todos os níveis e modalidades, em todos os sistemas de educação. Assegurar a autonomia das escolas e universidades na elaboração do projeto político-pedagógico de acordo com as características e necessidades da comunidade, com financiamento público e gestão democrática, na perspectiva da consolidação do Sistema Nacional de Educação. Consolidar um Sistema Nacional de Educação. Não trata do tema (em verdade opõe-se a esse Universalizar a educação básica (nos seus diversos níveis e modalidades) e democratizar o ensino superior, ampliando as redes de instituições educacionais, os recursos humanos devidamente qualificados e o número de vagas e fortalecendo o caráter público, gratuito e de qualidade da educação brasileira, em todos os sistemas de educação. Garantir a educação pública, gratuita e de qualidade para crianças, jovens e adultos com necessidades instrumento). Garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e a permanência na escola e a conclusão desse ensino (...) Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino educação infantil, o ensino médio e a educação superior (...). Não trata do tema em nível de prioridade. 601

educacionais especiais, aparelhando as unidades escolares, adequando-lhes os espaços, alocando-lhes recursos humanos suficientes e devidamente qualificados, em todos os sistemas públicos regulares de educação e em todos os níveis e modalidades de ensino. Diante da extensão do plano e da referida limitação no financiamento, tiveram que ser estabelecidas prioridades, até mesmo porque suas metas teriam que se enquadrar num prazo de 10 anos. De forma resumida podemos citar: 1. Garantia de ensino fundamental obrigatório de oito anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e permanência na escola e a conclusão desse ensino. 2. Garantia de ensino fundamental a todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria ou que não o concluíram. A erradicação do analfabetismo faz parte dessa prioridade, considerando-se a alfabetização de jovens e adultos como ponto de partida e parte intrínseca desse nível de ensino. 3. Ampliação do atendimento nos demais níveis de ensino a educação infantil, o ensino médio e a educação superior; 4. Valorização dos profissionais da educação. Faz parte dessa valorização a garantia das condições adequadas de trabalho, entre elas o tempo para estudo e preparação das aulas, salário digno, com piso salarial e carreira de magistério. 5. Desenvolvimento de sistemas de informação e de avaliação em todos os níveis e modalidades de ensino. A avaliação do PNE anterior retrata que o plano se configurou, na qualidade de proposição, como uma política de Estado, mas, na prática, não se traduziu como mecanismo de regulação de Estado, capaz de nortear as diretrizes de planejamento, gestão e efetivação das políticas educacionais, como se espera de um plano nacional que contribua para o pacto federativo. 3. APONTAMENTOS REFLEXIVOS SOBRE A AVALIÇÃO DO PNE (2001-2008) Como citado anteriormente, o Plano Nacional de Educação foi aprovado no governo de Fernando Henrique Cardoso e indica as metas e diretrizes da educação com 602

vigência para os dez anos seguintes para a educação nacional (2001-2010). A avaliação ocorreu em 2010 e foi realizado pelo Ministério da Educação (MEC), durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e cobriu o período de 2001-2008. O documento de avaliação está organizado em três volumes e dividido conforme a estrutura da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que corresponde às etapas da educação básica e ensino superior, modalidades de ensino, magistério da educação básica, financiamento e gestão educacional. A partir dessa estrutura o PNE foi avaliado com o objetivo de apresentar os avanços e os obstáculos da educação no período analisado. A avaliação do PNE envolveu pesquisadores do campo educacional de quatro universidades federais (UFG, UFMG, UFPE e UnB) 6, sob a coordenação do Dr. Luiz Fernandes Dourado da UFG. Os participantes do processo de avaliação tiveram a oportunidade de discutirem as questões preliminares do PNE realizado pelo Secretaria de Educação Básica SEB/(MEC) e, posteriormente, pela DTDIE/Inep. Aguiar (2010, p.109) ao refletir a avaliação do PNE sob a perspectiva das disputas políticas diz-nos que a avaliação de um plano nacional é realizada a partir de determinados valores e óticas, logo, não há neutralidade. Diante disso o documento de avaliação e o reflexo do lugar social em que os pesquisadores estão inseridos, de seus olhares sobre a educação que gira em torno dos embates dos projetos políticos educacionais e sociais. A avaliação do PNE representa o diagnóstico de sua aplicabilidade na sociedade brasileira. Dourado ao apresentar os resultados da avaliação estabelece os seguintes critérios a serem refletidos, como: problemas, avanços e pontos críticos do Plano Nacional de educação no período de 2001 a 2008. Observamos a dimensão conteudista do documento e a impossibilidade de analisá-lo em sua totalidade, apropriando-nos de tal estrutura de análise realizado por Dourado, elegemos alguns elementos relevantes para tal discussão, como a problemática 6 Os pesquisadores que participaram da avaliação são: (UfG) Luiz Fernandes Dourado (coord.), Arlene Carvalho de Assis Clímaco, João Ferreira de Oliveira, Marcos Correa da Silva Loureiro, Nelson Cardoso do Amaral e Walderês Nunes Loureiro. (UFMG) Nilma Lino Gomes. (UFPE) Alfredo Macedo Gomes e Márcia Ângela da Silva Aguiar. (UnB) Catarina de Almeida Santos e Regina Vinhaes Gracindo. (DOURADO, 2011, p. 28) 603

da gestão e financiamento, os avanços nas modalidades de ensino e por fim, os conflitos dos projetos políticos educacionais. Diversas problemáticas foram apresentadas pelo documento, como o não cumprimento de algumas metas e diretrizes devido à falta de organicidade interna, à presença de programas e ações superpostas no campo educacional, à dificuldade da aprovação de planos estaduais e municipais ao proporem programas com concepções e finalidades pedagógicas contraditórias. Além da dificuldade de conciliação e harmonização dos projetos educacionais, o principal obstáculo para a não efetivação do PNE relaciona-se a falta da implantação de uma política de planejamento, gestão e financiamento e da não regulamentação do regime de colaboração. O PNE deve ser observado como política de Estado em que a União, a federação, os estados e os municípios, através do regime de colaboração, estabelecido na Constituição Federal, trabalhariam juntos para a execução das metas estabelecidas pelo PNE. Para Pedro Ganzeli (2012) o regime de colaboração não foi consolidado, dificultando os repasses para os estados e municípios e comprometendo a sua autonomia. A falta de colaboração entre União, órgãos federais, estaduais e municipais são refletidos no desenvolvimento do PNE, prevalecendo o desentendimento, distanciamento e desigualdades entre os projetos educacionais. Conforme Dourado, o PNE teve nove vetos presidenciais relacionados com as metas financeiras durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. (2001) Aguiar (2010, p. 711) observa que os vetos que lhe foram interpostos pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao sancioná-lo, evidenciam as tensões e os conflitos que estão presentes na luta secular da sociedade brasileira pelo reconhecimento da educação como um direito social. A educação é um direito de todos, na Constituição Federal é expresso como um direito social e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação como um dever da família e do Estado. Entretanto, observamos a apropriação do PNE como proposta de política de governo indicando quando e como aplicar as metas da educação proposta pelo plano. As dificuldades apresentadas na avaliação representam os desafios para serem refletidos e discutidos para a elaboração do próximo plano para vigorar de 2011 a 2020. 604

Além dos pontos negativos o documento de avaliação estabelece os avanços que foram sentidos na educação básica e superior no decorrer do governo de Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010). O governo de Lula foi marcado pelas melhorias e avanços de alguns setores da educação, através das ações e políticas governamentais corroborando a manutenção do binômio centralização/ descentralização, fortemente marcado pelo protagonismo do Executivo Federal. (DOURADO, 2011, p. 31). Gaudêncio Frigotto (2011) observa o momento do lulismo como a realização de ações de projetos societários, cujos objetivos eram diminuir as desigualdades sociais por meio do investimento do capital público e com o privado. Segundo o autor, a educação se torna um objeto mercadológico para atender as necessidades da sociedade e acima de tudo ao capitalismo. Na educação básica destacamos o financiamento das diversas etapas e modalidades, sendo o principal deles a criação do Fundeb (Fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica). Destinado para o custo do aluno, o Fundeb, envolve verbas federais e estaduais, com o objetivo de aplicá-las e redistribuí-las a todas as etapas da educação básica e promover programas destinados para jovens e adultos. Além da questão financeira, o Fundeb propõe a Valorização dos profissionais da educação, através da criação de programas específicos para a formação inicial e continuada dos profissionais da educação infantil. Assim, o Fundo garante a capacitação e qualificação dos funcionários, mas com dificuldades para a sua execução devido aos limites financeiros. No ensino fundamental o tempo de escolarização aumentou de oito para nove anos, percebemos que a educação no Brasil ainda ostenta distorção idade/série no ensino fundamental. (AGUIAR, 2010, p. 718). Para Aguiar, a estrutura educacional brasileira idade/ série não condiz com a realidade dos alunos, segundo a autora isso representa a dificuldade de aprendizagem por faixa etária e a continuidade do atraso no percurso escolar. Segundo Dourado (2011), houve a consolidação do ensino médio por meio de programas que garantissem a ampliação de matrículas, melhorias de sua qualidade e expansão do ensino profissional. Além disso, estabelece as políticas para a inclusão e 605

diversidade, como a proteção as manifestações indígenas e garantia de acesso aos alunos com deficiências. Entretanto, o resultado da avaliação é apresentando com base nos dados do INEP, que indica os saldos positivos em curto prazo, como o investimento em infraestrutura para garantir o atendimento aos alunos com necessidades especiais; a realização de projetos educacionais com o objetivo de focar nos alunos da etapa conclusiva da educação básica, pois, segundo Aguiar, o ensino médio é um desafio para as políticas públicas, ao lidar com jovens que tendem a se distanciar da educação devido às precárias condições de vida, trabalho infantil entre outros problemas sociais. Observamos, por sua vez, que os sistemas públicos e privados entram em plena sintonia quando se trata da educação superior, juntos redimensionam o financiamento, destinando recursos para as instituições federais e sua reestruturação e expansão (REUNI), a elaboração de políticas de apoio ao estudante, principalmente os de baixa renda, e a ampliação de acesso ao oferecer programas como o PROUNI, Cotas, entre outros. Para melhorar a qualidade do ensino, pesquisa e extensão foi criado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), tanto para as instituições públicas como para as privadas. Além disso, são realizadas ações afirmativas e consolidação da educação à distância (Ead) e a execução do Plano Nacional de Pós Graduação com o intuito de elevar o número de pesquisas a serem desenvolvidas no país, propiciando a qualificação dos profissionais e o financiamento das pesquisas. As medidas estabelecidas para o nível superior visam diminuir a exclusão e as desigualdades, entretanto, a sua aplicabilidade foi frágil. Aguiar aponta problemas como os descompassos das expansões das matrículas e as demandas, o aumento do número de ofertas de vagas para o setor privado sem o acompanhamento da qualidade, assim, como a distribuição desigual por região, e por fim, a autora observa a necessidade de fortalecer a IES públicas no contexto do desenvolvimento do país. (AGUIAR, 2010, p. 715). Dourado em sua análise do documento de avaliação estabelece os pontos críticos do PNE, realizando uma reflexão dos limites do Plano a serem superados. Primeiramente, a necessidade de articulação nas ações entre a União, o Distrito Federal, 606

os estados e os municípios, onde a União ofereceria suporte técnico e financeiro para os demais órgãos e mediaria a elaboração dos projetos educacionais para atender as fragilidades da educação brasileira. Outro ponto crítico relevante na discussão que está relacionado ao não reconhecimento do PNE como política de Estado, como também o não fortalecimento das metas e diretrizes indicadas pelo plano. Em consequência, foi criado o Plano de Desenvolvimento da Educação (2007), que não se efetiva como política de estado, mas abriga os programas educacionais implantados pelo governo federal e desenvolvidos pelo MEC. Assim, a avalição do PNE (2001-2008) é o reflexo das ações desenvolvidas pelas políticas governamentais que perpassam pelos obstáculos estabelecidos por elas para a não efetivação das propostas indicadas pelo PNE, e, ao mesmo tempo, as tentativas de avanços para a melhoria da educação, porém marcadas por limites e fragilidade que foram refletidas para serem superadas no projeto do novo PNE (2011-2020). 4. PNE 2011-2020 Como já apontamos nas reflexões anteriores, nos últimos anos a Educação Brasileira passa por constantes renovações e reelaborações de propostas educacionais, no intuito de dar continuidade ao debate sobre o regime de colaboração nas reformas educacionais. O Ministério da Educação no final dos anos de 2010, ainda no governo Lula, norteou a elaboração da proposta do novo Plano Nacional de Educação para o decênio 2011/2020, na tentativa de ampliar o atendimento e melhorar a qualidade do ensino no país em todos os níveis e modalidades da educação. O governo federal decidiu investir efetivamente na educação básica na perspectiva de União com Estados e Municípios. Assim o Projeto de Lei conhecido como PL-8.035/2010 foi encaminhado para o Congresso Nacional e aprovado em dezembro de 2010. A proposta estabelece alguns aspectos importantes relacionado as 10 diretrizes, nas quais estão: a erradicação do analfabetismo; universalização do ensino escolar; a superação das desigualdades educacionais; melhoria da qualidade de ensino; 607

formação para o trabalho; promoção da sustentabilidade socioambiental; promoção humanística, científica e tecnológica do país; estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto; valorização dos profissionais da educação; difusão dos princípios de equidade, respeito à diversidade e gestão democrática da educação. A proposta inovadora do Plano em consonância com o art. 214 da Constituição Federal de 1988 (EC. 59/2009), refere-se ao estabelecimento da meta de aplicação de recursos públicos na educação como proporção do produto interno bruto PIB, ou seja, um passo importante de garantia de funcionamento para o cumprimento das metas. O presente documento apresenta inovações também ao elencar as estratégias para se alcançar as metas de forma mais enxuta que o PNE/2001, onde, além de apresentar a educação de forma fragmentada, teve mais o caráter de diagnóstico, pois o PNE 2001-2010 representou um importante avanço institucional, pois além de constituir-se em instrumento estruturante e de planejamento das ações governamentais, trouxe previsão legal que determinou e exigiu monitoramento e avaliação periódicas de sua execução, pela União, pelo Legislativo e ainda pela sociedade civil. Com efeito, o artigo 3º da lei que aprovou o PNE determina que: a União, em articulação com os estados, o Distrito Federal, os municípios e a sociedade civil, procederá a avaliações periódicas da implementação do Plano Nacional de Educação (PNE 2011/2020, 2010, p.53). As metas do novo PNE foram reduzidas para 20 e são acompanhadas de 170 estratégias indispensáveis a sua concretização. Nesse sentido, o papel das metas do PNE é fortalecer a repartição constitucional de competências direcionadas a educação escolar. Por outro lado, a redução do número de metas não significa uma redução dos propósitos do PNE. As vinte metas atualmente propostas representam desafios profundos para a melhoria da qualidade da educação brasileira e demandarão providências e medidas estruturais para serem implementadas. De acordo com Dourado (2011), o novo PNE (2011-2020) deverá, através da garantia de processos participativos que envolvam os diferentes segmentos da sociedade brasileira, constituir-se em política de Estado, sem perder de vista a existência de limites estruturais resultantes da lógica e da legalidade capitalista, que assegure, entre outros, os seguintes princípios e políticas: 608

- A efetivação do Sistema Nacional de Educação e a instituição do Fórum Nacional de Educação como instância máxima de deliberação do SNE; - A regulamentação do regime de colaboração e cooperação entre os entes federados; - A ampliação do investimento em educação pública em relação ao PIB de modo a garantir 10% do PIB para a educação nacional, bem como a efetiva regulação democrática da educação nacional; - A defesa de educação democrática e de qualidade, tendo por eixos a inclusão, a diversidade e a igualdade, bem como a instituição de um sistema nacional de avaliação em sintonia a esses princípios de modo a assegurar, por meio de políticas integradas e afirmativas, melhoria no acesso e permanência com sucesso para todos; -A consolidação de políticas e programas de formação, desenvolvimento profissional e valorização dos trabalhadores da educação, incluindo planos de carreira e remuneração compatíveis (DOURADO, 2011, p. 690). O documento supracitado teve um papel muito importante na Conferência Nacional de Educação CONAE, em 2010, pois serviu para orientar as discussões em todas as conferências municipais, intermunicipais e estaduais. O referido documento serviu para nortear as discussões entre os profissionais da Educação envolvidos no processo educacional e foi a base para a construção das diretrizes referentes ao novo PNE (2011-2020), uma vez que tratava de importantes tópicos, como o financiamento da Educação, a gestão democrática, a inclusão e a valorização dos profissionais ligados à Educação, principalmente aos professores. Outras metas importantes estão relacionadas à universalização do ensino contemplado nas metas 1, 2, 3 e 4 que estabelece a universalização do atendimento escolar da população de 4 e 5 anos até o ano de 2016, assim como contempla 50% das crianças de até 3 anos, em 2020. Essas metas falam ainda da universalização do Ensino Fundamental de 9 anos para todas as crianças de 6 a 14 anos e atendimento para todos os jovens de 15 a 17 anos até 2016. Outra meta relevante está na elevação da taxa líquida de matrículas no Ensino Médio para 85%; e atendimento para pessoas com deficiência e outros transtornos, inclusive superdotação, na faixa de 4 a 17 anos. Quanto as metas 5, 6 e 7 visam a melhoria da qualidade do ensino, estabelecendo a alfabetização de todas as crianças até, no máximo, 8 anos de idade, em seguida e de oferecer educação integral em 50% das escolas públicas de educação básica e por último atingir médias nacionais, centrada nos índices e exames para como 609

a criação do IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Para Dourado (2011, p. 45), um Plano Nacional de Educação não deve se submeter a índices e exames, mas explicitar a política de avaliação e de qualidade adotada, a lógica do sistema que a compõe e que devem ser repensadas para a aplicação as mesmas. A meta 8 pretende superar as desigualdades educacionais, como elevar a escolaridade média da população de 18 a 24 anos, de modo a alcançar o mínimo de 12 anos de estudo para a população do campo, de região de menor escolaridade do país e dos 25% mais pobre, bem como igualar a escolaridade média entre negros e não negros, articulada com as metas anteriores relacionadas com a educação dos quilombolas, indígenas e pessoas especiais. No que se refere à erradicação do analfabetismo, o PNE especifica que a meta 9 visa elevar a taxa de alfabetização das pessoas acima de 15 anos, reduzir o analfabetismo funcional em 50% e erradicar, até 2020, o analfabetismo absoluto. Já as metas 10 e 11 articulam-se sobre a educação profissional, onde estabelecem o oferecimento de pelo menos 25% das matrículas a jovens e adultos na forma integrada à educação profissional nos anos finais do Ensino Fundamental e Médio, assim como, duplicar a matrícula da educação profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta. As metas 12, 13 e 14 priorizam a promoção humanística, científica e tecnológica do país, priorizando a educação superior, sobretudo, a formação docente. Essas metas visam elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% do publico alvo; elevar a qualidade da educação superior com a ampliação da atuação de mestres e doutores; elevar o número de matrículas na pósgraduação para titular anualmente 60 mil mestres e 25 mil doutores, o que resultará na ampliação dos cursos de pós-graduação no país, segundo Dourado (2011, p.47). Os docentes da educação básica foram contemplados nas metas 15, 16, 17 e 18, que estabelecem garantir, em regime de colaboração com os entes federados, que todos os professores da educação básica possuam formação específica de nível superior; valorizar o magistério público da educação básica, aproximando seu rendimento médio ao dos profissionais com escolaridade equivalente e assegurar no prazo de 2 anos a 610

implantação dos planos de carreira para os profissionais do magistério em todos os sistemas de ensino. A meta 19, específica da gestão democrática, determina a garantia da nomeação comissionada dos diretores de escolas vinculada a critérios técnicos de mérito e desempenho e a participação da comunidade escolar. Essa meta refere-se à eleição direta de diretores e reitores para todas as instituições educativas. Por fim, a meta 20 discute a ampliação progressiva do investimento público em educação até atingir, no mínimo, o patamar de 7% do PIB. No caso desta meta de acordo com Dourado (2011, p.49), é fundamental retomar as deliberações da CONAE, pois a mesma define as proporções do financiamento e amplia o cálculo de base e dos tributos a serem investidos na educação nacional, de 10%. Após a breve análise das metas, faz-se necessário apontar que o novo PNE apresenta dificuldades identificadas nas seguintes questões: ausência de responsabilização mais efetiva no caso de descumprimento de seus dispositivos; na falta de definição explícita sobre o papel e as responsabilidades da União, dos Estados e dos Municípios para seu cumprimento. O que não garante uma efetivação no cumprimento das metas. Desse modo, a alfabetização até os 8 anos é criticada por especialistas que defendem a alfabetização no 1º ano do Ensino Fundamental. Outro ponto negativo do Plano apresenta-se no desconhecimento dos resultados das avaliações do 1º PNE que podem/devem servir de subsídios ao 2º PNE; além disso, a sustentabilidade socioambiental, colocada como diretriz não é mencionada em nenhum outro momento do documento encaminhado e mais um agravante o IDEB ainda não é formalizado por lei, o que complica o avanço das políticas educacionais explicitadas pelo Plano Nacional de Educação. Para Dermeval Saviani (2010, p10), Para que um sistema de educação permaneça vivo e não degenere em simples estrutura, (...) é necessário manter continuamente, em termos coletivos, a intencionalidade das ações. Isso significa que em nenhum momento se deve perder de vista o caráter racional das atividades desenvolvidas. Portanto, para garantir a melhoria na educação brasileira são necessárias revisões periódicas, visando o avanço na construção e consolidação das políticas 611

educacionais requerendo análises mais apuradas das múltiplas ações realizadas pelos entes federados na promoção de uma educação de qualidade no país. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo da produção deste artigo, acompanhamos toda tramitação do PNE (2011-2020) no Congresso Nacional e no momento em que a nossa escrita é encaminhada para uma possível conclusão, a presidenta Dilma Rousseff, finalmente, depois de 04 anos, sancionou o Plano Nacional de Educação, sem vetos nos termos do texto. O decreto foi publicado no dia 26 de junho de 2014. A presidente Dilma Rousseff afirmou, por meio de nota oficial, que, com a sanção do PNE, o Brasil finalmente tem um plano educacional à altura dos desafios educacionais enfrentados pelo país. A aprovação do PNE é o reflexo da história de lutas que começou na década de 30 através do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, as dificuldades do seu reconhecimento e aplicação que ocorreu em 2001 no governo de Fernando Henrique Cardoso, logo em seguida acompanhada pela sua avaliação em 2010 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, e finalmente a aprovação do novo Plano pela presidente Dilma Rousseff. Uma das principais implicações para a execução do PNE no período de 2001 a 2008 consiste no não reconhecimento como política de Estado, atrasando o comprimento e a aplicação das metas e diretrizes, onde o compromisso deveria ser compartilhado entre a União, Estados e municípios. Além disso, faltaram informações e participação da sociedade nas discussões do plano, que tinham como finalidade a melhoria da educação brasileira. O novo PNE aprovado possui como principais metas a erradicação do analfabetismo, a melhoria da qualidade do ensino, o aumento gradativo do acesso e as matrículas da educação básica, entre outros elementos que visam atender as necessidades dos alunos e dos profissionais dessa área. 612

A sanção do novo PNE pela presidente Dilma Rousseff é uma vitória da educação, entretanto, o projeto de lei foi elaborado em 2010 a partir dos problemas e desafios presentes na educação naquele período, com o objetivo de vigorar de 2011 a 2020. Com isso, sugerimos a necessidade de avaliação para que as metas e as diretrizes propostas devem ser revistas e adaptadas para a nova realidade educacional, pois a educação é um campo instável, inserida no seu contexto social, econômico, político e cultural e deve acompanhar as mudanças ao longo do tempo para o estabelecimento de melhorias. REFERÊNCIAS AGUIAR, Márcia Ângela da S. Avaliação do Plano Nacional de Educação 2001-2009: Questões para reflexão. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 112, p. 707-727, jul/set. 2010. BRASIL. Emenda Constitucional nº 59, de 11 de novembro de 2009. Brasília: Presidência da República, Chefia da Casa Civil, 2009..Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm. Acessado em maio de 2014. CURY, Carlos Roberto Jamil. O Plano Nacional de Educação: duas formulações. Caderno de Pesquisa. n.104. p.162-180. Julho de 1998. Disponível em: http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/165.pdf. Por um Sistema Nacional de Educação. São Paulo: Editora Moderna, 2010. DOURADO, Luiz Fernandes (Org.). Plano Nacional de Educação (2011-2020): avaliação e perspectivas. Goiás: Autêntica e Editora UFG, 2011. FRIGOTTO, Gaudêncio. Os circuitos. Século XXI. Revista brasileira de educação. Rio de Janeiro, v. 16, n. 46, p. 235-254, Jan/ Abr. 2011. GANZELI, Pedro. Plano Nacional de Educação no Brasil: reflexos sobre o regime de colaboração. ANPAE, 2012. Disponível em: http://www.anpae.org.br/iberoamericano2012/trabalhos/pedroganzeli_res_int_gt7.pd f. Acesso abril de 2014. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo. História da Educação Brasileira. São Paulo: Cortez, 2009. 613

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